AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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Todos sabem que nosso território
nacional adora alterar os nomes dos filmes lançados internacionalmente,
entregando pérolas que sempre me deixaram intrigado. Por exemplo: Airplane
(1980) virou Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu, outro curioso é Beverly Hills
Cop (1984) conhecido aqui como Um Tira da Pesada... Não ficou convencido? E o
bizarro Anguish (1987), que aqui virou Os Olhos da Cidade são Meus... (???) Na
crítica de hoje temos um caso parecido, pois o filme The Funhouse (algo como
“Casa Maluca”), foi transformado em Pague Para Entrar, Reza Para Sair; um
titulo duvidoso, porém muito nostálgico e que se encaixa
perfeitamente no contexto retratado.
Se existiu um ano que rendeu MUITOS
filmes do gênero slasher, esse ano foi 1981, sem sombra de dúvidas. Como sempre
venho falando, foram inúmeras películas lançadas somente pelos estadunidenses.
A lista é imensa, vai desde Evil Dead, Dia dos Namorados Macabro, Quem Matou
Rosemary?, Aniversário Sangrento, Sexta-Feira 13 Parte II, Halloween II... Isso
é somente uma pequena porcentagem do que tivemos naquele ano. Uma produção que
se destaca no meio de tantas é o slasher Paguei Para Entrar, Reze Para Sair, que
apesar de limitado e datado em alguns momentos, não deixa de ser uma ótima
descontração do gênero sangrento.
Na direção temos ninguém menos que
Tobe Hooper (ele mesmo, de Poltergeist – O Fenômeno e O Massacre da
Serra-Elétrica), nesta época ainda com carga inspiradora e uma boa visão; ahhh,
como gosto de Tobe Hooper! Mesmo após os anos 80, quando o diretor começou a
errar a mão em quase todos os filmes que estava envolvido, seus filmes sempre
foram importantes em minha vida. Sou tão saudosista com esse morfético, que até
mesmo Mangler – O Grito de Terror (1995) consegue me render uma boa sessão com
algumas cervejas. Mas então... O que Hooper preparou desta vez? Posso dizer que
uma trama extremamente simples e interessante, mostrando a trágica experiência
do grupo de jovens que decide passar uma noite escondidos em um parque de
diversões, após o local fechar. Tem como dar certo?
Uma abertura cheia de homenagens.
No começo, Hooper faz ótimas
homenagens para Halloween (1978) e Psicose (1960), quando o garotinho Joey
(Shawn Carson) simula assassinar sua irmã assim como Michael Myers fez com a
dele (até mesmo vestindo a máscara na perspectiva de “primeira pessoa”). No
momento, ela estava tomando banho igualzinho Marion Crane do filme de
Hitchcock. Os jogos de câmera lembram muito. Um ótimo começo, onde já
percebemos a rivalidade dos irmãos e a paixão do garoto Joey pelo tema
“horror”: seu quarto é cheio de máscaras e pôsteres do terror clássico, facas
de mentira, até rola A Noiva de Frankenstein (1935) passando na televisão. Por
outro lado, sua irmã adolescente Amy (Elizabeth Berridge, nossa final girl da
vez) despreza todas as atitudes do irmão, principalmente quando ele tenta
assustá-la. Naquela noite, Amy planeja ir até o parque de diversões da cidade
com seu namorado e amigos, mesmo seu pai avisando que o parque é perigoso (duas
garotas desapareceram no local). Amy enrola o pai falando que vai ao cinema,
mas seu irmão sabe muito bem que a garota vai partir pra farra.
Hooper consegue fazer o ambiente
divertido de um parque de diversões se transformar em algo assustador e
macabro; nada de montanhas-russas cabulosas como em Premonição 3 (2006), aqui
temos um parque normal e misterioso, como aqueles que são montados todas as
horas nas cidades pequenas. Um lugar aparentemente tranquilo e descontraído
para se visitar com os amigos após algumas rodadas de bebidas, com aquelas
luzes brilhantes sendo acolhedoras na fria noite. Brincadeiras e sorrisos. O
que poderia dar errado?
Amy fica meio encanada por mentir
para seu pai, mas como aquela noite será seu primeiro encontro com o bonitão
badboy Buzz (Cooper Huckabee, de Django Livre), a garota procura fazer de tudo
para agradar o “namorado”, e não decepcioná-lo; aquela clássica submissão
feminina retratada nos slasher dos anos 80. Buzz é marrento nos seus
propósitos, mas prova ser um bom moço (sua aparência me lembra muito Harrison
Ford na época de ouro). Mesmo sendo a primeira vez que Amy sai com ele, a
relação é tratada com bastante maturidade, principalmente no começo do filme.
Junto com o casal de pombinhos,
conhecemos outra dupla de namorados bastante curiosa: a melhor amiga de Amy,
uma maconheira animada chamada Liz (Largo Woodruff) e o chapado irresponsável
Richie (Miles Chapin). Após fumarem alguns baseados, todos eles vão até o
parque, procurando apenas uma noite de diversão e putaria. Paralelamente, Joey
(o irmão menor de Amy) resolve sair escondido de casa e ir até o local para ver
o que a irmã está aprontando.
O parque fica localizado em um grande
campo, com música alta, lonas de circo e os trailers dos funcionários
estranhos. Os jovens se divertem em várias atrações típicas deste modelo de
parque, algumas até bizarras, como uma feira (em uma tenda de circo) onde são
exibidas inúmeras criaturas mutantes, como uma macabra vaca de duas cabeças e
até um bebê monstro preservado.
Hopper sabe provocar desconfiança e
bons sustos em seus filmes, é um clima pacato que tem tudo para ser medonho.
Esqueça os famosos sustos sonoros, até temos eles, mas a trama abre espaço para
outras ideias. Um exemplo é quando, indo para o parque, Joey acaba sendo
abordado por um velho doido em uma picape preta, lhe oferecendo carona sob a mira
de uma espingarda. O público fica aterrorizado junto com o garoto, funciona
muito bem, mesmo a cena não tendo nenhuma relevância na história. Outro fator
que assusta é o próprio parque de diversões, um local reservado, noturno e
aparentemente divertido, podendo esconder muitas surpresas. Os brinquedos não
parecem confiáveis como hoje em dia, e até mesmo os funcionários são estranhos,
parecem hippies caipiras que estão conhecendo a civilização somente agora.
Quem ainda não assistiu deve estar se
perguntando: o que tem de errado com o parque para ser palco de uma história de
terror? Pensem bem... É um filme de Tobe Hooper... O que poderia ser?... É
claro que aos poucos vamos descobrindo que o parque de diversões é gerenciado
por uma quadrilha de psicopatas, premissa que o diretor ADORA utilizar em seus
slashers. O líder assassino do local é um velho que trabalha na bilheteria da
FUNHOUSE, aquelas casas malucas assombradas que tem em todo parque. Ele tem um
filho que se veste de Frankenstein para assustar os jovens na entrada do
brinquedo; posteriormente, é revelado que seu filho na verdade é uma criatura
horrenda, com rosto branco, dentes pontudos e grito estarrecedor, usando a fantasia
de Frankenstein para esconder seu rosto. E é justamente nesse brinquedo, na
FUNHOUSE, que os jovens decidem se esconderem para passar a noite transando,
após o parque fechar.
E os malditos jovens conseguem fazer
isso! Um pouco antes fechamento, eles embarcam no brinquedo e não saem mais,
ficam lá dentro mesmo, escondidos na escuridão. A FUNHOUSE é um passeio escuro,
assustador e esfumaçado. Os visitantes sentam em carrinhos que passam por esqueletos,
aranhas gigantes e aquele clima claustrofóbico sufocante. No entanto, após o
parque ficar “vazio”, eles percebem que se meteram em uma enrascada fodida:
primeiro eles presenciam um assassinato dentro do brinquedo (a vidente
prostituta “Madame Zena” é estrangulada pelo maluco que se veste de Frankenstein),
fazendo os jovens perceberem que eles serão as próximas vítimas.
Uma das criaturas mais intrigantes criadas por Hooper.
Um por um, todos vão sendo mortos. A
criatura horrendo filha do dono prova ser um assassino sem instruções,
desgovernado e submisso, obsoleto perto dos concorrentes da época, como Jason
Voorhees e Michael Myers. As mortes são boas, mas nada impressionante. O clima
de desorientação (dentro da FUNHOUSE) é um dos pontos mais positivos do filme;
na penumbra, todos podem ser surpreendidos por golpes inesperados ou pessoas
camufladas. Se trata de um pequeno clássico do horror que conseguiu manter suas
referências, mesmo com algumas restrições datadas da época e pouco orçamento. É
interessante ver que Hooper não mexeu com o sadismo humano desta vez, elemento favorito
dos seus filmes. Ele prefere mostrar um monstro de verdade, assim como os
clássicos da Universal, alá Frankenstein.
Amy é a única que sobrevive. Não tem muito
que falar dela, com certeza não chega aos pés de Jamie Lee Curtis ou Marillyn
Burns. Ela sabe gritar e chorar, mas com uma carga dramática inferior. O final
é bom, com a criatura sendo presa nas engrenagens da FUNHOUSE. Por sorte não
tivemos nenhuma continuação, pois isso só prejudicaria a imagem do filme (tenho
certeza que iam fazer merda se tivesse um suposto Pague Para Entrar, Reze Para Sair 2). O
filme acaba com Amy fugindo do parque, já na manhã seguinte, com todos seus
amigos mortos.
É interessante ver como Tobe Hooper
conduz suas histórias simples. São apenas um grupo de jovens chapados de
maconha se divertindo em um parque qualquer; despreocupados e vulneráveis. O
estereótipo perfeito de vitima para sofrer horrores em um slasher. Pague Para
Entrar, Reze Para Sair também toca nos tabus de perdem a virgindade, sexo
prematuro e outros temas que fazem parte de todas as meninas na idade de Amy,
servindo para moldar a personalidade da personagem. Entretanto, ao terminamos o
filme, percebemos que muitas situações só estavam ali para ganhar tempo, e não
profundidade. Qual o motivo de tentarem desenvolver as motivações de Amy sendo
que ela termina o filme em trapos? O que ela aprendeu com isso? E por que
diabos o roteiro mostra seu irmão, Joey, indo até o parque? Ele somente
pentelha no local e depois é pego pelos pais! O menino literalmente não presta
pra porra nenhuma! Mas é claro, estamos falando de um slasher de 1981, a época de ouro que o terror estava dominando o cinema... Roteiro complexo o caralho! Somente
queremos ver sangue de jovens, peitinhos e cabeças rolando!
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TRAILER DE 1981:
CURIOSIDADES:
1) Steven Spielberg convidou Tobe Hooper para dirigir E.T. - O Extraterrestre, mas ele rejeitou por estar ocupado produzindo Funhouse. De qualquer jeito, eles trabalhariam juntos em Poltergeist (1982).
2) O filme foi gravado em Miami (Florida) devido as leis mais tranquilas da região; a maioria dos atores eram jovens e desconhecidos.
3) As prostitutas vistas em uma atração do parque eram verdadeiras strippers locais de Miami.
4) Tobe Hooper foi picado por uma aranha marrom durante as filmagens.
5) O título "Pague Para Entrar, Reze Para Sair" usado em nosso território nacional, na verdade é a sub-frase que ocupa o poster original: "Pay to get in, Pray to get out".
6) Segundo o ator Kevin Conway, o diretor Tobe Hooper era chamado de "Coke-Head" durante as gravação do filme. Hooper supostamente bebia 12 latas de Coca Cola por dia.
7) Hooper usou novamente alguns adereços do filme quando dirigiu o videoclipe "Dancing With Myself" de Billy Idol.
8) Uma vaca de duas cabeças e também uma com fissura palatina podem ser vistas durante o filme.
6) Segundo o ator Kevin Conway, o diretor Tobe Hooper era chamado de "Coke-Head" durante as gravação do filme. Hooper supostamente bebia 12 latas de Coca Cola por dia.
7) Hooper usou novamente alguns adereços do filme quando dirigiu o videoclipe "Dancing With Myself" de Billy Idol.
8) Uma vaca de duas cabeças e também uma com fissura palatina podem ser vistas durante o filme.
CONTAGEM DE CORPOS (6):
Assassino Freak Show Barker:
Madame Zena (vidente): estrangulada e
recebe descarga elétrica de um painel na parede.
Richie: enforcado com corda,
posteriormente recebe uma machadada acidental no topo da cabeça.
Liz: atacada pela criatura na
tubulação, morta por golpes de garra.
Buzz: golpeado na barriga (morte
offscreen)
OUTRAS MORTES:
Pai da criatura: é empurrado por Buzz
e acaba empalado pelo facão gigante que servia de decoração. Logo em seguida é
baleado.
Criatura: eletrocutada e presa nas engrenagens da Funhouse.