quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Alien - O Oitavo Passageiro (1979) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
________________________________________________

É difícil encontrar alguém que não tenha ouvido falar de Alien – O Oitavo Passageiro, clássico absoluto de 1979. O filme de Ridley Scott é uma obra prima da humanidade e deve ser conhecido por todos os apaixonados pelo terror e ficção cientifica de primeira qualidade. O Xenomorfo (conhecido popularmente como a criatura Alien) é um dos ícones mais representados na cultura pop, desde sua aparência física, como também a forma de reprodução por meio de hospedeiros. A história se passa no espaço, um lugar desesperador e sufocante, onde nem mesmo seus gritos podem ser ouvidos. É obrigatório que todos tenham visto esse filme antes de "seguir adiante", outra forte recomendação do Portal Tartárico como ótimo entretenimento para as madrugadas.

Ridley Scott dirigiu inúmeras projeções conhecidas como Blade Runner – O Caçador de Androides (1982), Hannibal (2001) e mais recentemente Prometheus (2012) e Perdido em Marte (2015), já tendo uma grande noção em cima da ficção cientifica aprofundada. No bruto Alien, sua consagração imortalizada, ele não erra a mão em quase nenhum detalhe; a película carrega imagens escuras e tranquilas, enriquecidas pela imensidão do espaço profundo. Em uma época que o cinema visava o realismo (alterado com o sucesso de Star Wars em 1977), a produção conseguiu fazer tudo funcionar perfeitamente bem, tornando o filme especial em vários sentidos. Até mesmo o misterioso pôster original já deixa o público na dúvida do que será visto em tela; aqui realmente sentimos o clima forte de terror, diferente do que veríamos nas continuações, onde exploraram mais a ação explosiva. O roteiro fica por conta de Dan O’Bannon, já a ótima arte conceitual nas mãos do pintor surrealista H.R Giger. Lembrando que a franquia Alien teve quatro capítulos, um prequel lançado em 2012 (Prometheus) e um confronto com Predador. Portanto, sem mais delongas, vamos começar:

Nave comercial de carga “NOSTROMO”.
Tripulação: sete.
Carga: 20.000.000 toneladas de minério refinado e processado.
Curso: retornando à Terra.

É com essa breve mensagem que o longa se inicia, enquanto vemos a gigantesca nave Nostromo emergindo das profundezas do espaço. A simples mensagem já avisa tudo que precisamos saber: a nave está voltando para nosso planeta após recolher toneladas de minérios dos cosmos, e apesar do imenso tamanho da espaçonave, a tripulação é de apenas sete humanos; por isso o “Oitavo Passageiro” do titulo, no entanto, o filme é originalmente chamado de “Alien”.

Logo percebemos a falta de uma trilha sonora marcante, fazendo o público entrar no clima assustador rapidinho; o silêncio perturba. A fotografia também é tranquila e monótona, enriquecendo a vida no espaço. Obviamente, toda a tripulação estava hibernada em uma bonita sala branca, porque ainda faltavam 10 meses até chegarem à Terra, mas não demora para o computador central da nave, denominado “Mother”, acordá-los sem nenhum motivo aparente e tirá-los da hibernação necessária. O motivo?... Bom, como todos devem esperar, não é um motivo muito feliz.

Acordar "cedo" é sempre uma merda.

O filme pode ser determinado em duas palavras: lento e silencioso. Mas isso não é uma crítica negativa, e sim um ponto positivo; a lentidão e ausência de som prendem o público e mantem os nervos vibrando com cada movimento “tranquilo” executado pela tripulação da Nostromo. Sabemos que alguma coisa vai acontecer em qualquer momento, só não temos noção do que esperar.

São poucos lugares na nave que realmente se parecem com o “futuro” acreditado por muitos atualmente: as salas principais de comunicação ainda carregam aquela tonalidade branca e limpa (parecida com a vista na obra 2001 – Uma Odisseia no Espaço em 1968), mas o resto da gigantesca nave é sujo e escuro, como se fosse velho e “gasto”, semelhante às caldeiras de A Hora do Pesadelo. Fator muito mais interessante que naves completamente limpas e brilhosas, porque agrega realismo e o clima assustador que aguardamos. A Nostromo não é uma nave bonita de se admirar, chega a ser grotesca e assustadora de tão enorme, sempre silenciosa e vagarosa diante da imensidão do espaço sombrio. Imaginar alguma criatura descontrolada e desconhecida ali dentro é sempre uma visão medonha do que o futuro pode nos trazer. A ousadia do homem em construir invenções é impressionante, mas a capacidade de sobreviver por conta própria em lugares hostis (no caso o espaço) é broxante.

A gigantesca Nostromo no espaço.

Na primeira refeição depois de acordarem, podemos conhecer melhor os sete tripulantes “sortudos”: Dallas (Tom Skerritt) o capitão da Nostromo, independente individual e dedicado aos bens da missão, até mesmo capaz de dar sua vida por ela e todas as outras regalias que os homens importantes fazem. O negão gente fina Parker, engenheiro chefe da nave (Yaphet Kotto, que também fez o vilão Kananga em 007 – Viva e Deixe Morrer de 1973); temos também o engenheiro técnico Brett (Hary Dean Stanton), sempre despreocupado e fumando seu bolado, Lambert (Veronica Cartwright), a fofa navegadora da missão. Ash (Iam Holm, veterano) o cientista inteligente que terá uma revelação dramática na trama, em uma das melhores cenas do longa. Kane (John Hurt) faz o primeiro oficial da Nostromo, que se torna o hospedeiro do Alien quando a criatura atarraca seu rosto. Não podemos esquecer também da majestosa Sigourney Weaver protagonizando a subtenente de bordo Ripley, uma mulher destemida que será peça principal na franquia. Ripley é uma das final girls mais duronas do gênero, sempre consciente e com alta experiência no campo de combate, desenvolvida com o passar dos filmes.

Alguns membros da tripulação.

Pois bem, eles foram tirados da hibernação por causa de um estranho sinal vindo de um planeta desconhecido. O controle da nave basicamente acordou o grupo para verificar a origem da transmissão, porque no caso, estão passando “perto” do planeta. Como todos assinaram contratos e isso incluía emergências de regates, a tripulação tem que partir para o local, sem ao menos saber o que vão encontrar pela frente. Detalhe: é interessante como Ripley não é muito explorada nessa etapa da história, ganhando muito mais espaço e afinidade conforme o filme vai passando.

Ao desemparem no planeta desolado, a tripulação descobre que o sinal está vindo de uma gigantesca nave abandonada. Somente com o objetivo de cumprir a missão dada, Kane, Dallas e Lambert entram no objeto desconhecido para investigar a origem dos dados. Esse foi o pior erro que podiam ter feito, porque sem contar que encontraram vestígios de enormes formas de vida (como uma gigantesca criatura sentada, com o peito estourado de dentro para fora), o curioso Kane acaba encontrando um ninho de ovos, e um deles explode na sua frente, fazendo a primeira fase do Xenomorfo arrebentar o capacete e grudar em seu rosto (como se fosse um polvo).

Octopussy? (rsrs)

A primeira fase do Xenomorfo é muito parecida com uma aranha, e tem somente o objetivo de depositar o embrião dentro do hospedeiro, no caso Kane. O grito que a criatura emite assusta sem precisar de muito, e mesmo se tentarem arrancá-la com facas ou objetos cirúrgicos, ela somente aperta o pescoço de seu hospedeiro para matá-lo lentamente; é um processo que não pode ser impedido sem a morte da vitima, e assim sendo, a criatura transmite oxigênio que mantem a pessoa viva, mesmo fisicamente incapaz de fazer qualquer coisa.

Quando retornam com o corpo de Kane, fazem todos os testes possíveis para identificar o qual tipo de criatura grotesca era aquela; nessas sequências, acompanhamos o cientista Ash basicamente dando as primeiras informações sobre a enorme mitologia envolvendo a franquia. A criatura é tão bem feita e criada (com várias etapas de formação), que realmente parece existir no mundo real... E sabendo da imensidão e profundidade do nosso espaço, quem dirá que não existe mesmo?

Jantar sangrento.

A criatura demora em torno de alguns dias para terminar o processo, morrendo naturalmente após depositar o embrião no hospedeiro. E é assim que temos uma das cenas mais clássicas do cinema, quando Kane acorda após a criatura desgrudar de seu rosto, faminto, os tripulantes de reúnem para jantar em uma das salas extremamente brancas da Nostromo. Após darem risadas, curtirem uma conversa descontraída, Kane começa a agonizar e o pequeno Xenomorfo formado literalmente explode de seu peito e consegue escapar pela espaçonave. É genial o contraste do sangue vermelho com o branco do refeitório; os barulhos, gemidos e expressões somente fortalecem ainda mais a tensão. Sem saberem que tipo de inimigo estão enfrentando sem nenhum armamento, os tripulantes se encontram em uma delicada situação de sobrevivência contra o desconhecido.

O clima estabelecido até então muda completamente de mistério e suspense para terror e desespero. Mesmo sabendo que os tripulantes estão em maior número, o fato de não conhecerem o inimigo é totalmente fatal nessa ocasião inesperada; e após terminarem alguns reparos inesperados na nave, a Nostromo se encontra pronta para continuar sua viagem para a Terra.

Coisinha feia da porra.

O que ninguém esperava, é que o Xenomorfo se desenvolve rapidamente, atingindo sua fase adulta em um curto período de tempo (tendo esse desenvolvimento em offscreen nos dutos da espaçonave). A ficção cientifica retratada na película é a clássica vista nos antigos filmes, como computadores simples de dígitos esverdeados, porém com centenas de botões luminosos sem rótulos para se identificar suas funções. O mais gratificante é a ausência total de computação gráfica (fator que os filmes atuais usam e abusam, para recriar basicamente o que for preciso); em O Oitavo Passageiro tudo é real e não temos nenhum momento de CGI, agregando um realismo impossível de se envelhecer. Bolaji Badejo, negão com 2,18 metros de altura, é quem incorpora a excelente vestimenta artística da criatura alienígena, com seus movimentos leves a sutis que imortalizaram o clássico filme. Com suspense e ataques rápidos, o Xenomorfo só aparece de vez em quando, sempre mantido na ausência suspeita, típica do gênero. Antes do final da película, todas as suas aparições são rápidas e representativas, fazendo suas pequenas imagens se tornarem perturbadoras no consciente do público. A criatura sempre aparenta estar melada fisicamente e sedenta de sangue; sua aparência escura e disfarçada lembra qualquer inseto que nós trombamos no dia a dia. Sempre lento e silencioso, o Xenomorfo marca uma das figuras mais icônicas da cultura pop; sua cabeça extremamente curvada, junta de sua boca “secundária” e grito estarrecedor tiveram a capacidade de assustar toda uma geração por muito tempo, até os dias atuais. Lembrando que a criatura também possui sangue ácido esverdeado, tornando seus ferimentos um grande obstáculo dentro de uma espaçonave. No primeiro filme ela tem a estatura de um homem humano (pois usou o mesmo como hospedeiro), diferente, por exemplo, do que vemos em Alien 3 (1992), onde o hospedeiro é um cachorro e o Xenomorfo fica com um comportamento animalesco, coluna curvada, andando de “quatro” e etc. Toda sua linhagem será estudada na futura análise pessoal do personagem que o Portal Tartárico divulgará.

Xenomorfo em fase adulta.

Temos a marcante sequência onde é revelado que o cientista inquieto Ash, na verdade é um androide designado para trazer a criatura Alien em perfeito estado até os empregadores da Nostromo na Terra, mesmo que isso custe a vida da tripulação desinformada. Ao ser impedido e atacado por Parker, a cabeça de Ash se desloca do pescoço (!!!) revelando seu mecanismo robótico interior, com um grosso sangue branco (típico dos androides da franquia). É uma cena perturbadora e assustadora, onde percebemos que o restante da tripulação foi basicamente enviada para uma missão suicida, situação piorada com o fato de a criatura estar solta e sanguinária pela gigantesca nave.

Ripley prova ser uma das personagens mais marcantes do cinema, uma verdadeira guerreira motivada pelo inesperado; isso faz o público torcer por ela em todo momento. É cativante o jeito que a personagem vai ganhando importância com o passar dos minutos, ganhando cada vez mais lugar na trama, até sobrar somente sua vida para ser salva nas profundezas. Sigourney Weaver é perfeita no papel que lhe consagrou, com o cabelão no melhor estilo anos 80, poucas palavras e a bravura parecida com Sarah Connor em O Exterminador do Futuro 2 (1991). Ela também possui um gato de estimação chamado Jones, o qual protagoniza o clichê "susto do gato" que basicamente toda franquia já teve; mas nessa época, no final da década de 70, isso ainda não era um clichê irritante do gênero.

Ash, o androide traidor.

Sozinha e desesperada, Ripley tenta desativar a autodestruição da Nostromo (que havia sido ativada por ela mesma como único plano para destruir a criatura), mas a nave basicamente trava o sistema e não cancela a tragédia. Os últimos 20 minutos do filme são basicamente sem nenhum diálogo, somente barulhos intensos, câmeras chacoalhando e Ripley correndo de um lado para o outro, tentando fugir da Nostromo antes que a mesma finalize a autodestruição. Com muito esforço e pouco tempo, nossa protagonista consegue evacuar usando uma nave auxiliar (tipo um casulo de fuga aprimorado) e abandonar a espaçonave antes do evento, sem saber, no desespero, que a criatura também estava junto com ela, escondida na tubulação.

Após alguns momentos, a gigantesca Nostromo entra em uma sequência de enormes explosões (pique nucleares), fazendo uma linha brilhar repentinamente no espaço profundo, no melhor estilo Jornada nas Estrelas. É uma de minhas explosões preferidas na história do cinema e tem tudo a ver com o gênero ficção cientifica; as “emersões” da bomba também se parecem muito com o final de 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), fator extremamente positivo.

A clássica explosão da nave Nostromo.

Já segura no casulo, pronta para entrar em hibernação, Ripley é surpreendida quando percebe que o Xenomorfo está ali dentro com ela, disfarçado entre os tubos de ventilação. Essa parte é muito interessante, porque podemos ver como a criatura se comporta sem “sentir” estar sendo notada; realmente parecido com qualquer inseto asqueroso, o Alien transmite uma poderosa fonte de tensão e perturbação mental. Ripley veste sua roupa de astronauta com movimentos curtos, sem desgrudar os olhos da criatura imóvel (como se fosse uma barata gigante). É uma sensação parecida com a que mencionei na crítica da primeira temporada de Stranger Things (clique aqui para ler), ao ficamos com aquele pensamento: se somente uma criatura fez tanto estrago, quem diria uma porção delas? Isso porque já sabemos que existem colônias da espécie, fator que será explorado no bombástico próximo filme da franquia.

Com uma agonizante cena final, ela consegue despressurizar a cabine e fazer a criatura ser ejetada da nave (após um tiro no peito). No entanto, o Alien fica preso por uma corda no exterior da nave, balançando junto do espaço e se dirigindo para os motores principais. Por sorte, Ripley liga as turbinas calorosas, literalmente destruindo o Xenomorfo de uma vez por todas. Sozinha com seu gato (que também conseguiu se salvar) nossa sobrevivente entra em profunda hibernação, pronta para continuar sua longa viagem em direção à Terra... Um final pessoalmente triste, porém reconfortante: apesar de perder todos os companheiros nessa situação que “provavelmente” venha a ser desconhecida, ela continuou viva e “segura”, se provando mais forte do que os outros... Essa volta para nossa Terra, no entanto, nunca vai acontecer (rsrs), mas isso é conversa para outra crítica. Por enquanto, vamos dizer que tudo acabou bem e tranquilo nessa história misteriosa.

A única sobrevivente.

O clima de Alien – O Oitavo Passageiro (1979) é angustiante e contagiante, abrindo novas portas no gênero que viria ser altamente abusado na próxima década, chegando ao caos da exaustão. Isso não é um problema, porque a qualidade continua forte até os dias atuais (e muito melhor que hoje em dia, quando me lembro dos “sustos baratos de adolescentes” alá Annabelle e Invocação do Mal, junto de uma pilha de projeções B lançadas), nessa antiga época gloriosa, tudo era feito com cuidado e carinho pela mitologia, enriquecendo MUITO com POUCO, na famigerada ambição que todos possuímos no fundo do coração. A franquia voltaria com calma em 1986, nas mãos de ninguém menos que o poderoso James Cameron, no também clássico Aliens – O Resgate. Como todos sabem, não tem ninguém melhor para se falar de ambição do que James Cameron, então já era garantido: a mitologia forte envolvendo Alien estava apenas começando, com uma carga única que não podia ser derrubada por nenhum outro projeto semelhante. O terror já é sufocante para derrubar todos, já pensou no espaço?... Ele está ali, tranquilo e silencioso... É só olhar para cima.

“IN SPACE, NO ONE CAN HEAR YOU SCREAM”
____________________________________


TRAILER DE 1979:

CONTAGEM DE CORPOS (7):
Assassino Xenomorfo:
Kane: servindo de hospedeiro, tem o peito estourado durante o nascimento da criatura.
Brett: morto com golpe da boca "secundária".
Dallas: emboscado no duto de ventilação (morte offscreen).
Parker: estourado pela “segunda” boca da criatura.
Lambert: estripada (morte offscreen)
OUTRAS MORTES:
Androide Ash: pane no sistema pessoal e atacado pela tripulação; carbonizado.
Xenomorfo: ejetado do casulo de fuga por Ripley, furado no peito e destruído no espaço pela turbina da nave.

Um comentário:

  1. O trabalho de Sigourney Weaver neste filme é bom. Eu adoro muito os livros por as histórias e sem dúvida 7 Minutos depois da meia noite é umo dos melhores filmes com Sigourney Weaver , já queria assistir e agora é um dos meus preferidos. Li o livro em que esta baseada faz alguns anos e foi uma das melhores leituras até hoje, e sem dúvida teve uma grande equipe de produção. É muito inspiradora, realmente a recomendo.

    ResponderExcluir

Compartilhe sua experiência conosco! Gostou do filme? Teve bons momentos quando assistiu? Mas lembre-se, seja educado e não cause intrigas nos comentários, do contrário, a maldição do Portal Tartárico te atormentará para sempre!

POR FAVOR, NOS INFORME CASO O FILME ESTEJA QUEBRADO (INDISPONÍVEL). O ARQUIVO SERÁ CORRIGIDO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL.