quinta-feira, 20 de julho de 2017

Brinquedo Assassino 2 (1990) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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É um bom filme. Desde criança, sempre gostei muito de Brinquedo Assassino 2 (1990), nessa etapa a franquia estava começando a se estabilizar como filmes de terror sérios, porém com cenas descontraídas que não incomodam. Quem teve a oportunidade de assistir algum dos três primeiros filmes de Chucky na inocência da infância, com certeza se assustou e carregou muito trauma! Hoje em dia são produções cheias de entretenimento e terror clichê (por vezes apelativo), mas a carga nostálgica ultrapassa tudo. Esse filme é bastante leal ao capítulo anterior, com uma dinâmica bem diferente, muito mais colorido e agitado. O próximo capítulo, Brinquedo Assassino 3, também é um ótimo slasher com momentos memoráveis que deixaram Chucky ainda mais marcado. Em minha opinião, a franquia desandou em O Filho de Chucky (2004), com certeza um dos PIORES filmes que já tive o desprazer de assistir. Revoltante e completamente ridículo, uma perca de tempo comparado com esse segundo capítulo, que é levado a sério e mantém uma história original e interessante. Por sorte, recentemente fomos surpreendidos com A Maldição de Chucky (2013) que resgatou toda essa mitologia sangrenta que a franquia era envolvida.

A supervisão de Don Mancini sempre foi algo positivo, principalmente durante os três primeiros filmes (apesar de algumas produções terem sido feitas às pressas, o que afetou o roteiro por pura pressão do estúdio Universal, agora dona dos direitos de exibição da United Artist). Fico pensando comigo mesmo... Se existisse somente o primeiro Brinquedo Assassino, lançado em 1988, tinha grande chance da produção (e o ícone Chucky) terem virado somente mais um slasher dos anos 80. Contudo, produções como essa não surgem por acaso, geralmente existe um propósito maior por trás. Tenho certeza que se existisse somente o primeiro filme, talvez não fosse tão cultuado hoje em dia, justamente por não se tratar de uma obra-prima. Chucky e seu legado foram construído nas sequências, foi nessa etapa que ele se tornou um ícone influente até hoje (lembrando que esse ano, 2017, temos um novo filme), e tudo isso em minha opinião é graças a Brinquedo Assassino 2, e posteriormente o 3, que fecham uma trilogia satisfatória e com muito entretenimento. A direção da vez fica por conta de John Lafia (que também assinou o roteiro do filme anterior).

Chucky, o boneco amaldiçoado.

De abertura, vemos o boneco sendo reconstruído (passo a passo) pelos funcionários das industrias Play Pals. Chucky ficou destruído no desfecho do filme anterior, desmembrado, acertado por tiros e queimado por completo. É bizarro ver sua cabeça de plástico queimado com arcada dentária humana. Nunca entendi uma coisa: se a linha de bonecos Good Guy estão pretendendo voltar a produzi-los para comércio, por que restaurar justo Chucky? O boneco não faz a menor diferença, sendo que fabricam um monte todos os dias. Entretanto, se pensar bem, existe uma lógica para isso: a indústria que fábrica os bonecos estava fazendo de tudo para provar que não existe nada de errado com seus produtos, depois dos acidentes que aconteceram no filme anterior. Obviamente, ninguém acreditou na história contada pelos sobreviventes do antecessor, ainda mais ao afirmarem que o boneco estava possuído pela alma do estrangulador Charles Lee Ray, mesmo sendo confirmada pela angustiada Karen Barclay, que agora se encontra internada em observação e não aparece em nenhum momento do filme (somente em foto). Seu filho Andy Barclay (Alex Vincent mais uma vez no papel), agora com oito anos, está em um orfanato esperando por adoção.

Andy Barclay sempre azarado.

Nesse filme finalmente vemos uma fábrica Play Pals, onde os bonecos Good Guys são fabricados. Interessante ver que a produção dos brinquedos parece mais forte do que nunca, mesmo com a polêmica envolvendo o suposto boneco assassino; inclusive, é mencionado que um “piadista” da firma alterou a voz de um dos bonecos fabricados, adicionando frases como “Olá eu sou Chucky, o estrangulador de Lakeshore”. Lá conhecemos Christopher Sullivan (Peter Haskell), o rígido patrão que encontra nos bonecos uma grande fonte de dinheiro. Sempre gostei dele, seu jeito autoritário denuncia sua preocupação em ocultar qualquer informação que possa comprometer a venda de brinquedos, e curiosamente em Brinquedo Assassino 3 seu assassinato ocorre nos primeiros minutos, em uma cobertura luxuosa e lotada de brinquedos, mas aqui ele aparece somente no começo. Muitas pessoas acham o personagem chato e arrogante, isso é fato, mas essa personalidade se encaixa perfeitamente para representar um empresário frio e visionário.

E falando em assassinato, não demora muito para acontecer uma morte dentro da fábrica. Enquanto terminava de dar o “acabamento” em Chucky, um funcionário é brutalmente eletrocutado pela máquina que encaixa os olhos do boneco. Meio conveniente? Sim, porém é um momento bastante querido na memória dos fãs mais antigos (e esse raio de choque provavelmente trouxe nosso boneco de volta a vida, alá o clássico Frankenstein).

O Bonzinho dos anos 90!

Logo em seguida vemos o garotinho Andy, com semblante um pouco mais velho, só que ainda mantendo a docilidade do personagem. Ele está no orfanato sobre os cuidados da Sra. Grace (Grace Zabriskie, que posteriormente também é assassinada pelo boneco), e acaba sendo adotado pelos Simpsons, um casal simpático (aquelas típicas famílias norte-americanas, com padrões caseiros). Joanne (Jenny Agutter) e o paizão Phil (Gerrit Graham) adotam Andy justamente para apresentá-lo a uma vida melhor, levando em conta os traumas familiares que o garoto teve (o mistério envolvendo o pai, e a posterior loucura de sua mãe). A casa dos Simpsons é aquelas com cercas brancas e jardins floridos, como qualquer padrão de subúrbio. Na casa também mora Kyle (Christine Elise), uma jovem rebelde que já passou por vários orfanatos, e com certeza é a personagem mais desenvolvida do filme.

Para simbolizar o retorno dos bonecos Good Guy na consciência de Andy, existe uma cena bem interessante onde um caminhão da empresa Play Pals (com um enorme desenho do boneco na carroceria) acaba fechando o carro da família Simpson logo após saírem do orfanato. O garoto observa o caminhão com um olhar neutro, provavelmente se lembrando tudo o que viveu.

Phil, Andy e Joanne unidos pela tragédia.

Com certeza, o maior erro de Brinquedo Assassino 2 é não manter o mesmo suspense que existia no capítulo anterior (clique aqui para ler). Mesmo com toda a fidelidade, esse filme apresenta uma história levemente desgastada e com inúmeras situações convenientes. Na realidade, não podemos ficar comparando o filme anterior com esse aqui, pois o objetivo dessas continuações não pode ser interpretado como uma tentativa de se igualar ao trabalho original, mas como uma expansão do universo e mitologia já estabelecidos, e nesse quesito, Brinquedo Assassino 2 se sai muito bem.

Sem contar Chucky interpretado pelo ótimo Brad Dourif, Andy Barclay é o único personagem que retorna do filme anterior, o que é realmente uma pena. Sempre quis que tivessem trazido novamente o detetive galã Mike Norris (interpretado por Chris Sarandon), o clássico policial que perseguiu Charles Lee Ray por uma última vez, culminando em toda a história da franquia. Em minha opinião, mesmo com os furos existentes, Norris é um personagem essencial que não devia ter ficado de fora de uma continuação.

Kyle, o protótipo de final girl.

Chucky logo consegue descobrir o paradeiro de Andy e, durante a noite, ruma até a residência dos Simpsons após render um funcionário de alto padrão das indústrias Play Pals, o imbecil chamado Mattson. Acho que quando voltou a vida, Chucky imediatamente lembrou que o único meio de sair do corpo de boneco era transferindo sua alma para Andy, assim como explicado no primeiro filme, por isso decide ir atrás do menino logo de cara. Aqui Chucky está com o mesmo corpo, apenas trocaram o plástico e os mecanismos, então faz sentido ele levar em conta que precisa encontrar Andy, por ter revelado seu “segredo”. Diferente de Brinquedo Assassino 3, onde Chucky é reconstruído do zero, com um novo corpo, dando total liberdade para o boneco contar seu segredo para outra pessoa e iniciar um novo objetivo para transferir sua alma. Lembrando que o “segredo” do boneco é que ele está possuído pela alma do estrangulador Charles Lee Ray.

O filme tem algumas mortes bem criativas. Destaque para a cena em que Chucky golpeia a Sra. Grace com facadas, fazendo a mulher capotar em cima da fotocopiadora e tirar vários retratos de seu rosto ensanguentado. Outro momento criativo é quando um vigia noturno (que trabalha na fábrica Play Pals) fica preso em uma das máquinas e é brutalmente “grampeado” com os olhos do boneco Good Guy. São mortes interessantes, que não apelam para o gore e banhos de sangue. Chucky também protagonizado algumas cenas bem grotescas, como quando amputa sua própria mão e coloca uma lâmina no lugar. Como ele é um boneco, a violência é tratada com mais detalhes, e podemos ser presenteados com cenas explicitas muito bem feitas.

Good Guy tamanho gigante.

Existe um momento bem lembrado pelos fãs, em que Chucky segue Andy até a escola para provocar o terror. Escondido, o boneco escreve “fuck you bitch” na redação do menino (KKKKKKK), provocando a ira da professora Kettlewell (Beth Grant), uma vaca exigente que não gosta de meninos travessos. Em uma cena hilária, Chucky assassina a professora usando uma RÉGUA DE MADEIRA, como se estivesse ensinando os “bons modos” para ela. O filme é bastante criativo se for apreciado do ponto de vista de uma criança: a maioria dos adultos permanece na memória como chatos e exigentes (assim como muitos pais enquanto educam seus filhos), e conseguimos ver que o mundo deles é bem diferente do vivido pela criança, principalmente pelo pequeno Andy e seu brinquedo assassino.

Outro personagem bastante escroto é o paizão Phil... O cara chato da porra! Ele trata Andy como um robô que precisa ser controlado, cheio de regras e diálogos autoritários. Poxa, o menino acaba de ser adotado, não pode dar um desconto e tratá-lo bem? E os supostos traumas que ele passou? Isso não conta? Do mesmo jeito, ele abusa dos sermões para cima do menino, que ainda tem a credibilidade de manter o respeito. Felizmente, Phil tem uma morte linda ao ser derrubado da escada e quebrar o pescoço; ele nunca acreditou que o boneco poderia estar vivo, mas no último instante de vida acabou presenciando Chucky com seus próprios olhos. Tem mais que se foder mesmo!

"I'M FUCKING TRAPPED IN HERE!"

Andy não tem muita evolução na trama, ele sempre está assustado e ausente de informações, como qualquer criança. A personagem que mais se destaca é a “irmã adotiva” Kyle, com grande desempenho durante o último ato. No começo pensamos que a jovem é chata e arrogante, mas vamos percebendo aos poucos sua preocupação com Andy. Até mesmo as roupas dela vão mudando: no começo Kyle sempre usa peças punks (como jaqueta de couro e cabelo característico), já com o tempo ela vai aderindo a roupas menos chamativas, mais caseiras. É como se a personagem estivesse deixando seu lado individual para se entrosar como membro de uma família.

Até mesmo Joanne, que sempre se demonstrou afetuosa com o menino, acaba o enviando novamente para o orfanato após a morte de Phil. Aquela sensação de instabilidade social do primeiro filme ainda tem seus valores aqui, os assassinatos sempre ocorrem quando Andy está por perto, e ninguém acredita que o boneco seja o responsável, deixando o menino afastado e sem poder contar com ninguém para protegê-lo. Mesmo fraco, Andy está muito mais corajoso que no filme anterior, em alguns momentos revidando e partindo para caçar o boneco. Ver os dois em cena sempre é uma experiência gratificante! Andy e Chucky são uma dupla lendária, o sarcasmo alucinado do boneco entra em contraste com a inocência do garoto numa combinação explosiva.

Passeio noturno... Na mira de uma faca!

O filme é bastante divertido de se assistir, tem um clima bom, terror na medida certa (podia ser mais grotesco) e uma trilha sonora que gosto muito (clique aqui para ouvir), que se tornou marca registrada desse capítulo. Outro ponto que não posso deixar de mencionar é o boneco Tommy, um Good Guy idêntico a Chucky que estava junto dos brinquedos na casa dos Simpsons (como eles já adotaram algumas crianças, a casa tem um quarto cheio de brinquedos). Chucky se livra de Tommy e finge ser ele para Andy não desconfiar de sua presença. A cena do boneco enterrando seu “irmão gêmeo” é hilária, o eterno Brad Dourif faz novamente um trabalho espetacular na dublagem de Chucky, ele entrega uma personalidade realista em um simples boneco bizarro de plástico e estufagem.

O final acontece na fábrica Play Pals, onde os bonecos Good Guys são produzidos e armazenados em imensos galpões com labirintos de caixas. Acho totalmente foda a ideia de o desfecho ocorrer na fábrica, local onde Chucky foi “criado” e agora será destruído. A sequência acontece altas horas da noite, portanto somente um vigia estava no local (ostentando uma das mortes mais bizarras da franquia). Quando Chucky finalmente imobiliza Andy, a magia de Damballa é executada até o final, mas acaba sendo um fracasso. Chucky passou tanto tempo dentro do boneco que não pode mais sair, seu interior ganhou todas as características humanas, incluindo sangue, órgãos e músculos (somente por fora existe a aparência de boneco). É claro que isso deixa o boneco completamente puto e enfurecido, e agora seu maior objetivo se torna simplesmente matar o garoto.

Milhares de Good Guys armazenados na fábrica.

A mecânica de Chucky está mais aprimorada, seus movimentos estão mais fluidos e evidentes em tela. A equipe de produção fez um excelente trabalho, principalmente no rosto do boneco: está mais bruto, nervoso, violento. No primeiro filme ele tinha expressões mais neutras e concentradas, já aqui Chucky tem aquele “carão” que se tornaria marca registrada do personagem nos anos 90. No próximo capítulo rola outra mudança sutil, deixando sua aparência mais brutal e enfurecida. Cada filme estabelece suas características: o primeiro é mais noturno e sujo, o segundo tem aquele clima de subúrbio norte-americano, e o terceiro carrega sua história no exercito, provando que a franquia pode sim inovar e ter ideias criativas que se diferenciam dos outros slashers e suas inúmeras sequências.

No final Chucky é completamente destruído após ser preso na máquina que cria os Good Guys, tendo seu pequeno corpo retalhado e mutilado com vários pedaços de outros bonecos. Fora isso, Kyle e Andy jogam litros de plástico derretido em cima dele e depois prendem uma mangueira de pressão em sua boca, fazendo Chucky inflar, inflar e inflar até explodir! O filme não deixa nenhum vestígio de continuação, realmente parece que o boneco morreu de uma vez por todas e agora Andy poderá viver feliz com sua vida. Contudo, o lançamento de Brinquedo Assassino 3 ocorreu em menos de um ano com relação ao segundo filme, e para muitos a pressa trouxe algumas sequelas que vamos discutir na próxima crítica.

Chucky à milanesa!

Também tivemos um curioso final alternativo, onde é mostrado um pedaço de Chucky caindo dentro de um enorme tanque de plástico derretido da fábrica. Dessa mistura é formada uma cabeça de Good Guy que sorri para o expectador, deixando claro que teríamos sim uma continuação. Deixei esse final alternativo completo para ser assistido logo abaixo, vale a pena conferir! Assim terminamos mais uma análise, e gostei muito de poder falar sobre um filme querido desde minha infância. Brinquedo Assassino 2 é uma bela continuação que soube seguir a história sem inventar milhares de bobagens ridículas, mas ainda fica a dúvida: será que algum dia finalmente veremos Chucky conseguindo transferir sua alma?
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TRAILER DE 1990:
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FINAL ALTERNATIVO:
CURIOSIDADES:
1) Inicialmente, Chris Sarandon iria reprisar seu papel de detetive Mike Norris do primeiro filme, mas suas cenas foram cortadas devido a problemas de orçamento.

2) No mesmo ano (1990), Chucky apareceu usando um smoking na premiação do Horror Hall of Fame Awards para anunciar o lançamento do filme. Ele foi apresentado por Robert Englund (Freddy Krueger da franquia  A Hora do Pesadelo).

3) Mesmo não retornando para seu papel, Catherine Hicks estava sempre presente no set de gravação para ver seu marido, Kevin Yagher, trabalhando como operador do mecanismo do boneco.

4) O roteiro original tinha uma cena de abertura numa audiência judicial tratando dos eventos do filme anterior. Catherine Hicks retornou seu papel de Karen Barclay nessa cena, mas foi cortada antes que as filmagens começassem. Elementos dessa sequência foram posteriormente usados em uma cena de tribunal similar em A Maldição de Chucky (2013).

5) Esse filme e O Filho de Chucky (2004) são os únicos capítulos da franquia onde Chucky não é baleado.

6) Assim como no primeiro filme, os acontecimentos se desenrolam em apenas três dias (apesar de vermos rapidamente a manhã do quarto dia na última cena).


7) A morte da professora de Andy e o final gravado na fábrica de brinquedos são elementos que Don Mancini havia colocado no primeiro filme, mas não conseguiram reproduzir tais cenas.

CONTAGEM DE CORPOS (9):
Assassino Charles Lee Ray (Chucky):
Técnico da fábrica: eletrocutado por máquina.
Mattson: amarrado e sufocado com sacola plástica.
Sra. Kettlewell: espancada com régua de madeira.
Phil Simpson: derrubado da escada, pescoço quebrado.
Joanne Simpson: garganta cortada por faca.
Grace: esfaqueada no peito.
OUTRAS MORTES:
Good Guy Tommy: rosto quebrado por bibelô e enterrado.
Vigia da fábrica: preso em máquina, olhos "grampeados".
Charles Lee Ray (Chucky): afundado em plástico derretido, mangueira de ar presa na boca e explodido.

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