AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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Acredite se quiser, são poucas
pessoas que gostam de A Hora do Pesadelo 6 – A Morte de Freddy (quase nenhuma),
por isso essa crítica vai servir mais como um sutil aviso: nunca cheguem perto
desse filme, na realidade, se você não for interessado na franquia, nem
assista. Podem pensar que estou sendo injusto com a marmelada, mas é papo sério. O
polêmico sexto capítulo de A Hora do Pesadelo quase não foi lançado, devido ao
fracasso de bilheteria que havia sido o filme anterior (clique aqui para ler a crítica), mas os produtores resolveram inovar a franquia pela última vez,
principalmente para fechar a história de Freddy Krueger com todas as
informações que faltavam e, como diz o título, destruí-lo de uma vez por todas.
Sendo sincero, se você assistiu esse filme na boa época das fitas VHS, talvez
possa até ter boas lembranças da projeção, mas acredite, basta um simples olhar
“menos nostálgico” para ficar puto com tudo que é mostrado.
Até mesmo Peter Jackson (que já havia
feito Bad Taste naquela época) foi chamado para desenvolver o roteiro, porque o
plano dos produtores era dar um novo rumo para o vilão icônico. A trama escrita
por Jackson envolvia um grupo de jovens procurando vingança e caçando Freddy no
mundo dos sonhos. Havia até uma versão que trazia de volta Jacob como
personagem principal, filho de Alice Johnson (a protagonista dos dois últimos filmes).
Mas no começo dos anos 90, os slashers já estavam sofrendo para
conquistar o público, então a New Line (que não estava em boa fase), resolveu
inovar e contratar uma mulher para dirigir o novo capítulo: Rachel Talalay
(provando não ter inspiração criativa em suas lentes). Ela acabou gostando
muito da versão escrita pelo interessante Michael De Luca, o qual desenvolveu a
ideia de matar o vilão de uma vez por todas... Ou não, né?
O filme ficou bastante conhecido por
ser exibido em 3D nos cinemas, assim como aconteceu com Sexta-Feira 13 Parte III (1982). No entanto, diferente do filme de Jason Voorhees, aqui a produção
não fica “apontando” objetos para a câmera de cinco em cinco minutos; foi um 3D
melhor produzido, porém é muito raro conseguir assistir essa versão nos dias
atuais. Até mesmo o DVD peca um pouco pela remasterização digital (isso é uma
maravilha atualmente, mas não combina muito com os filmes obscuros de Freddy,
pois tira a magia fantasiosa ao conseguirmos notar todas as falhas de produção,
devido ao HD de alta qualidade).
Apesar do nome, não é o último capítulo.
A abertura é muito boa, apesar de
rápida. Fico feliz que a franquia resolveu voltar naquele clima pop
contagiante que havia sido explorado muito bem nos capítulos Guerreiros dos Sonhos e Mestre dos Sonhos. Ouvimos a ótima canção I’m Awake Now (Goo Goo Dolls)
durante os breves créditos iniciais, servindo somente para enganar o público,
pois realmente pensamos se tratar de um ótimo filme! A frase que abre os
créditos é minha preferida, escrita em grandes fontes vermelhas, lemos: “Você
conhece o medo de quem adormece? Ele está aterrorizado até os dedos dos pés,
porque o chão se abre debaixo dele... E o sonho começa...”, isso sendo mostrado ao
som da trilha sonora é lindo... Cada vez que acompanho a abertura, desejo que
essa porra tivesse saído melhor... Se for para ser o último capítulo da
franquia, era essencial que trouxessem personagens antigos, como Nancy Thompson
e seu pai Donald, até mesmo deviam ter tentado retornar Wes Craven novamente na
cadeira da direção. Por um lado bom, em A Hora do Pesadelo 7 vamos ter tudo
isso de volta!
Que palhaçada é essa?! kkkk
Logo no primeiro pesadelo conhecemos John Doe (Shon Greenblatt), o último sobrevivendo de Elm Street
(contudo, ele não é o protagonista da vez, mantendo o padrão alá Psicose). John tem pesadelos frequentes que envolvem
Freddy Krueger e a antiga residência do assassino (aquela que Nancy Thompson
morou e que não foi explorada no último filme). Esse capítulo não deixa muitas
conexões com os anteriores, quase não temos nenhuma menção aos antigos personagens
e até mesmo a “morte” de Freddy em O Maior Horror de Freddy pareceu ter sido
esquecida, porque aqui já acompanhamos o assassino a todo vapor logo nas
primeiras cenas, como se nada tivesse acontecido (exceto quando ele conta para
um dos personagens todas as vezes que já morreu).
John é atacado durante o pesadelo do
avião, já demonstrando um pouco da produção caricata e cheia de atuações
constrangedoras (John não tem aquele drama onírico quando está nos pesadelos, ele lida
com as situações como se já estivesse acostumado). Nesse começo estranho também
temos a vergonhosa aparição de Freddy voando em uma vassoura pelo céu noturno,
com capa e chapéu de bruxa (minha mãe sempre odiou essa cena do fundo do
coração). Apesar de percebemos as situações exageradas, gosto muito do
cenário representado nesse começo de filme: são mostrados rapidamente várias
ruas e campos escuros (do interior norte-americano) que possuem um clima sinistro,
cheio de luzes misteriosas que se destacam no horizonte, parecido com ficção
cientifica de alienígenas e abduções. Se o filme todo bebesse desta fonte
(puxada novamente para o mistério), talvez o resultado final tivesse sido bem
melhor no final das contas.
Desta vez totalmente onipresente!
John é atropelado por Freddy (que
aparece dirigindo um ônibus, assim como faz em A Hora do Pesadelo 2), e é
“arremessado” em outra dimensão através de uma barreira invisível que fica na
estrada (???). O mais tosco é que fica uma silhueta perfeita onde o rapaz
atravessou (tipo aquelas de desenho animado)! Destaque para a cena bizarra onde
o pesadelo noturno fica se repetindo inúmeras vezes, enquanto John rola desgovernado de
um barranco no campo escuro, fazendo o jovem capotar durante uns 30 segundos...
O pior é que depois ele sai correndo como se nada tivesse acontecido!
Esse filme é bastante lembrado por
contar a história de Freddy nos mínimos detalhes, desde sua infância forçada
até a escrota revelação que o mesmo possui uma filha (!!!) Sério mesmo? Freddy
Krueger tem uma filha?! Ele odiava crianças, inclusive tinha prazer em
matá-las! E outra, se o Mestre dos Sonhos tem uma suposta filha, qual a razão
dessa desgraçada esperar 5 malditos filmes para aparecer?! Lembrando que a New
Line também produziu o péssimo Jason Vai para o Inferno (1993), onde ousaram introduzir
a irmã de Jason Voorhees! Pelo visto, a distribuidora foi um verdadeiro pé no
saco quando se trata das duas franquias, sem um pingo de criatividade.
Maggie aka. Katherine Krueger, charmosa.
A filha de Freddy se chama Maggie
(Lisa Zane), mulher misteriosa com charme e beleza única. Ela é a protagonista
da trama, trabalhando como psicóloga em uma clinica para ajudar jovens excêntricos.
Ela começa ter algumas visões (em forma de pesadelo) sobre sua infância e logo
fica intrigada com as lembranças ocultas em sua memória. Na clinica também
conhecemos o jovem maconheiro Spencer (Breckin Meyer), que tem graves problemas
com seu pai. A bonita loira boa de briga Tracy, e o afobado Carlos (Ricky
Logan, da franquia De Volta para o Futuro), que é surdo e usa um aparelho
auditivo (Isso me faz lembrar do mudo Joey em Os Guerreiros dos Sonhos).
Enfim, quando John acaba parando na
clinica, Maggie vai ligando as conexões das suas visões com os pesadelos do estranho rapaz, tudo isso com a ajuda do especialista em sonhos Doc (Yaphet Kotto de
Alien – O Oitavo Passageiro). Interessada em respostas, ela resolve partir para
Springwood (cidade palco da franquia) somente com John, mas Spencer e Tracy acabam indo
escondidos. Pouco sabiam que isso era uma armadilha de Freddy, que somente queria
atrair sua filha para poder conseguir novas vitimas. Nesse filme, o assassino
suga a alma de cada pessoa assassinada, basicamente se alimentando (e reabastecendo)
o medo alheio que sempre precisou para continuar forte; no entanto, o body count é mais uma vez bem pequeno (isso já é típico da franquia).
Tracy, Carlos e Spencer... Os jovens dos anos 90.
Sendo assim, eles viajam para
Springwood em busca de respostas. A famosa cidade se encontra um lixo: todas as
crianças e jovens morreram e agora só existem adultos (que porra é essa???). É
claro, isso prova que Freddy aniquilou todas as vitimas que desejava, mas é uma ideia
totalmente tosca. Sem contar que os adultos do local são bizarros, com aparência
de loucos; eles vivem alucinados imaginando crianças por toda parte! Os
roteiristas forçaram a barra criando situações que são pouco explicadas, como a
estrada misteriosa que sempre leva para o mesmo lugar. A trama é tediosa. O
pior é que nas propagandas originais do filme lançadas no começo dos anos 90, basicamente
rolava a frase infame “Eles guardaram o melhor para o final”... Isso é sacanagem? O “melhor”?!
Que tal o PIOR?!
As situações chegam ao cumulo de ridículas:
Freddy pula de paraquedas, vira piruetas e “estrelinhas”, até possui o corpo da
filha!!! Sem contar o desrespeito com o que já foi apresentado na mitologia da
franquia, ao mostrar todos os jovens dormindo e entrando no mesmo pesadelo com grande
facilidade; isso é impossível, se lembram que precisavam da linda Kristen
Parker para puxar a galera nos pesadelos?! Aqui eles entram no evento do
nada, como na cena que John pede para ser golpeado na cabeça no objetivo de
desmaiar e entrar no sonho sem maiores desafios... Tudo muito fácil e mal explicado.
Freddy quando ainda era vivo.
Nem mesmo Robert Englund consegue ser
muito bom na pele do vilão, sua atuação parece forçada e cansada, cheia de
berros desnecessários, piadas de araque e atitudes afetadas. Até o figurino está
meio estranho, parece uma fantasia! A maquiagem não tem mais aquela aparência asquerosa
e grotesca de alguém que foi queimado vivo, ela é seca e visível que se trata
de efeitos físicos, igual uma máscara bem aplicada!
Em uma das cenas mais vergonhosas,
Freddy joga vídeo game para assassinar o maconheiro Spencer, puxando o rapaz
para dentro da televisão ao som de Iron Butterfly! Ele até usa uma espécie de
Power Glove (as famosas luvas do SNES, mas com garras)! É muito ridículo ver um
dos maiores assassinos do gênero numa cena tão patética, fazendo piadinhas horrorosas e elogiando os gráficos do jogo (!!!)... O que aconteceu com
aquele obscuro demônio sobrenatural que vimos lá nos primeiros filmes? Freddy
pareceu ter ganhado um show próprio no cinema, um verdadeiro circo.
Curiosidade: nessa cena temos uma pequena participação de Johnny Depp (!!!),
que aparece rapidamente na televisão fritando um ovo na frigideira para demonstrar os efeitos da droga no
cérebro kkkkkk.
X1 com o titio Freddy!
A trilha sonora é provavelmente o
ponto mais positivo do filme (links das melhores músicas no final da crítica), junto de alguns raros momentos, como a morte de
Carlos. No pesadelo do rapaz surdo, Freddy enfia um cotonete gigante em sua
orelha, até chegar ao cérebro! Depois o tortura friamente (usando sua deficiência
auditiva) até fazer sua cabeça explodir como uma bomba (!!!). Outro lado positivo é Maggie,
que continua sendo uma boa personagem na trama, mesmo chegando tarde na
franquia. O nome verdadeiro da mulher é Katherine Krueger, mas isso é revelado
somente com o passar do filme. Falando nisso, ela é a final girl mais velha da
franquia (aproximadamente 40 anos).
Nos flashbacks de Freddy são
reveladas muitas informações importantes, mas isso acaba afrouxando o mistério obscuro que
existia por trás do vilão. É mostrado desde sua infância traumática, após ser
gerado pela freira Amanda Krueger (estuprada por centenas de lunáticos); Freddy
sofreu na escola desde criança, recebeu surras frequentes de seu padrasto (um
ritual chamado “tomar medicação”) e muitas outras coisas que serviram para
modelar a personalidade do vilão. O complicado do roteiro não é o fato de
matarem Freddy no final, mas sim de colocarem uma grande carga emocional por
trás do personagem, mostrando um lado bonzinho e inocente que não havíamos visto
antes. Acompanhamos o dia que morreu queimado e temos inúmeras cenas dele
brincando com a filha Maggie (ainda pequena) no jardim florido da residência.
Sem sombra de dúvidas, esse é o capítulo que mais vemos o assassino em tela.
As marcas da guerra em um olhar.
Existem algumas cenas interessantes,
como quando Tracy queima suas mãos no fogão para acordar e escapar do pesadelo,
ou então Freddy cortando seus próprios dedos assim como fez no primeiro filme
(clique aqui para ler). Já perto do final, Doc (o especialista em sonhos)
consegue trazer um pedaço do suéter de Freddy para o mundo real. Com isso, ele
planeja trazer o assassino para nossa realidade e matá-lo na força bruta. Isso
era o que Nancy Thompson devia ter feito lá no primeiro filme, no lugar de
somente retirar os poderes do vilão; mas como todos sabem, Nancy era apenas uma
jovem inexperiente naquela época, não tendo condições de enfrentar o inimigo no
braço.
Os últimos 20 minutos são os mais ridículos
de toda a franquia: Doc usa Maggie de isca e vemos os neurônios de Freddy
(quando ela acessa sua mente), com almas em forma de larvas (pqp) que parecem
terem sido produzidas por uma criança de 7 anos... O último pesadelo é muito
broxante, como se Maggie estivesse passando fases de vídeo game! Por exemplo,
ela entra em um cômodo e precisa resolver como abrir a próxima porta para
seguir adiante! Tudo sem emoções nem maiores desafios, as coisas vão
acontecendo porque tem que acontecer!
Pai & Filha... Together in electric dreams.
A morte de Freddy é péssima, até
mesmo nos capítulos anteriores tivemos situações melhores. Já o acompanhamos morrendo por falta de poder, por amor, água benta e solo sagrado, sua própria imagem, pela sua mãe Amanda Krueger... O que poderiam fazer desta vez? Bom, pensaram em algo mais direto, com Freddy perdendo sua arma (as luvas com garras) e Maggie usando o instrumento para detonar o pai;
mas claro, antes rola um belo confronto entre pai e filha, com socos, mordidas,
dedos quebrados... Freddy é pregado na parede e explodido de dentro para fora
com uma bomba, em uma montagem de edição RIDÍCULA, onde vemos as almas (em forma
de vermes toscos) voando em direção da câmera para força o 3D! Falando sério, se Pesadelo 6 fosse o último filme da franquia, Freddy Krueger e seu legado iriam ser considerados
uma piada mal contada até os dias atuais... Mas enfim, adivinhem como o filme acaba?! Maggie olha
para os sobreviventes (Doc e Tracy) e fala sorrindo: “Freddy’s dead”... Ahh, isso mesmo que queríamos, um lindo desfecho doce e prazeroso... FILHOS DA PUTA!
O interessante é que no final,
enquanto acompanhamos os créditos finais, temos uma montagem mostrando os
melhores momentos da franquia ao som de Iggy Pop, trazendo a nostalgia e lealdade
que faltaram durante o filme todo, até com direito as iniciais “R.I.P.” de última cena, para homenagear
a suposta queda do vilão.
Enfim, não vou recomendar A Hora do
Pesadelo 6 – A Morte de Freddy (1991), pois já deixei bem claro o quanto esse
filme é horrível. Encarar uma sessão é bastante tedioso, e recomendo somente se
for um fã obcecado e muito curioso por esses filmes, ou então se quiser passar
raiva mesmo. A New Line Cinema falhou em dar um final na franquia A Hora do
Pesadelo, assim como fizeram com Sexta-Feira 13 dois anos mais tarde. Felizmente,
o mestre Wes Craven estava observando todos esses vacilos de longe... E o destino
se provou muito agradável, pois no ano de 1994, ele voltaria com tudo na franquia
que criou, finalmente entregando um final digno para o eterno Mestre dos Sonhos.
Ainda existia mais uma chance.
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TRAILER DE 1991:
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CONTAGEM DE CORPOS (6):
Assassino Freddy Krueger:
Carlos: cabeça explodida após ter os tímpanos forçados ao limite.
Spencer: sugado para dentro da televisão, e morto no jogo de vídeo game ao cair da escadaria para um poço.
John: cai do céu até ser empalado em uma cama de pregos.
Freddy Krueger: cravado na parede por inúmeras armas, tem o estômago perfurado pela garra com lâminas e é explodido por bomba.
OUTRAS MORTES:
Velha chata do avião: despressurizada da aeronave.
Suposto pai de Tracy: golpeado na cabeça com bule de café.
Suposto pai de Tracy: golpeado na cabeça com bule de café.