quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A Hora do Pesadelo 7 - O Novo Pesadelo (1994) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Ao longo dos anos, a franquia A Hora do Pesadelo provou ser um dos maiores sucessos que o gênero já teve. Seus filmes fizeram milhares de dólares, introduziram histórias completamente interessantes ao cinema do horror e nos presentearam com muitos personagens cativantes que ficaram guardados na memória, tudo isso iniciado pelo mestre Wes Craven lá em 1984. O poder desta franquia é incrível: é um mundo de imaginação que nunca acaba! Temos uma saga completa em filmes, quadrinhos (sim!) e até mesmo um seriado de televisão sobre o vilão Freddy Krueger (lançado entre 1988 e 1990). Sem contar que cada produção foi deixando seu legado para os amantes e até mesmo salvando a distribuidora New Line Cinema de uma época obscura. No entanto, mesmo com ótimas músicas e boas mortes, cada capítulo foi perdendo sua qualidade, nos enchendo com situações ridículas e previsíveis; o último (sexto) capítulo, intitulado Pesadelo Final – A Morte de Freddy (clique aqui para ler) foi um dos piores erros que aconteceu na saga, basicamente jogando Freddy Krueger em um abismo de palhaçadas. Isso foi lá em 1991, fazendo a franquia ficar adormecida por algum tempo após a New Line matar Freddy, mas com o aniversário de 10 anos do primeiro filme chegando, ninguém menos que o próprio Wes Craven resolveu retornar para sua obra. Resultado? Temos um dos melhores capítulos já feitos (o meu preferido depois do primeiro), com trama genial e inédita na franquia. O diretor trouxe antigos personagens de volta, trilhas sonoras, situações oníricas que adoramos e, é claro, Freddy Krueger em um bombástico desempenho... Injustamente, esse foi o Pesadelo que menos lucrou nas bilheterias mundiais (aproximadamente 19 milhões), já demonstrando o desgaste do gênero no decorrer dos anos 90.

Hoje também é um dia importante no Portal Tartárico, pois com essa crítica terminamos a segunda maratona que venho publicando no último um mês e meio. A franquia A Hora do Pesadelo foi analisada detalhadamente, e deixei bem claro suas qualidades e erros. Agora que chegamos ao final, em Pesadelo 7, posso afirmar que esses filmes sempre serão eternos e nostálgicos, e assisti-los mais uma vez (agora os analisando) foi muito bom! Melhor ainda, é escrever sobre um filme tão marcante em minha vida, como esse aqui! No final dos anos 90 e começo dos 2000, não era difícil encontrar essa fita nas locadoras, atualmente já se tornou item de colecionador.

O novo visual do Mestre dos Sonhos.

Desta vez, o enredo FINALMENTE conseguiu ser inovador. Podemos esquecer todos os capítulos da franquia e levar em conta somente o primeiro filme lançado lá em 1984 (clique aqui para ler). Pois bem, já parou para pensar o que aconteceria se, após o sucesso do primeiro A Hora do Pesadelo, os atores e membros da produção fossem realmente perseguidos por Freddy Krueger? É isso que acontece em Pesadelo 7! Acompanhamos o eterno vilão conseguindo invadir o “mundo real” e perseguindo os envolvidos na gravação do filme. Isso parece estranho, não é mesmo? Mas acredite, Wes Craven consegue coordenar tudo de uma maneira genial! Mesmo lançado 10 anos após o original, a atmosfera é idêntica e cheia de homenagens, provavelmente o fator mais positivo. Logo na primeira cena já sentimos que a nostalgia é pesada, ao ouvirmos a maravilhosa trilha sonora de volta (clique aqui para ouvir), e acompanharmos a construção da arma famosa de Freddy Krueger: suas luvas com garras, só que desta vez mecânicas! É parecido com o começo do primeiro filme, mais embalado, porém menos sombrio. De repente um dos efeitos especiais dá errado e percebemos que estamos no set de um filme! Logo vemos a maravilhosa Heather Langenkamp, que interpretou Nancy Thompson no primeiro Pesadelo! Ela está no set de filmagens com seu filho pequeno Dylan (Miko Hughes de Cemitério Maldito), e seu marido Chase (David Newson), responsável por administrar os efeitos especiais. Tudo dá errado durante as gravações, e a luva mecânica ganha vida inesperadamente, atacando dois assistentes de Chace e os assassinando brutalmente. Quando tudo parece uma tragédia inevitável e sangrenta, Heather acorda durante um terremoto: era um pesadelo.

Nancy, sua linda! <3

Pois bem, nesse filme os atores interpretam eles mesmo na vida real, ou seja, vamos acompanhar a vida da própria Heather (Nancy). Ela vive numa mansão em Los Angeles com o filho e marido, e vem recebendo ligações amedrontadoras de um fã obcecado (um stalker), que adora assustá-la cantando a canção de Freddy pelo telefone. É maravilhoso poder ver Heather novamente na franquia, sua evolução é visível em cada detalhe da atuação, ela não é mais aquela adolescente tímida de 10 anos atrás, e sim uma mulher independente e majestosa (sem contar que está linda)! Naquele dia ensolarado, Heather tem uma entrevista agendada em um programa de televisão para falar sobre seu sucesso na franquia Pesadelo. Ela deixa seu filho com a babá Julie (Tracy Middendorf), mesmo sabendo que ele está sofrendo com pesadelos, provocados pelo fato do garoto assistir o Pesadelo original escondido da mãe (principalmente a clássica parte da escola). Já seu marido está trabalhando secretamente em um novo filme.

Durante a entrevista, Heather é surpreendida quando o próprio Robert Englund aparece caracterizado como Freddy Krueger, para animar o programa (a única cena que temos a maquiagem clássica do vilão). Após a entrevista, ela é chamada para uma reunião com Robert Shaye (diretor da New Line e produtor dos filmes da franquia), sendo pega de surpresa ao ser convidada para participar de um novo filme, o qual tem seu marido trabalhando nos efeitos especiais. Heather recusa devido ao fato de ter um filho pequeno agora (ainda por cima sofrendo pesadelos), por isso não quer mais fazer filmes de horror.

Heather e Wes Craven, que dupla!

O garotinho Dylan é sonâmbulo, e começa a ser possuído lentamente por Freddy Krueger, que está procurando um meio de invadir o mundo real. Não é como a possessão mostrada em A Vingança de Freddy (clique aqui para ler), aqui é uma parada muito mais sobrenatural, envolvendo o pequeno garotinho em um mundo onde não pode fazer nada. Heather percebe o que está acontecendo somente quando tem um pesadelo com a morte do marido, poucos minutos antes de acontecer. O rapaz sofre um grave acidente após dormir ao volante, e ser estripado pelas lâminas do vilão. A produção capricha em cada pesadelo (assim como no filme original), deixando cenas que ficam marcadas em nossa memória. Quando estamos no mundo onírico, até mesmo a trilha sonora muda, se tornando grandiosa, deixando o caminho aberto para um mundo de fantasias e imaginação. Temos muito mais foco nas garras que Freddy usa, realmente as tornando assustadoras! As aparições do vilão sempre são rápidas e marcantes, como na cena em que aparece dentro do caixão durante o velório de Chase.

Por falar em Freddy, vemos o assassino somente no final, mas o filme é tão bem orquestrado que sentimos sua presença macabra em todos os momentos, mesmo estando ausente. Quando aparece, vemos Freddy como nunca foi mostrado, frio e completamente sedento por sangue, extremamente parecido com um demônio violento e perturbado. O pesadelo voltou a ser assustador. Esqueça as piadas sem graça e desempenhos afetados, Krueger está perfeito! A maquiagem também dá gosto, muito mais agressiva e amedrontadora. O vilão usa um estiloso sobretudo preto, o deixando mais assustador que nunca!

Outro mito respeitado! Eterno Robert Englund!

O que Freddy precisa para ter poder?... Precisa que tenham medo dele. E é exatamente isso que começa a acontecer com Dylan após o garoto perder o pai e assistir inúmeras vezes o primeiro capítulo da franquia, deixando uma brecha para o vilão se fortificar lentamente. O próprio Wes Craven faz várias aparições durante o filme, em uma delas avisa para Heather, em uma reunião, que a franquia A Hora do Pesadelo carrega uma espécie de maldição demoníaca, eles precisam continuar produzindo esses filmes para manter o demônio preso. Por isso eles estão fazendo produzindo um novo, e Craven precisa que Heather interprete Nancy mais uma vez. Mesmo em contradição consigo mesma, ela retorna as suas origens involuntariamente, levando em conta o pesadelo que se tornou a vida real. É muito foda.

Com a piora de Dylan, ela o leva no hospital, onde o garoto fica sendo cuidado pela enfermeira-chefe opressora Dra. Christine (Fran Bennett), que suspeita dos problemas psicológicos de Dylan, o deixando em observação (inclusive, em um pesadelo Freddy aparece disfarçado como a enfermeira, assim como já havia feito em outros capítulos).

Dylan afirma que seu dinossauro de pelúcia (chamado Rex) o protege durante os pesadelos, como um guardião. Quando Heather se ausenta do hospital para buscar o brinquedo (deixando o filho com a babá Julie e pedindo para não deixá-lo dormir em nenhuma circunstância), as enfermeiras malditas conseguem sedá-lo achando que o menino está precisando descansar! O que segue é uma das melhores cenas da franquia, com Dylan adormecendo e presenciando Julie sendo brutalmente assassinada em seu pesadelo. O body count do filme é pequeno, mas vale cada segundo. Freddy arrasta o corpo da garota pelo teto, assim como fez com Tina lá no primeiro filme.

Essa cena é muito linda.

Também existem muitas outras homenagens ao primeiro filme: degraus que derretem, Freddy levantando debaixo do lençol ou então com os braços gigantes (sua marca registrada), temos também a clássica cena da língua atravessando o telefone... Algumas referências somente os fãs mais atentos consegue identificar, como na hora que Nancy fala “screw your pass!” para uma das enfermeiras do hospital, ou quando Jsu Garcia (que interpretou o badboy Rod Lane no primeiro Pesadelo) faz uma breve aparição no enterro de Chase. Outro personagem que retorna com tudo é o tenente Donald Thompson (John Saxon, o mito). Temos até uma homagem a O Exorcista (1973), quando Dylan vomita no hospital. Craven respeitou a sua obra original como nenhum outro capítulo da franquia conseguiu fazer.

Freddy consegue chegar silenciosamente no nosso mundo, e prender Dylan no dele. Para chegar até o filho, Heather toma inúmeros comprimidos infantis para dormir, em uma sequência sensacional! A montagem é muito bem feita: vemos ela tomando as drogas e ficando sonolenta ao entrar debaixo do lençol, fazendo o local se tornar cada vez maior... Ela já está no pesadelo. O interessante é perceber que seu cabelo vem ganhando tonalidade cinza, muito devido a loucura e terror que presenciado passado ultimamente.

Freddy's coming for you...

O local que acontece o clímax é como se fosse uma antiga fábrica abandonada, porém muito grotesca e com uma imensidão fantasiosa, parecida com os esgotos subterrâneos da lavanderia Blue Ribbon em Mangler - O Grito do Terror (1995), outro filme que Robert Englund está envolvido. Ela une forças com o próprio filho para destruir o demônio onírico, o prendendo dentro da fornalha antes que ele conseguisse devorar a cabeça de Dylan abrindo uma boca enorme (!!!). A cena lembra bem aqueles exageros que tivemos em alguns capítulos, de alguma forma, isso acaba criando uma conexão saudável e prazerosa entre todos os filmes.

Freddy é destruído novamente, desta vez sendo afugentado pelo fogo, seu velho inimigo que lhe arrancou a humanidade. Antes de morrer, seu rosto se transforma em uma espécie de demônio com chifres, provando que o personagem é muito mais do que um comediante fanfarrão que “pintou o sete” no último filme. Esse sim é um final digno para o eterno vilão dos sonhos. Não posso deixar de mencionar a bizarra cena em que sua língua gigantesca se enrola em Nancy (!!!) pouco antes de ser esfaqueada por Dylan. O filme parece carregar algumas mensagens relacionadas à pedofilia (em muitas horas), mas nada comprovado.

O drama pelos olhos de uma criança.

Nancy consegue ficar viva com seu filho e, querendo ou não, ela interpretou Nancy mais uma vez. Wes Craven deixa um roteiro para ela, narrando exatamente o filme que acabamos de acompanhar (fala por fala), agradecendo por concluir essa história após tanto tempo. Mesmo depois dos inúmeros vacilos, a franquia conseguiu se salvar com um ótimo filme, e um ótimo final. Esse é o valor resgatado que encontramos aqui: sentimos novamente aquele pavor pelos sonhos e pesadelos, mas desta vez, nem ficar acordado era seguro.

O Novo Pesadelo (1994) é um presente para os fãs! Como sou um, posso afirmar que a franquia A Hora do Pesadelo continua sendo uma de minhas preferidas, e sempre vai ser (não só minha). Depois desse filme, a New Line deixou as produções do Mestre dos Sonhos paradas por quase 10 anos, enquanto fazia os preparativos para o aguardado duelo de titãs Freddy vs Jason, lançado somente em 2003. Pelo lado bom, Wes Craven não parou com suas ótimas histórias e, alguns anos mais tarde, em 1996, ele lançou a franquia Pânico, outro sucesso estrondoso de bilheteria, que influenciou uma geração! Mesmo com outras produções (me refiro ao péssimo remake lançado em 2010), os filmes clássicos de Freddy Krueger acabaram nesse capítulo aqui, deixando uma grande quantidade de boas lembranças e momentos no gênero do horror. Fico pensando o que aconteceria se o diretor não tivesse retornado e salvado a franquia de morrer com o péssimo sexto filme... Ele soube começar e terminar sua obra de forma única. Obrigado mestre Wes Craven, por todos os pesadelos!
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TRAILER DE 1994:

CURIOSIDADES:
1) Na vida real, Heather também teve um stalker perseguidor, assim como no filme. Wes Craven ficou sabendo do fato e colocou o elemento na história.

2) A filha de Wes, Jessica, faz uma ponta como enfermeira.

3) Wes queria que Johnny Depp voltasse na franquia, para fazer uma aparição especial durante o velório de Chase, mas nunca teve coragem de pedir. Após o lançamento, Depp afirmou que sem dúvidas faria a participação.

4) Antes de começar a trabalhar no roteiro, Wes assistiu novamente todos os capítulos lançados, decidindo não fazer uma história baseada nas continuações.

5) No primeiro filme, Wes já queria fazer um Freddy muito mais obscuro, mas foi censurado pelo estúdio. Já aqui, teve direito de fazer exatamente do jeito que sempre desejou.

6) As roupas de Heather e John Saxon no final do filme são as mesmas que usaram no final do primeiro filme.

7) O verdadeiro marido de Heather também trabalha com efeitos especiais, e faz uma pequena ponta no filme.

8) A cena da língua no final demorou 2 dias para ser filmada.

9) Na cena que Dylan esfaqueia a língua, é possível ouvir a trilha sonora de Psicose (1960).

10) O ator mirim Miko Hughes era fã de Freddy Krueger, por isso ele ficava todo dia vendo aplicarem a extremamente lenta maquiagem de Freddy em Robert Englund.

11) No roteiro original, havia uma cena que Englund tinha um pesadelo com Freddy, ficando preso em uma teia gigante (Freddy aparecia como aranha), mas a ideia foi excluída por não combinar no contexto do filme. Inteligente, por sinal.

12) Originalmente, o filme iria se chamar A Nightmare on Elm Street 7 - The Ascension.

CONTAGEM DE CORPOS (4):
Assassino Freddy Krueger:
Chase: peito rasgado com golpes de garra, posteriormente causando um acidente de carro.
Julie: costas e pescoço rasgados, arrastada pelo teto ainda viva.
OUTRAS MORTES:
Chuck: atacado na garganta pela luva mecânica.
Terry: atacado no peito pela luva mecânica.

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