AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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O que diabos esperar de um slasher
lançado após o ano 2000? Provavelmente uma junção de clichês e suspense barato
(ou talvez altas doses de tortura). É claro que em O Dia do Terror (lançado em
2001) temos tudo isso, porém o filme consegue se destacar por outras características.
O título nacional é péssimo e sem graça: “o dia do terror”... Tem como ser mais
clichê que isso? Mas lembre-se, nunca julgue um livro (nesse caso um filme)
pela capa. Originalmente chamado de Valentine, esse é mais um caso onde o
terror funciona na base do suspense, apesar de muitas pessoas acharem a
produção saturada, principalmente pela época que foi lançada. Eu sei que
existem momentos broxantes e subtramas inúteis, mas por ter conhecido o filme
ainda criança, acabei desenvolvendo um amargo prazer cada vez que assisto
novamente. Neste tempo, vários filmes embarcaram na fórmula de Pânico (1996),
onde foi introduzido um suspense “bem construído” para o assassino ser revelado
posteriormente, já no final da película. Aqui não foi diferente, é claro.
Tudo bem, O Dia do Terror pode ter
algumas falhas, mas são aceitáveis. O filme continua sendo bom e caprichado. Jamie
Blanks já havia trabalhado em Lenda Urbana (outro guilty pleasure) lá no ano de
1998, e agora retorna na direção com um clima semelhante de suspense. Para quem
curte terror romântico, essa com certeza é a escolha certa. A trama narra a
triste história de um grupo de 5 garotas (lindas, porém ousadas), que certa vez
humilharam um garoto nerd e bobão durante o baile do colégio... Péssima atitude,
pois agora (já adultas), elas são perseguidas friamente pelo rapaz, que busca
matá-las uma por uma. Pense bem, isso seria talvez uma indireta para as “novinhas” de
hoje em dia? Não rejeite um garoto, pois ele pode voltar futuramente para te
matar?
As frases que compõe a fita VHS são
clássicas, como “Lembra-se do garoto ignorado no dia dos namorados? Ele lembrou
de você!” ou então “O terror vai te seduzir”. É isso mesmo, temos uma bela
pitada de Dia dos Namorados Macabro (1981), e isso só agrega qualidade na obra.
A trilha sonora é ótima (clique aqui para ouvir), esqueça batidas e sons
agonizantes; aqui temos o suspense que somente um piano obscuro pode
proporcionar. Sobre o assassino? Porra, o serial killer que se veste de cupido
tem seu charme! Pena que não ficou ao lado das grandes lendas do terror,
injustamente, na minha humilde opinião.
Pois bem, o filme começa com um belo
flashback sincronizado com as batidas de um coração, nos embalos daqueles bailes
dos namorados típico das escolas norte-americanas (Escola Robert F. Kennedy /
Middle School em San Francisco), onde acompanhamos brevemente o nerd loser
Jeremy Melton sendo rejeitado por várias garotas na mesma noite... Não estou brincando
pessoal, as meninas detestam esse maluco do fundo do coração kkkkkkk tipo assim,
ele chega esperançoso na mina e fala: “Paige, você quer dançar comigo?” e ela
responde “Prefiro morrer queimada” KKKKKKKK porra meninas, coitado do cara!
Somente uma resolve ficar com ele, a gordinha Dorothy, que também estava
chupando o dedo da solidão, frustrada durante o baile.
Jeremy conseguiu uma menina, isso é
bom, certo?... ERRADO! Tudo vai de mal a pior, pois a gordinha dá uns beijos
nele e depois o acusa de assédio! MALDITA GORDINHA! Desse jeito, os garotos encrenqueiros
resolvem humilharem o pobre nerd, tirando suas roupas e o fazendo ficar pelado
na frente do baile inteiro... Não precisa ser sábio para saber que isso vai dar
merda quando o garoto crescer. Se vingar é o mínimo que Jeremy Melton
poderia fazer. VINGANÇA PORRA!
Por um lado, Jeremy não se vinga dos
garotos que lhe espancaram, mas sim das 5 meninas que o rejeitaram naquela
noite, agora adultas (e lindas, por sinal). São elas: a fofa Kate (Marley
Shelton), a extrovertida Lilly (Jessica Cauffiel), a gostosona Paige (Denise
Richards), a futura médica Shelley (Katherine Heigl) e, é claro, a gordinha do
baile, Dorothy (Jessica Capshaw), que agora não é mais gordinha, e se tornou uma
mulher rica e exigente. Após 13 anos, todas continuam sendo amigas desde a
época do colégio, mas logo tudo fica muito estranho, principalmente quando
Shelley é brutalmente assassinada logo no começo do filme.
Nessa cena, Shelley estava na escola
de medicina altas horas da noite (e sozinha), fazendo alguns testes de autópsia
em um corpo preservado. Logo o serial killer é revelado sem hesitação da
produção, com uma perturbadora máscara de cupido sem expressões, roupas negras
e luvas. Um visual perfeito. A morte da garota também é linda, quando se
esconde em um saco preto (aqueles que a perícia usa para guardar os cadáveres),
mas acaba sendo encontrada pelo maníaco e tem a garganta rasgada brutalmente.
Um detalhe realmente interessante é que o serial killer sempre sangra pelo
nariz após cometer um crime, manchando sua máscara branca e causando uma
curiosidade obscura.
Nós sabemos que o assassino é o nerd
Jeremy Melton, mas após o passar dos anos, o rapaz pode muito bem ter mudado de
aparência e ser qualquer um relacionado no circulo social das garotas. Aquele
suspense que funciona; todos podem morrer, e qualquer um pode ser o vilão. A
produção carrega todas as características que o suspense dos anos 90 ensinou,
como discursos típicos de adolescentes (que sempre aparentam ter mais de 20
anos), músicas descoladas, ajuda de policiais e detetives que desconfiam
justamente dos fatos contrários e, principalmente, um acontecimento trágico no
passado voltando sutilmente para causar estragos nos protagonistas... Te lembrou
de alguma coisa? Outro filme? Tipo Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado,
ou então a outra produção de Jamie Blanks, Lenda Urbana?... Exato, a estratégia
de suspense funcionou muito bem na época, e foi usada do mesmo jeito que as
matanças com assassinos imortais eram secadas até o talo durante os gloriosos anos 80.
Outro fator interessante é a
personalidade violenta e misteriosa do serial killer. Lembram daquele clichê do
suspense onde a aparência do vilão vai sendo revelada aos poucos durante a
trama? Pois bem, aqui é justamente ao contrário, já conhecemos seu desempenho
desde o começo, então sobra mais tempo para desenvolver suas “habilidades
sangrentas”. E posso afirmar que seus momentos em tela são ótimos, sempre enriquecidos
pela trilha sonora vibrante. Assim como mostrado em Dia dos Namorados Macabro,
o psicopata vai deixando bilhetes com versinhos românticos para suas futuras vítimas,
como por exemplo: “O caminho do amor é difícil e perigoso. Meu amor por você é
maior quando sangra seu pescoço”. O pequeno detalhe do nariz sangrando após
cada assassinato também intriga... Seria nervoso? Charme que ficou bastante
marcado.
Em uma cena bastante lembrada, Lilly
recebe uma caixa de bombons com o recado: “’Beleza não põe a mesa’, é um ditado
de renome. Delicie-se com prazer, você é o que você come”, e logo depois de
morder um dos doces, descobre estarem repletos de larvas! As mortes também são
marcantes, indo desde flechadas no estômago até espancamento com ferro de
passar roupas (!!!); outro momento agonizante é o lendário assassinato de Paige
durante um banho na hidromassagem: a garota é presa, sufocada, perfurada com
furadeira e eletrocutada no seu próprio sangue!!! Foi uma cena que me assustou
bastante em minha infância, nas inúmeras vezes que assisti a fita.
O filme vai deixando várias dicas de
quem pode ser o assassino: primeiro desconfiamos do maluco que saiu com Shelley
na noite em que foi morta (Jason Marquette, com as iniciais J.M. assim como
Jeremy Melton), depois encanamos com o vizinho de Kate, um tarado que parece sofrer
com TOC... Até mesmo o detetive policial Leon Vaughn (Fulvio Cecere) entra na
jogada, mesmo desconfiando que as garotas possam ter feito alguma bobagem no
passado com Jeremy Melton, provocando os assassinatos atuais; infelizmente, com
o passar dos anos, Jeremy pode muito bem ter feito cirurgias plásticas e estar irreconhecível.
Pode ser qualquer um.
Mesmo com todas as garotas tendo suas
tramas particulares, claramente percebemos que o roteiro foca mais em Kate e
Dorothy, não por suas personalidades, mas pelos seus interesses românticos.
Dorothy conheceu um mané aproveitador faz apenas um mês e já o chamou para
morar em sua mansão, fazendo a polícia desconfiar que ele talvez seja o maníaco.
Já Kate engatou relacionamento com um jornalista bonitão chamado Adam (David
Boreanaz), simpático e romântico. Mesmo o rapaz tendo um passado tortuoso com
bebidas alcoólicas, Kate se encontra emocionalmente envolvida por ele, sendo retribuída
com a mesma atração.
Já no final acontece uma festa dos
namorados na mansão de Dorothy, cheia de confusões, intrigas e situações
babacas que só servem para enrolar o roteiro. O namorado de Kate, Adam, acaba
bebendo exageradamente e briga com ela após ter a confiança perdida. A festa
não dura muito, o assassino aparece e ocasiona um blecaute após a morte de
Paige, fazendo todos os convidados irem embora, sobrando somente as nossas
garotas.
Quando o Portal Tartárico voltou,
decidi que nossas conversas e críticas seriam abertas e, obviamente, com
spoilers. Aqui é um local onde falo sobre qualquer assunto sem nenhuma
restrição. Vou contar sobre o final de O Dia do Terror, porém recomendo para os
mais atentos pularem essa informação, pois se torna muito mais interessante e
surpreendente ao ser presenciada quando se assiste o filme completo (também
odiaria estragar a experiência de alguém). Por sorte, na minha vida, tive
oportunidade de assistir produções queridas sem ter recebido nenhum tipo de
spoiler antes, como Psicose (1960), O Silêncio dos Inocentes (1991) e muitos
outras, incluindo esse filme aqui. Enfim, já no finalzinho, o assassino é
baleado por Adam, e rola escadaria abaixo. Quando Kate remove a máscara de
cupido, encontramos Dorothy! Mas... Espere um pouco... Não era Jeremy Melton
que cometia os assassinatos?! Por que diabos Dorothy? Que porra?
Isso, meus amigos, é explicado
somente no último segundo de filme, quando Kate abraça seu namorado bonitão
Adam, e o nariz do rapaz começa a sangrar vagarosamente... Ele é Jeremy Melton.
A pergunta que fica para algumas
pessoas é: como Dorothy estava com a roupa do assassino? O que aconteceu?
Calma, vou explicar. No desfecho, Adam acaba ficando ausente por alguns
momentos, nesse tempo, ele deixou Dorothy desacordada e a vestiu como se ela fosse a psicopata mascarada. Um pouco mais tarde, ele a empurra da
escadaria, acertando vários disparos em seu corpo com o revólver. Assim, todos
vão pensar que Dorothy é a verdadeira assassina, corroída pela inveja que carrega
das suas amigas desde os tempos de colégio, por ser gordinha e não pegar
ninguém. Um plano perfeito, e que funciona. As únicas pessoas que sabem a
verdade é a gente, o público que acompanha o filme. Acreditem em mim, se esse
filme tivesse sido lançado nos anos 80, seria um clássico.
É um bom slasher para os anos 2000,
em uma época que o cinema de terror ainda não havia sido invadido pelos desnecessários
remakes. Recomendamos O Dia do Terror para todos os românticos de plantão, é
sempre bom misturar o doce tema amoroso com o amargo do terror. Infelizmente
(ou felizmente) não tivemos nenhuma continuação, mesmo o final deixando em
aberto uma grande possibilidades de acontecimentos futuros. Jeremy Melton é uma
lenda misteriosa que vai continuar no anonimato, talvez, para sempre. Portanto
lembre-se disso, jovem mulher, e cuide bem de sua vida amorosa... Ou vai se dar muito mal.
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TRAILER DE 2001 (RECUT):
CURIOSIDADES:
1) Katherine Heigl (a Shelley) gravou
suas cenas em apenas 3 dias, pois estava ocupada com as gravações da série
Roswell (1999). Outro ator que finalizou seu trabalho rapidamente foi David Boreanaz,
em 2 semanas.
2) No elenco original, Dorothy seria
interpretada por Tara Reid (já trabalhando com Blanks em Lenda Urbana). Já a
gostosona Paige iria ficar por conta de Jennifer Love Hewitt, uma das final
girls mais lindas que existe (minha eterna crush dos anos 90).
3) Ocorre um erro na cena que Paige
recebe rosas e champanhe na hidromassagem, pois se torna praticamente impossível
o assassino ter deixado esses “presentes” para ela em apenas alguns segundos,
sem ser notado.
4) Katherine Heigl e Jessica Capshaw
futuramente trabalhariam juntas na série de drama médico Grey’s Anatomy.
5) Richard Kelly foi cogitado para ser o
diretor, mas acabou recusando. De um jeito ou de outro, Kelly dirigiu Donnie
Darko naquele ano.
6) No flashback inicial, quando Jeremy é rejeitado pelas garotas, sempre após a pergunta “quer dançar comigo?”, elas respondem com base na forma que vão morrer posteriormente. Por exemplo, Shelley fala “nos seus sonhos, perdedor”; e no futuro acaba morrendo na posição de dormir. Lilly expressa nojo, recebendo futuramente uma caixa de bombons com larvas. Paige fala “prefiro morrer queimada.”, e acaba sendo eletrocutada na banheira. Dorothy o acusa de assédio “ele me atacou!”, fazendo todos pensarem que Jeremy forçou a garota a beijá-lo; anos depois, ele executa esse ataque e faz todos pensarem que ela era a assassina. Já Kate responde “talvez mais tarde, Jeremy”, por isso ele não a mata, e acabou firmando um forte relacionamento com ela (usando o nome Adam Carr).
7) O titulo inicial da Warner Bros. e Village Roadshow aparecem em vermelho na abertura do filme.
8) O filme demorou 42 dias para ser filmado.
6) No flashback inicial, quando Jeremy é rejeitado pelas garotas, sempre após a pergunta “quer dançar comigo?”, elas respondem com base na forma que vão morrer posteriormente. Por exemplo, Shelley fala “nos seus sonhos, perdedor”; e no futuro acaba morrendo na posição de dormir. Lilly expressa nojo, recebendo futuramente uma caixa de bombons com larvas. Paige fala “prefiro morrer queimada.”, e acaba sendo eletrocutada na banheira. Dorothy o acusa de assédio “ele me atacou!”, fazendo todos pensarem que Jeremy forçou a garota a beijá-lo; anos depois, ele executa esse ataque e faz todos pensarem que ela era a assassina. Já Kate responde “talvez mais tarde, Jeremy”, por isso ele não a mata, e acabou firmando um forte relacionamento com ela (usando o nome Adam Carr).
7) O titulo inicial da Warner Bros. e Village Roadshow aparecem em vermelho na abertura do filme.
8) O filme demorou 42 dias para ser filmado.
CONTAGEM DE CORPOS (8):
Assassino Jeremy Melton aka. Adam
Carr
Shelley: garganta rasgada no
necrotério.
Lilly: acertada por flechadas no
peito e estômago, acaba caindo de uma viga e se estourando em uma lixeira.
Gary: rosto queimado e espancado com
ferro de passar roupa.
Campbell: machadada nas costas.
Ruthie: arremessada em um box de
vidro do banheiro, tendo seu pescoço cravado em um pedaço de vidro.
Detetive Vaughn: decapitado, cabeça
posteriormente encontrada em uma fonte com peixes (morte offscreen)
Paige: afogada, sufocada e perfurada
por furadeira, logo em seguida é eletrocutada na banheira de hidromassagem.
Dorothy: baleada e arremessada da escadaria.