SINOPSE:Um extravagante grupo governamental investiga a presença de alienígenas no planeta Terra. Até aí tudo bem, não fosse os visitantes esquisitos (quando não estão disfarçados de humanos) e perigosos, usando o cérebro e carne humana como guloseimas. Não é para menos que a intenção dos seres de outra mundo é conseguir matéria-prima para uma rede de fast food intergalático.
IDIOMA: Inglês
LEGENDAS: Português TÍTULO ORIGINAL: Bad Taste
DURAÇÃO: 87 minutos
ORÇAMENTO: $30.000
BILHETERIA:$150.000
DIREÇÃO: Peter Jackson
LANÇAMENTO: 11 de dezembro de 1987
ELENCO: Peter Jackson, Terry Potter, Mike Minett, Pete O'Herne, Andrew Mckey, Bob Haliburton, Cameron Chittock, Carol Taylor
Boa sessão! Qualquer problema ou dúvida não hesite em comentar!
AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Podemos começar afirmando que A Noite
dos Mortos-Vivos (1968) envelheceu muito bem. Há quase 50 anos atrás, George A.
Romero basicamente criou o subgênero que são os filmes de zumbi, ainda
conseguindo abordar críticas pesadas contra a sociedade dos anos 60, uma
sensação grotesca da perda de estabilidade social e uma porrada de características
que se tornariam padrões de quase todos os filmes dessa temática. No título
original Night of the Living Dead, o filme é o progenitor das tramas de “apocalipse
zumbi”, subversivo em vários sentidos e influenciador do estereótipo moderno de
zumbis na cultura popular. O principal atrativo não são banhos de sangue nem
maquiagens mirabolantes, e sim a poderosa mensagem que vale até os dias atuais.
Nos anos 60, George Romero fundou a
empresa de produção Image Ten, ao lado de seus amigos John Russo e Russell
Streiner, após anos produzindo comerciais e pequenos filmes para a The Latent
Image, companhia que eles mesmos haviam apresentado ao mundo. Juntos, eles
levantaram aproximadamente US$140.000 de orçamento para produzir um filme de
terror. Naquela época, os maiores ícones do horror eram produções clássicas da
Universal, como Frankenstein, Drácula e Múmia; ainda não existiam filmes de
slasher nem possessões demoníacas, e Romero tinha o campo aberto para idealizar
um novo conceito nos filmes de horror. Deu muito certo, os filmes de zumbis são
feitos até hoje, sempre seguindo o mesmo padrão e alcançando um patamar absurdo
na cultura pop moderna. Foi um dos primeiros filmes a mostrar violência explicita
na tela, e o primeiro a ter um protagonista afro-americano. Um dos envolvidos
na fundação da Image Ten foi Karl Harman, que falou “Nós sabíamos que não conseguiríamos
levantar dinheiro suficiente para fazermos um filme em igualdade com os
clássicos de terror que havíamos crescido assistindo. O melhor que podíamos fazer
era colocar nosso elenco em um lugar remoto e então levar o terror para
visitá-los”.
Quando os roteiristas decidiram usar
zumbis, eles pensaram qual seria o fator mais chocante que poderiam cometer contra os humanos, e resolveram optar pelo canibalismo. Entretanto, a palavra “zumbi”
nunca é utilizada no filme. O termo mais comum usado para descrever os
mortos-vivos é “essas/aquelas coisas”, principalmente por Cooper. Do mesmo
jeito, o filme foi responsável por codificar padrões que são usados em quase
todas as produções desse gênero, incluindo zumbis que comem carne humana e só
podem ser mortos com disparos diretamente na cabeça. As gravações foram
conduzidas em preto e branco, deixando o filme com estética de documentário.
Esse é o primeiro capítulo da franquia que Romero iniciou, seguido por Despertar
dos Mortos (1978), Dia dos Mortos (1985), Terra dos Mortos (2005), Diário dos
Mortos (2007) e Ilha dos Mortos (2009), cada filme aborda uma etapa do
apocalipse, e suas consequências trágicas na humanidade, sempre focando
críticas sociais, consumismo desenfreado, elementos políticos e ultrajes
militares.
A abertura nos campos.
Na trama, um grupo de sete pessoas se
refugia em uma casa de campo afastada, após serem atacados por pessoas
aparentando estado de “transe”. O mundo ainda está se pronunciando sobre uma suposta
tragédia global, e acompanhamos as intrigas desesperada do grupo para tentar
sobreviver em uma região rural e desconhecida. Primeiro conhecemos Barbara
(Judith O’Dea), que é atacada com seu irmão Johnny (Russell Streiner) ao ir
visitar o túmulo da mãe no cemitério. A cena é antológica em todos os sentidos,
o primeiro zumbi é lendário; o casal de irmãos acredita estar vendo um mendigo
velho andando pelo cemitério, porém são atacados inesperadamente. Barbara
consegue fugir, e se refugia em uma fazenda próxima ao ser seguida pela criatura
sanguinária. Lá, com o passar do filme, vamos ser apresentados aos outros
personagens, Ben (Duane Jones) o protagonista negro com instinto de sobrevivência,
Harry (Karl Hardman), sua esposa Helen (Marilyn Eastman) e filha de 11 anos
Karen (Kyra Schon). Também temos o casal de jovens, Tom (Keith Wayne) e Judy
(Judith Ridley). Juntos, eles se encontram em uma situação desconhecida,
dependendo do instinto de sobrevivência para permanecerem vivos durante uma
noite infernal e angustiante.
"They're coming to get you barbara..."
Sem dúvidas, o personagem mais interessante
é Ben. O rapaz astuto não tem ideia do que está enfrentando, mas parece estar
sempre um passo a frente das criaturas horríveis. Em primeiro lugar, ele pensa
na segurança do grupo de estranhos, mas acaba se metendo em inúmeras discussões
e intrigas, principalmente com Harry, o resmungão que só pensa em si mesmo. A
filha de Harry e Helen, Karen, de apenas 11 anos, está doente por ter recebido
um machucado no braço, quando estava fugindo dos zumbis com seus pais. Não
preciso nem explicar o que acontece com a pequena garota em uma das cenas mais
clássicas do longa, a mitologia envolvendo os zumbis é basicamente criada
naquele momento. A premissa da “infecção e ressurreição” é um dos pontos mais
criativos que Romero introduziu, deixando uma possibilidade imensa para futuros
projetos.
Apesar de algumas atuações serem
fracas, o elenco se destaca por conseguir entregar o drama que o filme exige. Os
zumbis cercam a casinha durante a noite, e eles precisam arrumar um meio de
ficarem unidos. A direção de Romero é crua e frenética nos momentos de tensão,
com perspectiva acelerada e, por vezes, posicionada em algum ponto criativo
para a época.
Simplesmente lindo.
O filme é conduzido como um alerta,
com uma pegada de documentário histórico, principalmente nas cenas em que os
personagens descobrem o que está acontecendo no mundo, ao encontrarem uma
televisão na casa e assistirem o boletim de última hora. A humanidade se
demonstra completamente perplexa com o acontecido, os jornais contam casos de canibalismo,
epidemias descontroladas onde os mortos voltavam à vida para matar. Um
funcionário do necrotério é entrevistado falando que um cadáver com os quatro
membros decepados havia aberto os olhos e mexido o tronco. Mesmo com a histeria
mundial jamais mostrada no filme, os jornais da televisão tratam tudo de uma
forma profissional, como se estivessem encobrindo um grande evento da
humanidade. Era tudo novidade, eles não sabiam como reagir. Comparando com o
mundo mostrado em Dia dos Mortos (1985), percebemos que a sociedade não obteve
nenhuma chance de se manter estruturada em um mundo apocalíptico. O inicio
disso tudo é muito bem contato aqui, e sentimos o quanto ingênuos são os
humanos. A mídia não se refere a tudo
como “ataques zumbis”, mas como “epidemias de assassinatos”.
Ben, o protagonista durão.
A maioria dos efeitos e maquiagens foram
improvisados pela equipe. O sangue, por exemplo, era xarope de chocolate, já a
carne humana era presunto assado. O filme tem um clima sombrio e desolado que
assusta, o cenário rural afastado entrega a atmosfera necessária para sentirmos
o aperto emocional dos personagens, excluídos do mundo exterior e com poucos
recursos. Hoje em dia, essa situação pode parecer clichê e previsível, visto o
tanto de produções com esse tema que foram lançadas nos últimos 50 anos. Sem
contar que a geração acostumada com The Walking Dead e zumbis modernos podem
até considerar o filme tosco, levando que a maioria não pensa “fora da caixa”, e
desrespeita inutilmente o passado sangrento que Romero apresentou.
As cenas dos zumbis andando pelos
campos noturnos é um reflexo da alienação humana acidental. A causa do
apocalipse é total responsabilidade da NASA, que enviou uma sonda para Vênus.
Quando o objeto estava voltando, carregado de radiação, o governo resolveu destruí-lo
no espaço, e os pedaços acabaram caindo na nossa atmosfera, infestando o mundo
de radiatividade espacial. É uma situação delicada e culposa, que não conseguiu
se manter em sigilo, pois a mídia divulga todas as informações abertamente,
alertando a população para o pior. É como uma poesia sendo recitada nas sombras da morte.
O bagulho é doido!
O final é provavelmente um dos mais
pessimistas já vistos na Sétima Arte. Triste, inesperado e muito polêmico. Sinceramente,
as críticas que publicamos são conversas abertas, com spoilers e revelações,
mas me sinto culpado em revelar esse pequeno detalhe que muda completamente o
rumo do que foi assistido. Na época, o final foi pesado o suficiente para o
filme ser proibido e criticado em diversos lugares; não é um desfecho que
transparece esperança, e sim uma tragédia que levanta questões até hoje em dia.
O filme está disponível completo e legendado aqui no Portal Tartárico,
recomendo que confiram para tirar suas próprias conclusões (clique aqui para assistir). Acredite, são poucos os filmes que apresentam desfechos tão
chocantes e imprevisíveis como A Noite dos Mortos-Vivos. Normalmente os filmes
de zumbi tem quase sempre um desfecho semelhante (envolvendo a catástrofe
total), mas Romero foi além com sua obra prima, surpreendendo o telespectador.
Na realidade, não foi o primeiro
filme de zumbi, como apresentado em Zumbi Branco (1932) e Epidemia de Zumbis (1966).
Entretanto, Romero se destacou por apresentar o canibalismo como fator chave
das criaturas, já as primeiras produções mostravam zumbis sendo reanimados por magia
negra para servirem de escravos. É óbvio que a estrutura de Romero chocou o
público e fez mais sucesso, alavancando uma imensidade de produções ao longo
dos anos.
A tragédia na ponta de uma arma.
Em 1990, o mestre Tom Savini (um dos mais
talentosos maquiadores do terror) dirigiu uma refilmagem de A Noite dos
Mortos-Vivos, entregando um dos melhores remakes já feitos até então, mantendo
exatamente a mesma história e ainda adicionando maquiagens cabulosas que nunca
vão envelhecer. Também existe uma versão colorida do filme, pecando unicamente
em retirar a essência sombria que a película carregava. Foi o início de uma lenda
que dura até hoje, e continua sendo um dos filmes de zumbi mais interessantes
para ser assistido. Portanto, George A.Romero ensinou que precisamos abraçar o futuro e, sem dúvidas,
respeitar o passado.
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TRAILER DE 1968:
CURIOSIDADES:
1)Quando os zumbis estão comendo carne humana após a explosão do caminhão, eles na verdade estavam comendo presunto assado coberto com xarope de chocolate. Os cinegrafistas brincaram afirmando que os figurantes ficaram tão enojados, que a maquiagem de zumbi virou perca de tempo, levando em conta que eles terminaram a cena pálidos e enjoados naturalmente.
2) Em 1968, alguns críticos tentaram alertar para as pessoas ficarem longe do filme, afirmando que inspira o canibalismo.
3) Foi um dos últimos filmes da era Drive-In, aqueles cinemas ao céu aberto onde as pessoas estacionavam seus carros.
4) Nas primeiras versões do roteiro, Barbara era uma personagem forte, ágil e carismática. Entretanto, George Romero adorou Judith O'Dea como uma garota catatônica e aterrorizada, e mudaram o roteiro para se encaixar. Posteriormente, a ideia de Barbara ser forte e de grande presença foi usada em 1990, no remake dirigido por Tom Savini.
5) Embora a radiação de um satélite detonado seja teorizada para ser a causa do apocalipse, de acordo com os cineastas, a causa real nunca é determinada ou oficializada.
6) 200 figurantes foram conduzidos e preparados para ser as pessoas da cidade e os zumbis.
7) Foi um dos primeiros filmes escolhido para ser preservado pelo National Film Registry e Library of Congress.
8) De acordo com George Romero, nos comentários do Laserdisc e DVD, a impressão original e os materiais do filme já não existem mais. Segundo ele, todos foram destruídos em uma inundação que encheu o porão onde os materiais eram armazenados (que, por acaso, era o mesmo porão usado no filme). 9) A polícia de Pittsburgh (onde ocorreram as gravações) forneceu homens e equipamentos para a produção do filme.
CONTAGEM DE CORPOS (15):
Tom: morto acidentalmente na explosão do caminhão. Judy: morta acidentalmente na explosão do caminhão. Barbara: atacada por zumbis. Helen Cooper (transformada em zumbi): morta por Ben. Harry Cooper (transformado em zumbi): morto por Ben. Karen Cooper: transformada em zumbi após ser atacada no braço. OUTRAS MORTES: Três zumbis mortos por Ben, dois ao lado da casa e um dentro. Seis zumbis mortos pelos policiais da região.
SINOPSE: Os mortos andam pela terra e tem fome de carne humana. Um grupo de sobreviventes está isolado em uma casa de fazenda enquanto o exército de zumbis comedores de carne paira sobre suas portas. Clássico absoluto de George Romero e filme idealizador no conceito de apocalipse zumbi.
IDIOMA: Inglês
LEGENDAS: Português TÍTULO ORIGINAL: Night of the Living Dead
DURAÇÃO: 96 minutos
ORÇAMENTO: $114.000
BILHETERIA:$30 milhões
DIREÇÃO: George A. Romero
LANÇAMENTO: 1 de outubro de 1968
ELENCO: Judith O'Dea, Duane Jones, Karl Hardman, Marilyn Eastman, Kyra Schon, Keith Wayne, Judith Ridley, George Kosana
Boa sessão! Qualquer problema ou dúvida não hesite em comentar!
FRANQUIA COMPLETA: A Noite dos Mortos-Vivos (1968)
AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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No final da gloriosa década de 70, o
cinema do horror já estava basicamente estabelecido com suas produções
mirabolantes que não paravam de surgir com cada vez mais fôlego (quem diria nos
anos 80 e 90 então, onde o gênero seria forçado ao extremo). Essa breve época
marcou por apresentar histórias extremamente simples e perturbadoras, que
sempre vão funcionar para os que procuram se chocar com fatos “realistas”: como
no caso de Quadrilha de Sádicos (1976) e Halloween (1978), que chocavam os
telespectadores com muito suspense e tensão. Na época que o cinema estava sendo
arrebentado pelo sucesso de Star Wars (1977), sobrava espaço para produções um
tanto quanto bizarras, como O Assassino da Furadeira (1979) e algumas outras
curiosas, diria talvez Drive in Massacre e The Town That Dreaded Sundown, ambas
lançadas em 1976. Mas na crítica de hoje, vamos conversar sobre um clássico ofuscado
por produções maiores, mas ainda assim, tendo capacidade o suficiente de manter
um grande poder nostálgico.
Eaten Alive é dirigido por
ninguém menos que Tobe Hooper, e por sorte o diretor estava em fase inspiradora
nessa época, tendo acabado de produzir O Massacre da Serra Elétrica em 1974,
talvez sua obra mais perturbada. Bem diferente do que veríamos na década seguinte,
onde depois de trabalhar com Steven Spielberg em Poltergeist – O Fenômeno, o
diretor explícito começou a “perder a mão” no que sabia fazer tão bem. Inclusive,
reza a lenda que ele seja um dos responsáveis pelo falimento da lendária Cannon
Films, depois de uma parceria que só rendeu produções “sequeladas” (incluindo O Massacre da Serra Elétrica 2, em 1986), tudo isso no auge das fitas VHS (a
verdadeira fonte de retorno da Cannon na época, porque estavam fracassando nas
bilheterias). De um jeito ou de outro, em 1976, Tobe Hooper nos trouxe mais uma
pérola medonha e cruel, que não poderia combinar melhor com o realismo da
década de 70.
Para quem ainda não ouviu falar,
Eaten Alive (ou Devorado Vivo, como ficou conhecido em território nacional,
apesar de nunca ter sido lançado por aqui) é um longa que conta a macabra
história do psicótico Judd (Neville Brand), um caipira dono de um velho hotel
na beira da estrada Texana rural, cenário que já era costume nos filmes de
Hooper. Acontece que Judd massacra todos os hospedes que passam pelo local e
alimenta seu enorme crocodilo de estimação com os restos mortais das vitimas,
uma criatura assustadora que vive nos pântanos ao lado da construção. Como
disse, é uma história simples e medronha, que foi transformada em trama
assustadora recheada com um elenco conhecido no gênero do terror.
Tobe Hooper mantendo sua herança sangrenta.
Gostaria de destacar alguns fatores
em primeiro lugar: nesse filme temos a ótima presença de Marilyn Burns,
conhecida por ser uma das scream queens mais estarrecedoras do terror, e
marcada por trabalhar com Hooper em O Massacre da Serra Elétrica dois anos
antes, na pele da sofrida Sally Hardersty. Marilyn Burns consegue ter o mesmo
drama sádico vivido em seu último projeto, sendo novamente uma lendária final
girl; por falar nisso, pela curta distancia entre as duas produções, sua
atuação continua basicamente idêntica, e realmente parecemos acompanhar Sally
em outra situação desesperadora (rsrs). Inclusive os gritos lembram muito,
porque como muitos devem se lembrar, ela GRITA MUITO e quase o filme todo...
Mais uma vez!
Curiosamente, também temos o eterno Robert
Englund no elenco, que futuramente se tornaria um dos seriais killers mais
icônicos da humanidade, ninguém menos que Freddy Krueger da franquia A Hora do
Pesadelo. Aqui temos Englund do seu melhor jeito: magrelo, machista e relaxado,
cheio de caras e bocas. E é com ele que o filme começa, interpretando o caipira
Buck, um homem ranzinza que adora passar suas noitadas em um velho puteiro da
estrada rural. Os cenários lembram muito o de filmes pornôs da década,
principalmente nesse começo.
Judd, o frustrado sexual.
Lá também conhecemos uma prostituta
chamada Clara Wood (Roberta Collins) que está desesperadamente tentando abandonar
essa vida suja, recusando uma transa forçada com Buck. O que acontece? Buck
fica muito puto e consegue mais duas garotas de programa (com grande
facilidade), já nossa “prostituta consciente” é mandada embora pela sua patroa
charlatona, a cafetona velha conhecida com Miss Hattie (Carolyn Jones). É interessante como o
filme não perde muito tempo para começar o drama, porque alguns momentos mais tarde
Clara vai embora do local e adivinha onde acaba chegando? Isso mesmo, no
bizarro hotelzinho de estrada que fica ao lado do enorme pântano cercado. O
local tem uma varanda de entrada que, provavelmente, todos que assistem ao filme
se lembram dela, pois é no local que acontecerá algumas cenas angustiantes.
Logo conhecemos Judd, o dono do Hotel Starlight que consegue ser
estranho na primeira vista, com suas roupas rurais e atitudes completamente
suspeitas. Já sabemos que Clara vai se dar muito mal, porque o macabro homem
não desgruda os olhos de seu decote durante a hospedagem. Sempre relacionei a
aparência de Judd com Jord Verril, protagonista do segundo curta-metragem da
obra Creepshow (1982), na projeção conhecida como A Solitária Morte de Jord
Verril. Resumindo: ele é extremamente parecido com o escritor e ator Stephen
King.
Noitadas com Robert Englund.
Desde as primeiras cenas, Judd prova
ser um psicopata incontrolável. O abuso e ataque contra Clara é impactante, com
muitos berros, drama e caras e bocas. Tobe Hooper não brinca em trabalho, sua
direção densa deixa a sequência sufocante, sem alternativas de saída. Quando
Clara é golpeada inúmeras vezes com um tridente enferrujado, os rugidos agudos
da trilha sonora surgem para perturbar a montagem rusticamente. É icônico de
Hooper esse tipo de prática. O sangue vermelho forte (típico do terror na
década de setenta) é prazeroso como sempre foi. Judd gosta de ver suas vitimas
agonizando, ele se concentra individualmente para observá-la sofrer nos últimos
suspiros, sempre carregando uma expressão de “por que eu fiz isso?”, mas com um
pequeno sorriso crispado no rosto. Logo o gigantesco crocodilo africano é
presenteado com o corpo da moça, um modo totalmente sossegado para se livrar de
um corpo. Judd não se preocupa em matar, pois o gigantesco crocodilo africano esconde
as evidências.
Marilyn Burns entra logo em seguida,
interpretando Faye, uma mulher sobrecarregada que possui um relacionamento
conturbado com Roy (William Finley, Pague Para Entrar, Reze Para Sair), um
doido resmungão. O casal está passando pela região e acaba parando no hotel de
Judd, acompanhados da filha bem pequena Angie (Kyle Richards, que em 1978 atuou
em Halloween), e o cachorrinho Snoopy. É curioso ver que Burns usa uma peruca
channel no começo do filme, mas posteriormente revela sua verdadeira
identidade. Logo que chegam ao local, o cachorrinho é devorado pelo crocodilo
após ir xeretar no pântano, e a pequena Angie fica histérica, despertando
antigas intrigas no casal. Revoltado com a perca do cachorro, Roy decide se
livrar do crocodilo com uma escopeta, mas é brutalmente atacado por Jodd, que
passa a estripar suas vítimas com uma foice enorme. Faye é atacada quando vai
tomar banho, e a garotinha Angie tenta fugir e acaba ficando presa embaixo da
estrutura do estabelecimento, um píer subterrâneo que tem acesso ao pântano.
Linda maneira de se morrer.
Por tratar do assunto prostituição,
temos peitos e bundas femininas quase o filme inteiro, ainda mais sendo um
slasher oitentista. Como já mencionado, a trilha sonora é composta por rugidos
e arranhados incômodos, mas também temos canções rurais típicas do interior
norte-americano e muita música country. A história foi levemente inspirada em
Joe Ball (conhecido também como Alligator Man e Açougueiro de Elmendorf), um
serial killer do Texas que supostamente matou 20 mulheres e descartou seus
restos mortais como alimento para seu crocodilo durante a década de trinta. O
enredo foi adaptado pelo mesmo roteirista de O Massacre da Serra Elétrica.
Marilyn Burns passa quase o filme
inteiro sofrendo, amordaçada e amarrada em uma cama. Por algum motivo, Judd não
resolve matá-la de imediato, e faz da mulher uma refém, possivelmente para
abusá-la sexualmente depois. Existem cenas provando que Judd sempre se ferrou
no amor, pois recebia humilhações de todos na região, até mesmo das
prostitutas, então ele fez questão de manter uma vítima presa para realizar
seus desejos doentios. Ao longo do filme, várias pessoas passam pelo Hotel
Starlight, incluindo Harvey Wood (Mel Ferrer) e sua filha, Libby (Crystin
Sinclaire), procurando informações de Clara (a prostituta desaparecida do
começo do filme), que na verdade é uma filha fugitiva de Harvey. Eles ficam
pouco tempo no hotel, pois Judd nega que tenha visto a garota. Na companhia do
xerife casca grossa Martin (Stuart Whitman), Harvey e Libby também procuram
informações com Miss Hattie, a cafetona velha que comanda o puteiro da região,
mas ela mente falando não conhecer Clara. Pode parecer somente uma coincidência
de detalhes, mas o esqueleto do filme é extremamente parecido com Psicose
(1960), só que sem o suspense de Hitchcock e com uma pegada mais rústica e
barulhenta.
Marilyn Burns nos anos 70, linda e azarada.
Apesar de o filme ter drama desde o
início, o ritmo é meio diferenciado dos outros projetos lançados naquela época,
se tornando maçante em alguns momentos. A estética é escura e repleta de luzes
coloridas, principalmente o vermelho, cor que predomina diante do hotelzinho de
Judd. Em certo ponto, Harvey retorna para o hotel pantanoso sozinho, pois Libby resolveu sair
para jantar e tomar alguns drinks com o xerife. Tudo sai do controle quando
Harvey descobre que Faye está sendo torturada em um dos quartos, e acaba sendo
atacado por Judd com a foice gigante, na morte mais dolorosa do filme. A
ferramenta é cravada em seu pescoço, o fazendo agonizar por um bom tempo antes
de ser devorado pelo crocodilo. É lindo.
Falando do crocodilo, ele tem
bastante presença no filme, mas aparece bem pouco durante os 91 minutos de
projeção, assim como Spielberg idealizou em Tubarão (1975), mantendo um alto nível
de suspense. A criatura nunca sai do pântano, apenas em dois momentos do filme,
e vive dando “botes” nas vítimas, provocando alguns sustos que funcionam. É um
animal enorme e silencioso, suas aparições ficaram marcadas principalmente
durante a morte do caipira Buck, que é empurrado no pântano e acaba sendo
devorado vivo. Levando em conta as limitações da época e baixo orçamento, o
crocodilo é muito bem feito, com movimentos fluidos e uma boa mecânica, sempre
camuflado pela fumaça ambiente e a montagem do filme. Na realidade, não se trata
diretamente de uma história baseada em um animal assassino, assim como Pânico
no Lago (1999), em Eaten Alive, Hooper explora novamente a insanidade humana,
mostrando um homem atormentado que, provavelmente, usa o crocodilo como mero
pretexto para provocar suas chacinas despercebidas. Lembrando que Hooper acabou
fazendo outro longa sobre uma criatura gigante anos depois, em 2000, no filme
intitulado Crocodilo.
Sally é você?! rsrs
Após assistir o filme algumas vezes,
puder perceber uma motivação nos assassinatos que Jodd provoca. Ele sabe que o
crocodilo gigante age por puro instinto, e pode atacá-lo a qualquer momento,
por isso decide alimentar o animar com as pessoas que ficam hospedadas no
hotelzinho de vez em quando. É uma alternativa para manter a criatura
alimentada, evitando ser devorado inesperadamente. Em certo ponto, Jodd até
acha que o animal ataca por sentir ciúmes do dono. Ele sente medo do crocodilo,
mas parece não ser capaz de abandoná-lo.
Enquanto tudo acontece, o caipira
Buck interpretado por Englund é expulso do bar com uma gostosona (vivida por Janus Blythe, a Ruby de Quadrilha de Sádicos), e os dois vão
infernizar Judd no hotelzinho. Mesmo sendo relaxado e bagunçado, Buck é
corajoso e resolve tomar uma atitude quando ouve gemidos vindos debaixo do
hotel, mas acaba sendo empurrado dentro do pântano inesperadamente. A gostosona
que estava com ele consegue fugir, e não demora muito para Libby chegar ao
local e descobrir o que estava acontecendo. Ao tentar deter a mulher e matar a
pequena Angie, Judd acaba caindo dentro do pântano, e tem sua cabeça destruída
pelo animal de estimação, em uma bela cena. Assim como O Massacre da Serra Elétrica, o final é bem rápido e ausente de informações, ao acompanharmos o
xerife Martin chegando ao local e resgatando as garotas. O único vestígio restante
de Judd é sua perna de madeira que, ironicamente, havia sido desmembrada pelo
crocodilo alguns anos atrás. Gostaria de saber o que aconteceu em seguida... O
xerife tentou matar o crocodilo? Ou ele continuou aterrorizando e mutilando
suas vítimas? Pois como dizia Judd, esse tipo de criatura não morre pela
natureza, pelo tempo... Alguém precisa ter coragem o suficiente para matá-lo.
Eaten Alive (1976) pode ter influenciado uma avalanche de filmes com crocodilos
gigantes, mas ele continua no topo, por mostrar que o ser humano pode ter um
instinto tão sangrento quanto o animal selvagem.
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TRAILER DE 1976:
CURIOSIDADES:
1)O maquiador Craig Reardon afirmou que Robert Caramico dirigiu várias cenas devido as diferenças criativas entre Tobe Hooper e o resto da produção.
2) Exitem teorias (não oficiais) sobre uma relação entre O Massacre da Serra Elétrica (1974) e esse filme, envolvendo as presenças de Marilyn Burns e Tobe Hooper.
CONTAGEM DE CORPOS (6):
Assassino Judd:
Ex-prostituta: recebe inúmeros golpes
de foice e é servida de alimento para o crocodilo.
Roy: golpeado com foice e abocanhado
pelo crocodilo.
Harvey: foice cravada no pescoço,
devorado pelo crocodilo.
AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
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Evil Dead é um dos melhores filmes de
terror já feito. Em tempos passados, o diretor Sam Raimi colocou em prática a
avalanche de violência explícita, tripas expostas e muito, MUITO sangue.
VERDADEIRO FILMÃO DA PORRA. Uma experiência que ultrapassa medo e fantasia,
continuando o legado mesmo com o baixo orçamento e inúmeras limitações da
época. Não é um filme qualquer. Sam Raimi conseguiu transformar em realidade o
sonho de qualquer cineasta amador de horror. A produção deu tão certo, que
lançou o diretor ao mundo do cinema e começou uma trilogia que se manteve por
mais 11 anos (isso sem contar o reboot que rolou em 2013, resgatando a franquia
para uma nova geração). Atualmente, Evil Dead é essencial para qualquer fã de
horror, principalmente os pesados, envolvendo possessões demoníacas, ritos de
passagem e o maravilhoso gore que perturba e agrada em uma combinação jamais
presenciada novamente. É uma experiência perfeita para as noites tenebrosas, para as madrugadas de silêncio, ainda mais se você estiver bêbado ou chapado de fumaça. Medo e delírio?
Risadas? É muito mais que isso.
Diferente dos próximos filmes (que abordaram
o humor negro), o primeiro capítulo da franquia é perturbado em todos os
sentidos. Em nosso território nacional rolou uma famigerada confusão com os
títulos dos filmes: tem gente que se refere como Evil Dead 1, outras chamam de
Uma Noite Alucinante, mas o nome oficial utilizado por aqui foi A Morte do
Demônio, que apesar de bastante nostálgico, acabou saindo da premissa que será
mostrada em tela. Já o segundo filme foi automaticamente batizado de Uma Noite
Alucinante por aqui (ao invés de Evil Dead 2), confundindo o público desde
1987. A fita VHS é provavelmente o item mais raro para se encontrar
nacionalmente, e um desejo de qualquer colecionador do horror. Facilmente encontrada
por, no mínimo, 400 reais. Se você tem a oportunidade de assistir os 85 minutos
de projeção em um formato desses, pode se considerar um sortudo nato. Não se
trata apenas de um filme amador, e sim uma experiência surreal que iniciou uma
avalanche sangrenta. Bruce Campbell começa destacar sua carreira aqui, se
eternizando no papel de Ashley Williams.
Para conseguir o dinheiro necessário,
Sam Raimi dirigiu Within the Woods em 1978, um curta metragem extremamente
amador e repleto com situações que seriam exploradas com maior profundidade em
Evil Dead. O curta tem a presença de Bruce Campbell e se tornou ouro puro para
qualquer fã do horror. Quem tiver curiosidade, o Portal Tartárico analisou e disponibilizou
o curta para ser assistido aqui mesmo no blog, completo e legendado (clique aqui para conferir). Vale muito a pena, é um clássico amador.
"We're gonna get you..."
Seguindo a premissa desse tipo de
produção, o enredo é muito simples. Cinco amigos estão passeando pelas
montanhas e se hospedam em uma velha cabana na floresta. O elenco é composto
por Ashley (Bruce Campbell), sua namorada Linda (Betsy Baker) e sua irmã Cheryl
(Ellen Sandweiss), também temos o casal brincalhão Scott (Hal Delrich) e Shelly
(Sarah York). Nessa cabana, eles acabam encontrando um livro denominado como
Necronomicon, o Livro dos Mortos, encadernado em pele humana e escrito com
sangue. Junto do livro, uma fita cassete foi deixada pelo antigo morador da
cabana, um arqueólogo que explorava as tumbas de Kandar. Ao reproduzir essa
fita em um gravador, o grupo acaba ouvindo um relado do arqueólogo, afirmando
que, com o livro, ele involuntariamente liberou forças diabólicas que tinham a
capacidade de se apossar dos vivos. O livro continha passagens cabalísticas de
rituais de sepultamento e feitiços funerários, que quando recitados em voz alta,
tinham o poder de ressuscitar os mortos. Acidentalmente, a fita acaba recitando
um encantamento, descrito como:
Era o começo do fim. Sem querer, as
forças malignas que vagam pela floresta acabam sendo liberadas para destruir os
vivos. Essa cena é uma das mais lindas que já presenciei no gênero. Acho
sensacional a dinâmica usada para conduzir a montagem do renascimento; a inocência
dos jovens sendo dominada pelas palavras frias da narração do arqueólogo, o mal
nascendo diretamente da natureza, nas sombras da floresta escura. O clima
funciona e continua me surpreendendo até hoje em dia. Aos poucos, todos os
jovens vão sendo possuídos pelos mortos e se tornando criaturas abomináveis,
sedentas por sangue. No final sobra somente Ash, o herói hesitante, para
destruí-los e lutar pela vida. Aliás, não me responsabilizo por quem recitar as
palavras acima em voz alta, faça isso por conta e risco próprio rsrs.
A última refeição.
O filme foi literalmente gravado em
uma cabana abandonada nas montanhas, isso agrega um realismo essencial. Se
imagine em um lugar desses, altas horas da madrugada, com apenas uma câmera na
mão. É essa sensação que o filme transcende, sempre com tomadas improvisadas e
criativas, deixando tudo com uma pitada rural de documentário. A cena em que os
jovens chegam de carro na cabana é mostrada em tempo real, com a perspectiva
posicionada atrás do automóvel, sem cortes. Dessa maneira o telespectador
consegue acompanhar e reparar no cenário ao redor, sem muito esforço e com
bastante interesse. Na prática, esse tipo de direção sempre funcionou com
filmes de terror; câmeras subjetivas e externas sombrias eram obrigatórias
naquela época.
Linda e Ash... O amor trágico jamais foi o mesmo.
Após o ritual demoníaco virar
realidade, um por um, todos os jovens são possuídos e deixam sua essência desaparecer.
Cheryl acaba sendo atacada e estuprada pelas árvores da floresta, em uma cena
grotesca e extremamente barulhenta. Os gritos da mulher parecem gemidos de pornô
(KKKKKKKKK), e provavelmente ela é a personagem que mais sofre na trama, porque
além de ser possuída, ainda é trancafiada em um porão pelos seus amigos
desesperados, e passa a maior parte do filme deformada, podre e emitindo
ameaças em formas de grunhidos. As péssimas atuações não entregam totalmente o
drama que o filme exige, mas hoje em dia são consideradas o verdadeiro charme
de Evil Dead. A falta de experiência por parte do elenco e produção deixa tudo
mais assustador. Sentimos falta do profissional, tornando as cenas mais
assustadoras e caseiras. Tudo pode acontecer dessa maneira.
Sam Raimi e sua direção misteriosa.
Pelo nível amador da produção, os
efeitos são muito bons, exceto por alguns detalhes de maquiagem ou erros de continuação.
Existem cenas que percebemos altos relevos que denunciam a maquiagem caseira, ou
alguns momentos em que Ash é recebido com litros de sangue, e na cena seguinte
está limpo, como se nada tivesse acontecido. Isso não atrapalha, principalmente
sabendo das limitações que o filme sofreu. Toda a violência é explicita em
tela, vemos calcanhares sendo perfurados com golpes de lápis, membros decepados
e esmagados, cabeças explodidas com tiros de escopeta. O sangue é um
espetáculo, se tornando um fator chave na dinâmica do filme. A trilha sonora é
quase inexistente, as cenas são bombardeadas com ruídos agonizantes e gritos de
possessão, portanto se prepare para ficar perturbado. Todos os momentos em que
um personagem é tomado se mantêm registrado com cenas assustadoras (o meu
preferido é o primeiro, quando Cheryl é possuída diante de uma janela). A
simplicidade que o filme é feito impressiona e assusta cada vez mais, desde
tomadas, cenários, perspectivas de câmeras e rugidos incômodos. Quem sentir
encanação? Fique chapado e encare uma sessão de Evil Dead altas horas da noite,
com as luzes apagadas. Pode ter certeza que será uma experiência inesquecível e muito tenebrosa.
O sangue se tornando um evento.
O filme trata a natureza de uma forma
diferenciada. A floresta escura parece observar os passos dos jovens, sempre
misteriosa. Em todas as cenas do horizonte noturno, percebemos uma lua
extremamente grande para os padrões reais, iconicamente sendo encoberta por
sombras negras. Existe um simbolismo oculto em muitos momentos, principalmente nas
transições em que o mal começa a se manifestar. O elenco se esforça para dar o
drama necessário, mas só conseguem quando já estão possuídos e com as feições
deterioradas. De fato, Bruce Campbell é o que mais age com naturalidade em seu
papel, entregando uma junção de afeto, preocupação e muito trauma. No começo
ele sempre está hesitante e na duvida das atitudes que deve tomar, mas quando
não lhe sobra alternativa, acompanhamos o personagem mergulhar em uma solidão
doentia, chegando ao ponto de arrancar a cabeça de sua namorada com uma pá de
jardinagem, e esquartejar seus amigos zumbis em legitima defesa. A necessidade
de sobreviver o fez tomar inúmeras decisões que mudaram sua personalidade, o
deixando frio e atrapalhado. Lembrando que tudo isso acontece em apenas uma
noite.
Bons sonhos para todos.
Uma questão sempre intrigou o
publico: se todos estavam sendo possuído pelas forças malignas da floresta,
como Ash ficou imune? Obviamente o roteiro precisava de um herói final, então
essa pergunta pode ser facilmente respondida, mesmo sem nenhuma profundidade
maior. A solução final encontrada por ele é a destruição do Livro dos Mortos, o
jogando nas chamas da lareira, enquanto é brutalmente atacado pelos amigos possuídos.
É um final apressado e sem explicações, mas o suficiente depois de litros de
sangue derramado. O efeito mais difícil reproduzido foi o derretimento final
dos cadáveres, uma cena lenta e silenciosa onde vemos carne se transformando em
estado liquido, em uma mistura nojenta de sangue, músculos deteriorados, pus e insetos
(incluindo baratas).
O mestre Stephen King adorou o filme,
considerando ele único e diferente em uma época que a violência explicita
estava explodindo na Sétima Arte. Os slasher estavam dominando legiões de fãs,
e a obra prima de Sam Raimi conseguiu se manter no alto patamar até os dias
atuais. O flerte de King ajudou muito a franquia, porque foi ele quem decidiu
procurar um financiamento maior para o próximo capítulo, que estreou somente 6
anos depois, em 1987. A equipe despertou o interesse nos amantes do horror, e
criaram inúmeros conceitos que se tornariam marca registrada do gênero. Tudo
isso com pouco dinheiro e uma produção despreparada, sem nenhuma experiência por parte dos envolvidos.
Com certeza é um dos melhores filmes de terror já feitos pela humanidade, e sei
que continuará assim por muitos anos. É difícil bater de frente com esse tipo
de fita.
Necronomicon, o Livro dos Mortos.
Se você nunca assistiu, abra sua mente e faça
isso agora mesmo. A mitologia envolvendo a trilogia é bem interessante e
contada aos poucos, despertando curiosidade. E as novidades não param, pois
atualmente existe uma série sobre a franquia que já conta com duas temporadas,
intitulada Ash vs Evil Dead, em desenvolvimento desde 2015. A série é
protagonizada por Bruce Campbell e se passa 30 anos após os filmes, essa é a
oportunidade perfeita para quem não conhece a história, uma chance para criar
uma profunda conexão com a obra, e se tornarem novos fãs. Se algum dia você
encontrar uma pessoa que adora terror, mas não gostou de Evil Dead (1981), por
favor, pegue uma escopeta ou um machete e corte a cabeça dela. Acredite no seu
instinto, ela não vai fazer muita diferença nesse mundo doido. Grande abraço!
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TRAILER DE 1981:
CURIOSIDADES:
1)No final das gravações, a equipe enterrou uma cápsula do tempo dentro da lareira que existia na cabana, como uma forma de homenagem para futuras gerações. A cabana foi destruída, mas a cápsula foi encontrada por um casal de fãs calorosos de Evil Dead que descobriram que a lareira do local ainda estava intacta.
2) No roteiro original foi decidido que todos os personagens fumariam maconha quando ouvem a fita pela primeira vez. Os atores decidiram fazer isso na prática, e posteriormente a cena precisou ser refilmada devido aos seus comportamentos incontroláveis.
3) Em certo ponto das gravações, a blusa que Bruce Campbell estava usando ficou tão impregnada com sangue falso, que acabou petrificada e rachou no meio quando ele tentou vesti-la.
4) A cabana estava localizada em Morristown, Tennessee. Na biografia de Bruce Campbell, ele diz que acabou queimada anos mais tarde. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu (Sam Raimi diz que ele mesmo queimou após as filmagens). Além disso, ninguém pode dar informações exatas sobre o local, porque a única parte restante da estrutura é a chaminé de tijolos, e muitas pessoas já vandalizaram a propriedade.
5) Sam Raimi e Bruce Campbell eram amigos de faculdade, onde fizeram muitos filmes gravados em Super-8. Mais tarde eles se uniram com Ted Raimi e formaram várias colaborações juntos. Cambell virou o ator do grupo, pois "ele era aquele homem que as garotas queriam olhar".
6) No fim de um dia normal de gravação, Bruce Campbell retornava para casa na caçamba da caminhonete porque estava sujo de sangue da cabeça aos pés.
7) Um cinegrafista escorregou durante as filmagens, esmagando sua câmera no rosto de Bruce Campbell e arrancando vários dentes do ator.
8) O filme acabou ficando sem dinheiro no meio da produção. Os envolvidos fizeram de tudo para completar o filme, conseguiram empréstimos bancários de alto interesse, emprestaram dinheiro de amigos e familiares e até mesmo fizeram ligações golpistas para empresas no estado de Michigan. Essas ligações frias funcionaram na medida certa, e eles conseguiram refeições, gasolina e outras necessidades que o elenco e a equipe precisavam. 9) As lentes de contato usadas eram extremamente dolorosas para se colocar. Elas cobriam metade dos olhos e precisavam ser removidas dentro de 15 minutos para possibilitar o olho de respirar. 10) Há um cartaz rasgado de Quadrilha dos Sádicos (1977) visível em uma das cenas. Foi uma brincadeira para Wes Craven, afirmando que Evil Dead é ainda mais assustador.
CONTAGEM DE CORPOS (4):
Zumbi Shelly: esquartejada por Scott, tem braços, pernas e a maioria do corpo despedaçado com machadadas.
Zumbi Linda: decapitada por Ash, usando uma pá de jardinagem.
Zumbi Cheryl: carne e músculos derretidos após o Necronomicon ser arremessado na lareira.
Zumbi Scott: também derretido após a destruição do Necronomicon.