AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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Como começar essa crítica eu
sinceramente não sei. Para quem já vem acompanhando a maratona que o Portal
Tartárico está publicando, sabe que venho alertando dos males introduzidos em A Hora do
Pesadelo 5 – O Maior Horror de Freddy (1989), que não é um filme muito agradável. Na
realidade, é um capítulo totalmente desnecessário na franquia, levando em conta
o enredo mirabolante que tentaram apresentar mais uma vez. Até agora, já
passamos por muitas histórias, muitos personagens e, é claro, muitos pesadelos;
isso era um sinal que a franquia estava ficando esgotada depois de repetir sua
fórmula várias vezes, mas como era costume naquela época, se os produtores
estavam ganhando bastante dinheiro, já era o suficiente para continuar
produzindo esses filmes, mesmo que as histórias não fossem tão boas. Não digo
que a história é ruim, ela trouxe algumas novidades que se diferenciaram do
padrão saturado que a série rumava; no entanto, mesmo com seus acertos, a
produção está longe de ser lendária. Era
o ano de 1989, e a franquia Sexta-Feira 13, por exemplo, já estava indo para
seu oitavo filme! Halloween também continuava suas tramas, lançando seu quinto
capítulo. Como era de se esperar, Freddy Krueger não ficou de fora, porque
logo a New Line Cinema lançou mais uma bomba, no título original The Dream
Child, alterado em território nacional para O Maior Horror de Freddy, que sem
contar ser tosco, é um título completamente mentiroso. Acaba de começar,
leitores, a época maldita na franquia A Hora do Pesadelo.
Reza a lenda que o mestre Stephen
King foi cogitado para dirigir esse capítulo, mas não aceitou. O cargo acabou
ficando na mão de Stephen Hopkins, de produções como Predador 2 – A Caçada
Continua (1990), A Noite da Crueldade (1987) e Perdidos no Espaço (1998). O
mais gratificante da direção de Hopkins é a visão clássica que o profissional
agrega na obra, com muitos cenários góticos e arquitetura colonial, como
castelos sombrios e mansões antigas; até mesmo “Pomp and Circumstance” toca
durante uma cena (clique aqui para ouvir). Mas o que realmente se destaca é o
expressionismo alemão (a famosa distorção de personagens e cenários, realçando
as cores fortes que beiram o surrealismo). Nesse quesito interessante, o filme
é agradável de acompanhar, mas nem tudo são bons sonhos...
O enredo traz de volta Alice Johnson
(Lisa Wilcox retornando no papel), a ótima garçonete protagonista do filme
anterior (clique aqui para ler), que havia destruído Freddy após presenciar o assassinato do irmão e
da maioria de seus amigos. Lembram que no último desfecho ela havia firmado
relacionamento com o bonitão Dan Jordan (Danny Hassel)? Então, nesse filme
vamos acompanhar a gravidez de Alice, logo após se formar na escola com seu
novo grupo social. Paralelamente, Freddy vai se manifestando por meio dos
sonhos do feto, conseguindo arranjar um meio de voltar novamente e provocar
outro massacre. A história é até interessante, e a dinâmica da produção também;
esses talvez sejam os únicos pontos que conseguem salvar a produção, diferente do
que vamos acompanhar no próximo capítulo, que mais parece uma comédia sem graça
(como se fosse um stand up de Freddy). Pesadelo 5 também não foi feito para o
público de primeira viagem, é necessário ter visto pelo menos o último filme
para apreciá-lo, de outro jeito, você vai ficar confuso e não entender porra
nenhuma.
Ele está de volta.
Até o começo tem um tom diferente
(eficiente, para ser sincero), pois a abertura não é embalada ao som de nenhum
flashback oitentista, no lugar, temos uma canção instrumental que combina com o
misterioso tema dos sonhos e inocência infantil (clique aqui para ouvir). Outra
diferença em comparação aos filmes anteriores, aqui não temos nenhuma frase
escrita na abertura, e a fonte dos créditos deixa de ser vermelha para ganhar o
tom azulado.
O primeiro pesadelo é bastante
importante na cronologia da franquia. Lembram que em A Hora do Pesadelo 3,
Amanda Krueger (mãe de Freddy), havia revelado que foi estuprada por centenas
de lunáticos? Assim gerando Freddy? Pois bem, é isso que vamos acompanhar nessa
cena! Alice sonha estar tomando banho após transar com Dan, quando de repente,
o local fica completamente alagado e a garota acaba parando em um antigo hospício para
loucos (a estética desse lugar é típica da franquia, com aqueles corredores
enferrujados e esfumaçados que se parecem com velhas oficinas abandonadas). Lá
vemos uma jovem Amanda Krueger (agora interpretada por Beatrice Boepple), vestida de freira e esquecida no local pelos
supervisores da noite, resultado: todos os pacientes (que mais parecem mendigos
bêbados) acabam estuprando a mulher como se fossem zumbis desgovernados.
Curiosidade: Robert Englund faz uma pequena ponta como o lunático que mais encara a câmera.
O primeiro pesadelo do filme.
Esse já é o pretexto para Alice achar
que Freddy está voltando. O filme trata a temática dos sonhos de uma forma
madura, sem muitas explicações; devido aos cortes bruscos e sem aviso, às vezes
o público pode ficar um pouco confuso com o visto em tela (muitas vezes, para
falar verdade). Os pesadelos também não possuem mais aquela dinâmica simples
vista lá no primeiro filme (clique aqui para ler), aqui temos situações muito
mais fantasiosas e improváveis, com muitos efeitos especiais (alguns bons,
outros ruins), levando em conta que o último filme teve uma das maiores
bilheterias da franquia (já O Maior Horror de Freddy teve uma das piores, muito
devido ao desgaste que o gênero sofria na época).
Os amigos de Alice e Dan são
razoavelmente bons, principalmente porque não ficam pentelhando o filme todo.
Conhecemos Greta (Erika Anderson de Zandalee – Uma Mulher para Dois), uma sensual
garota que é forçada a ter dietas rígidas pela sua mãe rica, para se tornar
modelo (fazendo a garota sofrer de bulimia). Os outros são a nadadora
profissional do colégio, Yvonne (Kelly Jo Minter), e Mark, um desenhista
inspirado que adora quadrinhos e odeia sangue (apesar de seus desenhos serem
cheios dele). O pai de Alice, Sr. Dennis, é outro que retorna no elenco, ainda
interpretado por Nicholas Mele, agora muito mais próximo da filha e conseguindo
superar seu vicio alcoólico.
Após a formatura do colégio, Alice
aparenta estar tendo os melhores dias de sua vida, mas isso dura pouco tempo. Primeiro,
a garota começa a ter pesadelos sem estar dormindo, um ponto bem interessante
do roteiro, que infelizmente não é explorado com profundidade. Em um dos
momentos mais lembrados pelos fãs, Alice sonha novamente com o hospício que
Amanda foi estuprada; o local é extremamente parecido com um castelo nas
trevas, entregando o ótimo clima gótico que havia mencionado (até ouvimos
música de órgão). Nessa parte do filme acontece o retorno de Freddy, na mesma
igreja em que foi destruído no último desfecho (agora descobrimos que a macabra
capela fica no hospício), em uma das cenas mais patéticas do filme; eu falo
isso devido aos furos de roteiro que são vistos facilmente. Alice acompanha o
nascimento de Freddy no próprio local, quando Amanda tem o bebê ali mesmo; um
dos furos é que Freddy nasce completamente deformado, uma espécie de “bebê
monstro”, que rapidamente se desenvolve e se torna o serial killer que
conhecemos. Todos sabem que Freddy nasceu normal como qualquer outra criança, e
acabou morrendo queimado após matar aproximadamente 20 crianças na Rua
Elm, pelos pais vingativos. Nessa cena também ouvimos outra versão da canção de
ninar que as criancinhas cantam nos pesadelos, trocando “Nine, ten... Never
sleep again” para “Nine, ten... He is back again”.
Acredite se quiser, mesmo Robert
Englund mantendo seu ótimo desempenho como Freddy Krueger, sentimos que o vilão
começou a ficar meio enjoativo depois de vários filmes falando suas frases de
efeito com caras e bocas. Sem mencionar, que talvez esse seja o capítulo que mais aparece fantasiado, indo de chefe de cozinha até super-herói de quadrinhos
(wtf?). Também é extremamente interessante ver o vilão encontrando sua mãe em
certos momentos do filme, sempre sendo transparente e seco ao falar com ela,
como no momento em que a chama de “bitch” (puta, para os mais desinformados).
Infelizmente, Freddy não carrega mais aquele mistério onírico que tínhamos nos
primeiros filmes, ele continua bom em suas atitudes, mas não era a mesma coisa;
nessa etapa do campeonato, o vilão não aparentava ter mais um objetivo ou
alguma motivação, parecia estar somente se divertindo. No filme anterior, ele
precisava que Alice estivesse dormindo para conseguir matar seus amigos (por
meio dos sonhos da garota), mas nesse capítulo, mesmo com ela acordada, as
mortes vão acontecendo inesperadamente, tornando a situação mais quente.
Os pesadelos da vez continuam sendo
bons (apesar de exagerados), com Freddy detonando Dan (namorado de Alice) de
uma forma grotesca e tosca ao mesmo tempo, quando ele adormece na estrada,
dirigindo sua caminhonete. Greta também é a personagem que tem um dos meus
pesadelos favoritos, ao ser atacada durante o jantar em sua mansão (nessa cena
podemos ver bem o trabalho que Hopkins entregou na película, com comidas coloridas, perspectivas
focadas e um belo cenário colonial); Freddy faz a garota (que tem problemas de
alimentação) ter que comer o famoso “filé de Barbie”, no qual o assassino serve
de refeição uma boneca com intestinos e músculos internos de verdade, forçando
a boca de Greta até se tornar algo completamente bizarro.
Enquanto as tragédias
acontecem, Alice descobre estar grávida de uma criança não planejada. Com essa
trama, conseguimos ver muito mais no desempenho da personagem, fazendo Alice se
tornar a segunda melhor final girl da franquia, atrás somente de Nancy
Thompson.
Falando nisso, que falta o elenco
original não faz... Principalmente Nancy e seu pai Donald Thompson! Por sorte,
Robert Englund consegue manter a conexão entre todos os filmes, ficando
extremamente marcado pela sua atuação como Freddy ao longo dos anos. Os
personagens novos fazem força para se manterem na carga dramática necessária, só
que tendo falhas em vários pontos, não por parte da atuação, mas por conta do
roteiro que insiste em repetir situações já conhecidas pelos fãs.
Mesmo acompanhando situações
repetidas, o público consegue sentir algumas diferenças eficientes, por
exemplo, a antiga residência da Rua Elm (que apareceu em todos os filmes até
então) é deixada de lado na maior parte do tempo (ainda aparecendo em uma cena).
Isso entrega a oportunidade do roteiro apresentar suas novidades, que acabam se
sustentando se forem excluídas do resto. A franquia continuava
mantendo sua atmosfera, mas com outra visão.
Nos pesadelos, Alice encontra um
garotinho chamado Jacob (Whit Hertford, que também trabalho com Spielberg no
primeiro Jurassic Park), criança curiosa e misteriosa, sempre tratando Freddy
como um velho amigo. Esse garotinho é o próprio filho de Alice, o qual ela consegue visualizar graças aos poderes do Mestre dos Sonhos. Alice procura
fazer de tudo para conseguir manter seu feto vivo antes de nascer, mas como se
esconder de um homem como Freddy? Um ponto muito forte do roteiro é o
desempenho de Lisa Wilcox como protagonista, agindo muito mais madura do que visto no
último capítulo; ela conhece Freddy e está pronta para agir da maneira necessária.
A pergunta que mais intriga Alice: os fetos conseguem sonhar?
O pesadelo de Yvonne também é bom,
pois a garota passa dias sem dormir devido a uma festa, mas acaba cochilando na
hidromassagem. Freddy evita entrar nos pesadelos nos quais existe uma
conexão com sua mãe, e Alice percebe isso rapidamente, usando o fator contra o
assassino. Mark (o rapaz que gosta de quadrinhos) é outro personagem
interessante, pois acredita na nossa protagonista e faz de tudo para se aprofundar na vida
de Freddy. A morte do rapaz tinha tudo para ser criativa, mas acaba sofrendo
com a falta de coordenação (Freddy até anda de skate durante a experiência '-'):
ele tem um pesadelo enquanto lê suas revistas em quadrinhos “Nightmare from
Hell”, e acaba trombando o vilão em uma forma bizarra, o “super-Freddy” (???).
Curiosamente, nessa cena Freddy não é interpretado por Englund, mas sim por
Noble Craig, que também trabalhou nos filmes da eterna franquia Poltergeist.
Alice procura encontrar Amanda
Krueger, para conseguir libertar sua alma mal concedida e fazê-la destruir seu
filho bastardo. Em vários momentos do filme, Freddy usa uma espécie de portal
(feito com carne humana) para acessar sua conexão com o feto, até mesmo
alimentando a criança com as almas das crianças que matou durante sua vida. Quando Alice
consegue fazer o jogo do vilão (usando a personalidade inocente de seu filho e
a ajuda de Yvonne), a alma de Amanda é liberada no único objetivo de destruir
Freddy.
O drama da gravidez funciona durante
o filme todo, mas no finalzinho acaba sendo esquecido durante o confronto
final. Alice acaba morrendo nas mãos de Freddy (sim, mais uma protagonista
assassinada), quando o mesmo ataca a garota de uma forma brutal, atravessando
seu corpo com seus membros. Pela influência de Amanda, o garotinho Jacob
consegue usar os poderes de Freddy contra ele mesmo, destruindo o vilão mais
uma vez, fazendo todas as almas mortas saírem de seu corpo (lembrem-se que
Freddy se alimenta das almas de suas vitimas). O final acaba sendo bom, porém
muito mal produzido e explicado; os dois “bebês malditos” (de Amanda e Alice)
acabam voltando para o ventre de suas mães. Amanda é morta como
sempre esteve, e Alice consegue sobreviver mais uma vez ao lado de sua amiga
Yvonne (infelizmente, nenhuma vai voltar no próximo filme). O bebê nasce
tranquilamente e, quando tudo aparentava estar bem no final, Alice avista algumas
crianças no parque (como de costume)... Cantando a canção de ninar de Freddy e
pulando corda... Era um sinal que ainda fariam mais filmes, independente do resultado
que Pesadelo 5 teria na bilheteria mundial... Sem comentários.
Enfim, na época, para quem estava se
lastimando e xingando muito A Hora do Pesadelo 5 – O Maior Horror de Freddy
(1989), era bom ir se preparando com toda sua força, porque dois anos mais
tarde, em 1991, a New Line não aparentava estar muito satisfeita com seu vacilo
e lançou o sexto filme da franquia, que como o destino nos mostrou, foi o
capítulo que só existiu para afundar Freddy Krueger em uma produção horrível.
Desde essa época, já estava rolando o plano de juntar os vilões Freddy e Jason
Voorhees em um filme crossover, mas a ideia foi procrastinada por muito tempo,
e teríamos o tal duelo somente em 2003, após inúmeros roteiros escritos. No
final dos anos 80, os slasher movies já sofriam com a falta de criatividade e mercado individual,
marcado pelos filmes com qualidade duvidosa. O nosso eterno Mestre dos Sonhos
já não era mais tão carismático e, infelizmente, nem assustador. Triste.
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TRAILER DE 1989:
CONTAGEM DE CORPOS (3):
Assassino Freddy Krueger:
Dan: acidente com carro, chocado contra caminhão.
Greta: estômago aberto enquanto jantava, sufocada.
Mark: transformado em papel, descolorido e rasgado no pesadelo.