AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS de muitas horas de conteúdo, portanto se ainda não conferiu o seriado, leia por risco próprio.
________________________________________________
Olha meus amigos, essa temporada tem
história. Foi uma estreia lazarenta de se esperar e jamais vou esquecer do
hype. Me lembro de quando conheci a série pela primeira vez, lá em 2016, quando
a poeira já estava razoavelmente baixa. Foi uma surpresa incrível para mim,
desenvolvi uma conexão muito profunda com a identidade de Stranger Things. Não
foi apenas uma série que você maratona e passa pra outra, foi – e continua
sendo – um presente. A maioria dos elementos que eu adoro no cinema estavam presentes
ali, como terror sobrenatural, conspirações com o governo, aquela pegada “aventura”
que fazia parte da Sessão da Tarde, e, claro, os anos 80. No entanto, não foram
somente as músicas marcantes, a estética icônica da década ou as inúmeras
referências aos clássicos do cinema, Stranger Things é construída com
personagens completamente cativantes e memoráveis. Você se IMPORTA com eles e
com suas atitudes. Sabe aquela sensação “mano, não entra ai que tu vai morrer”? Isso
é colocado em prática num verdadeiro exercício mental. Desde aquela época
fiquei impressionado com a ligação que tive por todos eles. Para mim são como
amigos que jamais conheci, e quando são colocados sob pressão, de frente para
uma morte certa, é impossível não sentir o drama. Se quiser uma melhor experiência
ao ler essa crítica, recomendo descer até o final e ligar alguma das novas
trilhas sonoras (deixei todas disponíveis no final da crítica), e acompanhar a
leitura ouvindo um bom anos 80!
Eu conheci Stranger Things alguns
dias antes da segunda temporada ser confirmada, me lembro que o sistema online
Netflix lançou um breve vídeo nas redes sociais, revelando o título dos 9
episódios inéditos que, naquela época, ainda não tinham data de estreia
(contudo, esses títulos foram alterados antes do lançamento, por inúmeros fãs
que estavam criando teorias concretas sobre o enredo com base no nome dos
episódios). Obviamente a suposta segunda temporada sairia em algum ponto de
2017, mas eu não sabia que a espera se tornaria uma eternidade! Cara, sem
brincadeira, tinha uma época que TODOS os dias eu acordava e dava uma breve
pesquisada no Google procurando qualquer informação nova que seja relevante.
Isso sem contar o forte apego que desenvolvi pela Eleven (interpretada pela
digníssima Millie Bobby Brown); quem convive comigo sabe bem do que estou
falando. Como a segunda temporada NÃO CHEGAVA MAIS, eu assisti a primeira
incontáveis vezes (muito mais de 20), e criei mil teorias mentalmente. Os 8
episódios que fecharam o arco do primeiro ano foram gratificantes e muito bem construídos,
deixando uma história bem redonda com algumas pontas soltas para o futuro. A
segunda temporada prometia expandir completamente a história, e isso aconteceu
de uma forma MUITO maior do que pensei inicialmente.
Na sequência, a Netflix ficou um
tempo em silêncio e foi dar notícias definitivas sobre a série somente em
fevereiro de 2017, ao exibir um teaser curtíssimo (30 segundos) durante os
comerciais milionários do Super Bowl. Aquilo reascendeu a chama que parecia
estar apaziguada, e gerou uma expectativa enorme. Nesse teaser foi mostrado
brevemente os rumos que a série iria tomar, revelando os garotos que compõem o
grupo principal trajando o uniforme dos Ghostbusters durante o Halloween,
mostrando Eleven (agora cabeluda) chorando com as mãos no rosto, uma cena de
Will abrindo a porta para uma noite vermelha (numa referência saudável ao
clássico Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de 1977), e ainda avisando que a ameaça cresceu para os habitantes de Hawkins, pois o novo monstro
é visto por um pequeno momento, emergindo como uma aranha nas sombras da noite,
gigantesco no céu. No final, era revelado que a temporada seria lançada somente
no final de outubro, no Halloween. Lembrando que vou deixar todos os trailers disponíveis
no final da crítica.
Isso foi o suficiente para esquentar
os debates ao redor da série, que na cabeça de muitas pessoas já era algo imbatível
e clássico. Depois desse teaser do Super Bowl, as novidades sempre surgiam:
novos pôsters, novas imagens e uma porrada de teorias mirabolantes (muitas
delas de fato aconteceram no resultado final). O que mais me intrigava era a
semelhança gritante com o ano anterior (esteticamente falando, é claro),
parecia uma continuação direta da primeira temporada, só que mais sombria e
misteriosa. Agora todos sabem que não foi só isso que aconteceu nesse segundo ano, pois a série cresceu MUITO, indo para caminhos que eu nunca tinha
pensado antes, saindo da "caixa" que estávamos acostumados.
Alguns meses depois, em julho (dia
22), foi lançado o primeiro trailer, agora com uma duração superior a 3 minutos. Durante a Comic Con foi exibido esse vídeo espetacular ao som de
Thriller, do mito Michael Jackson. A atmosfera de terror oitentista nunca foi
tão forte, a narração de Vincent Price entregava aquele clima sombrio, denso e
macabro. Por último, já em outubro, em uma sexta-feira 13, foi lançado o
trailer final, esse bem mais dramático e violento, embalado ao som da poderosa
soundtrack “Last Ray of Light”, provavelmente a minha preferida desse novo ano,
ouvi-la é basicamente cair de cabeça no universo conspiratório de Stranger
Things, e mergulhar nas profundezas do Mundo Invertido.
Desde o início, as promessas para
essa temporada era algo sombrio, mais ameaçador e mais desenvolvido. Cumpriu? Sim,
todas as promessas foram cumpridas, temos mais do Upside Down, um maior
relacionamento com os personagens principais, a solução de problemas (incluindo
triângulos amorosos), um desfecho para o assassinato de Barb e a revelação do
passado de Eleven, agora conhecida e sendo referida pelo seu nome verdadeiro:
Jane Ives. A princípio parecia bem difícil conseguir ser melhor que a primeira
temporada, pelo impacto totalmente inesperado e pelo forte círculo emocional
envolvendo os personagens principais. Contudo, a segunda temporada segue tudo
isso de uma maneira mais lapidada (levando em conta o enorme orçamento
que tiveram desta vez, aproximadamente 8 milhões de dólares por episódio). Fora
isso, o segundo ano também garantiu novos personagens e mistérios. Foi a
oportunidade perfeita para “Bagulho Estranhos” não depender totalmente de
referências e homenagens, tendo espaço para desenvolver identidade própria.
Essa temporada consegue isso, e guia totalmente os rumos que a série pode
seguir futuramente.
Quando finalmente foi lançado, nessa sexta-feira
passada (dia 27 de outubro), Stranger Things me bagunçou mais uma vez. Tomei um
porre de cerveja com cachaça, fiquei a noite toda acordado esperando o horário
bizarro de lançamento (5 horas da manhã), e realizei uma maratona linda, onde
basicamente fiquei horas sem tirar o sorriso do rosto. Reencontrar minha galerinha
doida dos anos 80 nunca foi tão prazeroso! O incrível trabalho da Netflix em
divulgação valeu totalmente o esforço, tudo funciona perfeitamente e com a magia
da temporada anterior, mesmo a trama agora possuindo rumos maiores, quase internacionais.
As referências estão presentes por todos os lados, RPG de mesa, carrões, música
de primeira linha, fliperamas e filmes... É um compilado nostálgico de tudo de
bom que rolou na década de 80. A trilha sonora continua perfeitamente imbatível,
as novas scores compostas são cativantes, emocionantes e bastante sinistras,
mantendo os sintetizadores e graves pesados, alarmes e barulhos psíquicos. Já a
parte musical envolvendo bandas é impecável, temos Cyndi Lauper, Scorpions, Bon
Jovi, Duran Duran, Ratt, The Police, Metallica... Porra, sem comentários... É
impossível não entrar no clima da época, as músicas SEMPRE são boas, distribuídas
em momentos estratégicos, funcionando como um personagem que só aumenta a
identidade da série. Lembrando que os primeiros episódios dessa temporada
ocorrem durante o Halloween de 1984, então o clima de terror está mais forte do
que nunca. As referências vão desde jogos como Dragon's Lair, pontadas do clipe
Thriller de Michael Jackson, fantasias do Ghostbusters e até mesmo o clássico O
Exterminador do Futuro passando nas sessões do cinema.
Mesmo se passando um ano depois dos
eventos da primeira temporada (agora em 1984, o auge da década), Stranger
Things 2 parece continuar exatamente do ponto deixado, resolvendo alguns
mistérios que foram deixados no ar. Inicialmente, eu pensava que Eleven ficaria
boa parte da temporada presa no Mundo Invertido, mas logo no primeiro episódio
descobrimos que ela passou somente alguns minutos na realidade paralela. Após
se sacrificar e destruir o Demogorgon, a garotinha acorda no Mundo Invertido
(ainda dentro da escola), e consegue arrebentar uma vala na parede, no exato
ponto onde o Demogorgon havia quebrado para invadir nossa realidade. Saindo do
Mundo Invertido, como um nascimento, Eleven vaga pela floresta durante dias,
comendo animais e sobrevivendo ocultamente. Algum tempo depois, o grande xerife
Jim Hopper (David Harbour) a encontra pela neve, após deixar comida para ela em
uma caixa (como mostrado no final da season one), e decide ficar com a garota, escondendo ela em um casebre na floresta por um ano. Esse ano é contado durante
flashbacks onde vemos Eleven desenvolvendo seu relacionamento com Hopper, virando
a filha que ele nunca pode ter, aprendendo e aprimorando seus pensamentos
sociais, como fala e a percepção de coisas normais, algo que Eleven não possuía
muito bem. Agora ela fala bem, forma frases inteiras e age completamente por
conta própria, deixando de lado aquela inocência cativante da temporada
anterior. Eleven e Hopper formam uma dupla extraordinária, algo que eu não
imaginava e que acabou me conquistando. São como pai e filha, cheios de
brigas e problemas, porém dependem um do outro, mesmo que não aceitem a
princípio. O xerife amargurado com seu fuzil carregado, e a menina estranha com
seus poderes mentais.
Hopper e Eleven brigam bem durante o
começo da temporada, muito porque ela quer reencontrar Mike, mas ele não deixa.
Fora isso, Hopper acaba mentindo sobre a mãe de Eleven, a doente mental abusada
Terry Ives, mas a menina acaba descobrindo que a mãe está viva e resolve ir atrás
dela por conta própria. Acho hilário o jeito que Hopper tenta manter Eleven na
linha, enchendo a menina de doces e promessas que muitas vezes não consegue cumprir. Ele
é cabeça dura e sem paciência, e a menina o pressiona, até se tornando um pouco
birrenta. Por mim tudo bem, pois Eleven foi privada a vida toda de ter uma
infância normal (e olha que sua vida ao lado de Hopper não é algo que podemos
chamar de “normal”), então qual o problema de ela fazer uma birra e destruir a
casa de vez em quando com os poderes mentais? rsrsrs
E de qualquer forma, é impossível não
amar a Eleven, a menina tem aquela inocência ignorante que fascina, é fofinha
de qualquer jeito, e ainda por cima uma assassina impiedosa, quebra pescoços
com poderes da mente e carrega uma fidelidade impressionante aos amigos. Millie
Bobby Brown consegue entregar novamente aquele drama emocional que a personagem
carrega cravado em sua essência, ela está MUITO forte, depressiva, vingativa...
Porém completamente poderosa e amorosa com seu vínculo.
As outras crianças, Mike Wheeler (Finn
Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughin) e Will (Noah
Schnapp) continuam excelentes. Mais velhos e mais maduros mentalmente, o
quarteto tem uma química realmente gritante. São realmente amigos, é tolice
afirmar o contrário. Cada um tem sua trama paralela agora, Mike continua
sentindo a dolorosa saudade de Eleven, e tenta manter contato com ela há 353
dias, sem sucesso. Will se encontra preso em duas realidades, no mundo real e
no Mundo Invertido, e começa a ter crises brutais envolvendo uma força maligna
desconhecida. Dustin está melhor impossível, sempre com suas piadas e comentários
aleatórios, tendo grande destaque nessa temporada, principalmente por encontrar
uma lesma em sua lixeira e resolver cuidar da criatura, que posteriormente se
tornara um Demodog (um híbrido entre Demogorgon e cachorro). Já Lucas, o nigga
do grupo, desenvolve uma grande paixão pela nova personagem Max (Sadie Sink),
conhecida como Mad Max, que chegou à cidade com seu irmão badboy Billy Hargrove.
Dustin e Lucas acabam formando um triangulo amoroso com Max, em uma boa sacada
da temporada, mostrando que os personagens cresceram e estão na fase de se
relacionar abertamente com o sexo oposto. O mais interessante é ver o quanto
essa molecada é boca suja kkkkk sempre rola um “fuck” daqui, um “son of a bitch”
de lá... Melhor impossível! Pena que a Netflix tem a mania escrota de censurar
suas legendas, então se você não tiver nenhuma noção da língua estrangeira terá
que se contentar com “palavrões” leves.
Falando dos curiosos novos
personagens, temos três principais: a primeira é a garota ruiva californiana Max, nervosa
e com uma personalidade bem forte. Ela não é aceita no grupo dos garotos por
ser desconhecida e não saber nada do que aconteceu no passado dos personagens; segundo
o próprio Mike, o grupo sempre foi perfeitinho na temporada anterior, Will era
o sábio, Eleven era a maga... Agora do nada chega essa ruiva querendo entrosar.
Max só é aceita no final, e prova ser uma baita personagem que promete detonar
nas próximas temporadas. Se for pensar bem, ela é mais forte que todos os
meninos, durona, brava!
O segundo personagem introduzido é
Billy Hargrove (interpretado pelo Power Ranger vermelho Dacre Montgomery), irmão de
Max. Ah meus amigos, Billy é o diabo em pessoa, representando a ameaça humana
para as crianças. Dono de um carrão envenenado, cabelo bagunçado, noia e
explosivo, Billy consegue ser a incorporação de Jack Torrance em O Iluminado
(1980). Forçado a ser responsável pela irmã, ele toma um cacete do pai caso
algo aconteça com a garota, por isso odeia ela com orgulho. Inclusive, no
desfecho dessa temporada, Billy basicamente arrebenta o rosto de Steve por
esconder sua irmã, em uma das briga densa e violenta. Billy é grotesco, ele
apanha e ri descontroladamente, mostrando que pode dar muito trabalho
futuramente. Ele é mal por natureza e por pressão familiar, não tem medo de
quase nada.
O terceiro personagem novo é Bob
Newby (interpretado pela lenda dos anos 80 Sean Astin, que trabalhou em Goonies
e O Senhor dos Anéis). O que falar dele? Sabe aquele tiozão que todo mundo
gostaria de ter? Ele é esse cara. Super gente fina, com boa índole e bons
conselhos (até mesmo ajudando Will a enfrentar seus medos). Bob namora a digníssima
Joyce Byers (Winona Ryder), que na temporada passada passou aperto, e nesse ano
resolve tomar atitudes e proteger o filho Will de tudo que possa lhe machucar,
até mesmo tratando o menino com uma delicadeza excessiva, como se cuidasse de
um bebê. Bob entra em cena para melhorar a união dessa família (mesmo Jonathan
não indo muito com sua cara), e rende bons momentos na série, sempre com seu
rosto abobado, conversa descontraída e ainda por cima trabalhando em uma loja
da JVC, líder das fitas VHS. Inclusive, essa temporada mostra bem o auge dos
anos 80, e a popularidade do VHS, desde câmeras filmadoras até fitas alugadas
nas locadoras.
O que achei injusto foi a morte de
Bob, no episódio 8 da temporada. Foi uma tragédia prematura que serviu somente
para um propósito. Durante a fuga do laboratório de Hawkins, os Demodogs o
estraçalham numa cena que deixa dicas de uma tragédia eminente antes mesmo de
acontecer. Acho que Bob poderia ter mais lugar na série, prolongando
sua presença em mais alguma temporada. Sua morte já poderia ser sentida somente
pelo fato de ele não estar em nenhum dos pôsters lançados para essa temporada,
mas vendo com um olhar mais apurado, não ficam dúvidas que ele somente morreu
para desenvolver a personagem de Joyce rumo a novos patamares. Todos querem que
ela fique com o xerife Hopper em algum ponto da série, por isso a morte de Bob
era mais do que necessária, mesmo que tenha acontecido muito cedo para ser
digerido corretamente. O relacionamento de Joyce e Hopper nessa temporada não é
sobre beijos e nem paradas amorosas, os dois tem uma história muito maior que
isso, um sentimento mais profundo e delicado.
Lembram do inferno que era o laboratório
de Hawkins comandado pelo cientista Brenner? As coisas estão bem diferentes,
pois agora a enorme instalação é controlada pelo cientista gente boa Dr. Owens (Paul Reiser), o
qual tem o objetivo de esconder tudo de errado que aconteceu no último ano,
ocultando qualquer informação sobre o Mundo Invertido e sobre a infestação que
vem acontecendo em Hawkins, apodrecendo as plantações de abóboras em época de
Halloween, deixando aberturas para a realidade paralela, espalhadas pela
cidadezinha. Will frequenta o laboratório toda hora, fazendo testes
ousados para descobrir qual o seu problema. Nessa etapa sentimos uma forte
ligação com o clássico O Exorcista (1973), inúmeros médicos e cientistas que
não conseguem dar uma resposta concreta sobre as crises de Will. Do mesmo
jeito, o laboratório continua progredindo ao tentar “exterminar” o Mundo
Invertido, descobrindo que o ponto fraco é o fogo, e iniciando uma queima total
da realidade alternativa. No entanto, quando mais o Mundo Invertido é destruído,
mais Will sente seus efeitos, como se o fogo também lhe afetasse.
Outro personagem que da as caras é
Murray (Brett Gelman), um conspirador do governo, afiado pela Guerra Fria. Ele até
mesmo acha que Eleven pode ser uma arma russa contra os EUA (realmente era, só
que ao contrário). Murray é um personagem hilário, com o visual do finado deputado
federal Enéas (5656, lembram dele?), e uma personalidade desconfiada. O cara
gosta de tomar uma vodca e ficar conspirando contra os eventos. Durante o
começo da temporada, após visitarem sua casa atrás de informações, Jonathan e
Nancy acabam bebendo com ele e protagonizam o primeiro beijo da dupla! Murray
serve como um guia alucinado de poucos propósitos, dando seus argumentos da sua
maneira, com indiretas que às vezes só ele entende. A temporada acerta
perfeitamente naquela paranoia de Guerra Fria que assolou as duas potencias mundiais
entre as décadas de 60 e 80, algo que senti falta no primeiro ano.
Nancy e Jonathan sempre com problemas.
Nancy e Jonathan sempre com problemas.
Confesso que a cena mais assustadora
para mim foi a lavagem cerebral feita em Terry Ives, no final do episódio 5.
Durante esse flashback, Terry entra em trabalho de parto, desesperada,
sendo socorrida pela sua irmã, e vemos o nascimento de Eleven, no laboratório
de Hawkins. Contudo, o cientista filho da puta Brenner (Matthew Modine),
sequestra o bebê para experimentos científicos envolvendo a Guerra Fria. Na
cena mais chocante, Terry invade o laboratório armada, querendo recuperar sua
filha. Após balear um segurança e encontrar Eleven, ainda criancinha, Terry é
imobilizada e amarrada em uma maca, tendo eletrodos pregados na cabeça e lhe
dando uma carga brutal de choques e ondas destruidoras. A mente da mulher fica
detonada, mas todos os elementos que marcaram aquele dia ficam gravados em sua
mente, como um girassol, a senha de seu cofre, um arco-íris na parede e a carga
destruidora dos eletrodos: aplicação máxima número 450. “Girassol, três pra direita, quatro pra esquerda, arco-íris, 450, respire”, ela fica repetindo isso sem parar.
É agonizante. Isso sem contar a montagem bruta e grotesca feita durante esse
flashback, temos imagens embaçadas, berros de desespero, alarmes disparados,
sirenes ecoando pelas profundezas da cabeça... É uma energia assustadora que me agradou muito.
Lendo alguns comentários pela
internet, reparei que muitas pessoas não gostaram (e até mesmo odiaram) o
episódio número 7 “The Lost Sister”. Curiosamente, a meu ver, esse é um dos
episódios mais importantes até então, essencial para o desenvolvimento de
Eleven, e sua confiança pessoal. A maioria das críticas negativas foram pela
drástica mudança de visual que a série teve nesse episódio em particular,
saindo daquele clima de “cidadezinha do interior” e partindo para a cidade
grande, com Eleven indo ao encontro de sua irmã Kali, a 008. O episódio explora
completamente o lado punk marginal dos anos 80, com drogas, mendigos, cabelos
moicanos e becos sujos. Se não fosse a Eleven ali para manter as conexões, ia
parecer uma série totalmente diferente. Porra galera, mas vamos concordar,
mesmo tendo cenas diferentes e com uma premissa ainda não vista, esse episódio
tem cenas MUITO fodas! Como não gostar da nossa Eleven chegando na cidade
grande ao som de Bon Jovi “Runaway”?! Ou então da cena onde ela mostra um poder
absoluto, conseguir (e aprendendo) a canalizar sua raiva interior e arrastar um
VAGÃO DE TREM somente com a mente? Assumo que a 008 ainda não ganhou meu
respeito, ela é forte e com uma ideologia interessante, mas não teve tempo o
suficiente para provar nada. A única coisa que me incomodou foi que ela estava
mudando a personalidade da Eleven, fazendo a garota virar vingativa e assassina
a sangue frio, caçando os cientistas responsáveis por crucificar a vida das
duas. A cena da Eleven dando um “Force Choke” (SIM, IGUAL O DARTH VADER!), no
cientista que torturou sua mãe, é realmente badass ao extremo.
O que realmente não quer calar é o
paradeiro de Brenner, o verdadeiro culpado pela destruição da família Ives.
Após ser dado como morto no fim da temporada anterior, é confirmado que ele
continua vivo, mas seu paradeiro é desconhecido para os protagonistas. Brenner
aparece somente em alucinações e flashbacks, mas sua presença não passa batida,
e vira ou outra ocorre a menção de seu nome. Meu sonho continua sendo ver
Eleven estraçalhar aquele velho, esvaziar seu sangue e explodir sua cabeça!!!!
Eleven vs Brenner, dentro do Mundo Invertido, fica a dica para a terceira temporada! Aliás, já pensaram em uma temporada 3 "search for papa"?
Bom, mas agora vamos falar de alguns
problemas. O maior deles talvez seja a maneira que a série é gravada, com
episódios que sempre contém um cliffhanger caloroso e inesperado, sendo
impossível assistir somente um episódio e parar. A série foi feita nos moldes
de um filme, com o objetivo de ser assistida de uma vez só, numa maratona de 9
horas. O próprio esqueleto dessa segunda temporada deixa isso evidente, o
começo é meio lento, calmo, paciente. A partir do quinto episódio as coisas
engatam e o final é bem agitado. Existe um padrão de “começo/meio/fim” que faz
tudo parecer um longo filme, e isso acaba sendo um problema para pessoas que
não tem tempo de maratonas. Fora isso existe alguns furos de roteiros,
principalmente envolvendo o Demogorgon criado e adestrado por Dustin, como na
cena em que a criatura sai da casa e não é afetada pelo céu ensolarado, sendo
que, anteriormente, apenas uma lâmpada quente já servia para machucá-lo. Isso
pode ser explicado se levarmos em conta o desenvolvimento da criatura, agora
adulta, e sendo capaz de aguentar maiores quantidades de calor, mas fica aquela
pulga atrás da orelha.
Outro fato que me deixou um pouco
chateado foi Jonathan Byers, o irmão responsável de Will. Na temporada
anterior, Jonathan tinha um circulo interessante na trama, passando de um adolescente
zoado e perseguidor para se transformar num rapaz responsável, forte, corajoso
e que não tem medo de enfrentar os perigos para manter seus entes queridos
seguros. Já na segunda temporada ele perde um pouco de espaço, mesmo tendo
seus momentos de glória. A falta que senti foi de alguma trama envolvendo nosso
Jonathan, parece que após ter ficado com a Nancy, ele mudou de atitude. Da
mesma forma, seus diálogos com o Will sempre são bons e passam algumas
mensagens envolvendo autoaceitação e problemas familiares. Jonathan é o melhor
irmão que Will poderia ter, mas está faltando alguma coisa...
Quem rouba a cena nessa temporada é
Steve Harrington (Joe Keery, a nova promessa de galã), um dos personagens mais odiados do último ano.
Steve perde totalmente seu jeito arrogante, para de ser um cara chato, e se
torna um aliado inesperado, um amigo confiável que todos podem contar. As cenas
dele com as crianças são puro ouro, hilárias na maior parte do tempo, o que
prova que seu personagem carrega um carisma que ficou oculto na primeira
temporada. Ele enfrentando os Demodogs com seu bastão de pregos é fodástico!
Steve surpreendeu desta vez, não só como peça fundamental de um grupo agitado
em formação, mas também como um grande amigo de Dustin, virando uma espécie de
irmão mais velho para o garoto, lhe ajudando em vários momentos e dando
conselhos amorosos engraçadíssimos, guiando o menino para se tornar um galã! hahaha
A fotografia está excelente, sentimos
algo mais profissional desta vez. Um estilo cinematográfico foi incorporado, a
perspectiva da câmera gira e passeia entre os personagens e cenários,
alcançando cenas grandiosas e até mesmo virando o mundo de cabeça para baixo de
vez em quando. Esteticamente falando, fica aquela impressão de que tudo evoluiu
nesse último ano, os atores, o enredo, a fotografia, a sensação de urgência com
base na ameaça. Quando as notícias dessa temporada estavam saindo, todos
pensavam que o verdadeiro monstro/vilão seria a gigantesca criatura que aparece
nos trailers, conhecido como Tessahydra (até mesmo no final da season one já
haviam deixado uma dica sobre isso, baseada no RPG de mesa Dungeons & Dragons). Entretanto, a palavra Tessahydra nunca é mencionada na segunda
temporada, o monstro é referido pelos meninos como Shadow Monster, e não é o
verdadeiro vilão, agindo mais como uma entidade sombria que se manifesta
somente para Will, sendo controlada por um “ser superior” chamado de Devorador
de Mentes. Mesmo assim, a enorme sombra no céu acaba tendo poucos momentos, e
provavelmente será mais explorada na próxima temporada.
A série também foca no bullying, em
pessoas com baixa autoestima, que se acham estranhas na sociedade, e prega que
mesmo com todos esses problemas sociais, tudo vai ficar bem no final. Como diz
Jonathan, as pessoas normais não tem um pingo de graça, você precisa ser
estranho, ser uma aberração. Um fato que sempre me intrigou muito foi a paixão
que os fãs desenvolveram pela sofrida Barb, capturada e massacrada pelo
Demogorgon logo no começo da primeira temporada. Todo mundo amou essa menina
(eu sinceramente não sei o motivo de tamanho alvoroço!), e sentiu pena dela. Na
realidade, Barb foi essencial para o desenvolvimento de Nancy, mostrando que as
vezes “ser puta com o garanhão da escola” acaba tendo consequências graves. Só
que nessa segunda temporada ocorreu todo um desfecho para essa história (algo
que os produtores já vinham confirmando há meses), e acompanhamos Nancy
totalmente devastada pela morte da amiga, principalmente após descobrir que
seus pais ainda acreditam que ela esteja viva, pensando em desaparecimento, e chegam
ao ponto de venderem a casa para pagarem um detetive top de linha. No
finalzinho, após o laboratório de Hawkins ser desativado, é assumida a culpa
pelo assassinato da garota, afirmando que ela morreu por “exposição a um
asfixiante químico experimental que vazou do laboratório”.
É interessante ver a cena do velório tardio,
enquanto a narração conta as tramoias do governo para esconder os fatos reais.
Os pais de Barb descobriram sua morte com base em uma mentira, acreditam que
ela morreu por experiências do governo, o que de fato aconteceu, mas
na verdade foram causadas pelas mãos de uma criatura de outra dimensão. Mesmo
os produtores prometendo uma “justiça para Barb” a impressão que fica é de
conspiração, algo ocultado que talvez nunca seja revelado. É triste ver o
desfecho dessa história, não por qualquer imprudência do roteiro, mas por ver
que os pais da garota continuam sem saber da verdade por trás da tragédia.
Assim como na primeira temporada,
alguns dos meus momentos preferidos são quando as crianças, agitadas, tentam
solucionar os problemas consecutivamente, em equipe, já no finalzinho, assim
como nos filmes da Sessão da Tarde. Quando finalmente vemos o grupo inteiro
reunido, já no último episódio, a amizade aperta no peito de uma maneira
impressionante. A química entre eles é algo construído 100% no emocional, uma
sensação gratificante que perpetuou sutilmente durante a temporada inteira. O
relacionamento das crianças com os adultos está no ponto certo, amadurecidos e
carregados de intrigas. O reencontro de Mike e Eleven (que ocorre no final do
penúltimo episódio) foi um dos momentos mais aguardados de toda a temporada. A
atuação de Finn Wolfhard nesse momento se transforma numa pérola emocional
difícil de encarar, ele teve a mesma reação que eu teria naquela situação.
Aquilo não era atuação, parecia um amor verdadeiro que demorou para ser
correspondido, não por desavenças, mas por falta de oportunidade.
O desfecho mais chamativo do final
provavelmente é Eleven e Hopper invadindo o laboratório e fechando o portal
principal para o Mundo Invertido. A cena, como se perpetuasse um inferno
vermelho e denso, mostra os poderes principais da garota, em uma espécie de
Carrie a Estranha versão 2.0, até mesmo levitando diante do portal. O Monstro
das Sombras, tão temido nos trailers, acaba ficando somente na expectativa,
ocultado atrás do gigantesco portal. A cena carrega uma fotografia superior ao
desfecho da primeira temporada, um lance cinematográfico que combina totalmente
com a premissa de desespero final. Eleven nunca esteve tão forte após canalizar
sua raiva, ela aprendeu certinho com sua irmã 008, no molde perfeito para se
manter a heroína da série, a base principal, a mais querida, e,
consequentemente, o elemento mais desejado pelos fãs.
Aqui quem vos escreve essa crítica é
um homem crescido, mas confesso que chorei igual uma criança nesse final. Não
foi uma emoção triste, foi um sentimento de conquista, algo realizado. Ver o
tão esperado baile da escola, conhecido como Snow Ball, foi uma das experiências
mais gratificantes que já tive em qualquer seriado. TUDO naquela cena funciona,
os garotos, agora crescidos, querendo arranjar as menininhas para dar uns
beijinhos, tudo ao som de Cyndi Lauper “Time After Time” (PORRA, COMO NÃO
CHORAR COM ISSO?!!), e depois o encontro decisivo entre Mike e Eleven, dançando
juntos nos embalos da canção “Every Breath you Take” e logo em seguida
protagonizando o tímido beijo que já virou marca registrada dos dois. Na moral,
parece que eu mesmo escrevi essa série, vivo tomando porres de cerveja ouvindo
essas músicas, e ouvi-las numa cena tão forte e aguardada me traz uma
sensação surreal, um amor verdadeiro que não são muitas produções que tem a
capacidade de despertar. Não é por ser fã que estou falando isso, mas ficar
procurando erros nessa série é a mesma coisa de encontrar “pelo em ovo”. Não
existem erros para quem é saudosista, e, se existem, são absolutamente
insignificantes para tirar a magia que Stranger Things carrega em cada elemento
da sua identidade.
Agora resta a dúvida sobre a terceira
temporada, que pelo jeito sairá somente em 2019 (e eu espero que tenha pelo
menos uns 20 episódios para compensar essa demora agonizante). É curioso pensar
que a série teria um bom final se terminasse aqui na segunda temporada, se não
fosse a última cena (onde é mostrado o Shadow Monster no Mundo Invertido,
ameaçando a escola) o final fecharia tudo tranquilamente, levemente redondinho,
com todos felizes dançando no baile de inverno. Da mesma forma, Stranger Things
continua sendo uma forma ultradimensional de entretenimento. É prazeroso
assistir essa série, e não enjoa facilmente, continuando sendo uma das melhores
produções que assisti durante minha vida. Cumprindo todas as promessas.
Seguindo novos rumos e determinando o destino dos nossos queridos personagens.
A Netflix acertou de novo, e fez a lição de casa direitinho. Stranger Things é
sentimento puro, e jamais será “apenas mais uma série dramática”. Fiquem
avisados, pessoas estranhas, pois o mundo está virando de cabeça para baixo.
____________________________________
TEASER DO SUPER BOWL:
____________________________________
TRAILER #1:
____________________________________
TRAILER FINAL:
____________________________________
TRILHA SONORA COMPLETA:
____________________________________
TRILHA SONORA COMPLETA (BANDAS):
CURIOSIDADES:
1) Em agosto de 2016, um mês após o lançamento da primeira temporada, foi confirmado o título dos nove episódios inéditos que fariam parte da segunda temporada. Contudo, após vários fãs analisarem os títulos e criarem teorias que estavam acertando o foco do enredo, os Duffer Brothers resolveram alterar os nomes.
2) Os Duffer Brothers disseram à NPR sobre o quão talentosa é Millie Bobby Brown, alegando que é muito raro encontrar crianças com toda essa versatilidade e talento prematuro. Posteriormente, Ross Duffer mencionou um dia em que Millie atrasou seu horário de filmagens em 45 minutos porque ela apareceu no estúdio coberta de brilho. Ele disse que isso não aconteceria com atores adultos.
3) Todo o enredo envolvendo Dustin e Dart é visivelmente inspirado nas confusões vistas no clássico oitentista Gremlins.
4) A terceira temporada foi confirmada antes mesmo do lançamento da segunda, em agosto de 2017. Os diretores também confirmaram renovar a série até uma quarta (ou quinta) temporada, dizendo "Estamos pensando que vai ser algo de quatro temporadas e depois acabou".
5) O nome de usuário que Max utiliza ao jogar no fliperama é Mad Max, em referência a trilogia estrelada por Mel Gibson. No último episódio, ironicamente, vemos a garota pilotando o carro envenenado de seu irmão.
6) Durante o Halloween da série, temos inúmeras referências aos filmes de terror. É possível ver fantasias de Michael Myers, Jason Voorhees, Drácula e até mesmo um lençol branco com buracos, ideia de Eleven para fantasia de Halloween, para sair escondida assim como o ET faz em ET - O Extraterrestre (1982).
7) Assim como na primeira temporada, os pôsters de O Enigma de Outro Mundo (1982) e The Evil Dead (1981) ainda podem ser encontrados no porão de Mike e no quarto de Will, respectivamente.
8) Mike e Eleven ficaram 353 dias sem se encontrar. Faça as contas 3 + 5 + 3 = 11... Coincidência? Acho que não.
ALGUNS DOS PÔSTERS LANÇADOS:
6) Durante o Halloween da série, temos inúmeras referências aos filmes de terror. É possível ver fantasias de Michael Myers, Jason Voorhees, Drácula e até mesmo um lençol branco com buracos, ideia de Eleven para fantasia de Halloween, para sair escondida assim como o ET faz em ET - O Extraterrestre (1982).
7) Assim como na primeira temporada, os pôsters de O Enigma de Outro Mundo (1982) e The Evil Dead (1981) ainda podem ser encontrados no porão de Mike e no quarto de Will, respectivamente.
8) Mike e Eleven ficaram 353 dias sem se encontrar. Faça as contas 3 + 5 + 3 = 11... Coincidência? Acho que não.
ALGUNS DOS PÔSTERS LANÇADOS:
Foi uma grande produção. O elenco é sensacional, Finn Wolfhard é excelente, recém o vi em It, ele fez um excelente trabalho como Richie. It: A coisa o filme é minha história favorita de Stephen King, acho que o novo Pennywise é muito mais escuro e mais assustador, Bill Skarsgård é o indicado para interpretar o palhaço. Os filmes de terror são meus preferidos, evolucionaram com melhores efeitos visuais e tratam de se superar a eles mesmos. Eu gosto da atmosfera de suspense que geram. It tem protagonistas sólidos e um roteiro diferente. O clube dos perdedores é muito divertido e acho que os atores são muito talentosos. Já quero ver a segunda parte.
ResponderExcluir