AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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É difícil encontrar alguém que não
tenha ouvido falar de Alien – O Oitavo Passageiro, clássico absoluto de 1979. O
filme de Ridley Scott é uma obra prima da humanidade e deve ser conhecido por
todos os apaixonados pelo terror e ficção cientifica de primeira qualidade. O Xenomorfo
(conhecido popularmente como a criatura Alien) é um dos ícones mais
representados na cultura pop, desde sua aparência física, como também a forma
de reprodução por meio de hospedeiros. A história se passa no espaço, um lugar
desesperador e sufocante, onde nem mesmo seus gritos podem ser ouvidos. É obrigatório
que todos tenham visto esse filme antes de "seguir adiante", outra forte recomendação do
Portal Tartárico como ótimo entretenimento para as madrugadas.
Ridley Scott dirigiu inúmeras
projeções conhecidas como Blade Runner – O Caçador de Androides (1982),
Hannibal (2001) e mais recentemente Prometheus (2012) e Perdido em Marte
(2015), já tendo uma grande noção em cima da ficção cientifica aprofundada. No bruto Alien, sua consagração imortalizada, ele não erra a mão em quase nenhum
detalhe; a película carrega imagens escuras e tranquilas, enriquecidas pela
imensidão do espaço profundo. Em uma época que o cinema visava o realismo
(alterado com o sucesso de Star Wars em 1977), a produção conseguiu
fazer tudo funcionar perfeitamente bem, tornando o filme especial em vários
sentidos. Até mesmo o misterioso pôster original já deixa o público na dúvida
do que será visto em tela; aqui realmente sentimos o clima forte de terror,
diferente do que veríamos nas continuações, onde exploraram mais a ação
explosiva. O roteiro fica por conta de Dan O’Bannon, já a ótima arte conceitual nas
mãos do pintor surrealista H.R Giger. Lembrando que a franquia Alien teve quatro
capítulos, um prequel lançado em 2012 (Prometheus) e um confronto com Predador.
Portanto, sem mais delongas, vamos começar:
Nave comercial de carga “NOSTROMO”.
Tripulação: sete.
Carga: 20.000.000 toneladas de
minério refinado e processado.
Curso: retornando à Terra.
É com essa breve mensagem que o longa
se inicia, enquanto vemos a gigantesca nave Nostromo emergindo das profundezas
do espaço. A simples mensagem já avisa tudo que precisamos saber: a nave está
voltando para nosso planeta após recolher toneladas de minérios dos cosmos, e apesar do imenso tamanho da espaçonave, a tripulação é de apenas sete humanos; por isso o “Oitavo Passageiro” do titulo, no entanto, o filme é originalmente
chamado de “Alien”.
Logo percebemos a falta de uma trilha
sonora marcante, fazendo o público entrar no clima assustador rapidinho; o
silêncio perturba. A fotografia também é tranquila e monótona, enriquecendo a
vida no espaço. Obviamente, toda a tripulação estava hibernada em uma bonita
sala branca, porque ainda faltavam 10 meses até chegarem à Terra, mas não
demora para o computador central da nave, denominado “Mother”, acordá-los sem
nenhum motivo aparente e tirá-los da hibernação necessária. O motivo?... Bom,
como todos devem esperar, não é um motivo muito feliz.
Acordar "cedo" é sempre uma merda.
O filme pode ser determinado em duas
palavras: lento e silencioso. Mas isso não é uma crítica negativa, e sim um
ponto positivo; a lentidão e ausência de som prendem o público e mantem os
nervos vibrando com cada movimento “tranquilo” executado pela tripulação da
Nostromo. Sabemos que alguma coisa vai acontecer em qualquer momento, só não
temos noção do que esperar.
São poucos lugares na nave que
realmente se parecem com o “futuro” acreditado por muitos atualmente: as salas
principais de comunicação ainda carregam aquela tonalidade branca e limpa
(parecida com a vista na obra 2001 – Uma Odisseia no Espaço em 1968), mas o
resto da gigantesca nave é sujo e escuro, como se fosse velho e “gasto”,
semelhante às caldeiras de A Hora do Pesadelo. Fator muito mais interessante
que naves completamente limpas e brilhosas, porque agrega realismo e o clima
assustador que aguardamos. A Nostromo não é uma nave bonita de se admirar,
chega a ser grotesca e assustadora de tão enorme, sempre silenciosa e vagarosa
diante da imensidão do espaço sombrio. Imaginar alguma criatura descontrolada e
desconhecida ali dentro é sempre uma visão medonha do que o futuro pode nos
trazer. A ousadia do homem em construir invenções é impressionante, mas a
capacidade de sobreviver por conta própria em lugares hostis (no caso o espaço)
é broxante.
A gigantesca Nostromo no espaço.
Na primeira refeição depois de acordarem,
podemos conhecer melhor os sete tripulantes “sortudos”: Dallas (Tom Skerritt) o
capitão da Nostromo, independente individual e dedicado aos bens da missão, até
mesmo capaz de dar sua vida por ela e todas as outras regalias que os homens
importantes fazem. O negão gente fina Parker, engenheiro chefe da nave (Yaphet
Kotto, que também fez o vilão Kananga em 007 – Viva e Deixe Morrer de 1973);
temos também o engenheiro técnico Brett (Hary Dean Stanton), sempre
despreocupado e fumando seu bolado, Lambert (Veronica Cartwright), a fofa
navegadora da missão. Ash (Iam Holm, veterano) o cientista inteligente que terá uma
revelação dramática na trama, em uma das melhores cenas do longa. Kane (John
Hurt) faz o primeiro oficial da Nostromo, que se torna o hospedeiro do Alien
quando a criatura atarraca seu rosto. Não podemos esquecer também da majestosa
Sigourney Weaver protagonizando a subtenente de bordo Ripley, uma mulher
destemida que será peça principal na franquia. Ripley é uma das final girls
mais duronas do gênero, sempre consciente e com alta experiência no campo de
combate, desenvolvida com o passar dos filmes.
Alguns membros da tripulação.
Pois bem, eles foram tirados da
hibernação por causa de um estranho sinal vindo de um planeta desconhecido. O
controle da nave basicamente acordou o grupo para verificar a origem da transmissão,
porque no caso, estão passando “perto” do planeta. Como todos assinaram
contratos e isso incluía emergências de regates, a tripulação tem que partir
para o local, sem ao menos saber o que vão encontrar pela frente. Detalhe: é
interessante como Ripley não é muito explorada nessa etapa da história, ganhando
muito mais espaço e afinidade conforme o filme vai passando.
Ao desemparem no planeta desolado, a
tripulação descobre que o sinal está vindo de uma gigantesca nave abandonada.
Somente com o objetivo de cumprir a missão dada, Kane, Dallas e Lambert entram
no objeto desconhecido para investigar a origem dos dados. Esse foi o pior erro
que podiam ter feito, porque sem contar que encontraram vestígios de enormes
formas de vida (como uma gigantesca criatura sentada, com o peito estourado de
dentro para fora), o curioso Kane acaba encontrando um ninho de ovos, e um
deles explode na sua frente, fazendo a primeira fase do Xenomorfo arrebentar o capacete e grudar em seu rosto (como se fosse um polvo).
Octopussy? (rsrs)
A primeira fase do Xenomorfo é muito
parecida com uma aranha, e tem somente o objetivo de depositar o embrião dentro
do hospedeiro, no caso Kane. O grito que a criatura emite assusta sem precisar
de muito, e mesmo se tentarem arrancá-la com facas ou objetos cirúrgicos, ela
somente aperta o pescoço de seu hospedeiro para matá-lo lentamente; é um processo que não
pode ser impedido sem a morte da vitima, e assim sendo, a criatura transmite oxigênio
que mantem a pessoa viva, mesmo fisicamente incapaz de fazer qualquer coisa.
Quando retornam com o corpo de Kane,
fazem todos os testes possíveis para identificar o qual tipo de criatura grotesca era aquela;
nessas sequências, acompanhamos o cientista Ash basicamente dando as primeiras
informações sobre a enorme mitologia envolvendo a franquia. A criatura é tão
bem feita e criada (com várias etapas de formação), que realmente parece
existir no mundo real... E sabendo da imensidão e profundidade do nosso espaço,
quem dirá que não existe mesmo?
Jantar sangrento.
A criatura demora em torno de alguns
dias para terminar o processo, morrendo naturalmente após depositar o embrião no
hospedeiro. E é assim que temos uma das cenas mais clássicas do cinema, quando
Kane acorda após a criatura desgrudar de seu rosto, faminto, os tripulantes de reúnem
para jantar em uma das salas extremamente brancas da Nostromo. Após darem
risadas, curtirem uma conversa descontraída, Kane começa a agonizar e o pequeno
Xenomorfo formado literalmente explode de seu peito e consegue escapar pela
espaçonave. É genial o contraste do sangue vermelho com o branco do refeitório;
os barulhos, gemidos e expressões somente fortalecem ainda mais a tensão. Sem
saberem que tipo de inimigo estão enfrentando sem nenhum armamento, os tripulantes se
encontram em uma delicada situação de sobrevivência contra o desconhecido.
O clima estabelecido até então muda
completamente de mistério e suspense para terror e desespero. Mesmo sabendo que os tripulantes estão em maior número, o fato de não conhecerem o
inimigo é totalmente fatal nessa ocasião inesperada; e após terminarem alguns reparos inesperados na nave, a Nostromo se encontra pronta para continuar sua viagem para a Terra.
Coisinha feia da porra.
O que ninguém esperava, é que o
Xenomorfo se desenvolve rapidamente, atingindo sua fase adulta em um curto período
de tempo (tendo esse desenvolvimento em offscreen nos dutos da espaçonave). A
ficção cientifica retratada na película é a clássica vista nos antigos filmes,
como computadores simples de dígitos esverdeados, porém com centenas de botões
luminosos sem rótulos para se identificar suas funções. O mais gratificante é a
ausência total de computação gráfica (fator que os filmes atuais usam e abusam,
para recriar basicamente o que for preciso); em O Oitavo Passageiro tudo é real
e não temos nenhum momento de CGI, agregando um realismo impossível de se
envelhecer. Bolaji Badejo, negão com 2,18 metros de altura, é quem incorpora a
excelente vestimenta artística da criatura alienígena, com seus movimentos
leves a sutis que imortalizaram o clássico filme. Com suspense e ataques rápidos,
o Xenomorfo só aparece de vez em quando, sempre mantido na ausência suspeita,
típica do gênero. Antes do final da película, todas as suas aparições são
rápidas e representativas, fazendo suas pequenas imagens se tornarem
perturbadoras no consciente do público. A criatura sempre aparenta estar melada
fisicamente e sedenta de sangue; sua aparência escura e disfarçada lembra qualquer
inseto que nós trombamos no dia a dia. Sempre lento e silencioso, o Xenomorfo
marca uma das figuras mais icônicas da cultura pop; sua cabeça extremamente
curvada, junta de sua boca “secundária” e grito estarrecedor tiveram a
capacidade de assustar toda uma geração por muito tempo, até os dias atuais.
Lembrando que a criatura também possui sangue ácido esverdeado, tornando seus
ferimentos um grande obstáculo dentro de uma espaçonave. No primeiro filme ela tem a estatura de um homem humano (pois usou o mesmo como hospedeiro),
diferente, por exemplo, do que vemos em Alien 3 (1992), onde o hospedeiro é um
cachorro e o Xenomorfo fica com um comportamento animalesco, coluna curvada,
andando de “quatro” e etc. Toda sua linhagem será estudada na futura análise
pessoal do personagem que o Portal Tartárico divulgará.
Xenomorfo em fase adulta.
Temos a marcante sequência onde é
revelado que o cientista inquieto Ash, na verdade é um androide designado para trazer
a criatura Alien em perfeito estado até os empregadores da Nostromo na Terra,
mesmo que isso custe a vida da tripulação desinformada. Ao ser impedido e
atacado por Parker, a cabeça de Ash se desloca do pescoço (!!!) revelando seu mecanismo
robótico interior, com um grosso sangue branco (típico dos androides da franquia).
É uma cena perturbadora e assustadora, onde percebemos que o restante da
tripulação foi basicamente enviada para uma missão suicida, situação piorada
com o fato de a criatura estar solta e sanguinária pela gigantesca nave.
Ripley prova ser uma das personagens
mais marcantes do cinema, uma verdadeira guerreira motivada pelo inesperado; isso
faz o público torcer por ela em todo momento. É cativante o jeito que a personagem
vai ganhando importância com o passar dos minutos, ganhando cada vez mais lugar
na trama, até sobrar somente sua vida para ser salva nas profundezas. Sigourney
Weaver é perfeita no papel que lhe consagrou, com o cabelão no melhor estilo
anos 80, poucas palavras e a bravura parecida com Sarah Connor em O
Exterminador do Futuro 2 (1991). Ela também possui um gato de estimação chamado
Jones, o qual protagoniza o clichê "susto do gato" que basicamente toda franquia
já teve; mas nessa época, no final da década de 70, isso ainda não era um clichê
irritante do gênero.
Ash, o androide traidor.
Sozinha e desesperada, Ripley tenta
desativar a autodestruição da Nostromo (que havia sido ativada por ela mesma
como único plano para destruir a criatura), mas a nave basicamente trava o
sistema e não cancela a tragédia. Os últimos 20 minutos do filme são
basicamente sem nenhum diálogo, somente barulhos intensos, câmeras chacoalhando
e Ripley correndo de um lado para o outro, tentando fugir da Nostromo antes que
a mesma finalize a autodestruição. Com muito esforço e pouco tempo, nossa
protagonista consegue evacuar usando uma nave auxiliar (tipo um casulo de fuga
aprimorado) e abandonar a espaçonave antes do evento, sem saber, no desespero,
que a criatura também estava junto com ela, escondida na tubulação.
Após alguns momentos, a gigantesca
Nostromo entra em uma sequência de enormes explosões (pique nucleares), fazendo
uma linha brilhar repentinamente no espaço profundo, no melhor estilo Jornada
nas Estrelas. É uma de minhas explosões preferidas na história do cinema e tem
tudo a ver com o gênero ficção cientifica; as “emersões” da bomba também se
parecem muito com o final de 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), fator extremamente positivo.
A clássica explosão da nave Nostromo.
Já segura no casulo, pronta para
entrar em hibernação, Ripley é surpreendida quando percebe que o Xenomorfo está
ali dentro com ela, disfarçado entre os tubos de ventilação. Essa parte é muito
interessante, porque podemos ver como a criatura se comporta sem “sentir” estar
sendo notada; realmente parecido com qualquer inseto asqueroso, o Alien
transmite uma poderosa fonte de tensão e perturbação mental. Ripley veste sua
roupa de astronauta com movimentos curtos, sem desgrudar os olhos da criatura imóvel
(como se fosse uma barata gigante). É uma sensação parecida com a que mencionei
na crítica da primeira temporada de Stranger Things (clique aqui para ler), ao ficamos com aquele pensamento: se somente uma criatura fez tanto estrago,
quem diria uma porção delas? Isso porque já sabemos que existem colônias da
espécie, fator que será explorado no bombástico próximo filme da franquia.
Com uma agonizante cena final, ela consegue
despressurizar a cabine e fazer a criatura ser ejetada da nave (após um tiro no
peito). No entanto, o Alien fica preso por uma corda no exterior da nave,
balançando junto do espaço e se dirigindo para os motores principais. Por
sorte, Ripley liga as turbinas calorosas, literalmente destruindo o Xenomorfo de uma vez
por todas. Sozinha com seu gato (que também conseguiu se salvar) nossa
sobrevivente entra em profunda hibernação, pronta para continuar sua longa
viagem em direção à Terra... Um final pessoalmente triste, porém reconfortante:
apesar de perder todos os companheiros nessa situação que “provavelmente” venha
a ser desconhecida, ela continuou viva e “segura”, se provando mais forte do que
os outros... Essa volta para nossa Terra, no entanto, nunca vai acontecer
(rsrs), mas isso é conversa para outra crítica. Por enquanto, vamos dizer que
tudo acabou bem e tranquilo nessa história misteriosa.
A única sobrevivente.
O clima de Alien – O Oitavo
Passageiro (1979) é angustiante e contagiante, abrindo novas portas no gênero
que viria ser altamente abusado na próxima década, chegando ao caos da
exaustão. Isso não é um problema, porque a qualidade continua forte até os dias
atuais (e muito melhor que hoje em dia, quando me lembro dos “sustos baratos de
adolescentes” alá Annabelle e Invocação do Mal, junto de uma pilha de projeções
B lançadas), nessa antiga época gloriosa, tudo era feito com cuidado e carinho
pela mitologia, enriquecendo MUITO com POUCO, na famigerada ambição que todos possuímos
no fundo do coração. A franquia voltaria com calma em 1986, nas mãos de ninguém
menos que o poderoso James Cameron, no também clássico Aliens – O Resgate. Como
todos sabem, não tem ninguém melhor para se falar de ambição do que James
Cameron, então já era garantido: a mitologia forte envolvendo Alien estava
apenas começando, com uma carga única que não podia ser derrubada por nenhum
outro projeto semelhante. O terror já é sufocante para derrubar todos, já
pensou no espaço?... Ele está ali, tranquilo e silencioso... É só olhar para
cima.
“IN SPACE, NO
ONE CAN HEAR YOU SCREAM”
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TRAILER DE 1979:
CONTAGEM DE CORPOS (7):
Assassino Xenomorfo:
Kane: servindo de hospedeiro, tem o peito estourado durante o nascimento da criatura.
Brett: morto com golpe da boca "secundária".
Dallas: emboscado no duto de ventilação (morte offscreen).
Parker: estourado pela “segunda” boca da criatura.
Lambert: estripada (morte offscreen)
OUTRAS MORTES:
Androide Ash: pane no sistema pessoal e atacado pela tripulação; carbonizado.
Xenomorfo: ejetado do casulo de fuga por Ripley, furado no peito e destruído no espaço pela turbina da nave.
Xenomorfo: ejetado do casulo de fuga por Ripley, furado no peito e destruído no espaço pela turbina da nave.
O trabalho de Sigourney Weaver neste filme é bom. Eu adoro muito os livros por as histórias e sem dúvida 7 Minutos depois da meia noite é umo dos melhores filmes com Sigourney Weaver , já queria assistir e agora é um dos meus preferidos. Li o livro em que esta baseada faz alguns anos e foi uma das melhores leituras até hoje, e sem dúvida teve uma grande equipe de produção. É muito inspiradora, realmente a recomendo.
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