sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Dia dos Namorados Macabro (1981) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Todos que acompanham o Portal Tartárico sabem que 1981 foi um ano que tivemos inúmeros slasher somente em território estadunidense (mais de 30 projeções do gênero apenas nesse período), e um dos trabalhos mais memoráveis do ano foi Dia dos Namorados Macabro, clássico canadense do diretor parcialmente desconhecido George Mihalka. O filme não é só um marco do gênero, como também um clássico que merece ser assistido novamente várias vezes.

O terror sempre explorou as datas comemorativas para desenvolver suas histórias mirabolantes e sangrentas, como Halloween (1978), Sexta-Feira 13 (1980), Natal Sangrento (1984), Réveillon Maldito (1980), e até mesmo o dia 1º de abril, com A Noite das Brincadeiras Mortais (1986), páscoa, com A Praia do Pesadelo (1989), as eternas noites de formatura, com A Morte Convida Para Dançar (1980), feriado da independência, com Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997)... Parece bastante não é mesmo? Ainda temos tramas sangrentas que são desenvolvidas no Dia de Ação de Graças, Dia das Mães... Só que aqui, com a temática romântica de namorados, temos uma pegada “aconchegante” e pacata, marcando outra grande fase que esses filmes trouxeram para nosso entretenimento.

Dia dos Namorados Macabro não é um slasher como qualquer outro, pois carrega uma atmosfera que se encaixa perfeitamente com a ideia proposta. Um pequeno aviso para os românticos incorrigíveis: se forem sair pelas ruas de mãos dadas (alá anos 80), é bom tomar cuidado para não ser estripado por Harry Warden e sua picareta de minerador. O assassino, apesar de não tão conhecido popularmente, é um clássico que assustou muitas pessoas, seja por sua aparência amedrontadora, ou pela forma que elimina suas vitimas inocentes. Harry era um minerador que sofreu uma tragédia explosiva (literalmente rsrs) e agora, por vingança, faz questão de assassinar os jovens estereotipados de uma pequena cidadezinha no interior norte-americano chamada “Valentine Bluff”; essa basicamente é a essência que acompanhamos nessa pérola obscura, mas como a turma das antigas devem saber, não é somente isso, temos também aquele charme contagiante que marcou época.

O grito de abertura, protagonizado por uma loira peituda.

Nossa história começa nos túneis escuros de uma gigantesca mina, onde dois mineradores exploram o local com suas roupas escuras e capacetes que marcam a profissão sufocante. Sem mais nem menos, um dos trabalhadores começa tirar a vestimenta com sensualidade... É uma mulher gostosona! O clima começa a pintar com docilidade, a mulher fica apenas de sutiã (percebemos que ela possui uma pequena tatuagem em forma de coração no seio esquerdo), tentando tirar a máscara do companheiro, mas ele se recusa com aquela respiração no melhor estilo Darth Vader (devido à máscara). Quando a garota abaixa a guarda, o minerador misterioso a empurra contra a parede, cravando suas costas em uma picareta posicionada; a ponta atravessa seu peito, saindo justamente na tatuagem em forma de coração. A perspectiva nostálgica da um superclose na boca da vitima, e vemos o titulo “My Bloody Valentine” com charme romântico, mantendo a atmosfera dos namorados despreocupados.

Charmoso & Lendário.

Pois bem, na cidadezinha de Valentine Bluff o trabalho mais comum é na velha mina que abastece a área, e basicamente todos os homens trabalham lá por bem ou por mal. No entanto, todos são amigos e parecem completamente satisfeitos com seus respectivos trabalhos. A cidade também ostenta como grande evento um famoso baile do Dia dos Namorados (obviamente) que é realizado há mais de 100 anos, mas infelizmente não acontece nos últimos 20... Por quê? Bem, o baile foi cancelado há 20 anos devido ao incidente no dia dos namorados de 1961, onde a lenda de Harry Warden começa: em uma charmosa noite, toda a cidade se divertia no famigerado baile enquanto um grupo de mineradores continuava na parte mais funda da mina. Seus dois supervisores saíram para curtir os embalos da noite e deixaram o grupo lá embaixo, sem controlar os níveis de gás metano... Resultado: o lugar todo explodiu, matando a maioria dos mineradores e soterrando o resto, mas Harry Warden sobreviveu, e foi encontrado semanas depois devorando o cadáver de um dos seus companheiros. Um ano depois, no dia dos namorados, ele vingou o acidente assassinando os dois supervisores culpados, arrancando seus corações e os deixando no baile dentro de caixas de bombons ensanguentadas. Desde então, a cidade nunca mais comemora a data, com medo dos assassinatos recomeçarem. Toda essa lenda é revelada na trama por um velhote lunático dono de um bar (parecido com Crazy Ralph em Sexta Feira 13) que começa a narrar todos os acontecimentos em forma de flashback para seus clientes; esse bar é um point da cidade onde todos os rapazes vão depois do trabalho, para relaxar e zoar.

Trabalhadores pacatos.

O pontapé inicial é dado quando o prefeito resolve retornar com o famoso baile. Todo mundo está completamente eufórico, decorando as ruas como se não houvesse o amanhã, pendurando corações nas casas e também deixando em ordem o salão que ocorrerá o evento. E ninguém ficou mais feliz com o retorno do baile do que os estereotipados mineradores, que devido à profissão, provavelmente não tinham muito lazer pelo local. O galã do pedaço é Jesse Hanning (Paul Kelman), mais conhecido como “TJ”, bonitão popular que também é filho do prefeito local; a fisionomia do rapaz lembra muito de Jim Halsey em A Morte Pede Carona (1986). Mas enfim, TJ descobre que sua antiga namorada Sarah (Lori Hallier), agora está saindo com seu melhor amigo Axel Palmer (Neil Affleck), outro que também trabalha na mina. Também existem outros “jovens” morféticos, como o gordo vacilão Hollis, o brincalhão Howard, a assanhada fofinha Sylvia e outros babacas que só servem para aumentar o body count. Lembrando que a produção do filme escolheu uma junção perfeita em sua estética, pois a cidade é situada em uma região fria, triste e com aparência de poeira, extremamente parecida com a claustrofobia encontrada nas profundezas de uma mina.

Os jovens malditos de sempre.

Todo mundo aparenta estar tendo os melhores dias que já viveram, mas isso dura pouco tempo. Primeiro o prefeito recebe uma grande caixa de bombons, ao abrir, louco para saborear os doces, acaba encontrando um conteúdo levemente indigesto e ensanguentado: a porra de um coração humano! Revelado ser da gostosona que o minerador assassina no começo do filme. Também foi enviada uma breve cartinha com versinhos ameaçadores (como a frase antes da "contagem de corpos" dessa crítica), essa dinâmica seria usada futuramente em O Dia do Terror (2001), outro longa do gênero que também explora a data romântica. Também não demora muito para Mabel, uma velhinha adorável que estava animada com a decoração da cidade, ser assassinada brutalmente em uma daquelas típicas lavanderias norte-americanas (em uma clássica cena, por sinal). Seu corpo é encontrado pelo delegado Newby (Don Francks) na manhã seguinte, completamente arrebentado dentro da máquina de lavar. Com essas tragédias, o prefeito chega a um acordo com o delegado e resolvem cancelar o famoso baile, para o desprazer e frustração de todos os jovens animados.

Mas obviamente, estamos em um filme de terror oitentista, então os jovens estão pouco se fodendo para a história de Harry Warden e o caralho a quatro, achando que tudo não passa de uma bobagem local, como sempre. E com o cancelamento do tão esperado baile, eles resolvem fazer uma festinha escondida no refeitório da velha mina... Tem tudo para dar certo, não?

Melhor presente.

TJ é um protagonista fanfarrão sem limites, ao basicamente voltar para Valentine Bluff após um tempo e ver que sua ex-namorada estava, agora, com seu antigo amigo Axel, o independente rapaz procurou fazer de tudo para reconquistá-la. O roteiro gasta algum tempo com isso, formando mais um clichê do triangulo amoroso e blá, blá, blá... No entanto, temos bons momentos, porque TJ e Axel não param de brigar por Sarah, sai até soco na cara. Axel é outro personagem interessante em suas limitações: louro, pacato e com seu sorriso maroto que não esconde preocupações; mas na verdade, quando se irrita temos uma mudança de atitude favorável. Eu sempre gostei mais do Axel do que do próprio TJ, porque sem contar sua “tranquilidade” colegial, futuramente vamos ter uma enorme revelação na trama, eternizando o personagem.

O filme é cheio de câmeras que transmitem serem subjetivas, mas revelam-se apenas tentativas de criar o suspense; por exemplo: temos uma perspectiva distante (com aquela câmera trêmula padrão) basicamente “observando” as vitimas, como se fosse aquela típica visão do assassino, mas na verdade não é nada. Às vezes parece que a câmera é alternada para 16mm em algumas cenas de assassinatos, dando um tom macabro na obra (parecido com o final de Easy Ryder).

Axel e TJ, no amor e no ódio.

Vou falar um pouco das mortes, porque apesar das limitações e baixo orçamento (como sempre esses filmes são), temos eternos momentos que ficariam marcados no body count da época. A maquiagem é ótima e choca o público em certas cenas, como na sequência que o velho pregador dono do bar acaba tomando uma picaretada no queixo, tendo a ponta saindo em seu olho; são esses pequenos momentos que provam que uma produção não precisa de um orçamento estrondoso e nem mirabolantes tramas, somente a básica criatividade e uma boa ideia, isso já basta para entreter por várias décadas. Só que assim como Sexta-Feira 13 Parte VII (1988), o filme foi brutalmente cortado pela censura (talvez não tanto como o longa de Jason Voorhees, mas bastante), e muitas cenas que somos presenteados com o gore explicito são deixadas de fora. Por sorte, a versão sem cortes é facilmente encontrada na internet hoje em dia, inclusive aqui mesmo no Portal Tartárico (clique aqui para assistir) depois de anos guardadas longe do público.

A festa que os jovens protagonizam no refeitório da velha mina é clássica: temos rock no melhor embalo American Graffiti (1973), muita conversa inútil, litros de cerveja, baseados, namoricos e tretas, socos na cara e sinuca liberada... Enfim, um ótimo dia dos namorados, mas claro, por muito pouco tempo. A primeira vitima da noite é o novato Dave, que aparentava ter conseguido um “rolinho” com uma garota qualquer, mas não dura muito tempo; a morte de Dave é uma das mais lembradas, quando vai até a cozinha para preparar um cachorro-quente e é afogado na panela com água fervendo (curioso saber que no mesmo ano tivemos uma morte extremamente parecida em Halloween II, só que ao invés de uma panela, era uma banheira de quimioterapia).

Ensinando a comer tudo direitinho.

Em certo ponto do filme, o gordão de bigode, Hollis, tem a grande ideia de pegar um fardo de cerveja e descer até as profundezas da mina com aqueles carrinhos de trilho e, obviamente, metade da festa o acompanha. Ao chegarem até certo ponto da escura e profunda mina, eles descem do carrinho em uma nivelação para Hollis poder fazer um “tour” e apresentar o local para as garotas assanhadas. Como já é o padrão, todos vão sendo assassinados um por um (desde quando se separam para fazer o estereotipado sexo oitentista adolescente).

No refeitório, John (um inútil qualquer) encontra o corpo de Dave na geladeira, e as coisas só começam a piorar. Já sabendo do retorno de Harry Warden, os jovens entram em total desespero, fugindo o mais depressa possível para suas residências acolhedoras. No meio de tanta confusão, TJ e Axel se unem involuntariamente para salvar a única coisa que amam em suas vidas: a puta fofa da Sarah, que agora está passeando desprotegida pelas profundezas da mina. Vou deixar frisado que o clima de claustrofobia proporcionado pela enorme escavação realmente funciona, e sentimos que o lugar é frio, silencioso e desolador; não importa a hora do dia, pois a escuridão aterrorizante predomina em cada centímetro de rocha bruta.

Ótimo visual, não tem como discordar.

A produção fica bem ambiciosa no final, com direito a plot twist muito bem feito, perseguição com os vagões de mina (em uma bela sequência, porém mal conduzida pela direção e edição), fora a grande quantidade de sangue (encurtada na versão censurada). Destaque para a cena que os sobreviventes sobem uma grande escada para sair da mina e o corpo de Howard é arremessado lá do alto (provocando uma decapitação linda que também foi censurada na versão básica), e aquela perturbadora ausência de trilha sonora, somente o som ecoante das profundezas úmidas. As atuações não são muito boas, principalmente por parte das garotas (elas não tem a magnitude das pioneiras, como Marilyn Burns e Jamie Lee Curtis), mas por sorte a trama simples compensa de alguma maneira. O assassino é muito bom, amedrontando somente com sua aparência macabra e respiração ofegante; sem contar que possui características únicas que o diferem da maioria.

Axel acaba se afogando por acidente em uma vala cheia de barro e, sem opção, TJ guia as garotas até a saída do local, até trombarem o assassino novamente, cravando a picareta no estômago de Patty e deixando somente o casal protagonista vivo até então. Já no finalzinho, quando a polícia chega à mina, Sarah consegue puxar o capacete do assassino e... É o Axel! Sim, isso mesmo, não era Harry Warden o protagonista da matança, mas sim o pacato minerador Axel Palmer! Um pequeno flashback é apresentado, revelando que o pai de Axel era um dos supervisores que foi morto por Harry Warden há 20 anos. Mas só isso mesmo. É tudo bem breve, mal explicado e apressado; o filme apresenta os fatos de uma vez só, talvez para fazer o público da época ficar pensativo sobre os motivos da matança inesperada.

O assassino incompreendido.

Soterrado por pedras e vigas, Axel serra o próprio braço com uma pequena faca de caça (ótima cena), fugindo antes da polícia conseguir remover os escombros. O maníaco consegue escapar sem o braço, fazendo juras de morte contra a cidade e jurando se unir com Harry Warden, rindo alucinadamente. Se você assistir o filme mais de uma vez, vai conseguir perceber leves dicas que o roteiro deixa para deduzirmos que Axel é o assassino, principalmente nos últimos 30 minutos de projeção, onde a atuação de Neil Affleck deixa isso bem suspeito. De fato, Axel ficou marcado como um serial killer bêbado, apaixonado e que se parece com Crispin Glover em Sexta-Feira 13 Parte IV (1984)... Acreditem em mim, leitores, não tem como ser melhor! kakaka... No final, durante os créditos, ainda ouvimos a clássica “The Ballad of Harry Warden” tema composto especialmente para o filme e que entrega a bela chave de ouro (clique aqui para ouvir).

Dia dos Namorados Macabro (1981) é mais uma grande recomendação do Portal Tartárico, não só para ser assistido no feriado retratado, mas em qualquer outro dia comum, porque a nostalgia é forte aqui. Em uma época em que os slasher eram novidades e não saturados, cada detalhe vale a pena ser visto. Para quem não sabia, George Mihalka planejava fazer uma continuação do filme em 2001, mas a Paramount alegou que era um projeto parcialmente “desconhecido” para se dar continuidade duas décadas depois; acabou que tivemos um remake em 2009 nas mãos do diretor Patrick Lussier (época que TUDO era motivo para se fazer uma refilmagem, principalmente o terror). Independente de continuações, Dia dos Namorados Macabro mantem sua qualidade clássica e inconfundível, deixando um recado simples e poderoso: se você quer curtir o dia dos namorados com sua pitanga, não fique na extravagancia desnecessária, pois Harry Warden (ou Axel Palmer) pode estar observando de longe na penumbra... Pronto para fazer mais uma vitima com sua enorme picareta ensanguentada. O amor e o romance nunca mais foram os mesmos.

"From the hearth comes a warning, filed with bloody good cheer, remember what happened as the 14th draws near!"
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TRAILER DE 1981:

CONTAGEM DE CORPOS (8):
Assassino Axel Palmer:
Mulher peituda da tatuagem: costas cravada em picareta.
Mabel: morta com picaretadas e colocada dentro da máquina de lavar.
“Happy”, o dono do bar: picareta por debaixo do queixo (saindo pelo olho esquerdo).
Dave: afogado em grande panela de água fervendo, corpo guardado na geladeira posteriormente.
Sylvia: Cabeça cravada em chuveiro.
Michael: golpeado nas costas por broca.
Harriet: furado no pescoço por broca.
Hollis: dois disparos acertados na testa por revólver de pregos.
Howard: enforcado com brutalidade, fazendo sua cabeça ser decapitada.
Patty: estômago perfurado por picareta.
Assassino Harry Warden:
Sr. Palmer: golpeado no peito por picareta (em flashback).
Supervisor: peito aberto e coração arrancado (em flashback).
OUTRAS MORTES:
Quatro mineradores: carbonizados com a explosão de gás metano.

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