sábado, 24 de setembro de 2016

Sexta-Feira 13 (1980) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Já começo nossa conversa avisando: esse é um dos meus filmes preferidos, e também um dos que mais assisti em minha vida. O curioso, é que fui apresentado ao gênero desde criancinha pela minha mãe, só que esse foi um dos últimos filmes da franquia que assisti (mas ainda bem cedo, papo de 6/7 anos); não tinha nem ideia que era a mãe de Jason Voorhees a antagonista da película, mas quando conheci a obra, assistia quase todos os dias, até hoje. (Queria colocar o pôster original do VHS acima, mas não encontrei em nenhum lugar e quase tirei uma foto da minha própria fita). Não há como negar, é impressionante como o longa é importante, sem falar o ícone na cultura pop atual; também não há como negar, que Halloween - A Noite do Terror (1978), serviu de inspiração desde a visão “primeira-pessoa”, da perspectiva do assassino, até de forma bruta no esqueleto do filme. Mas deixando bem claro que as franquias são totalmente diferentes e de propósitos distintos.

Criado por Sean S. Cunningham (já tendo produzido Aniversário Macabro em 1972) a série Sexta-Feira 13 é preenchida com 10 filmes, um fraco remake e um confronto com Freddy Krueger. Como todos devem saber, a exaustão e falta de criatividade estariam presentes num futuro incerto, mas nessa época, em 1980, Sexta-Feira 13 estava começando uma jornada repleta com terror de qualidade, várias mortes criativas, sequências marcantes e muitos clichês. Esse provavelmente é um dos melhores filmes de todos lançados, insuperável e clássico; tem vezes que assisto Jason Vai Para o Inferno (1993) e vejo quanto o tempo fez mal na cabeça dos produtores... Não parece que é um filme da mesma franquia, impossível de se entender, muito triste.

Um grito de abertura... Inesquecível.

Começamos na colônia de férias Crystal Lake, no ano de 1958. É uma noite de lua cheia e há vários monitores (com uniforme amarelo e shorts azul) reunidos em volta da fogueira interna com um violão, cantando algumas canções típicas. Logo, pra variar, um casal se separa do grupo (adivinha pra que?)... Pois bem, eles dão uns beijinhos e depois partem para o segundo andar do grande celeiro. Nesse momento, já começamos ter a visão em “primeira-pessoa” do assassino (levemente parecido com Michael Myers em sua primeira abertura), e sabemos quem vão ser as primeiras vitimas da franquia. O clima aqui é muito bom, com os primeiros traços de uma trilha sonora marcante; logo os jovens percebem estarem sendo observados, e ficam assustados. A tal pessoa misteriosa se aproxima sem maiores avisos, esfaqueando o monitor na barriga (agora a trilha sonora já está estalando em nossos ouvidos), e rumando para a jovem monitora, numa sequência dramática. Com um grito e um close congelado, somos presenteados com o titulo “Friday the 13th” quebrando o vidro da televisão.

Terror de primeira qualidade.

Depois de muitos anos, “The Present” como diz no filme, conhecemos a jovem Annie (talvez outra inspiração de Halloween), uma garota despreocupada e avoada. É sexta-feira 13 de manhã e ela esta indo para a colônia Crystal Lake para ser cozinheira na reabertura do local (que ficou fechado durante vários anos pelos assassinatos, um garoto afogado e outros problemas), mas não sabe a localização exata, por isso passa em um pequeno restaurante para pedir informações. Já reparamos como será o cenário do longa: cheio de paisagens bonitas do interior americano (não me refiro ao deserto), sempre com árvores cheias e verdes; cada mínimo detalhe tem um valor incrível pra mim, desde bem pequeno. Todos no restaurante estranham ela estar indo para a “colônia maldita” nessa data de azar, mas ela recebe carona de um caminhoneiro, o “típico americano”. Logo quando vão entrar no caminhão, “Crazy” Ralph aparece (provavelmente um dos personagens mais intrigantes da franquia), somente para avisar a moça que o acampamento é maldito, e que tem uma maldição de MORTE. Ralph é um velho que sempre esta com a mesma roupa, e anda com sua bicicleta pela região avisando que a colônia é maldita (inclusive todos na área acham o mesmo); o interessante é ver que mesmo Ralph alertando os jovens sobre os possíveis perigos do local, ele sempre esta por lá, vagando com sua bicicleta velha pelos campos.

Dando uma canora pra garota (e uma pegada na bunda rsrs).

Conhecemos então os jovens que estão chegando ao acampamento com uma picape vermelha: Ned, o brincalhão da turma, sempre fazendo suas piadas de araque e comentários sarcásticos. Brenda, uma jovem que basicamente não presta pra nada. E também o casal cheio de romantismo, o bonitão Jack (primeiro papel de Kevin Bacon) e sua namorada Marcie (Jeannine Taylor, no papel de sua vida). Quando chegam ao local, na manhã ensolarada, conhecemos também Steve Christy, o homem que esta reabrindo a colônia depois de tantos anos fechada; ainda sobra espaço para Bill (Harry Crosby) um rapaz determinado que trabalha pintando o local durante a reforma.

Não podemos esquecer também da inesquecível Alice (Adrienne King, a heroína do filme), uma contida desenhista que junta dos outros, formam os monitores na reabertura de Crystal Lake. No inicio, pode parecer um grande elenco para desenrolar a história, só que todos têm sua parte e presenças marcantes, sendo difícil se esquecer de algum.

Da esquerda para direita: Marcie, Jack, Ned, Alice, Brenda e Bill.

Logo voltamos a acompanhar Annie, que agora recebe outra carona (em um jipe verde idêntico ao de Steve Christy). Acho incrível como Cunningham nunca mostra quem esta dirigindo o jipe, somente a passageira despreocupada. Não demora muito para passarem pela colônia, e o tal motorista só acelera... Annie, desesperada, se joga do carro em movimento e foge pela mata, sendo perseguida até ter seu fim trágico. Repare que o roteiro se esforça para pensarmos que Steve Christy é o assassino, porque quando a garganta de Annie é cortada, vemos uma blusa xadrez igual a que ele estava usando. Sem deixa de mencionar a excelente maquiagem do mestre Tom Savini.

Annie com a garganta cortada.

O filme não tem segredo: logo o tal assassino chega em Crystal Lake, observando os jovens se refrescando no lindo lago, debaixo de uma tarde ensolarada. Destaque para a cena que Ned finge estar se afogando, somente para Brenda fazer uma respiração boca a boca nele (rsrs). Ainda rola uma cobra na cabana de Alice, com os jovens inúteis quebrando o LOCAL TODO para matar o animal; realmente inúteis... Somente Bill que aparenta ser um bom caçador. No entanto, os jovens desse primeiro filme, não são TÃO BURROS quanto os que viriam nos próximos, que só pensam em sexo e bagunça. Aqui, ainda existe certa seriedade em suas atitudes, mesmo com as brincadeiras.

Um policial metido da uma passada pelo local, avisando os jovens que com a reabertura da colônia, não vão tolerar bagunça no local. É claro, os jovens tiram onda disfarçadamente, pouco se preocupando com os tais “perigos”. Crazy Ralph (o velho com sua bicicleta) também passa pelo acampamento para alertar os jovens, deixando Alice assustada. Esses dias fiz uma maratona da franquia com um amigo (12 horas de VHS bruto) e conseguimos criar uma teoria completa sobre o tal Ralph, mas isso é história para outra crítica.

O intrigante Ralph... "I'm a messenger of God".

Como Annie não apareceu (ela era a cozinheira do local), eles começam a se virar antes que a noite caia, porque a previsão é de chuva forte. Agora conseguimos ver um pouco de Kevin Bacon no papel de Jack, conversando com a namorada Marcie na beira do lago, antes da tempestade começar. Inclusive, Marcie fala sobre um curioso sonho que teve, misturando chuva e sangue...

O próximo a morrer é o brincalhão Ned, que caminha diante de uma construção abandonada e vê um vulto passando; como monitor da colônia, vai verificar e o telespectador já imagina seu destino. Não é segredo pra ninguém: um por um os jovens vão sendo mortos das mais variadas maneiras, sem nunca revelar quem é o autor de tamanha brutalidade. Depois de transarem em uma das cabanas, já com a forte chuva na noite escura, Marcie vai até o banheiro (em outro chalé) deixando Jack sozinho para morrer. Uma das melhores mortes, com ele fumando um baseado deitado na cama, segundos antes da lança surgir em seu pescoço, saindo por debaixo da cama. Acho interessante o jeito que Pamela Voorhees ficou escondida embaixo da cama enquanto o casal transava, sem nem desconfiarem também, que o corpo de Ned estava no alto do velho beliche.

Pós-sexo, uma rapidinha sangrenta.

Marcie também não dura muito, ouvindo alguns barulhos no banheiro e tomando uma machadada no rosto ao ir verificar; um grau de brutalidade absurdo, realçado pela incrível maquiagem de Savini. Não existi uma história de grande importância para acompanharmos, somente temos certeza que os jovens vão morrer. Assim dito, logo é a vez de Brenda, que após jogar Monopoly com Alice e Bill, se retira até sua cabana para dormir. Enquanto lê seu livro noturno, ouve uma criança pedindo socorro no meio da tempestade (na realidade é a Sra. Voorhees, muito convincente por sinal), Brenda sai pela noite procurando a origem dos gritos, e é recebida com flechadas pelo corpo.

No local sobram somente Alice e Bill (Steve Christy estava em um restaurante de estrada, e por causa da chuva esta voltando), e os dois desconfiam que alguma coisa errada aconteceu, porque viram os holofotes do campo ligados e Alice podia jurar que ouviu o grito de Brenda. Os dois decidem procurar os monitores, mas ao chegarem no chalé de Brenda, encontram um enorme machado em uma das camas. Alice já desconfia que não seja uma brincadeira, que há algo errado.

Alice em sua melhor fase.

Logo Steve Christy, o pacato homem que reabriu a colônia, chega ao local correndo pela noite chuvosa; seu jipe quebrou e ele recebeu uma carona da polícia até os arredores do acampamento. Perto da placa com o nome do local, uma luz forte ilumina seu rosto, ele se aproxima pensando ter visto algum dos monitores e morre ali mesmo (mesmo o roteiro fazendo você pensar que ele era o assassino, a hipótese é destruída com essa cena marcante).

Não demora muito para sobrar somente Alice, entrando em desespero ao encontrar o corpo de Bill. Quando Pamela Voorhees aparece, já pelo final da película, a tensão corre solta. Betsy Palmer rouba a cena como uma assassina que busca vingança; o garoto que se afogou em 1957 era seu filho, Jason Voorhees, nascido dia 13 de junho. Desde então, ela culpa os monitores do local pela irresponsabilidade na hora de vigiar o garoto, matando um por um.

O que uma mãe não faz por um filho?

Primeiro ela se passa por uma antiga amiga de Steve Christy, e ao receber a confiança de Alice, acaba contando a história do afogamento de seu filho e se revela a assassina em série (uma das melhores do gênero). As cenas de confronto com Alice são extravagantes ao extremo, com tapas na cara de verdade, puxões de cabelos e mordidas. Pamela se mantem no único objetivo de vingar seu filho, soltando as clássicas “kill her mommy”, imitando a voz do garoto. Realmente, é de arrepiar, sem contar que essas frases ficaram marcadas no gênero.

Quando a “perseguição” chega até a beira do lago, elas se atracam corpo a corpo na areia, com a lua cheia brilhando majestosamente. A trilha sonora aumenta, no momento que Alice consegue se livrar e pegar o facão, em uma marcante sequência em slow motion; Alice corta a cabeça da Sra. Voorhees, com a maior frieza que sua vida pode valer.

Após o acontecido, ouvimos uma das primeiras músicas calmas da franquia (uma melodia tranquila e acolhedora), e vemos Alice pegando um bote e tomando o rumo do lago, acordando na manhã seguinte e sendo resgatada pela policia. Perfeito como esse final transparece tranquilidade e esperança, com um lago maravilhosamente brilhante, os policiais chegando... Tudo resolvido... Só não contavam que Jason pularia para pegar a garota.

O começo de uma longa lenda.

Alice acorda no hospital, em choque, e logo pergunta para o policial o que aconteceu com o garoto que a puxou para dentro do lago, e claro, eles falam que não encontraram nenhum garoto! “Então ele ainda esta lá...”, ela diz com seus olhos azuis faiscando na tonalidade branca, e vemos o lago mais uma vez, tranquilo, banhado novamente por aquela maravilhosa música acolhedora... Não sabemos se foi uma alucinação... Mas sabemos que essa sutileza não é comum.

Tenho muitas coisas para falar sobre Sexta-Feira 13 (1980), mas a trajetória ainda será longa por aqui. No ano seguinte a franquia voltaria com tudo (clique aqui para ler a próxima crítica), começando uma jornada que duraria por anos, até mesmo décadas. No entanto, nunca esqueceremos o COMEÇO DE TUDO, onde cada pequeno detalhe fazia a diferença, e conquistávamos um forte apego amargo por cada segundo. Sexta-Feira 13 é uma lenda não somente no gênero do horror, mas na sétima arte toda. Não tem como sair indiferente.

"ELES FORAM AVISADOS... ESTAVAM PERDIDOS... NADA OS SALVARIA NAQUELA SEXTA-FEIRA 13"
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TRAILER DE 1980:

CURIOSIDADES:
1) O nome original de Jason era Josh, segundo Victor Miller.

2) Foi o maquiador Tom Savini que disparou a flecha que quase acertou Brenda em uma das cenas no acampamento.

3) Durante as gravações, a maioria do elenco ficou hospedada em hotéis, mas alguns membros (incluindo Tom Savini e Tason Stavrakes) ficaram literalmente no acampamento noturno. O único entretenimento que tinham era um Betamax VCR (concorrente do VHS) e uma pilha de fitas, incluindo Maratona da Morte (1976) e Barbarella (1968), então cada noite eles assistiam um filme diferente.

4) A cena com a cobra não estava no roteiro, foi ideia de Tom Savini após ter uma experiência parecida na sua cabana. A cobra vista no filme é real, incluindo a cena de sua morte.

5) Victor Miller assume que sua maior inspiração foi Halloween, lançado em 1978 por John Carpenter.

6) Todos os cenários existem na vida real. O único set construído durante as filmagens foi um banheiro.

7) No começo do filme, quando Jack, Marcie e Ned estão indo para o acampamento, é possível ver uma cópia do livro Poderoso Chefão no painel da caminhonete.

8) O título original era "Long Night at Camp Blood"

9) Filmado em 28 dias.

CONTAGEM DE CORPOS (10):
Assassina Pamela Voorhees:
Barry: facada no estômago.
Claudette: morte offscreen (mas os bastidores mostra que foi degolada).
Annie: garganta rasgada por faca de caça.
Ned: degolado offscreen.
Jack: flecha atravessada no pescoço por debaixo da cama.
Marcie: machadada no rosto.
Brenda: morte offscreen (aparenta ter sido acertada por flechadas).
Steve Christy: estômago furado com faca de caça.
Bill: garganta cortada e corpo preso na porta por flechadas.
Assassina Alice:
Pamela Voorhees: decapitada por machete.

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