AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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Somente Poltergeist (1982), o
primeiro filme de uma trilogia, já foi o suficiente para influenciar não só o subgênero
de assombrações, como também inúmeros outros projetos até os dias atuais. A
atmosfera sobrenatural é perfeita, desde iluminação (sempre de baixo e
misteriosa), uma trilha sonora adorável composta por Jerry Goldsmith (clique aqui para ouvir) e efeitos especiais inovadores na época, todos produzidos pela
imbatível Industrial Light & Magic, empresa fundada pelo mestre George
Lucas. Sem sombra de dúvidas, esse é um filme de fantasmas bem diferente, um
verdadeiro espetáculo de luz e magia, fascinante, aterrorizante e com um
simbolismo enorme. Apesar de a trilogia inteira ser muito boa e manter suas características
únicas, o primeiro filme continua sendo o mais arrebatador, talvez pela carga
emocional que consegue conquistar facilmente. A frase “eles estão aqui” marcou
um grande momento do horror moderno.
Ninguém
menos que Tobe Hooper (de O Massacre
da Serra Elétrica) e Steven Spielberg (dispensa apresentações) foram os
responsáveis explosivos por dar vida ao projeto, e isso gerou altas intrigas
nos bastidores. Spielberg teve muito mais participação criativa e, apesar
de Hooper estar creditado como diretor final,
foi ele quem tomou as maiorias das decisões, gerando as intrigas. Spielberg não pode dirigir o projeto, pois
estava ocupado com as gravações de E.T – O Extraterrestre. Inclusive,
na capa do VHS lançado pela MGM, Hooper mal é
mencionado.
Essa parceria conturbada entre os
dois mestres serviu para provar as visões diferentes que os filmes de horror
podem ter. Se o bruto Hooper tivesse tido mais influencia aqui, hoje
Poltergeist seria uma projeção perturbada e com humor negro, mas é visível que
a produção carrega muito das características de Spielberg, principalmente na
estética e dinâmica (trilha sonora também); aquele “clima família” típico do
diretor é bem forte aqui, lembrando muito um filme que ele lançou no mesmo ano,
no caso E.T – O Extraterrestre. A semelhança com a primeira temporada de Stranger Things (2016) também
é gritante em cada movimento. Detalhe: como Spielberg e George Lucas são velhos
amigos, vamos presenciar inúmeras homenagens a Star Wars durante o filme,
principalmente no começo.
Uma imagem que marcou os anos 80.
Vamos acompanhar a história dos Freeling,
uma amável família que está vivendo em uma vizinhança nova, mas acabam sendo
atacados por forças sobrenaturais que assombram a residência. A família é
composta por Steve (Craig Nelson) o típico paizão norte-americano, sua esposa
Diane (JoBeth William), seus três filhos, Dana (Dominique Dunne), a adolescente
assanhadinha, e as crianças Robbie (Oliver Robbins) de 8 anos, e Carol Anne
(Heather O’Rourke, que viria a morrer durante as gravações do terceiro filme)
com apenas 5. A garotinha vai tendo contato com a televisão da casa,
conseguindo se comunicar os espíritos (quando não está em nenhum canal, somente
estática), e logo a residência começa a ser atacada pelo fenômeno aterrorizante.
No começo tudo parece interessante e amigável, mas quando Carol Anne desaparece
misteriosamente, a família resolve chamar um grupo de parapsicólogos para
investigas os eventos paranormais e resgatar a garotinha com vida.
Diane e Steve Freeling, o casal perturbado.
Os mais íntimos já devem saber que
rolou uma espécie de maldição enquanto gravavam os filmes da franquia Poltergeist.
Foram várias pessoas mortas no período, e muitos outros acontecimentos
intrigantes. O filme transmite uma forte emoção familiar, sentimos o que é
perder um filho, o calor humano. Na época, o que estava entusiasmando os
produtores do horror eram os filmes slashers, aqueles com seriais killers
mascarados, adolescentes mortos e banhos de sangue; já Poltergeist tomou outro
rumo, mostrando um sentimento amoroso de "mãe e filha" que combina perfeitamente com o terror, realçando
o contrário. Obviamente, muito disso vem pelo envolvimento de Spielberg na
franquia, o diretor sabe entregar as emoções que vão conquistar qualquer tipo
de público.Tobe Hooper, por outro lado, introduziu o gore necessário e as
situações exageradas; essa junção transforma o filme em divertido, assustador e muito cativante.
Lembrando que os Freeling não representam uma família totalmente tradicional, pois o casal possui suas extravagâncias
quando estão longe dos filhos, como fumar maconha da melhor forma: deitados,
assistindo televisão e conversando sobre a juventude. Eles têm a mente aberta
para a realidade, e isso vai ser importante no enredo.
O fenômeno poltergeist é bem diferente
de uma assombração, enquanto as assombrações estão ligadas a um local (como uma
casa) e podem durar muitos anos, o poltergeist está ligado diretamente com um
individuo, e podem desaparecer inesperadamente. Em uma noite chuvosa, Carol
Anne presencia o evento saindo de sua televisão e entrando nas paredes da residência,
provocando um breve terremoto. Esse é o primeiro sinal de muitos, pois logo no
dia seguinte, durante o café da manhã, garfos e colheres são encontrados
dobrados, cadeiras empilhadas de uma maneira impossível... É muito interessante
como os eventos curiosos vão sendo mostrados aos poucos, deixando o público,
assim como a família, totalmente envolvidos na situação.
Steve trabalha vendendo casas na
corretora que vem construindo a “vizinhança assombrada”, e logo desconfia das
atividades suspeitas em sua residência. No entanto, ele é surpreendido na noite
em que volta do trabalho, e sua esposa animada (já consciente do poltergeist)
lhe mostra as cadeiras se movendo sozinhas na cozinha. Enquanto Diane acha tudo
incrível, o homem fica aterrorizado.
Stranger Things provou e aprovou essa premissa!
Carol Anne desaparece durante a trágica
noite em que rola uma tempestade bruta na vizinhança, provocando um pequeno
tornado. É como se os espíritos aproveitassem o evento natural para se
revelarem malignos e com segundas intenções. A velha árvore que tem no quintal
ganha vida (!!!) e tenta engolir o garoto Robbie, quando Carol Anne é deixada
desprotegida em seu quarto, o poltergeist consegue pegá-la, em uma das cenas
mais lindas do filme. A trilha sonora de Jerry Goldsmith é um espetáculo
fascinante, ouvi-la trovejando com as luzes brilhantes proporcionadas pelo fenômeno
é maravilhoso e sobrenatural. A crítica construída pelo filme é imensa, desde o
flerte de sedução que os humanos tem com os mortos, até mesmo o fato de usarem
uma televisão para se comunicarem com nossa realidade. Eu, por exemplo, quase toda
noite coloco alguma fita VHS para dormir assistindo, e sempre acordo em algum
momento com a televisão na estática (isso ocorre, pois após o termino da projeção,
a televisão continua no canal 3). O filme tocou em um fator interessante, porque
nos anos 80, isso era bastante comum de acontecer. Tenso.
Os caças-fantasmas versão genérica (e assustada)!
Na realidade, tudo isso está
acontecendo porque a vizinhança vem sendo construída em cima de um antigo
cemitério indígena, onde retiraram somente as lápides e não os corpos. Tudo
isso foi coordenado pelo patrão de Steve, o sacana Sr. Teague (James Karen, de
A Volta dos Mortos Vivos), que basicamente mentiu sobre a locação para
conseguir deslanchar as vendas. Contudo, essa mitologia indígena é somente
explorada no segundo filme. Lembrando que, curiosamente, temos a participação
de William Vail e Lou Perryman, conhecidos por interpretarem Kirk e L.G,
respectivamente, na franquia O Massacre da Serra Elétrica (outro eterno fruto de Tobe
Hooper).
Carol Anne começa a se comunicar com
a família por meio da televisão, presa na realidade paralela (Will Byers mandou
um abraço kkkk). Sem opções, a família procura a ajuda de um grupo de
especialistas sobrenaturais, formado pela Dra. Lesh (Beatrice Straight), a qual
se envolve emocionalmente com Diane, pela situação “mãe procurando filha”.
Temos também o negão esperto Ryan (Richard Lawson) e o magrelo afobado Marty (Martin
Casella). Em uma cena, Ryan conta que a maior manifestação de outro mundo que
já presenciou, foi um carrinho de brinquedo que, sozinho, andou 3 metros em 7
horas. Quando entram na residência dos Freeling e encontram objetos
desgovernados pelos ares, eles percebem que aquilo é muito maior do que
pensavam.
Não tem como fugir do passado.
Temos inúmeras cenas bizarras:
brinquedos voando, utensílios domésticos saindo do lugar, relâmpagos inesperados...
Até um dos psicólogos é mordido por um ser de outra realidade (!!!) e depois
acaba tendo visões de auto mutilação em seu rosto, arrancando pedaços com as
próprias mãos! Cada contato com Carol Anne pela televisão é emocionante; presa
nesse “plano espiritual”, a menina se vê encurralada pelo mal desconhecido,
afirmando que um ser físico (um homem) a persegue e quer guiá-la para a luz.
A icônica médium Tangina só aparece
no terceiro ato, interpretada pela incrível baixinha de voz esganiçada Zelda
Rubinstein, que também fez caras e bocas na pérola trash Os Olhos da Cidade São
Meus (1987). Ela marca presença, sempre com expressões profundas e humor sábio.
Tangina terá um papel muito importante na trilogia, e principalmente na
estrutura da família. Após sentir a manifestação na casa, ela percebe que o
poltergeist na verdade são inúmeras almas perturbadas que estão presas naquele
lugar sem rumo, devido ao cemitério indígena localizado abaixo da vizinhança.
Essas almas procuram um meio de retornar para a luz, de encontrar seu rumo, mas
somente Carol Anne pode guiá-las.
Essa mulher nasceu para isso!
O emocionante resgate de Carol Anne é
provavelmente o ponto mais emocionante do filme, entretanto, não é a cena final.
Quando pensamos que a residência está “limpa” de toda a negatividade (principalmente
exposta no “armário amaldiçoado”), somos surpreendidos com um ótimo clímax,
onde os espíritos tentam mais uma vez atacar a garotinha. A película mostra sua
ambição nos efeitos especiais inovadores, com explosões, esqueletos e muitos
gritos. Nem mesmo a residência é perdoada, ao ser basicamente sugada por um
portal ultradimensional, deixando apenas um terreno com destroços (o local será
explorado no próximo filme, pois contem o cemitério abaixo). Também preciso
mencionar a ausência da personagem Dana (a filha mais velha dos Freeling) que
vive sumindo propositalmente durante o filme. Acontece que devido à trágica morte
da atriz Dominique Dunne (interprete de Dana), assassinada pelo namorado após
as gravações, fica visível que a produção descarta a jovem em muitos momentos.
Sem alternativas, a família Freeling
foge sem rumo, tentando se afastarem desse mal inesperado. Do mesmo jeito,
sabemos que um poltergeist está ligado diretamente a um indivíduo, e não a um
local, então essa história macabra ainda ter fôlego para continuar! Como é de
costume nos filmes do Spielberg, o final não deixa muitos ganchos para
continuações (a obra fecha seu circulo sem deixar muitas respostas), mas sentimos
que a família Freeling ainda vai ser perturbada por um bom tempo, mesmo se
continuarem fugindo...
O verdadeiro charme da época.
O próximo filme foi lançado somente 4
anos depois, em 1986, continuando a história com basicamente todo o elenco
original de volta. Poltergeist – O Fenômeno (1982) não é uma produção para
tremer de medo, mas sim para se emocionar de uma maneira que os outros filmes
de terror não conseguem nos proporcionar. Vale a pena ser assistido sempre que possível,
e continua sendo o mais clássico da franquia (mesmo eu tendo um guilty pleasure
muito grande pelo segundo e terceiro capítulos). Também tivemos um remake
lançado em 2015, imitando, mas não igualando. Independente de todas as
intrigas, a união de Hooper e Spielberg sempre será lendária, misturando amor e
ódio, terror e emoção, trash e clássico... Uma obra prima!
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TRAILER DE 1982:
CURIOSIDADES:
1) Na versão final do filme, existe um corte brusco na cena em que Diane mostra a cadeira se mexendo para seu marido, já cortando diretamente para eles conversando com o vizinho sobre os eventos (bem visível na fita VHS). Isso ocorre porque Steve mencionava que "odiava Pizza Hut" e, aparentemente, a famosa companhia de pizzas se sentiu ofendida!
2) O filme que aparece na televisão logo no começo é Dois no Céu (1943), que posteriormente foi refilmado pelo próprio Spielberg com o título de Além da Eternidade (1989).
3) Em uma das cenas, o garoto Robbie é estrangulado pelo boneco de um palhaço. Mais tarde, foi revelado que a cena foi acidentar, e o ator mirim Oliver acabou sendo estrangulado de verdade (!!!). Demorou para a equipe perceber o erro, e o menino quase morreu sufocado.
4) A franquia sofreu com a chamada "Maldição de Poltergeist", após muitos membros do elenco e produção morrerem depois das gravações (mais informações serão publicadas no nosso artigo sobre o assunto, em breve no blog).
5) O ator Richard Lawson (interprete de Ryan), sobreviveu a um acidente aéreo em que 27 pessoas morreram! O voo da USAIR caiu nas águas de Long Island em 22 de março de 1992.
6) Drew Barrymore foi considerada para o papel de Carol Anne, mas Spielberg queria alguém mais "angelical". De qualquer jeito, Barrymore conseguiu entrar no elenco de E.T - O Extraterrestre.
7) No primeiro teste para Carol Anne, a garotinha Heather O'Rourke não conseguia para de rir e brincar (mesmo precisando demonstrar medo), pois era muito pequena para levar o papel a sério. Mas ele viu algo especial nela, e pediu um segundo teste, dessa vez, trazendo um livro de terror para a menina. Ele também pediu para ela gritar, e ela gritou e gritou até começar a chorar! Assim conseguiu o papel.
8) Para demonstrar os medos de Robbie, Spielberg usou seus próprios receios de quando era criança, como palhaços e uma velha árvore assustadora pela janela.
9) JoBeth Williams estava hesitando para gravar sua cena na piscina com os esqueletos, devido ao equipamento elétrico posicionado no local. Para convencê-la, Spielberg rastejou para dentro da piscina e falou, "agora, se alguma luz cair, vamos ser fritados juntos". Funcionou, e eles gravaram a cena.
6) Drew Barrymore foi considerada para o papel de Carol Anne, mas Spielberg queria alguém mais "angelical". De qualquer jeito, Barrymore conseguiu entrar no elenco de E.T - O Extraterrestre.
7) No primeiro teste para Carol Anne, a garotinha Heather O'Rourke não conseguia para de rir e brincar (mesmo precisando demonstrar medo), pois era muito pequena para levar o papel a sério. Mas ele viu algo especial nela, e pediu um segundo teste, dessa vez, trazendo um livro de terror para a menina. Ele também pediu para ela gritar, e ela gritou e gritou até começar a chorar! Assim conseguiu o papel.
8) Para demonstrar os medos de Robbie, Spielberg usou seus próprios receios de quando era criança, como palhaços e uma velha árvore assustadora pela janela.
9) JoBeth Williams estava hesitando para gravar sua cena na piscina com os esqueletos, devido ao equipamento elétrico posicionado no local. Para convencê-la, Spielberg rastejou para dentro da piscina e falou, "agora, se alguma luz cair, vamos ser fritados juntos". Funcionou, e eles gravaram a cena.
10) O filme foi indicado a três Oscars: Melhores Efeitos Especiais, Melhores Trilha Sonora e Melhor Efeitos Sonoros.
CONTAGEM DE CORPOS (número não exato):
Marty (em alucinação): possuído após
ser mordido por um espírito e comer um pedaço de frango com vida, arranca os
pedaços da própria cabeça até virar um esqueleto.
Passarinho Tweet: morto por causa natural (ou não rsrs).