AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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O Bebê de Rosemary é um dos melhores
filmes de terror já realizados. Também é um dos únicos que consegue manter uma
atmosfera completamente tranquila e tensa ao mesmo tempo, com um roteiro
caprichado, repleto de diálogos interessantes e atuações de alto padrão.
Levando em conta que já é uma produção antiga, produzida em 1968 pela Paramount
e inspirada no best-seller de Ira Levin, o filme não exige nada extremamente
ambicioso para conseguir contar sua trama simples e bem orquestrada durante
seus 136 minutos; é interessante perceber que a projeção se passa quase inteira
dentro de um apartamento refinado em Nova York, e do mesmo jeito, ficamos
vidrados com cada detalhe exibido em tela.
Para
quem ainda não conhece, O Bebê de Rosemary conta a triste história de um adorável
casal nova-iorquino típico, que espera seu primeiro filho, prosperando para que
seja bem planejado e bem recebido. Rosemary carrega todas as preocupações de
uma mãe “primeira viajem”: confusa e receosa com o desenvolvimento das
situações cotidianas. Seu marido, Guy, ator ambicioso porém mal sucedido, faz
um pacto com o demônio pela promessa de vencer na carreira. E quem se vê no
meio de toda essa injustiça é uma mãe ingênua que visa somente a proteção de um
filho que ainda não existe, não tendo a possibilidade de confiar em ninguém,
nem mesmo em seus supostos vizinhos adoráveis, um generoso casal de velhinhos
que esconde uma trama obscura. Um fator que os mais leigos criticam é a
ausência do bebê, pois nunca é mostrado; esse na realidade é o fator que mais
enriquece o filme, pois nos faz usar muito mais da imaginação do que se
víssemos um bebê trash no melhor estilo anos 60 (ou talvez até um primórdio de Brinquedo
Assassino), correndo risco de transformar o
filme em mais uma projeção B sem potencial. Mas é claro que não, porque esse
clássico do suspense é MUITO maior que isso.
Dirigido pelo amargurado Roman
Polanski, a história obscura começa muito tranquila e pacata, mudando completamente
seus propósitos com o passar dos minutos. É bizarro pensar que a projeção pode
ter “influenciado” no assassinato da atriz Sharon Tate (esposa de Polanski), que foi
brutalmente assassinada quando estava gravida de oito meses por Charles Manson
e seus comparsas familiares, apenas um ano depois do lançamento da obra, em
1969, marcando um dos casos mais famosos e chocantes da história norte-americana.
É interessante deduzir que os eventos mostrados em O Bebê de Rosemary pode ter
tido alguma relação; muito curioso, se parar para pensar.
Quando a projeção
começa, já tocando a sensacional trilha sonora (uma canção de ninar assustadora
e maravilhosa ao mesmo tempo, clique aqui
para ouvir), vemos Nova York numa bela tarde de sol, quase sem nenhuma
nuvem no céu azulado. A câmera desliza calmamente pela cidade, realçando a
canção de ninar em nossos ouvidos. “Rosemary’s Baby” aparece escrito com uma elegante fonte
rosa, dando todo um charme na obra. É curioso como essa cena inicial permanece
na memória do público, enquanto vemos a enorme cidade suja e repleta de crimes,
apaziguada pela tranquilidade que uma tarde de sol pode proporcionar. Nada
poderia dar errado em um belo dia desses, não é mesmo ?
Impossível não se lembrar dessa abertura.
Logo vemos o edifício Dakota (chamado
no filme de Bramford) um antigo prédio que fica de frente para o Central
Park. Curiosamente, sem contar todas as menções que o prédio é “amaldiçoado” ao
decorrer do filme, na vida real, John Lennon (eterno Beatles) viria a ser
assassinado ali 12 anos depois, em 1980; um fato bizarro e intrigante. Seria
mesmo essa porra de prédio amaldiçoado?
Então conhecemos o casal animado Guy
e Rosemary Woodhouse (John Cassavetes e Mia Farrow, respectivamente), ele
bonitão com seu paletó azul e querendo impressionar o sindico do velho prédio;
ela toda tímida e reservada, como sempre aparenta estar. Rosemary tem o poder
de “transmitir” uma aura perolada com sua delicadeza e dicção curiosa; também
possui o clássico cabelo channel louro que marcos época. Logo percebemos que os
dois são simpáticos, porém reservados com seus olhares O típico casal norte-americano
que está “começando a vida”.
Um tarde de sol em NY.
Eles estão visitando o Bramford
naquela bela tarde para verificar a qualidade dos apartamentos, visando se
mudarem. Guy é um ator de teatro ambicioso, porém mal sucedido na carreira;
como Rosemary já o corrigia várias vezes: “ele trabalhou em Luthor e Ninguém
Ama o Albatroz, além de vários comercias pra televisão”, porque o marido vive
falando que trabalha em produções maiores. Numa cidade grande como NY, Guy é
aquele rapaz que precisa aparecer na multidão de alguma maneira. Precisa se
destacar, nem que isso influencie suas vidas (e muito, acredite em mim).
Com o sindico do prédio, eles
conhecem o velho apartamento da falecida senhora Gardenia, que tinha o costume
de cultivar ervas no local. A direção de Polanski é inesquecível aqui, te
mantendo preso em cada detalhe do ambiente. Juntos, conhecemos o apartamento
que será o palco da obra, e conseguimos sentir que existe algo estranho ali,
mas é somente uma mera impressão... Como se fosse uma atmosfera no ar abafado.
O clima colonial clássico é mantido em muitos aspectos da ambientação; o
Bramford, com certeza, é um prédio estranho.
Logo o sindico se espanta com uma
enorme cômoda que estava fora do local, e todos ficam se perguntando como uma
senhora de 89 anos poderia ter movido aquilo. Quando, com muito esforço, Guy e
o sindico removem a cômoda novamente, acham o último armário que faltava para
apresentar o apartamento; fica a questão no ar: por que ela estava querendo
esconder o armário, só contendo algumas toalhas e um aspirador de pó?
O misterioso armário.
Como planejam ter filhos, o casal
precisa de um local grande, e logo Rosemary convence o marido a ficar com a o
apartamento. Essa basicamente é a introdução do filme, mas não demora muito
para as coisas ficarem estranhas: Rosemary logo conhece uma jovem chamada Terry
Gionoffrio (Victoria Vetri), garota simpática que diz ter sido tirada das
“drogas e suicídio” pelos vizinhos de Rosemary, um curioso casal de velhinhos,
aparentando ser muito generosos, pois tiraram Terry das ruas e basicamente a
tratam como filha. A curiosa mulher carrega um amuleto em forma de colar,
presente do casal de velhinhos. Naquela noite, Terry é encontrada arrebentada
na sarjeta do Bramford, aparentemente cometendo suicídio ao se jogar da janela;
nessa cena conhecemos os velhinhos, Minnie (Ruth Gordon, vencedora do Oscar) e
Roman Castevet (Sidney Blackmer), que chegaram de um passeio pelo Central Park
na hora do ocorrido. Minnie é uma velha totalmente enxerida e bisbilhoteira,
falando alto com sua voz esganiçada e chamando a atenção por onde passa. Já
Roman é um senhor reservado e com olhar penetrante, elegante e aprofundado na
cultura mundial (mencionando em certo ponto que já viajou todos os países do
mundo). Eles se demonstram chocados com o ocorrido e carinhosos com Guy e Rosemary,
até mesmo a presenteando com o curioso amuleto que Terry usava.
Acontece que naquela noite Rosemary ouve
coisas extremamente estranhas antes de dormir, pelo eco da parede, conseguindo
ouvir o casal de velhinhos discutindo. Polanski transita imagens bizarras,
mostrando um pedreiro colocando tijolos na janela que Terry se jogou, enquanto
recebe bronca de uma freira rabugenta, que argumenta com a mesma voz da
velhinha Minnie. É lindo e assustador.
Minnie e Roman chegando no Bramford.
O casal se torna muito próximo de
Minnie e Roman, principalmente após um excêntrico jantar no apartamento deles
(onde se pode reparar que todos os quadros estavam virados ao contrario). Mas é
Guy que fica extremamente intimo do curioso Roman, encantado com suas histórias
interessantes. O rapaz estava disputando um ambicioso papel no teatro, correndo
o risco de estourar sua carreira, e de um dia para o outro, seu adversário fica
cego e incapaz de atuar, e assim Guy ganha o papel que tanto desejava. Tudo vai
dando certo para ele, mas o roteiro (também escrito por Polanski) mantem tudo
em sigilo, fazendo o público desconfiar de tanta sorte aleatória. Para
“disfarçar” sua ausência, Guy planeja ter um filho com Rosemary, e marcam uma
noite especial para a ocasião de suas vidas.
Então temos a ETERNA noite do jantar,
onde os dois reservam um tempo só para eles, com música clássica romântica,
lareira quentinha acesa, coquetéis de vinho e um banquete refinado. A noite em
que pretendem conceder o desejado bebê tinha que ser perfeita em todos os
detalhes. Destaque para a clássica roupa vermelha que Rosemary usa, preservando
seu charme sutil. É claro, não demora muito para a velinha Minnie tocar a
campainha e perturbar o jantar do casal, mas dessa vez ela não veio encher o
saco, e sim trazer um mousse de chocolate como sobremesa dos dois, em copos
individuais. Nessa etapa já percebemos algo estranho, porque Guy devora o
canecão como se não houvesse amanhã, já Rosemary sente um gosto muito estranho
no doce, e discretamente joga metade do conteúdo fora, no entanto, ela acaba comendo um pouco.
O verdadeiro PT.
Mais tarde, Rosemary começa a passar
extremamente mal, cambaleando e desmaiando pelo apartamento. Guy fica
preocupado e a deita na cama, deduzindo ser o efeito da famigerada bebida
alcoólica. Essa sequência é uma das mais perturbadoras já feitas, pois Rosemary
sonha ser estuprada por uma seita misteriosa que inclui demônios, seus vizinhos velhinhos,
o amuleto, com até mesmo seu marido envolvido. A coordenação e edição dessa
sequência são impressionantes, desde Rosemary atordoada e zonza em seu colchão
(imaginando estar flutuando no meio do oceano), até mesmo nas cenas que os
demônios estupram seu corpo magricela e desenhado com sangue, tudo ao som do
sabá de alguma seita. É uma mudança de tonalidade muito forte, em comparação
com o começo pacato.
Na manhã seguinte, ela acorda
“perdida” (com as costas arranhadas), como se estivesse bêbada. Quando conta
para Guy que sonhou ter sido estuprada, ele fica extremamente surpreso, pois
revela ter feito sexo com ela após a mesma ter desmaiado; “não queria perder a
noite do bebê”, segundo ele... Sim, leitores, aparentemente Guy Woodhouse curte
uma necrofilia (rsrs). Até aí tudo bem, porque logo Rosemary recebe a noticia
que tanto esperava: finalmente está gravida!...
Isso é perturbador.
Antes confiante no médico Dr. Hill
(Charles Grodin), Rosemary acaba seguinte o conselho dos Castevets e indo
visitar o obstetra Dr. Abraham Sapirstein (Ralph Bellamy), um médico cético,
rabugento e influente, que promete para Rosemary um bebê saudável por meio de erva
tannis, excluindo o tratamento convencional com pílulas receitadas. Só
mencionando, a erva de tannis é exatamente a mesma que enfeita o tal amuleto
que Rosemary ganhou de Minnie... Meio suspeito, não é mesmo?... A futura mãe
parecia estar sendo alienada de alguma forma, mas isso era apenas o começo.
Guy começa a ficar cada vez mais
ausente (aparentemente ocupado ensaiando para seu futuro papel no teatro, onde
precisa utilizar muletas), e Rosemary sofre absurdos nos três primeiros meses
da gravidez; sofre sozinha e sem ter nenhum membro próximo para desabar. Nesses
três primeiros meses, nossa doce garota passa por dores abdominais extremamente
graves, confinação social, perca de peso, fica pálida como um giz e ganha
desejo involuntário por carne de fígado crua, um indicio dos primeiros presságios
demoníacos. Em certo momento Rosemary até muda seu corte de cabelo, o deixando
extremamente curto no intuito de parecer melhor, mas só acaba piorando. Esse
talvez seja um dos filmes mais assustadores do gênero, não por efeitos
especiais e sustos gratuitos, mas por uma premissa realista que realmente choca
quem acompanha.
Esperando pelo mal, sem saber.
Edward Hutch (Maurice Evans) é um
amigo muito próximo de Rosemary, inteligente pra caralho e culto em vários
sentidos. Acontece que Hutch se demonstra desconfiado ao ver a aparência esquelética
de Rosemary e descobrir que ela está sendo alimentada somente com a tal erva
tannis, ficando preocupado e prometendo fazer pesquisas para descobrir mais
sobre a raiz misteriosa. No entanto, antes de conseguir avisar o que descobriu
para Rosemary, ele acaba entrando em coma misteriosamente. Com as dores
intermináveis, Rosemary acaba perdendo a confiança no Dr. Sapirstein e tendo
uma briga feia com Guy, desesperada com o desenvolvimento do bebê (achando que
ele vai morrer devido as fortes dores). O ausente marido se demonstra irritado
quando Rosemary informa que voltará a consultar o obstetra Dr. Hill, e
curiosamente, a dor da gestante para sem motivos (como se ela estivesse “saindo
do trilho” psicologicamente, e a trouxeram novamente com a ausência da dor), e
ela volta a ter um bom relacionamento com seu marido e vizinhos.
Alguns meses depois Hutch morre do
coma, mas antes deixa um livro para Rosemary, com aparentemente tudo que ele
havia descoberto; um livro marcado e velho, intitulado “All Of Them Witches” ou
então “Todos Eles São Bruxos”. No começo, ela não consegue entender as
mensagens em anagrama, mas logo entra em total desespero ao perceber que Roman
Castevets (seu vizinho), com letras trocadas, é Steven Marcato, filho de um
satanista que havia sido linchado na calçada do Bramford... Ela descobre que a erva tannis é usada em rituais que envolvem carne de crianças, como se quem usasse aquele amuleto, estaria participando involuntariamente, assim como aconteceu com a "suicida" Terry... Todos eles são
bruxos.
Sofrendo em silêncio.
A partir desse momento, Rosemary vira
uma mulher completamente perturbada, acreditando que seus vizinhos e o Dr.
Sapirstein são membros de um complô com interesse em seu futuro filho. Sua
principal desconfiança é que o marido tenha vendido a criança por sucesso na
carreira, principalmente por ele nunca acreditar em sua opinião e achar que
está louca (inclusive jogando o livro fora). O complicado é que a direção de
Polanski confunde o público em vários momentos, e realmente pensamos que
Rosemary pode estar ficando louca; como nos momentos em que atravessa as
avenidas de NY sem se preocupar com o movimente, entrando na frente dos
automóveis de qualquer jeito. Junto com sua desconfiança, a mulher vai
afundando em seus pensamentos até sobrar nada, somente o amor pelo pequeno
filho que ainda não nasceu.
Quando já está para ter a criança,
Rosemary tenta procurar a ajuda do Dr. Hill, mas acaba iludida e voltando nas
mãos das pessoas que tentou fugir. Sem opções, o Dr. Sapirstein realiza o parto
no quarto do casal, sem os instrumentos necessários e com Rosemary histérica,
gritando feito uma louca sem rumo. Tudo saindo exatamente como não planejado. A
partir de agora, perdemos a noção do tempo junto da inocente mãe, que permanece
acordando em uma sucessão de horários, durante vários dias aleatórios. Sendo
informada que o bebê morreu durante o parto, a mulher continua desesperada na
cama afirmando que todos ao seu redor são bruxos visando a alma da pequena
criança, mas como ouve um bebê chorando no apartamento ao lado, ela espera a
noite cair para invadir o local e descobrir as respostas que estava procurando.
Rosemary e o berço negro.
Lembram daquele misterioso armário
que mencionei no começo da crítica? Aquele que supostamente foi escondido pela
antiga moradora do prédio? Rosemary descobre que ele tem um “fundo-falso”, onde
permite acesso até o apartamento vizinho, dos Castevets; e armada com uma enorme
faca de cozinha, a jovem mãe parte escondida para o local, já determinada em
saber o que pode ou não encontrar naquele ambiente. Logo quando entra pelo
fundo do apartamento, vemos uma porção de quadros com igrejas queimando e
outras ousadias (lembram que na primeira visita do casal os quadros estavam
virados ao contrário?)... Pois bem, ouvimos vozes vindas da sala colonial, e
nossa protagonista parte com rápidos passos para uma jornada sem volta.
De fato, a cena final é perturbadora,
ao acompanharmos Rosemary sendo bombardeada com a verdade que tanto
desconfiava: não era alucinações de sua cabeça, tudo que suspeitava se prova
verdadeiro. Ver os moradores do Bramford reunidos na sala, engravatados,
bebendo vinho e agradecendo Satã pelo seu filho único é amedrontador pelo FORTE
REALISMO; é tudo tratado com maturidade e independência. Todo mundo faz parte
da tal seita, inclusive o Dr. Sapirstein e outros rostos conhecidos vistos
durante a projeção. Rosemary vê o macabro berço preto que oculta o filho de seu
ventre, e sua expressão ao puxar o véu negro é arrasadora. Roman Castevets
avisa que a criança se chama Adrian, filho de Satã e destinado a fecundar os
mortais da humanidade; Rosemary recebe essas informações arrasada e
inconformada, não podendo fazer ABSOLUTAMENTE NADA para alterar isso. Ela já
desconfiava das atitudes suspeitas há muito tempo, mas quando tudo finalmente
se provou verdade, a superação se torna simplesmente impossível, diante da
forte influencia que o complô procura transmitir.
Elite maldita #HeilSatan
Seu marido Guy, o verdadeiro
responsável por tudo isso, se demonstra transparente ao ver Rosemary
descobrindo tudo, tendo grande dificuldade de encará-la nos olhos (até saindo
da sala). No entanto, ele conta o que aconteceu alguns momentos depois,
revelando que eles iam mudar de vida a partir daquele momento, pois as melhores
companhias cinematográficas já estavam interessadas em contratá-lo (obviamente
devido ao pacto); “é como se tivéssemos perdidos o bebê”, ele fala tentando
animá-la, mas a única coisa que recebe é uma cuspida no rosto. Guy é o
verdadeiro lixo humano, um rapaz amargo e sem compaixão pelas pessoas mais
próximas, que sim, merece sofrer muito e por muito tempo.
Como todo mundo deve saber, o bebê
nunca é mostrado; acompanhamos apenas o seu choro (igual de qualquer criança) e
uma breve cena embaçada, onde podemos ver dois olhos vermelhos em um rosto de
cores realçadas. Eu fico realmente satisfeito em não ver a criança maldita,
pois como já mencionei no começo da crítica, isso poderia acabar com todo o
realismo obscuro criado até então, com apenas essa simples cena. Não
acompanhamos um bebê assassino, como veríamos em Nasce um Monstro (1974), a
premissa aqui é sobre o que a ambição não pode fazer com um homem, deixando ele
frio o suficiente para vender a alma do único filho pela promessa do sucesso; e
na consciência de uma pessoa dessas, não foi nada demais, é só engravidar
novamente, né?
What have you done to his eyes?
O final é um dos mais tristes já
vistos na história, porque Rosemary tem uma mudança repentina de atitude, e
acaba aceitando o bebê como seu verdadeiro filho, pois na realidade, ela é a
mãe, isso não há dúvidas. E o que uma mãe não faria por seu filho? Independente
das densidades propostas? É triste, pois ao embalar o filho no berço (o fazendo
parar de chorar), Rosemary abre um pequeno sorriso, como se já tivesse se
tornado uma daquelas “pessoas invisíveis”, que agem em silêncio profundo,
reinando discretamente. Ouvimos novamente a assustadora canção de ninar que
abriu a projeção (ouça aqui), e sabemos que mesmo tudo estando na pior, na
consciência de uma mãe ingênua, seu filho continuava bem e saudável, desde que
esteja sob seus cuidados, protegido em seus braços calorosos.
Após o final arrasador, não há como
negar que O Bebê de Rosemary (1968) é um marco da sétima-arte, assustando o
subconsciente das pessoas mais indiferentes. É uma obra prima do terror, com
pouco sangue e muito suspense, criando situações inimagináveis na cabeça de uma
mulher que só queria o bem de seu filho. Nada acabou bem, tudo deu errado; mas
a mensagem transmitida continua forte: pelo jeito, sempre mantenha sua sanidade
ao desconfiar de alguém, porque como já dizia o Dr. Hill, bruxaria pode não
existir, mas que existem muitos loucos nesse mundo... Isso é fato. Quase uma
década mais tarde, em 1976, tivemos uma continuação lançada especialmente para
a televisão, uma projeção raríssima e desconhecida intitulada Veja o que
Aconteceu ao Bebê de Rosemary, que futuramente será analisada pelo Portal
Tartárico. Por enquanto, fica a ótima recomendação dessa pérola, para todos que
procuram uma boa história com capacidade de manter raciocínios durante dias.
Assista muitas vezes, e lembre-se eternamente: “TODOS ELES SÃO BRUXOS”.
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TRAILER DE 1968:
CURIOSIDADES:
Como o filme tem uma contagem de corpos extremamente pequena (somente dois), colocarei algumas curiosidades interessantes:
1) O bebê de Rosemary, Adrian, nasceu dia 6/6/66.
2) Mia Farrow realmente comeu fígado cru para gravar uma cena.
3) O produtor William Castle recebeu várias ameaças de morte, por tocar no tema “anticristo” retratado no filme.
4) Mia Farrow é quem canta a canção de abertura.
5) Roman Polanski originalmente pensava em colocar sua esposa, Sharon Tate, como Rosemary.
6) Sharon Tate aparece rapidamente na festa que Rosemary organiza em seu apartamento.
7) Sharon Tate foi assassinada brutalmente quatorze meses depois do lançamento do filme, quando estava gravida de oito meses. Esfaqueada mais de 16 vezes por membros da família Manson, que escreveram “morte aos porcos” com sangue na parede da casa do diretor Polanski.
8) Reza a lenda que o filme inspirou clássicos como O Exorcista (1973) e A Profecia (1976).
9) O produtor William Castle foi internado em abril de 1969, quase em falência. No hospital, testemunhas afirmam tê-lo ouvido alucinar e dizer: “Rosemary, pelo amor de Deus, solte essa faca!”.
CONTAGEM DE CORPOS (2):
Assassinados pelo complô:
Terry Gionoffrio: suposto suicídio, pois caiu da janela do apartamento (morte offscreen).
Edward Hutch: amaldiçoado depois de ter sua luva roubada (morte offscreen).
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Este filme é uma obra prima, dos poucos filmes na história do cinema ao qual dou nota 10/10. O ano de 1968 foi fabuloso com "2001 a space odyssey", "night of the living death", "once upon a time in the west" e este "rosemary's baby".
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