sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O Massacre da Serra Elétrica (1974) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portando se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.

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O Massacre da Serra Elétrica (1974) é um clássico absoluto. Ponto. Não se precisa de muito tempo para afirmar tal frase. É claro, existem muitos excêntricos que não se identificam com a obra do diretor Tobe Hooper, talvez pela energia estranha e perturbadora, ou talvez por puro preconceito e ausência de interpretação. Ao lado de O Exorcista (1973), ele foi um dos primeiros pioneiros do gênero, jogando no mundo uma trama brutal e sádica, não tanto em violência explicita, mas em situações que conseguem perturbar o consciente com facilidade. Narrando a história de um cinco jovens massacrados em uma tarde de sol, o primeiro sucesso de Tobe Hooper consegue surpreender os mais atentos até hoje em dia. Alguns anos mais tarde, o diretor ficaria bastante conhecido por Poltergeist - O Fenômeno (1982) e muitos outros filmes bons e ruins, sempre explorando o terror.

O filme não é nada bonitinho, porém mantem uma tranquilidade quase incompreensível, então não espere encontrar uma direção delicada e cuidadosa. Hooper faz um trabalho de mestre aqui, idealizando um gênero que junto de Halloween - A Noite do Terror (1978), iria consumir o cinema na próxima década, até a infeliz exaustão. Se você assisti-lo na fita VHS da época (recomendo muito, se tiver a oportunidade) sentirá o quanto a película se parece com um documentário amador: imagem crua e com um tom amarelado único, transmitindo uma energia rural que contagia uma forte tensão desde o primeiro segundo. É uma obra prima. Gosto muito de assistir os 83 minutos de projeção em qualquer tarde de sol (combina bastante), e o raro VHS é um dos meus itens de coleção mais queridos. Acredite, a duração é basicamente um fiasco perto dos projetos atuais, o filme passa realmente rápido.

Um passeio de domingo a tarde...

Enfim, vamos ao que interessa: logo no inicio, somos presenteados com uma tela preta misteriosa, e ouvimos somente uma respiração ofegante. De vez em quando, um flash fotográfico ilumina a cena, e identificamos um corpo exumado (desenterrado) no gramado. Os barulhos de escavação ficam mais intensos quando percebemos que alguém está desenterrando um homem em decomposição no meio da noite, tirando várias fotos, ofegante...Tobe Hooper mostra essas cenas grotescas com vários ruídos que incomodam o público, como arranhados e barulhos de serração. Alguns momentos mais tarde, uma narração de rádio (do interior norte-americano) começa, revelando agora, na manhã seguinte, o cadáver exposto em cima da lápide numa bizarra posição. Um estranho som começa a metralhar nas caixas de som e o radialista deixa bem claro que, após a descoberta dos inúmeros túmulos abertos, a investigação continua e ainda não existe nenhum suspeito.

Bizarro, não?

Somos então apresentados aos jovens ingênuos que seguiremos em uma Kombi Volkswagen verde, todos interpretados por atores basicamente desconhecidos. Esse grupo é lendário por se tratar das primeiras vitimas nos slashers! É muito difícil trombar alguém fanático que não os conheça! Temos o pacato Kirk, bonitão e atrevido, ele namora a garota Pam, viciada em astrologia e chata na maior parte do tempo. Existe também o motorista hippie de voz esganiçada Jerry, que basicamente é um inútil (só presta para atrapalhar). Jerry namora a bonita Sally Hardesty (Marilyn Burns, uma das primeiras scream queen da história). Por último, mas não menos importante, temos o irmão de Sally, Franklin Hardesty, um cadeirante chato, afetado e bipolar que ENCHE MUITO O SACO. Os cinco jovens estão passando pela região para visitar o cemitério onde o avô de Sally e Franklin foi enterrado, visando “investigar” o suposto vandalismo em sua cova. Tudo isso é abordado vagamente pelo roteiro, gastando poucos minutos, com uma breve cena mostrando os caipiras bêbados chapando no cemitério ensolarado, em que Franklin ouve um deles (o mais bêbado) resmungando sobre "o que ele viu”.

O retrato da tensão.

Logo uma das melhores cenas do filme começa: quando o calor aperta, o cadeirante Franklin reconhece uma das fazendas como o antigo matadouro (slaughterhouse no áudio original) onde o avô deles vendia seu gado. É claro, eles resolvem dar uma “vagada” pela região. Vemos algumas cenas assustadoras dos gados amontoados na beira da estrada, prontos para o abate, novamente com aqueles rugidos incômodos, estratégia que a trilha sonora abusará muito. Por algum motivo, o clima de “fazendas afastadas e abatedouros” contagia o coração de Franklin, e o personagem começa a demonstrar o quanto é irritante e insuportável, contando em voz alta como matavam os filhotes de gado com uma grande pistola-hidráulica, obviamente irritando seus amigos. Interessante ver que quando Franklin fica nervoso, começa a “cortar” suas unhas com uma pequena faca de bolso que carrega. A direção e fotografia são simples, e conseguimos sentir como se estivéssemos ali na van com eles, debaixo do sol escaldante.

Algum tempo depois, eles dão carona para um estranho rapaz, um andarilho (o clássico “the hitchhiker”, provavelmente um dos personagens mais marcantes) cujo nome é Nubbins Sawyer. Logo de fachada, já é visível que existe alguma coisa errada com aquele andarilho: com o olhar disperso, uma enorme mancha vermelha no rosto e sua máquina fotográfica Polaroid... (Sim, é ele quem anda desenterrando os cadáveres no cemitério local e tirando fotos durante a madrugada). Aos poucos o clima vai esquentando dentro da van, com o andarilho e Franklin debatendo simpaticamente sobre os abatedouros da região, novamente, com aquela tranquilidade perturbadora, realçada pela calma música rural que soa na rádio. Essa tranquilidade que entrega o charme do filme. Ficamos agonizados, pois sabemos que alguma coisa de errado vai acontecer.

A morte pede carona?

Não demora muito para o andarilho pegar a pequena faca de Franklin, e começar a se cortar na frente de todos (!!!). Nesse momento o clima muda, principalmente ao vermos o medo perpetuando no olhar de cada jovem. O interessante é que a música rural da rádio continua tocando com tranquilidade diante da situação inesperada, enriquecendo o drama da cena. Conversa vai, conversa vem, eles se negam levar o andarilho até sua tal casa em uma fazenda, e ele, não satisfeito, bate uma foto de Franklin com sua câmera Polaroid. Após botar fogo na foto e provocar um tumulto, o andarilho saca sua própria faca e rasga o braço do cadeirante, que por causa da invalidez, não pode fazer absolutamente nada! É tenso, e as lentes impactantes de Tobe Hooper conseguem mostrar isso muito bem.

O nosso querido Leatherface (Gunnar Hansen) aparece apenas nos 40 minutos do longa, somente para cumprir o destino dos jovens. Após ficarem com pouca gasolina, eles passam no típico posto/mercadinho de estrada norte-americano (que está sem gasolina, por sinal) para se informar sobre a localização exata da "velha casa dos Franklin", e até aproveitam para comer um churrasquinho barato. Quando o grupo finalmente chega na tal casa, percebemos que é lugar tão bizarro quanto se possa esperar: uma grande casa de fazenda abandonada, que possuía uma velho lago já secado. Tudo estava na maior farra para os jovens, mas é Kirk que ouve um gerador no horizonte e, junto da namorada Pam, vão até a fazenda vizinha para procurar gasolina. Debaixo do sol quente, podemos ver a inspiração na fotografia com brutos closes exagerados e planos lentos. Destaque para as ESTRANHAS cenas mostradas dentro da velha casa dos Franklin, até hoje me pergunto se era um ninho de aranha que Kirk viu na parede... E que diabos era aquele "chocalho de cobra" com penas no chão, antes preso por um gancho? Intrigante, de fato.

"Old Franklin place"

Um por um, todos vão sendo mortos naquela “tranquila” tarde de sol; primeiro Kirk, que chama na casa da fazenda, mas ninguém responde, somente o barulho agonizante de um porco gritando. Quando resolve entrar, tromba com Leatherface e recebe uma marretada na cabeça, em uma das cenas mais clássicas do horror. Logo em seguida é a vez de Pam, cansada e irritada com o namorado, também entra na casa e acaba caindo de bandeja na sala da residência: um local completamente lotado de ossos, dentes e tudo que se possa imaginar (inclusive, essa é uma das cenas mais perturbadas do filme, com uma quantidade desgraçada de ruídos sonoros). E sim, estamos falando de um grau de brutalidade absurdo, com Pam sendo pendurada no gancho de açougue pelas costas e tendo que presenciar o namorado sendo retalhado com uma motosserra na sua frente.

Home alone...

Quando a noite vem chegando, sobram somente os irmãos Franklin e Sally Hardesty. Sem a chave da perua e somente com lanternas, eles optam por tocar a buzina e gritar até que alguém apareça na fazenda afastada; nessa hora que a imaginação corre solta: onde estaria o andarilho sádico que deram carona mais cedo? Havia possibilidade dele aparecer ali, no meio dos campos escuros? Com esses pensamentos em mente, a impaciente Sally resolve empurrar o irmão cadeirante e partem em busca dos amigos, mais em particular de seu namorado Jerry (alguém se lembra desse inútil desgraçado?)...

A partir de quando o dia escurece de uma vez, o filme se torna escuro e barulhento (muito mais do que já era) e temos nossa final girl Sally em ótima atuação, correndo de um lado ao outro para se manter viva naquela noite macabra, sendo atacada por um ser desconhecido em uma região desabitada. E leitores, essa mulher GRITA MUITO, até mais que a própria Jamie Lee Curtis! Chega um ponto que fica estarrecedor, mas consigo entender o drama... Saber que seus amigos estão mortos no meio do nada e estar correndo perdida na floresta escura, somente ouvindo o barulho da motosserra deve ser doideira, não?

Clássico.

Já no terceiro ato, vemos uma desesperada Sally voltando naquele posto/mercadinho que haviam passado no começo do filme, em busca de ajuda. Aqui rola outra cena marcante, revelando que o dono do humilde estabelecimento é Drayton Sawyer (Jim Siedow) o velho cozinheiro “líder” dos três irmãos. junto de Leatherface e do andarilho Nubbins Sawyer, eles formam uma família de canibais recheada de sadismo e requintes de crueldade pura. Moram nessa tal fazendo afastada, com o intuito de se alimentarem de suas vitimas sem maiores novidades. Drayton é o meu personagem preferido da primeira família: seu jeito é paranoico, porém contido na maior parte do tempo; ao lado dos irmãos ele se torna completamente estourado e arrogante, dando broncas com todos os detalhes (existem alguns momentos também, em que afirma não gostar de violência e não ter nenhum prazer em matar, mas enquanto a garota é torturada, ele dá suas boas risadas de rato).

"Just take it easy now..."

Levada até a residência da família, Sally passa por um processo de tortura insuportável e perturbado. Sério mesmo, ESSA MENINA SOFRE!... Seus amigos servidos no jantar, pauladas, amordaçada, rasgadas pelos galhos das árvores, marteladas na cabeça, costas esfaqueadas inúmeras vezes... Isso sem contar o terror psicológico proporcionado em pouco tempo, com os irmãos rindo, debochando e fazendo comentários abusivos da situação, na maior parte do tempo sem nenhum sentido. Trauma eterno.

Existe também o eterno vovô Sawyer, um velho com mais de 100 anos que não fala absolutamente nada e mal se movimenta, somente se alimenta com sangue (eles cortam o dedo da garota para o velho chupar em uma cena grotesca). Reza a lenda que o vovô é o melhor assassino de todos, o primeiro cozinheiro da família, que uma vez matou 6 pessoas no período de 5 minutos, mas ele não usava ganchos nem facas, e sim martelos de abate.

Alimentando o vovô.

Uma obra inesquecível do horror, desde fotografia, ambientação, pureza e realismo. É impossível não se sentir indiferente ou incomodado ao experimentar o longa até pela milésima vez. Uma energia que jamais será trazida novamente nas telas, provada somente com esses rápidos 83 minutos em que o pavor corre solto. O filme tem um desfecho bem rápido, sendo finalizado na beira da estrada, já na manhã seguinte. Sally consegue fugir no pior estado possível, ajudada por um caminhoneiro de gado que passava pela região na hora. Aqui temos também a curiosa morte do andarilho Nubbins, atropelado pela carreta e se estourando na estrada do campo. Drayton Sawyer, por outro lado, é o único que não persegue a garota quando ela finalmente consegue escapar, e fica dentro de sua casa enquanto os irmãos a perseguem pela fazenda... Sempre quis estender o motivo...

Escapadinha de leve...

O Massacre da Serra Elétrica (1974) é terror de qualidade pura! Sem contar os momentos bizarros que deixam o público pensativo, o filme introduz uma história que pode acontecer com qualquer azarado. Tobe Hooper estava mesmo inspirado durante a produção, e provou isso da melhor forma. Os jovens massacrados nunca imaginaram ter visto o que viram naquele dia, uma tarde de sol que se tornou um pesadelo jamais imaginado. E no finalzinho, quando acompanhamos um enfurecido Leatherface “dançando” com sua motosserra na beira da estrada, sabemos que um GRANDE LEGADO estava sendo criado no gênero do horror, com certeza insuperável até hoje em dia, nos olhos de quem realmente se deixa levar.

“QUEM NÃO SENTIR MEDO NESTE FILME, PROVAVELMENTE DEVE ESTAR MORTO".
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TRAILER DE 1974:
CURIOSIDADES:
1) Na época, o narrador do filme, John Larroquette, afirmou ter recebido um cigarro de maconha para narrar a abertura.

2) A trilha sonora é composta por sons que um animal escuta dentro do matadouro.

3) Durante as primeiras sessões do filme nos cinemas, muitas pessoas saíram no meio da projeção por achá-lo muito violento.

4) Uma cena cortada mostrava Leatherface indo até seu quarto e maquiando uma das máscaras.

5) Os dentes de Leatherface eram próteses feitas pelo dentista de Gunnar Hansen.

6) No primeiro roteiro, Leatherface tinha inúmeras falas, porém só ganidos. No corte final, conseguimos ouvi-lo falar quando é ameaçado pelo irmão Drayton.

7) Marilyn Burns é provavelmente a screen queen que mais sofreu no gênero. Em algumas cenas ela realmente se machucou de verdade, se arranhando nos galhos das árvores e tendo seu dedo cortado por Gunnar Hansen. A maior parte do sangue em sua roupa era dela mesma.

8) As roupas de Marilyn Burns estavam tão sujas de sangue no final das filmagens, que já estavam petrificadas!

9) A última cena filmada foi a que Leatherface derruba a serra elétrica em sua perna. Na gravação, Gunnar Hansen usou uma placa de metal com carne e sangue falso em cima da perna. Também é a única cena em que a serra de fato corta alguém.

CONTAGEM DE CORPOS (4):
Assassino Leatherface:
Kirk: marretada na cabeça.
Pam: pendurada no gancho de açougue e colocada no freezer.
Jerry: marretada na cabeça.
Franklin: motosserra no estômago.
OUTRAS MORTES:
Nubbins Sawyer: atropelado por um caminhão.


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