AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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Brinquedo
Assassino (1988) é
um dos melhores exemplos da bela sincronia do terror e temáticas que remetem à
nossa infância, no caso os brinquedos (em teoria são assuntos bem distintos,
mas se unidos, se tornam assustadoras e muito bem planejados). Todo mundo já
teve brinquedos, e medo também, então não tem como dar errado. O filme pode
contar com uma “fantasia” inexistente e com vários clichês, mas não deixa de
ser uma excelente nostalgia. Quem teve a oportunidade de se assustar com
Brinquedo Assassino durante a infância, jamais esquecera do poder desse filme
sinistro. Dirigido por Tom Holland (que também lançou A Hora do Espanto) e com
roteiro escrito por Don Mancini (roteirista da franquia toda), a
película é magistralmente repleta com humor negro e uma estética noturna
memorável, mostrando a cidade de Chicago preenchida com becos escuros e
esfumaçados; parecida com a NY de Jason Ataca em Nova York (1989).
Uma pegada realista corta a tal “fantasia” que o filme exige do público, e com
certeza esse é o capítulo mais “dark” da franquia. Ótima escolha para se
assistir a noite, antes de dormir, principalmente pelo alto suspense que se
desenvolve com tranquilidade; aliás, os três primeiros filmes da franquia podem
ser assistidos em uma ocasião dessas, ainda mais acompanhado de um bom conhaque
ou um vinho vagabundo.
Sem mencionar que Chucky é um dos
assassinos mais reconhecidos dos slashers, ao lado de Jason Voorhees,
Michael Myers, Freddy Krueger e Leatherface. Infelizmente, muitas pessoas
conhecem o personagem pelos péssimos A Noiva de Chucky (1998) e O Filho de
Chucky (2004), e não se lembram do charme e seriedade que rolavam na trilogia
Brinquedo Assassino, um marco dos anos 80 e 90. Sempre fico na dúvida de qual o meu preferido, pois todos tem suas características diferentes, o primeiro é com certeza o mais clássico, o segundo é mais descontraído, já o terceiro é o mais frenético e com uma conclusão brutal. Que trilogia linda!
A prateleira repleta com bonecos Good Guy.
O filme começa com uma perseguição
pelas ruas sujas na noite esfumaçada. Charles Lee Ray (Brad Douri de Um Estranho no Ninho, 1975) também
conhecido como “o estrangulador de Lakeshore” está fugindo com seu comparsa
Eddie Caputo, e são perseguido de perto pela polícia. Acontece que Eddie
abandona Charles por ele ter tomado um tiro na perna e estar mancando. Com o
detetive Mike Norris (Chris Sarandon) em sua cola, Charles invade uma loja de
brinquedos para realizar às pressas uma antiga magia negra, e transferir sua
alma para alguma coisa antes que morra de uma vez. A única alternativa que passa na cabeça do maníaco é algum brinquedo.
Essa é a “fantasia” que o filme exige
da audiência, se você aceitá-la, então vai adorar a produção sem maiores
problemas. A cena é bem macabra, com Charles perdendo muito sangue pela estranha loja de
brinquedos, e encontrando vários bonecos da linha Good Guy (grandes, ruivos e
que falam algumas frases). Sem alternativa, ele solta a magia de Damballa em um
dos bonecos, fazendo a loja ser atingida e destruída por um forte raio
(inclusive, sempre que vemos o feitiço sendo executado na franquia, o céu fica completamente tomado por nuvens, mesmo durante a noite).
Charles Lee Ray transferindo sua alma.
Somos então apresentados ao garotinho
de seis anos Andy Barclay (Alex Vincent, fazendo o papel de sua vida), um menino
carinhoso que é APAIXONADO pelo personagem Good Guy, tanto que não perde um
desenho na televisão, anda pelo apartamento vestido com o macacão do personagem, dentre outras coisas. Andy
está fazendo aniversário naquele dia, e vê uma chamativa propaganda do novo boneco
Good Guy na televisão, tendo certeza que sua mãe, Karen Barclay (Catherine Hicks), vai
presenteá-lo com ele. Andy faz até questão de preparar o café da manhã para ela
(fodendo tudo, é claro), visando ser presenteado com o tão amado boneco.
Acontece que ela não possui dinheiro
suficiente para comprar o brinquedo, e da algumas roupas novas para Andy, deixando o
garoto chateado (porra, que criança não iria ficar?), mas é naquela noite,
no trabalho, que Karen e sua amiga Maggie Peterson (Dinah Manoff) encontram um mendigo vendendo
um Good Guy baratinho, na saída do prédio. Na verdade, esse mendigo aproveitou a explosão da loja
para roubar algumas mercadorias, incluindo o boneco amaldiçoado com a alma do
estrangulador. Acho muito interessante como todo Good Guy fala uma frase com “nome
próprio”, por exemplo: “Olá, eu sou Oscar, seu amigo para sempre!”, já Charles
Lee Ray encarnado no plástico, usa seu antigo apelido, se denominando “Chucky”.
Lembrando que os Good Guy’s possuem vozes finas e alegres, provavelmente para entreter as
crianças mais novas.
Karen e Maggie comprando o Good Guy maldito.
Karen então dá o presente para seu
filho, realizando seu desejo. Naquela noite, ela precisará ficar no trabalho
até mais tarde, mesmo com o aniversário do filho, então deixa sua amiga Maggie cuidando do garoto. A primeira morte nas mãos do boneco é bem traumática,
Andy afirma para Maggie que Chucky quer assistir o Jornal das 21h na
televisão (possivelmente para ver o paradeiro de seu parceiro Eddie Caputo e se
vingar). É claro, a mulher acha que Andy está inventando tudo, até mesmo quando ouve
a televisão ligando e encontra o boneco sentado diante dela. Mesmo o garoto escovando os dentes no momento, ela ainda acha que foi ele quem armou a situação.
Certa ela, quem iria imaginar que o boneco estava vivo e matando?
Logo ela toma uma martelada na cabeça
e cai da janela do prédio, sendo esmagada em um carro (!!!), só que a direção de Holland nunca nos mostra o
boneco em ação, somente algum movimento brusco e cortado, mantendo o suspense
até a metade do filme, quando finalmente vamos ver ele causando. O boneco
aparentemente age com uma grande força, e consegue se comunicar somente com o
garoto (nunca mostrado em cenas), aproveitando sua inocência para ter a liberdade
de abrir seu pessoal e sua verdadeira identidade.
Andy Barclay e Chucky (boneco feio da porra).
Quando Karen Barclay volta do
trabalho, encontra o seu apartamento repleto de policias folgados. O detetive
Norris (o mesmo que perseguiu Lee Ray na abertura) também esta no local, investigando a causa do “acidente”. Aparentemente, quem cometeu o crime com o
martelo havia subido em cima da mesa, derrubado farinha e deixado pegadas; como
Andy usa sapatos idênticos ao do boneco, o detetive desconfia. Karen por outro
lado, fica perplexa com a morte da amiga e expulsa todos os policiais do
apartamento. Rola uma cena em que Andy repara nos sapatos do boneco sujos com farinha, e avisa o detetive, sem acreditarem em nenhuma palavra, é claro.
Ela começa a ficar realmente
preocupada, quando o garoto afirma que o boneco esta vivo e que xingou Maggie
de “bitch”. Karen fica indignada, tendo total certeza que o filho esta
inventando tudo. Muito bem feito o suspense da película, envolvendo o garoto e
seu boneco em tragédias, todas sem explicações; Chucky se mantem contido como
nunca, bem diferente do que veremos nas próximas continuações da franquia.
O galã do filme, detetive Mike Norris.
Quando a velha casa de Eddie Caputo
explode com ele dentro, a polícia recolhe o garoto Andy, e avisam Karen, que se
o menino não começar a dizer a verdade, iram tirá-lo de sua guarda temporariamente.
Desesperada, ela implora para o menino parar com as conversas de Chucky, e
contar a verdade. O filme já é “velho” e o assunto já é
clichê, mas porra, eu acho de uma criatividade absurda... A confusão só vai
aumentando, e como todos podem imaginar, nem um ser humano acreditaria que um
boneco estava assassinando, ainda mais sendo afirmado por um garoto de seis
anos.
Andy é então retirado de sua mãe, e
ela não sabe o que fazer. Sozinha em casa com o boneco, ela pega a enorme caixa
Good Guy para jogar fora, quando de repente, as pilhas caem no chão; ela então
percebe que o brinquedo estava funcionando sem baterias por todo esse tempo.
Quando ameaça jogá-lo na lareira, vemos pela primeira vez nosso querido Chucky “acordado”,
e muito nervoso. A concepção de Chucky é algo que nunca vai envelhecer,
diferente do CGI dos filmes atuais, porque de fato o boneco era de verdade e
controlado por controle remoto, não tendo como soar falso. Um trabalho memorável,
realçado pela excelente dublagem de Brad Dourif; sinceramente, assistir essa
obra dublada é um desperdício, perdendo muito o poder que nos passa, portanto,
sempre assista com o áudio original!
Uma amizade de amor e ódio.
O boneco consegue fugir do
apartamento e escapar pela rua. Karen, sem opção, procura novamente o detetive
Norris, e garante que o boneco vive. Como ele não acredita, a mãe do garoto parte pelos
becos noturnos da cidade, fazendo de tudo para encontrar o mendigo que a vendeu
o brinquedo. Quando o encontra, é quase estuprada ao tentar pedir a informação,
salva de última hora pelo detetive, que começa a se preocupar com a história e perceber a loucura de Karen. Quando o mendigo solta que achou o boneco numa loja
incendiada, Norris se lembra do local que Charles Lee Ray “morreu”, mas ainda
não consegue digerir essa história sem sentido, mesmo tendo as peças do
quebra-cabeça na sua frente.
Naquela noite, após deixar Karen em
seu apartamento, ele passa na delegacia para conseguir a ficha de Lee Ray, e
Chucky esta esperando escondido no carro. A produção do filme prova sua seriedade,
com uma bela sequência pelas ruas escuras de Chigago, Chucky tenta matar o
detetive, o enforcando por trás do banco, tentando esfaqueá-lo, até o carro
capotar. Norris consegue queimar o boneco na bochecha com o isqueiro do automóvel
(deixando a clássica marca no rosto), e acertar um tiro em seu ombro, quase
fodendo nosso pequeno.
"Good night, asshole!"
O brinquedo visita seu antigo
instrutor voodoo John Bishop, que entra em choque ao ver Charles como boneco e
descobrir que ele somente aprendeu seus conhecimentos para poder burlar a
morte. Chucky quer saber o porque o machucado em seu ombro sangrou e provocou
dor, sendo que ele é de plástico e estofado. John revela uma das informações
mais importantes da franquia: quanto mais tempo ele passar dentro do boneco,
mais “humano” ele fica; por isso, precisa achar outro corpo logo. Chucky o
tortura com um boneco voodoo, quebrando sua perna e seu braço. Incapaz de sentir
mais dor, John revela que ele precisa transferir sua alma para a primeira pessoa
que revelou ser boneco; percebendo que é Andy, Chucky assassina o mentor sem
piedade.
Agora acreditando em Karen, o
detetive Norris descobre sobre o acontecido pela polícia, e juntos partem até
John. Chegam em tempo de o ver morrendo pelos ferimentos no corpo, e recomenda que atirem no CORAÇÃO quando encontrarem o boneco. Chucky logo
invade o prédio que a polícia mantem Andy e assassino o Dr. Ardmore, com um
capacete de eletrochoque. Andy foge até seu apartamento com o boneco na cola
(esse talvez seja um dos únicos problemas do roteiro; a liberdade de Andy com
apenas seis anos, andando pela cidade sem ser notado).
Acerte o coração, meninão!
Ao chegarem no apartamento, Karen e
Norris encontram o boneco realizando novamente o feitiço de Damballa, só que
agora no garoto. Conseguem impedir, mas Norris toma uma facada na perna. A típica
perseguição final é muito boa, com eles tentando destruir o maldito brinquedo;
batem e espancam, tacam fogo, cortam os braços e pernas (!!!), decapitam a cabeça... Mas o
desgraçado nunca para de se mexer, se tornando muito difícil eliminá-lo (ele
todo queimado é realmente macabro). Mérito para a equipe de efeitos especiais e
maquiagem, que fazem um trabalho de mestre aqui, literalmente dando vida para a
massa desforme de plástico queimado.
Por fim, Norris consegue acertar um tiro perfeito no coração da criatura, matando o boneco de uma vez por todas (será? rsrs). Chucky solta com sua voz de Good Guy: “Hi, i’m Chucky, wanna play?”, se desligando logo em seguida. Um momento clássico na história do terror oitentista, marcado pelo olhar avoado e preocupado do garotinho Andy Barclay, e seu brinquedo assassino. Eles sabem, que mesmo a história sendo real, ninguém nunca vai acreditar.
Queimado vivo.
Quando ouvimos a trilha sonora final,
temos certeza que Brinquedo Assassino (1988) foi feito para ser lembrado.
Chucky resume uma estranha personificação do mal, acolhido pelas influencias de
um garotinho. Aqui não temos o personagem todo rasgado e machucado, somente um
boneco “bonitinho e carinhoso” pronto para matar quem entrar em seu caminho.
Nessa maravilhosa época, o filme ainda se sustentava como um terror de qualidade
dramática, carregando uma atmosfera cheia de humor negro e cenas memoráveis...
Viva o terror dos anos 80! Provavelmente o melhor de todos!
"VOCÊ VAI REZAR PARA QUE TUDO NÃO PASSE DE UMA BRINCADEIRA".
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TRAILER DE 1988:
CURIOSIDADES:
1) O nome completo de Chucky, Charles Lee Ray, é derivado dos assassinos Charles Manson, Lee Harvey Oswald (assassino de John F. Kennedy) e James Earl Ray (assassino de Martin Luther King).
2) Na cena que Chucky passa correndo pelo corredor atrás de Maggie, na verdade Chucky estava sendo interpretado pela irmã mais nova de Alex Vincent.
3) Em uma entrevista, Don Mancini afirmou que o primeiro roteiro era uma sátira sobre marketing de brinquedos e merchandising para crianças, antes que a ideia se transformasse em um filme de terror.
4) Na primeira versão do roteiro, Maggie morria eletrocutada enquanto tomava banho na banheira. A ideia foi posteriormente usada em A Noiva de Chucky (1998).
5) Existia uma abertura original que foi cortada para evitar a longa duração do filme, nela vemos o detetive Mike vestido com roupas femininas para se disfarçar e capturar Charles Lee Ray. No entanto, se você assistir a abertura oficial com atenção, podemos ver que Mike joga um vestido no chão quando persegue Ray pela avenida.
6) De acordo com uma entrevista de Brad Dourif, que fez a voz de Chucky em todos os filmes, sua filha, Fiona, que era um bebê na época, engatinhou até o sala de gravações durante uma sessão. Ele estava gravando gritos de agonia na cena em que Chucky pega fogo na lareira. Ninguém, nem mesmo ele, percebeu que sua filha estava no local com ele até ela ficar assustada com os gritos e começar a chorar.
7) Chucky perde sua mão em cada filme da trilogia original.
8) No roteiro original, foi inicialmente decidido que Charles Lee Ray seria pai de Andy Barclay.
9) Na cena intensa que Karen está sozinha na sala tentando fazer o boneco falar, é possível ver um quadro com a foto de um homem. Provavelmente é o pai falecido (e pouco conhecido) de Andy Barclay.
6) De acordo com uma entrevista de Brad Dourif, que fez a voz de Chucky em todos os filmes, sua filha, Fiona, que era um bebê na época, engatinhou até o sala de gravações durante uma sessão. Ele estava gravando gritos de agonia na cena em que Chucky pega fogo na lareira. Ninguém, nem mesmo ele, percebeu que sua filha estava no local com ele até ela ficar assustada com os gritos e começar a chorar.
7) Chucky perde sua mão em cada filme da trilogia original.
8) No roteiro original, foi inicialmente decidido que Charles Lee Ray seria pai de Andy Barclay.
9) Na cena intensa que Karen está sozinha na sala tentando fazer o boneco falar, é possível ver um quadro com a foto de um homem. Provavelmente é o pai falecido (e pouco conhecido) de Andy Barclay.
CONTAGEM DE CORPOS (4):
Assassino Charles Lee Ray (Chucky):
Maggie Peterson: martelada na cabeça, caindo do prédio.
Eddie Caputo: na explosão de sua residência.
John Bishop: facada no peito pelo boneco voodoo.
Dr. Ardmore: eletrocutado por capacete de choque.
Dr. Ardmore: eletrocutado por capacete de choque.