AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
________________________________________________
Já começo nossa conversa avisando: esse é um dos meus filmes
preferidos, e também um dos que mais assisti em minha vida. O curioso, é que
fui apresentado ao gênero desde criancinha pela minha mãe, só que esse foi um
dos últimos filmes da franquia que assisti (mas ainda bem cedo, papo de 6/7 anos); não tinha nem ideia que era a mãe de Jason Voorhees a antagonista da película, mas quando
conheci a obra, assistia quase todos os dias, até hoje. (Queria colocar o
pôster original do VHS acima, mas não encontrei em nenhum lugar e quase tirei
uma foto da minha própria fita). Não há como negar, é impressionante como o longa é importante,
sem falar o ícone na cultura pop atual; também não há como negar, que Halloween -
A Noite do Terror (1978), serviu de inspiração desde a
visão “primeira-pessoa”, da perspectiva do assassino, até de forma bruta no
esqueleto do filme. Mas deixando bem claro que as franquias são totalmente
diferentes e de propósitos distintos.
Criado por Sean
S. Cunningham (já tendo
produzido Aniversário Macabro em 1972) a série Sexta-Feira 13 é preenchida com 10 filmes, um fraco
remake e um confronto com Freddy
Krueger. Como todos devem saber, a exaustão e falta de criatividade
estariam presentes num futuro incerto, mas nessa época, em 1980, Sexta-Feira 13 estava começando uma jornada repleta
com terror de qualidade, várias mortes criativas, sequências marcantes e muitos
clichês. Esse provavelmente é um dos melhores filmes de todos lançados,
insuperável e clássico; tem vezes que assisto Jason
Vai Para o Inferno (1993) e
vejo quanto o tempo fez mal na cabeça dos produtores... Não parece que é um
filme da mesma franquia, impossível de se entender, muito triste.
Um grito de abertura... Inesquecível.
Começamos na colônia de férias Crystal Lake, no ano de 1958. É
uma noite de lua cheia e há vários monitores (com uniforme amarelo e shorts
azul) reunidos em volta da fogueira interna com um violão, cantando algumas
canções típicas. Logo, pra variar, um casal se separa do grupo (adivinha pra
que?)... Pois bem, eles dão uns beijinhos e depois partem para o segundo andar
do grande celeiro. Nesse momento, já começamos ter a visão em “primeira-pessoa”
do assassino (levemente parecido com Michael
Myers em sua primeira
abertura), e sabemos quem vão ser as primeiras vitimas da franquia. O clima
aqui é muito bom, com os primeiros traços de uma trilha sonora marcante; logo
os jovens percebem estarem sendo observados, e ficam assustados. A tal pessoa
misteriosa se aproxima sem maiores avisos, esfaqueando o monitor na barriga
(agora a trilha sonora já está estalando em nossos ouvidos), e rumando para a
jovem monitora, numa sequência dramática. Com um grito e um close congelado,
somos presenteados com o titulo “Friday
the 13th” quebrando o vidro
da televisão.
Terror de primeira qualidade.
Depois de muitos anos, “The
Present” como diz no filme,
conhecemos a jovem Annie (talvez outra inspiração de Halloween), uma garota
despreocupada e avoada. É sexta-feira 13 de manhã e ela esta indo para a
colônia Crystal Lake para ser cozinheira na reabertura do local (que ficou
fechado durante vários anos pelos assassinatos, um garoto afogado e outros
problemas), mas não sabe a localização exata, por isso passa em um pequeno
restaurante para pedir informações. Já reparamos como será o cenário do longa:
cheio de paisagens bonitas do interior americano (não me refiro ao deserto),
sempre com árvores cheias e verdes; cada mínimo detalhe tem um valor incrível
pra mim, desde bem pequeno.
Todos no restaurante estranham ela estar indo para a “colônia maldita” nessa
data de azar, mas ela recebe carona de um caminhoneiro, o “típico americano”.
Logo quando vão entrar no caminhão, “Crazy” Ralph aparece (provavelmente um dos
personagens mais intrigantes da franquia), somente para avisar a moça que o
acampamento é maldito, e que tem uma maldição de MORTE. Ralph é um velho que
sempre esta com a mesma roupa, e anda com sua bicicleta pela região avisando
que a colônia é maldita (inclusive todos na área acham o mesmo); o interessante
é ver que mesmo Ralph alertando os jovens sobre os possíveis perigos do local,
ele sempre esta por lá, vagando com sua bicicleta velha pelos campos.
Dando uma canora pra garota (e uma pegada na bunda rsrs).
Conhecemos então os jovens que estão chegando ao acampamento com
uma picape vermelha: Ned, o brincalhão da turma, sempre fazendo suas piadas de
araque e comentários sarcásticos. Brenda, uma jovem que basicamente não presta
pra nada. E também o casal cheio de romantismo, o bonitão Jack (primeiro papel
de Kevin Bacon) e sua
namorada Marcie (Jeannine Taylor, no papel de sua vida). Quando chegam
ao local, na manhã ensolarada, conhecemos também Steve Christy, o homem que
esta reabrindo a colônia depois de tantos anos fechada; ainda sobra espaço para
Bill (Harry Crosby) um rapaz determinado que trabalha pintando o local
durante a reforma.
Não podemos esquecer também da inesquecível Alice (Adrienne
King, a heroína do filme), uma contida desenhista que junta dos outros,
formam os monitores na reabertura de Crystal Lake. No inicio, pode parecer um
grande elenco para desenrolar a história, só que todos têm sua parte e
presenças marcantes, sendo difícil se esquecer de algum.
Da esquerda para direita: Marcie, Jack, Ned, Alice, Brenda e Bill.
Logo voltamos a acompanhar Annie, que agora recebe outra carona
(em um jipe verde idêntico ao de Steve Christy). Acho incrível como Cunningham nunca mostra quem esta dirigindo o
jipe, somente a passageira despreocupada. Não demora muito para passarem pela
colônia, e o tal motorista só acelera... Annie, desesperada, se joga do carro
em movimento e foge pela mata, sendo perseguida até ter seu fim trágico. Repare
que o roteiro se esforça para pensarmos que Steve Christy é o assassino, porque
quando a garganta de Annie é cortada, vemos uma blusa xadrez igual a que ele
estava usando. Sem deixa de mencionar a excelente maquiagem do mestre Tom Savini.
Annie com a garganta cortada.
O filme não tem segredo: logo o tal assassino chega em Crystal
Lake, observando os jovens se refrescando no lindo lago, debaixo de uma tarde
ensolarada. Destaque para a cena que Ned finge estar se afogando, somente para
Brenda fazer uma respiração boca a boca nele (rsrs). Ainda rola uma cobra na
cabana de Alice, com os jovens inúteis quebrando o LOCAL TODO para matar o animal;
realmente inúteis... Somente Bill que aparenta ser um bom caçador. No
entanto, os jovens desse primeiro filme, não são TÃO BURROS quanto os que
viriam nos próximos, que só pensam em sexo e bagunça. Aqui, ainda existe certa
seriedade em suas atitudes, mesmo com as brincadeiras.
Um policial metido da uma passada pelo local, avisando os jovens
que com a reabertura da colônia, não vão tolerar bagunça no local. É claro, os
jovens tiram onda disfarçadamente, pouco se preocupando com os tais “perigos”.
Crazy Ralph (o velho com sua bicicleta) também passa pelo acampamento para
alertar os jovens, deixando Alice assustada. Esses dias fiz uma maratona da
franquia com um amigo (12 horas de VHS bruto) e conseguimos criar uma teoria
completa sobre o tal Ralph, mas isso é história para outra crítica.
O intrigante Ralph... "I'm a messenger of God".
Como Annie não apareceu (ela era a cozinheira do local), eles
começam a se virar antes que a noite caia, porque a previsão é de chuva forte.
Agora conseguimos ver um pouco de Kevin
Bacon no papel de Jack,
conversando com a namorada Marcie na beira do lago, antes da tempestade
começar. Inclusive, Marcie fala sobre um curioso sonho que teve, misturando
chuva e sangue...
O próximo a morrer é o brincalhão Ned, que caminha diante de uma
construção abandonada e vê um vulto passando; como monitor da colônia, vai
verificar e o telespectador já imagina seu destino. Não é segredo pra ninguém:
um por um os jovens vão sendo mortos das mais variadas maneiras, sem nunca
revelar quem é o autor de tamanha brutalidade. Depois de transarem em uma das
cabanas, já com a forte chuva na noite escura, Marcie vai até o banheiro (em
outro chalé) deixando Jack sozinho para morrer. Uma das melhores mortes, com
ele fumando um baseado deitado na cama, segundos antes da lança surgir em seu
pescoço, saindo por debaixo da cama. Acho interessante o jeito que Pamela Voorhees ficou escondida embaixo da cama
enquanto o casal transava, sem nem desconfiarem também, que o corpo de Ned
estava no alto do velho beliche.
Pós-sexo, uma rapidinha sangrenta.
Marcie também não dura muito, ouvindo alguns barulhos no
banheiro e tomando uma machadada no rosto ao ir verificar; um grau de
brutalidade absurdo, realçado pela incrível maquiagem de Savini. Não existi uma história
de grande importância para acompanharmos, somente temos certeza que os jovens
vão morrer. Assim dito, logo é a vez de Brenda, que após jogar Monopoly com Alice e Bill, se retira até sua
cabana para dormir. Enquanto lê seu livro noturno, ouve uma criança pedindo
socorro no meio da tempestade (na realidade é a Sra. Voorhees, muito
convincente por sinal), Brenda sai pela noite procurando a origem dos gritos, e
é recebida com flechadas pelo corpo.
No local sobram somente Alice e Bill (Steve Christy estava em um
restaurante de estrada, e por causa da chuva esta voltando), e os dois
desconfiam que alguma coisa errada aconteceu, porque viram os holofotes do
campo ligados e Alice podia jurar que ouviu o grito de Brenda. Os dois decidem
procurar os monitores, mas ao chegarem no chalé de Brenda, encontram um enorme
machado em uma das camas. Alice já desconfia que não seja uma brincadeira, que
há algo errado.
Alice em sua melhor fase.
Logo Steve Christy, o pacato homem que reabriu a colônia, chega
ao local correndo pela noite chuvosa; seu jipe quebrou e ele recebeu uma carona
da polícia até os arredores do acampamento. Perto da placa com o nome do local,
uma luz forte ilumina seu rosto, ele se aproxima pensando ter visto algum dos monitores
e morre ali mesmo (mesmo o roteiro fazendo você pensar que ele era o assassino,
a hipótese é destruída com essa cena marcante).
Não demora muito para sobrar somente Alice, entrando em
desespero ao encontrar o corpo de Bill. Quando Pamela Voorhees aparece, já pelo
final da película, a tensão corre solta. Betsy
Palmer rouba a cena como uma
assassina que busca vingança; o garoto que se afogou em 1957 era seu filho,
Jason Voorhees, nascido dia 13 de junho. Desde então, ela culpa os monitores do
local pela irresponsabilidade na hora de vigiar o garoto, matando um por um.
O que uma mãe não faz por um filho?
Primeiro ela se passa por uma antiga amiga de Steve Christy, e
ao receber a confiança de Alice, acaba contando a história do afogamento de seu
filho e se revela a assassina em série (uma das melhores do gênero). As cenas
de confronto com Alice são extravagantes ao extremo, com tapas na cara de
verdade, puxões de cabelos e mordidas. Pamela se mantem no único objetivo de
vingar seu filho, soltando as clássicas “kill
her mommy”, imitando a voz do garoto. Realmente, é de arrepiar, sem contar que essas frases ficaram marcadas no gênero.
Quando a “perseguição” chega até a beira do lago, elas se
atracam corpo a corpo na areia, com a lua cheia brilhando majestosamente. A
trilha sonora aumenta, no momento que Alice consegue se livrar e pegar o facão,
em uma marcante sequência em slow
motion; Alice corta a cabeça da Sra. Voorhees, com a maior frieza que sua
vida pode valer.
Após o acontecido, ouvimos uma das primeiras músicas calmas da
franquia (uma melodia tranquila e acolhedora), e vemos Alice pegando um bote e
tomando o rumo do lago, acordando na manhã seguinte e sendo resgatada pela
policia. Perfeito como esse final transparece tranquilidade e esperança, com um
lago maravilhosamente brilhante, os policiais chegando... Tudo resolvido... Só
não contavam que Jason pularia para pegar a garota.
O começo de uma longa lenda.
Alice acorda no hospital, em choque, e logo pergunta para o
policial o que aconteceu com o garoto que a puxou para dentro do lago, e claro,
eles falam que não encontraram nenhum garoto! “Então
ele ainda esta lá...”, ela diz com seus olhos azuis faiscando na
tonalidade branca, e vemos o lago mais uma vez, tranquilo, banhado novamente
por aquela maravilhosa música acolhedora... Não sabemos se foi uma
alucinação... Mas sabemos que essa sutileza não é comum.
Tenho muitas coisas para falar sobre Sexta-Feira 13 (1980), mas a
trajetória ainda será longa por aqui. No ano seguinte a franquia voltaria com
tudo (clique aqui
para ler a próxima crítica), começando uma jornada que duraria por
anos, até mesmo décadas. No entanto, nunca esqueceremos o COMEÇO DE TUDO, onde
cada pequeno detalhe fazia a diferença, e conquistávamos um forte apego amargo por cada
segundo. Sexta-Feira 13 é uma lenda não somente no gênero do
horror, mas na sétima arte toda. Não tem como sair indiferente.
"ELES FORAM AVISADOS... ESTAVAM PERDIDOS... NADA OS SALVARIA NAQUELA SEXTA-FEIRA 13"
____________________________________
TRAILER DE 1980:
CURIOSIDADES:
1) O nome original de Jason
era Josh, segundo Victor Miller.
2) Foi o maquiador Tom Savini que disparou a flecha que
quase acertou Brenda em uma das cenas no acampamento.
3) Durante as gravações, a maioria do elenco ficou
hospedada em hotéis, mas alguns membros (incluindo Tom Savini e Tason
Stavrakes) ficaram literalmente no acampamento noturno. O único entretenimento
que tinham era um Betamax VCR (concorrente do VHS) e uma pilha de fitas,
incluindo Maratona da Morte (1976) e Barbarella (1968), então cada noite eles
assistiam um filme diferente.
4) A cena com a cobra não estava no roteiro, foi ideia
de Tom Savini após ter uma experiência parecida na sua cabana. A cobra vista no
filme é real, incluindo a cena de sua morte.
5) Victor Miller assume que sua maior inspiração foi
Halloween, lançado em 1978 por John Carpenter.
6) Todos os cenários existem na vida real. O único set
construído durante as filmagens foi um banheiro.
7) No começo do filme, quando Jack, Marcie e Ned estão
indo para o acampamento, é possível ver uma cópia do livro Poderoso Chefão no
painel da caminhonete.
8) O título original era "Long Night at Camp Blood"
9) Filmado em 28 dias.
CONTAGEM DE CORPOS (10):
Assassina Pamela Voorhees:
Barry: facada no estômago.
Claudette: morte offscreen (mas os bastidores mostra que foi
degolada).
Annie: garganta rasgada por faca de caça.
Ned: degolado offscreen.
Jack: flecha atravessada no pescoço por debaixo da cama.
Marcie: machadada no rosto.
Brenda: morte offscreen (aparenta ter sido acertada por
flechadas).
Steve Christy: estômago furado com faca de caça.
Bill: garganta cortada e corpo preso na porta por
flechadas.
Assassina Alice:
Pamela Voorhees: decapitada por machete.