quarta-feira, 12 de abril de 2017

Pague Para Entrar, Reze Para Sair (1981) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Todos sabem que nosso território nacional adora alterar os nomes dos filmes lançados internacionalmente, entregando pérolas que sempre me deixaram intrigado. Por exemplo: Airplane (1980) virou Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu, outro curioso é Beverly Hills Cop (1984) conhecido aqui como Um Tira da Pesada... Não ficou convencido? E o bizarro Anguish (1987), que aqui virou Os Olhos da Cidade são Meus... (???) Na crítica de hoje temos um caso parecido, pois o filme The Funhouse (algo como “Casa Maluca”), foi transformado em Pague Para Entrar, Reza Para Sair; um titulo duvidoso, porém muito nostálgico e que se encaixa perfeitamente no contexto retratado.

Se existiu um ano que rendeu MUITOS filmes do gênero slasher, esse ano foi 1981, sem sombra de dúvidas. Como sempre venho falando, foram inúmeras películas lançadas somente pelos estadunidenses. A lista é imensa, vai desde Evil Dead, Dia dos Namorados Macabro, Quem Matou Rosemary?, Aniversário Sangrento, Sexta-Feira 13 Parte II, Halloween II... Isso é somente uma pequena porcentagem do que tivemos naquele ano. Uma produção que se destaca no meio de tantas é o slasher Paguei Para Entrar, Reze Para Sair, que apesar de limitado e datado em alguns momentos, não deixa de ser uma ótima descontração do gênero sangrento.

Na direção temos ninguém menos que Tobe Hooper (ele mesmo, de Poltergeist – O Fenômeno e O Massacre da Serra-Elétrica), nesta época ainda com carga inspiradora e uma boa visão; ahhh, como gosto de Tobe Hooper! Mesmo após os anos 80, quando o diretor começou a errar a mão em quase todos os filmes que estava envolvido, seus filmes sempre foram importantes em minha vida. Sou tão saudosista com esse morfético, que até mesmo Mangler – O Grito de Terror (1995) consegue me render uma boa sessão com algumas cervejas. Mas então... O que Hooper preparou desta vez? Posso dizer que uma trama extremamente simples e interessante, mostrando a trágica experiência do grupo de jovens que decide passar uma noite escondidos em um parque de diversões, após o local fechar. Tem como dar certo?

Uma abertura cheia de homenagens.

No começo, Hooper faz ótimas homenagens para Halloween (1978) e Psicose (1960), quando o garotinho Joey (Shawn Carson) simula assassinar sua irmã assim como Michael Myers fez com a dele (até mesmo vestindo a máscara na perspectiva de “primeira pessoa”). No momento, ela estava tomando banho igualzinho Marion Crane do filme de Hitchcock. Os jogos de câmera lembram muito. Um ótimo começo, onde já percebemos a rivalidade dos irmãos e a paixão do garoto Joey pelo tema “horror”: seu quarto é cheio de máscaras e pôsteres do terror clássico, facas de mentira, até rola A Noiva de Frankenstein (1935) passando na televisão. Por outro lado, sua irmã adolescente Amy (Elizabeth Berridge, nossa final girl da vez) despreza todas as atitudes do irmão, principalmente quando ele tenta assustá-la. Naquela noite, Amy planeja ir até o parque de diversões da cidade com seu namorado e amigos, mesmo seu pai avisando que o parque é perigoso (duas garotas desapareceram no local). Amy enrola o pai falando que vai ao cinema, mas seu irmão sabe muito bem que a garota vai partir pra farra.

Um passeio tranquilo e divertido... Será mesmo?

Hooper consegue fazer o ambiente divertido de um parque de diversões se transformar em algo assustador e macabro; nada de montanhas-russas cabulosas como em Premonição 3 (2006), aqui temos um parque normal e misterioso, como aqueles que são montados todas as horas nas cidades pequenas. Um lugar aparentemente tranquilo e descontraído para se visitar com os amigos após algumas rodadas de bebidas, com aquelas luzes brilhantes sendo acolhedoras na fria noite. Brincadeiras e sorrisos. O que poderia dar errado?

Amy fica meio encanada por mentir para seu pai, mas como aquela noite será seu primeiro encontro com o bonitão badboy Buzz (Cooper Huckabee, de Django Livre), a garota procura fazer de tudo para agradar o “namorado”, e não decepcioná-lo; aquela clássica submissão feminina retratada nos slasher dos anos 80. Buzz é marrento nos seus propósitos, mas prova ser um bom moço (sua aparência me lembra muito Harrison Ford na época de ouro). Mesmo sendo a primeira vez que Amy sai com ele, a relação é tratada com bastante maturidade, principalmente no começo do filme.

Da esquerda para direita: Richie, Buzz, Amy e Liz

Junto com o casal de pombinhos, conhecemos outra dupla de namorados bastante curiosa: a melhor amiga de Amy, uma maconheira animada chamada Liz (Largo Woodruff) e o chapado irresponsável Richie (Miles Chapin). Após fumarem alguns baseados, todos eles vão até o parque, procurando apenas uma noite de diversão e putaria. Paralelamente, Joey (o irmão menor de Amy) resolve sair escondido de casa e ir até o local para ver o que a irmã está aprontando.

O parque fica localizado em um grande campo, com música alta, lonas de circo e os trailers dos funcionários estranhos. Os jovens se divertem em várias atrações típicas deste modelo de parque, algumas até bizarras, como uma feira (em uma tenda de circo) onde são exibidas inúmeras criaturas mutantes, como uma macabra vaca de duas cabeças e até um bebê monstro preservado.

Hopper sabe provocar desconfiança e bons sustos em seus filmes, é um clima pacato que tem tudo para ser medonho. Esqueça os famosos sustos sonoros, até temos eles, mas a trama abre espaço para outras ideias. Um exemplo é quando, indo para o parque, Joey acaba sendo abordado por um velho doido em uma picape preta, lhe oferecendo carona sob a mira de uma espingarda. O público fica aterrorizado junto com o garoto, funciona muito bem, mesmo a cena não tendo nenhuma relevância na história. Outro fator que assusta é o próprio parque de diversões, um local reservado, noturno e aparentemente divertido, podendo esconder muitas surpresas. Os brinquedos não parecem confiáveis como hoje em dia, e até mesmo os funcionários são estranhos, parecem hippies caipiras que estão conhecendo a civilização somente agora.

O clássico mágico de araque! Teria coragem?

Quem ainda não assistiu deve estar se perguntando: o que tem de errado com o parque para ser palco de uma história de terror? Pensem bem... É um filme de Tobe Hooper... O que poderia ser?... É claro que aos poucos vamos descobrindo que o parque de diversões é gerenciado por uma quadrilha de psicopatas, premissa que o diretor ADORA utilizar em seus slashers. O líder assassino do local é um velho que trabalha na bilheteria da FUNHOUSE, aquelas casas malucas assombradas que tem em todo parque. Ele tem um filho que se veste de Frankenstein para assustar os jovens na entrada do brinquedo; posteriormente, é revelado que seu filho na verdade é uma criatura horrenda, com rosto branco, dentes pontudos e grito estarrecedor, usando a fantasia de Frankenstein para esconder seu rosto. E é justamente nesse brinquedo, na FUNHOUSE, que os jovens decidem se esconderem para passar a noite transando, após o parque fechar.

E os malditos jovens conseguem fazer isso! Um pouco antes fechamento, eles embarcam no brinquedo e não saem mais, ficam lá dentro mesmo, escondidos na escuridão. A FUNHOUSE é um passeio escuro, assustador e esfumaçado. Os visitantes sentam em carrinhos que passam por esqueletos, aranhas gigantes e aquele clima claustrofóbico sufocante. No entanto, após o parque ficar “vazio”, eles percebem que se meteram em uma enrascada fodida: primeiro eles presenciam um assassinato dentro do brinquedo (a vidente prostituta “Madame Zena” é estrangulada pelo maluco que se veste de Frankenstein), fazendo os jovens perceberem que eles serão as próximas vítimas.

Uma das criaturas mais intrigantes criadas por Hooper.

Um por um, todos vão sendo mortos. A criatura horrendo filha do dono prova ser um assassino sem instruções, desgovernado e submisso, obsoleto perto dos concorrentes da época, como Jason Voorhees e Michael Myers. As mortes são boas, mas nada impressionante. O clima de desorientação (dentro da FUNHOUSE) é um dos pontos mais positivos do filme; na penumbra, todos podem ser surpreendidos por golpes inesperados ou pessoas camufladas. Se trata de um pequeno clássico do horror que conseguiu manter suas referências, mesmo com algumas restrições datadas da época e pouco orçamento. É interessante ver que Hooper não mexeu com o sadismo humano desta vez, elemento favorito dos seus filmes. Ele prefere mostrar um monstro de verdade, assim como os clássicos da Universal, alá Frankenstein.

Amy é a única que sobrevive. Não tem muito que falar dela, com certeza não chega aos pés de Jamie Lee Curtis ou Marillyn Burns. Ela sabe gritar e chorar, mas com uma carga dramática inferior. O final é bom, com a criatura sendo presa nas engrenagens da FUNHOUSE. Por sorte não tivemos nenhuma continuação, pois isso só prejudicaria a imagem do filme (tenho certeza que iam fazer merda se tivesse um suposto Pague Para Entrar, Reze Para Sair 2). O filme acaba com Amy fugindo do parque, já na manhã seguinte, com todos seus amigos mortos.

Tomem cuidados com parques de diversões... Eles podem ser mortais!

É interessante ver como Tobe Hooper conduz suas histórias simples. São apenas um grupo de jovens chapados de maconha se divertindo em um parque qualquer; despreocupados e vulneráveis. O estereótipo perfeito de vitima para sofrer horrores em um slasher. Pague Para Entrar, Reze Para Sair também toca nos tabus de perdem a virgindade, sexo prematuro e outros temas que fazem parte de todas as meninas na idade de Amy, servindo para moldar a personalidade da personagem. Entretanto, ao terminamos o filme, percebemos que muitas situações só estavam ali para ganhar tempo, e não profundidade. Qual o motivo de tentarem desenvolver as motivações de Amy sendo que ela termina o filme em trapos? O que ela aprendeu com isso? E por que diabos o roteiro mostra seu irmão, Joey, indo até o parque? Ele somente pentelha no local e depois é pego pelos pais! O menino literalmente não presta pra porra nenhuma! Mas é claro, estamos falando de um slasher de 1981, a época de ouro que o terror estava dominando o cinema... Roteiro complexo o caralho! Somente queremos ver sangue de jovens, peitinhos e cabeças rolando!
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TRAILER DE 1981:


CURIOSIDADES:
1) Steven Spielberg convidou Tobe Hooper para dirigir E.T. - O Extraterrestre, mas ele rejeitou por estar ocupado produzindo Funhouse. De qualquer jeito, eles trabalhariam juntos em Poltergeist (1982).

2) O filme foi gravado em Miami (Florida) devido as leis mais tranquilas da região; a maioria dos atores eram jovens e desconhecidos.

3) As prostitutas vistas em uma atração do parque eram verdadeiras strippers locais de Miami.

4) Tobe Hooper foi picado por uma aranha marrom durante as filmagens.

5) O título "Pague Para Entrar, Reze Para Sair" usado em nosso território nacional, na verdade é a sub-frase que ocupa o poster original: "Pay to get in, Pray to get out".

6) Segundo o ator Kevin Conway, o diretor Tobe Hooper era chamado de "Coke-Head" durante as gravação do filme. Hooper supostamente bebia 12 latas de Coca Cola por dia.


7) Hooper usou novamente alguns adereços do filme quando dirigiu o videoclipe "Dancing With Myself" de Billy Idol.


8) Uma vaca de duas cabeças e também uma com fissura palatina podem ser vistas durante o filme.


CONTAGEM DE CORPOS (6):
Assassino Freak Show Barker:
Madame Zena (vidente): estrangulada e recebe descarga elétrica de um painel na parede.
Richie: enforcado com corda, posteriormente recebe uma machadada acidental no topo da cabeça.
Liz: atacada pela criatura na tubulação, morta por golpes de garra.
Buzz: golpeado na barriga (morte offscreen)
OUTRAS MORTES:
Pai da criatura: é empurrado por Buzz e acaba empalado pelo facão gigante que servia de decoração. Logo em seguida é baleado.
Criatura: eletrocutada e presa nas engrenagens da Funhouse.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

O Dia do Terror (2001) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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O que diabos esperar de um slasher lançado após o ano 2000? Provavelmente uma junção de clichês e suspense barato (ou talvez altas doses de tortura). É claro que em O Dia do Terror (lançado em 2001) temos tudo isso, porém o filme consegue se destacar por outras características. O título nacional é péssimo e sem graça: “o dia do terror”... Tem como ser mais clichê que isso? Mas lembre-se, nunca julgue um livro (nesse caso um filme) pela capa. Originalmente chamado de Valentine, esse é mais um caso onde o terror funciona na base do suspense, apesar de muitas pessoas acharem a produção saturada, principalmente pela época que foi lançada. Eu sei que existem momentos broxantes e subtramas inúteis, mas por ter conhecido o filme ainda criança, acabei desenvolvendo um amargo prazer cada vez que assisto novamente. Neste tempo, vários filmes embarcaram na fórmula de Pânico (1996), onde foi introduzido um suspense “bem construído” para o assassino ser revelado posteriormente, já no final da película. Aqui não foi diferente, é claro.

Tudo bem, O Dia do Terror pode ter algumas falhas, mas são aceitáveis. O filme continua sendo bom e caprichado. Jamie Blanks já havia trabalhado em Lenda Urbana (outro guilty pleasure) lá no ano de 1998, e agora retorna na direção com um clima semelhante de suspense. Para quem curte terror romântico, essa com certeza é a escolha certa. A trama narra a triste história de um grupo de 5 garotas (lindas, porém ousadas), que certa vez humilharam um garoto nerd e bobão durante o baile do colégio... Péssima atitude, pois agora (já adultas), elas são perseguidas friamente pelo rapaz, que busca matá-las uma por uma. Pense bem, isso seria talvez uma indireta para as “novinhas” de hoje em dia? Não rejeite um garoto, pois ele pode voltar futuramente para te matar?

As frases que compõe a fita VHS são clássicas, como “Lembra-se do garoto ignorado no dia dos namorados? Ele lembrou de você!” ou então “O terror vai te seduzir”. É isso mesmo, temos uma bela pitada de Dia dos Namorados Macabro (1981), e isso só agrega qualidade na obra. A trilha sonora é ótima (clique aqui para ouvir), esqueça batidas e sons agonizantes; aqui temos o suspense que somente um piano obscuro pode proporcionar. Sobre o assassino? Porra, o serial killer que se veste de cupido tem seu charme! Pena que não ficou ao lado das grandes lendas do terror, injustamente, na minha humilde opinião.

O serial killer cupido vai flechar você!

Pois bem, o filme começa com um belo flashback sincronizado com as batidas de um coração, nos embalos daqueles bailes dos namorados típico das escolas norte-americanas (Escola Robert F. Kennedy / Middle School em San Francisco), onde acompanhamos brevemente o nerd loser Jeremy Melton sendo rejeitado por várias garotas na mesma noite... Não estou brincando pessoal, as meninas detestam esse maluco do fundo do coração kkkkkkk tipo assim, ele chega esperançoso na mina e fala: “Paige, você quer dançar comigo?” e ela responde “Prefiro morrer queimada” KKKKKKKK porra meninas, coitado do cara! Somente uma resolve ficar com ele, a gordinha Dorothy, que também estava chupando o dedo da solidão, frustrada durante o baile.

Jeremy conseguiu uma menina, isso é bom, certo?... ERRADO! Tudo vai de mal a pior, pois a gordinha dá uns beijos nele e depois o acusa de assédio! MALDITA GORDINHA! Desse jeito, os garotos encrenqueiros resolvem humilharem o pobre nerd, tirando suas roupas e o fazendo ficar pelado na frente do baile inteiro... Não precisa ser sábio para saber que isso vai dar merda quando o garoto crescer. Se vingar é o mínimo que Jeremy Melton poderia fazer. VINGANÇA PORRA!

Jeremy Melton, o nerd loser.

Por um lado, Jeremy não se vinga dos garotos que lhe espancaram, mas sim das 5 meninas que o rejeitaram naquela noite, agora adultas (e lindas, por sinal). São elas: a fofa Kate (Marley Shelton), a extrovertida Lilly (Jessica Cauffiel), a gostosona Paige (Denise Richards), a futura médica Shelley (Katherine Heigl) e, é claro, a gordinha do baile, Dorothy (Jessica Capshaw), que agora não é mais gordinha, e se tornou uma mulher rica e exigente. Após 13 anos, todas continuam sendo amigas desde a época do colégio, mas logo tudo fica muito estranho, principalmente quando Shelley é brutalmente assassinada logo no começo do filme.

Nessa cena, Shelley estava na escola de medicina altas horas da noite (e sozinha), fazendo alguns testes de autópsia em um corpo preservado. Logo o serial killer é revelado sem hesitação da produção, com uma perturbadora máscara de cupido sem expressões, roupas negras e luvas. Um visual perfeito. A morte da garota também é linda, quando se esconde em um saco preto (aqueles que a perícia usa para guardar os cadáveres), mas acaba sendo encontrada pelo maníaco e tem a garganta rasgada brutalmente. Um detalhe realmente interessante é que o serial killer sempre sangra pelo nariz após cometer um crime, manchando sua máscara branca e causando uma curiosidade obscura.

Da esquerda para direita: Paige, Lilly, Dorothy e Kate.

Nós sabemos que o assassino é o nerd Jeremy Melton, mas após o passar dos anos, o rapaz pode muito bem ter mudado de aparência e ser qualquer um relacionado no circulo social das garotas. Aquele suspense que funciona; todos podem morrer, e qualquer um pode ser o vilão. A produção carrega todas as características que o suspense dos anos 90 ensinou, como discursos típicos de adolescentes (que sempre aparentam ter mais de 20 anos), músicas descoladas, ajuda de policiais e detetives que desconfiam justamente dos fatos contrários e, principalmente, um acontecimento trágico no passado voltando sutilmente para causar estragos nos protagonistas... Te lembrou de alguma coisa? Outro filme? Tipo Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, ou então a outra produção de Jamie Blanks, Lenda Urbana?... Exato, a estratégia de suspense funcionou muito bem na época, e foi usada do mesmo jeito que as matanças com assassinos imortais eram secadas até o talo durante os gloriosos anos 80.

"Quer ser minha namorada?"

Outro fator interessante é a personalidade violenta e misteriosa do serial killer. Lembram daquele clichê do suspense onde a aparência do vilão vai sendo revelada aos poucos durante a trama? Pois bem, aqui é justamente ao contrário, já conhecemos seu desempenho desde o começo, então sobra mais tempo para desenvolver suas “habilidades sangrentas”. E posso afirmar que seus momentos em tela são ótimos, sempre enriquecidos pela trilha sonora vibrante. Assim como mostrado em Dia dos Namorados Macabro, o psicopata vai deixando bilhetes com versinhos românticos para suas futuras vítimas, como por exemplo: “O caminho do amor é difícil e perigoso. Meu amor por você é maior quando sangra seu pescoço”. O pequeno detalhe do nariz sangrando após cada assassinato também intriga... Seria nervoso? Charme que ficou bastante marcado.

Em uma cena bastante lembrada, Lilly recebe uma caixa de bombons com o recado: “’Beleza não põe a mesa’, é um ditado de renome. Delicie-se com prazer, você é o que você come”, e logo depois de morder um dos doces, descobre estarem repletos de larvas! As mortes também são marcantes, indo desde flechadas no estômago até espancamento com ferro de passar roupas (!!!); outro momento agonizante é o lendário assassinato de Paige durante um banho na hidromassagem: a garota é presa, sufocada, perfurada com furadeira e eletrocutada no seu próprio sangue!!! Foi uma cena que me assustou bastante em minha infância, nas inúmeras vezes que assisti a fita.

Porra, imagina ver esse maldito rosto antes de morrer?!

O filme vai deixando várias dicas de quem pode ser o assassino: primeiro desconfiamos do maluco que saiu com Shelley na noite em que foi morta (Jason Marquette, com as iniciais J.M. assim como Jeremy Melton), depois encanamos com o vizinho de Kate, um tarado que parece sofrer com TOC... Até mesmo o detetive policial Leon Vaughn (Fulvio Cecere) entra na jogada, mesmo desconfiando que as garotas possam ter feito alguma bobagem no passado com Jeremy Melton, provocando os assassinatos atuais; infelizmente, com o passar dos anos, Jeremy pode muito bem ter feito cirurgias plásticas e estar irreconhecível. Pode ser qualquer um.

Mesmo com todas as garotas tendo suas tramas particulares, claramente percebemos que o roteiro foca mais em Kate e Dorothy, não por suas personalidades, mas pelos seus interesses românticos. Dorothy conheceu um mané aproveitador faz apenas um mês e já o chamou para morar em sua mansão, fazendo a polícia desconfiar que ele talvez seja o maníaco. Já Kate engatou relacionamento com um jornalista bonitão chamado Adam (David Boreanaz), simpático e romântico. Mesmo o rapaz tendo um passado tortuoso com bebidas alcoólicas, Kate se encontra emocionalmente envolvida por ele, sendo retribuída com a mesma atração.

Com certeza uma das melhores cenas do gênero.

Já no final acontece uma festa dos namorados na mansão de Dorothy, cheia de confusões, intrigas e situações babacas que só servem para enrolar o roteiro. O namorado de Kate, Adam, acaba bebendo exageradamente e briga com ela após ter a confiança perdida. A festa não dura muito, o assassino aparece e ocasiona um blecaute após a morte de Paige, fazendo todos os convidados irem embora, sobrando somente as nossas garotas.

Quando o Portal Tartárico voltou, decidi que nossas conversas e críticas seriam abertas e, obviamente, com spoilers. Aqui é um local onde falo sobre qualquer assunto sem nenhuma restrição. Vou contar sobre o final de O Dia do Terror, porém recomendo para os mais atentos pularem essa informação, pois se torna muito mais interessante e surpreendente ao ser presenciada quando se assiste o filme completo (também odiaria estragar a experiência de alguém). Por sorte, na minha vida, tive oportunidade de assistir produções queridas sem ter recebido nenhum tipo de spoiler antes, como Psicose (1960), O Silêncio dos Inocentes (1991) e muitos outras, incluindo esse filme aqui. Enfim, já no finalzinho, o assassino é baleado por Adam, e rola escadaria abaixo. Quando Kate remove a máscara de cupido, encontramos Dorothy! Mas... Espere um pouco... Não era Jeremy Melton que cometia os assassinatos?! Por que diabos Dorothy? Que porra?

Isso, meus amigos, é explicado somente no último segundo de filme, quando Kate abraça seu namorado bonitão Adam, e o nariz do rapaz começa a sangrar vagarosamente... Ele é Jeremy Melton.

Uma bela reviravolta final!

A pergunta que fica para algumas pessoas é: como Dorothy estava com a roupa do assassino? O que aconteceu? Calma, vou explicar. No desfecho, Adam acaba ficando ausente por alguns momentos, nesse tempo, ele deixou Dorothy desacordada e a vestiu como se ela fosse a psicopata mascarada. Um pouco mais tarde, ele a empurra da escadaria, acertando vários disparos em seu corpo com o revólver. Assim, todos vão pensar que Dorothy é a verdadeira assassina, corroída pela inveja que carrega das suas amigas desde os tempos de colégio, por ser gordinha e não pegar ninguém. Um plano perfeito, e que funciona. As únicas pessoas que sabem a verdade é a gente, o público que acompanha o filme. Acreditem em mim, se esse filme tivesse sido lançado nos anos 80, seria um clássico.

É um bom slasher para os anos 2000, em uma época que o cinema de terror ainda não havia sido invadido pelos desnecessários remakes. Recomendamos O Dia do Terror para todos os românticos de plantão, é sempre bom misturar o doce tema amoroso com o amargo do terror. Infelizmente (ou felizmente) não tivemos nenhuma continuação, mesmo o final deixando em aberto uma grande possibilidades de acontecimentos futuros. Jeremy Melton é uma lenda misteriosa que vai continuar no anonimato, talvez, para sempre. Portanto lembre-se disso, jovem mulher, e cuide bem de sua vida amorosa... Ou vai se dar muito mal.
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TRAILER DE 2001 (RECUT):

CURIOSIDADES:
1) Katherine Heigl (a Shelley) gravou suas cenas em apenas 3 dias, pois estava ocupada com as gravações da série Roswell (1999). Outro ator que finalizou seu trabalho rapidamente foi David Boreanaz, em 2 semanas.

2) No elenco original, Dorothy seria interpretada por Tara Reid (já trabalhando com Blanks em Lenda Urbana). Já a gostosona Paige iria ficar por conta de Jennifer Love Hewitt, uma das final girls mais lindas que existe (minha eterna crush dos anos 90).

3) Ocorre um erro na cena que Paige recebe rosas e champanhe na hidromassagem, pois se torna praticamente impossível o assassino ter deixado esses “presentes” para ela em apenas alguns segundos, sem ser notado.

4) Katherine Heigl e Jessica Capshaw futuramente trabalhariam juntas na série de drama médico Grey’s Anatomy.

5) Richard Kelly foi cogitado para ser o diretor, mas acabou recusando. De um jeito ou de outro, Kelly dirigiu Donnie Darko naquele ano.

6) No flashback inicial, quando Jeremy é rejeitado pelas garotas, sempre após a pergunta “quer dançar comigo?”, elas respondem com base na forma que vão morrer posteriormente. Por exemplo, Shelley fala “nos seus sonhos, perdedor”; e no futuro acaba morrendo na posição de dormir. Lilly expressa nojo, recebendo futuramente uma caixa de bombons com larvas. Paige fala “prefiro morrer queimada.”, e acaba sendo eletrocutada na banheira. Dorothy o acusa de assédio “ele me atacou!”, fazendo todos pensarem que Jeremy forçou a garota a beijá-lo; anos depois, ele executa esse ataque e faz todos pensarem que ela era a assassina. Já Kate responde “talvez mais tarde, Jeremy”, por isso ele não a mata, e acabou firmando um forte relacionamento com ela (usando o nome Adam Carr).


7) O titulo inicial da Warner Bros. e Village Roadshow aparecem em vermelho na abertura do filme.


8) O filme demorou 42 dias para ser filmado.


CONTAGEM DE CORPOS (8):
Assassino Jeremy Melton aka. Adam Carr
Shelley: garganta rasgada no necrotério.
Lilly: acertada por flechadas no peito e estômago, acaba caindo de uma viga e se estourando em uma lixeira.
Gary: rosto queimado e espancado com ferro de passar roupa.
Campbell: machadada nas costas.
Ruthie: arremessada em um box de vidro do banheiro, tendo seu pescoço cravado em um pedaço de vidro.
Detetive Vaughn: decapitado, cabeça posteriormente encontrada em uma fonte com peixes (morte offscreen)
Paige: afogada, sufocada e perfurada por furadeira, logo em seguida é eletrocutada na banheira de hidromassagem.
Dorothy: baleada e arremessada da escadaria.