AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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Primeiramente, gostaria de desejar
boas festas e muita farra para todos os leitores que acompanham o Portal Tartárico.
Hoje é dia de comer muito, beber até capotar, fazer uma social com os amigos e
se entupir com filmes que marcaram a época (principalmente da Sessão da Tarde),
como Esqueceram de Mim (1990), Um Herói de Brinquedo (1996), Edward Mãos de
Tesoura (1990), Stranger Things (2016), Batman – O Retorno (1992), De Olhos Bem
Fechados (1999)... E muitos outros. No entanto, existem certas maravilhas que
devem ser lembradas anualmente, uma é a curiosa franquia Natal Sangrento,
que teve sua primeira produção lançada em 1984. Conhecido fora do país como
Silent Night Deadly Night, esse slasher movie conta uma trama que, obviamente,
se desenrola durante o aconchegante Natal, com motivações pesadas e polêmicas.
Com essa crítica, iniciamos o primeiro Especial de Natal anual do Blog, onde
teremos uma análise por ano de filmes sangrentos que se passam durante a data
natalina, sempre atualizada durante a véspera da ocasião, como hoje.
Sei que alguns não gostam do Natal.
Eu particularmente não carrego nada de religioso em minha consciência, mas
mesmo assim sempre apreciei o clima natalino (época do fim de ano no geral),
talvez pela forte influência que parece animar as pessoas, ou pelas boas festas
e memórias. Já para os excêntricos produtores de slasher movies oitentistas,
nada melhor que um banho de sangue durante a popular ceia, com direito a
polêmicas envolvendo religião, sexualidade e muitos outros tabus que são
discutidos até os dias atuais. Dirigido pelo produtor de televisão Charles
Sellier (dono da produtora Grizzly Adams Productions e dirigindo
Os Aniquiladores no ano seguinte), a história é muito boa e a recepção foi
totalmente favorável por parte do público; curiosamente, a projeção lançou dia
09 de novembro de 1984, exatamente o mesmo dia que a franquia A Hora do
Pesadelo estava lançando seu primeiro clássico. O filme “natalino” conseguiu se
sair muito melhor que Freddy Krueger somente no primeiro final de semana, tendo
uma bilheteria superior durante o período. Acontece que A Hora do Pesadelo
continuou a temporada toda em cartaz, enquanto Natal Sangrento foi censurado
com apenas seis dias nos cinemas. Esse ultraje agregou na grande
procura pela rara película, principalmente na boa época das fitas VHS. Para
quem se aventura procurando assistir a produção na internet, normalmente a
encontrará somente com o áudio original e sem legendas, ou então com a péssima
dublagem que sempre costuma comprometer as obras.
Enquanto revejo ao filme e escrevo
essa crítica, não consigo deixar de pensar que todos cresceram com aquela
típica ideia do Papai Noel amigável, acolhedor e com boas intenções. Sempre
pronto para vir do Polo Norte e presentear as crianças que foram boas durante o
ano; essa é a essência que todos conheceram e admiraram em algum ponto da vida,
independente da idade. Transformar a imagem desse velhinho bonzinho em uma
trama angustiante e perturbada é completamente genial, e temos mais um ponto
positivo para agradecer aos anos 80: a simplicidade que cada assunto (ou data
festiva) tem para influência inúmeras produções, como já visto em Halloween (1978), Sexta-Feira 13 (1980), Dia dos Namorados Macabro (1981) e outros
slasher movies marcantes, que fizeram questão de explorar basicamente todos os
feriados conhecidos. No entanto, o Natal carrega uma docilidade que une as
pessoas, ou as destrói, como nesse caso.
A produção começa com uma assustadora
canção protagonizada por alguma criança inspirada; acompanhamos uma guirlanda
natalina crescendo lentamente em um fundo preto, até que o sangue jorra
manchando nossa visão, e quando a perspectiva é limpa, vemos o título “Silent
Night Deadly Night” para enriquecer o clima que já nos identificamos.
Realmente, a temática de Natal é forte e única, podendo ser transmitida com
simples características, como uma guirlanda e a canção assustadora. Destaque
para a trilha sonora angustiante, marcada com toques astutos no piano (clique aqui para ouvi-la).
O bom e velho Natal!
Começamos na véspera de Natal de
1971, onde conhecemos um garotinho fofinho chamado Billy Chapman (Jonathan
Best, típico garoto inocente), que está indo visitar seu vovô em uma casa de
recuperação, junto de seus amáveis pais. Eles estão passando por uma região
rural montanhosa, e Billy demonstra grande interesse pela data festiva, após
remexer em um grande livro natalino intitulado “The Night Before Christmas”.
Seu pai é Jim (Geoff Hansen, que mais parece uma mistura de Kurt Russell com
Patrick Swayze) e sua mãe a tranquila Ellie (Tara Buckman), que juntos também
levam seu outro filho, o pequeno bebê Richard. Após a curiosidade apertar,
Billy fica interessado em saber quando o Papai Noel irá aparecer naquela noite,
e é informado que somente após ele estar dormindo. Para quem não sabe, nesse
slasher temos o prazer de acompanhar a história do ponto de vista do assassino,
diferente das outras projeções, que focam mais nas vitimas e final girls; na
verdade, o garotinho Billy se tornaria o serial killer da vez, devido sua
história cheia de traumas perturbadores (fator que iremos acompanhar nos
primeiros 50 minutos de filme, onde o roteiro de Michael Hickey nos informa
basicamente tudo que precisamos saber para entender as motivações sangrentas de
Billy), e tudo começa quando eles chegam na tal Clinica Mental de Utah, um
local “tranquilamente estranho”.
Esse velho me assusta pra caralho.
A família encontra o vovô (Will Hare,
que também participou de De Volta Para o Futuro), em estado de catatonia. Após
seus pais irem conversar com o médico, o macabro velho desperta
inesperadamente, e no melhor estilo Crazy Ralph de Sexta-Feira 13 (1980),
alerta o menino que caso ele tenha sido um garoto travesso naquele ano, era bom
fugir do Papai Noel, pois o mesmo apareceria para puni-lo. Como todos devem
imaginar, o velho consegue entrar na cabeça do garotinho e deixá-lo assustado.
Paralelamente naquela noite, quando a
família esta voltando para casa, um homem vestido de Papai Noel assalta um
mercadinho de estrada e assassina brutalmente o gerente (com direito a um tiro
explicito na testa, na melhor dinâmica de Poderoso Chefão), e ao fugir com o
dinheiro, acaba com o carro quebrado no meio da estrada... Sim, leitores,
adivinha quem estava cruzando a região naquele momento? Isso mesmo, a nossa família
inocente!... A cena que segue é totalmente perturbadora, pois Billy tenta
avisar seus pais que o Papai Noel é ruim, mas do mesmo jeito, eles decidem
parar e ajudar o “bom velhinho”.
Ajudando o "bom" velhinho.
O assalto é anunciado, e quando
tentam fugir, a coisa somente piora: Jim é baleado inúmeras vezes, já Ellie é
quase estuprada no meio da estrada e depois tem sua garganta rasgada. Billy
presencia toda a situação, escondido na encosta da rodovia, enquanto ouve seu
irmãozinho pequeno chorar dentro do carro. O filme já se demonstra estarrecedor
desde sua primeira fotografia, no entanto, essa cena muda completamente os
rumos da trama (isso nos primeiros 10 minutos). Inocente e desprotegido, a única
coisa que resta para Billy é fugir, e por sorte, consegue se manter vivo (não
sabemos o que aconteceu com o bebê Richard).
O filme pula 3 anos, mais
precisamente em dezembro de 1974. E acompanhamos Billy um pouco mais velho
(agora interpretado por Danny Wagner), vivendo agora no orfanato Saint Mary’s,
sob a condução de rígidas freiras. Billy aparenta ser um garoto tranquilo e
despreocupado, mas os traumas começam a perturbá-lo sempre que o Natal se
aproxima, o deixando agressivo e com atitudes estranhas, como desenhar um Papai
Noel assassino em uma das lições passadas.
Papai Noel, peitos e sangue... Ótimo contraste!
O garoto só passa aperto nas mãos da
Madre Superiora (Lilyan Chauvin, de Predador 2 – A Caçada Continua), uma freira
charlatona, totalmente chata e opressora, que ainda tem o costume de espancar
os garotos travessos e até mesmo amarrá-los na cama, como acontece com Billy
após presenciar uma das freiras transando escondida em um dos quartos do
orfanato (e na sequência vê o casal apanhando com cintadas após serem
descobertos). Ela é uma das responsáveis por seduzir o menino com suas ideias,
afirmando que todas as pessoas bagunceiras (ou que transam) são punidas de
alguma forma, premissa que levará Billy a assassinar muitos casais apaixonados
no decorrer da trama. A Madre Superiora transmite crueldade em cada ato, mas
ainda demonstra afeto pelos órfãos, por isso a sua forma de punição se
demonstra completamente inútil, somente servindo para as crianças ficarem com
mais medo dela, e não respeito. A única freira que ajuda Billy é a irmã
Margaret (Gilmer McCormick), que procura confortar o menino durante os traumas
e até tentar ajudá-lo psicologicamente, contando coisas boas, e não agouros
como os outros fazem. Por falar em traumas, Billy acaba surtando quando é
obrigado a sentar no colo do Papai Noel, e não se controla em acertar um soco
no velhinho, o derrubando longe (!!!); o filme não mostra, mas Billy aparenta
ter sido punido com brutalidade naquela noite...
Espancar crianças no Natal, que lindo...
Com aproximadamente 30 minutos de
projeção, pulamos para o ano de 1984, quando a irmã Margaret, ajuda Billy a
conseguir seu primeiro emprego numa loja de brinquedos chamada Ira’s Toys,
gerenciada pelo Sr. Sims. Lembrando que Billy agora tem 18 anos e é
interpretado pelo galã juvenil Robert Brian Wilson. Pela boa forma física do
rapaz e competência na loja, o trabalho do nosso protagonista é elogiado por
meses, mas de um jeito ou de outro, a época natalina sempre acaba chegando para
perturbá-lo. Sem contar que pra piorar a situação, o gerente decide colocá-lo
como Papai Noel do estabelecimento!...
Misturando bebidas e sua paixão Pamela (Toni Nero) nosso jovem Billy acaba perdendo a cabeça drasticamente, e começando
vários assassinatos devido ao seu trauma. No melhor estilo de Sexta-Feira 13, um por um, temos ótimas sequências, desde machadadas e marteladas na
cabeça, flechadas e principalmente enforcamentos, os quais o assassino realmente
foca o seu prazer. Da premissa do Natal, temos inúmeras situações que realçam a
data festiva, desde Billy abrindo a barriga de sua paquera, até flechadas
no peito de sua supervisora.
Billy, o galã assassino.
O filme demora para pegar no fôlego,
mas a partir de agora somos recompensados pela longa espera e introdução, pois
as mortes são os melhores presentes que o gênero poderia nos dar, ocorrendo muito
sangue em pouco tempo, das mais variadas formas possíveis, até mesmo pregando a scream queen Linnea Quigley (de A Volta dos Mortos-Vivos) nos chifres de um
veado empalhado (viva a criatividade), fora outras belas mortes, que vão desde a
loja de brinquedos em que Billy trabalha, passando pelas residências pacatas na
noite natalina, e tirando a vida até mesmo de dois jovens que esquiavam no meio
da floresta. A premissa de Natal é perfeita e muito bem construída: temos
sangue em contraste com a neve, corpos jogados ao lado das decorações típicas e luzes coloridas... Tudo muito eficiente. Uma bela representação do que seria, de fato, um Natal Sangrento. Fora as inúmeras
doses de humor negro que enriquecem o “divertimento” da data, como o clássico
padre surdo que é baleado, a dupla desastrada de policiais, ou a menininha que
recebe um canivete do Papai Noel como presente. Sem contar que descobrimos o
que aconteceu com o “irmão perdido” de Billy, o bebê Richard, agora um garoto
que também mora no orfanato controlado pela Madre Superiora.
A furiosa vingança natalina.
Já no final, quando conseguimos
entender totalmente as motivações de Billy, o mesmo invade o orfanato para massacrar
a Madre Superiora (já estando sendo procurado pelas forças policiais), mas após
se passar por Papai Noel, ele acaba sendo baleado nas costas, com dois disparos.
A única pessoa que abraça sua morte é a irmã Margaret, que se prova devota aos
traumas do garoto, realmente conseguindo entender os motivos do massacre
natalino. “O Papai Noel se foi”, essas são as últimas palavras ditas por Billy
Chapman antes de morrer lentamente na frente das criancinhas. No entanto,
Richard (seu irmãozinho caçula) acaba acompanhando a morte do irmão, e lançando um olhar
macabro no machado e na Madre Superiora, não precisamos ser gênios para deduzir
quem será o protagonista da próxima matança.
Natal Sangrento é divertido e
assustador. Uma combinação explosiva para se degustar durante a noite natalina,
assim como hoje. Não podemos deixar pérolas como essa morrerem, pois devem ser
lembradas todos os anos; esses slasher movies tem uma capacidade impressionante
de entreter com histórias simples e bem coordenadas. Natal Sangrento acabou
virando uma franquia que hoje em dia conta com 5 filmes e um remake lançado em
2012, portanto, os massacres natalinos estão apenas começando por aqui.
Leitores, 2016 está chegando ao fim,
e talvez, ele tenha sido um dos anos mais importantes que já ocorreram na
história do Portal Tartárico, pois foi nesse período que o Blog retornou depois
de quatro anos sem postagens. Reformulado basicamente do zero, nossa mídia se
encontra mais forte do que nunca, e em 2017 teremos inúmeras novidades, que vão
explorar muitos outros conteúdos, sem contar as clássicas críticas que nessa
etapa, viraram o verdadeiro charme daqui. Pois bem, com o fim do ano essa será
a última postagem de 2016, porque estou começando a preparar a próxima maratona
e muitas outras novidades, que se iniciaram logo no começo de janeiro. Junto do
nosso primeiro Especial de Natal, gostaria de agradecer todas as pessoas que
acompanham o Portal Tartárico (incluindo de outras nacionalidades,
especialmente os norte-americanos, alemães e russos, que se mostraram bastante
presente nos últimos meses), e afirmar que isso é somente o começo. O terror
sempre vai se manter presente, perpetuando em nossos corações, independente da
alegria contagiante das datas festivas e das outras situações típicas do cotidiano
predileto do gênero... Mas então, depois dessa longa crítica para afiar os
espíritos, está na hora de encontrar com os amigos e encher a cara para não
perder o costume padrão... Beber e conversar sem restrições, porque são esses momentos
que fazem uma bela diferença... No melhor estilo natalino, não é mesmo? Mas, lembrem-se, cuidado! Perto de você pode ter alguém vestido como Papai Noel, provavelmente com um sorriso no rosto barbudo... Olhe bem, pois ele pode estar empunhando um machado ensanguentado! Feliz Natal!
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TRAILER DE 1984:
CONTAGEM DE CORPOS (14):
Assassino Papai Noel:
Dono do mercadinho: baleado em assalto.
Jim: baleado dentro do carro.
Ellie: violentada e posteriormente tem a garganta cortada.
Assassino Billy Chapman:
Andy: enforcado com pisca-pisca.
Pamela: estômago aberto com faca.
Ira Sims: golpeado na cabeça com martelo.
Helen: flechada no estômago.
Denise: pregada nos chifres de um alce empalado.
Tommy: arremessado por janela.
Mac: decapitado com machado.
Padre: baleado por escopeta.
Oficial Barnes: acertado com machado e arremessado da escada.
William: baleado pelas costas com escopeta.
OUTRAS MORTES:
Billy Chapman: baleado por policiais.