quarta-feira, 28 de junho de 2017

Bad Taste / Náusea Total (1987) - Filme Completo Legendado

FILME ONLINE COMPLETO LEGENDADO

SINOPSE: Um extravagante grupo governamental investiga a presença de alienígenas no planeta Terra. Até aí tudo bem, não fosse os visitantes esquisitos (quando não estão disfarçados de humanos) e perigosos, usando o cérebro e carne humana como guloseimas. Não é para menos que a intenção dos seres de outra mundo é conseguir matéria-prima para uma rede de fast food intergalático.

IDIOMA: Inglês
LEGENDAS: Português
TÍTULO ORIGINAL: Bad Taste
DURAÇÃO: 87 minutos
ORÇAMENTO: $30.000
BILHETERIA: $150.000
DIREÇÃO: Peter Jackson
LANÇAMENTO: 11 de dezembro de 1987
ELENCO: Peter Jackson, Terry Potter, Mike Minett, Pete O'Herne, Andrew Mckey, Bob Haliburton, Cameron Chittock, Carol Taylor


Boa sessão! Qualquer problema ou dúvida não hesite em comentar!

terça-feira, 27 de junho de 2017

A Noite dos Mortos-Vivos (1968) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Podemos começar afirmando que A Noite dos Mortos-Vivos (1968) envelheceu muito bem. Há quase 50 anos atrás, George A. Romero basicamente criou o subgênero que são os filmes de zumbi, ainda conseguindo abordar críticas pesadas contra a sociedade dos anos 60, uma sensação grotesca da perda de estabilidade social e uma porrada de características que se tornariam padrões de quase todos os filmes dessa temática. No título original Night of the Living Dead, o filme é o progenitor das tramas de “apocalipse zumbi”, subversivo em vários sentidos e influenciador do estereótipo moderno de zumbis na cultura popular. O principal atrativo não são banhos de sangue nem maquiagens mirabolantes, e sim a poderosa mensagem que vale até os dias atuais.

Nos anos 60, George Romero fundou a empresa de produção Image Ten, ao lado de seus amigos John Russo e Russell Streiner, após anos produzindo comerciais e pequenos filmes para a The Latent Image, companhia que eles mesmos haviam apresentado ao mundo. Juntos, eles levantaram aproximadamente US$140.000 de orçamento para produzir um filme de terror. Naquela época, os maiores ícones do horror eram produções clássicas da Universal, como Frankenstein, Drácula e Múmia; ainda não existiam filmes de slasher nem possessões demoníacas, e Romero tinha o campo aberto para idealizar um novo conceito nos filmes de horror. Deu muito certo, os filmes de zumbis são feitos até hoje, sempre seguindo o mesmo padrão e alcançando um patamar absurdo na cultura pop moderna. Foi um dos primeiros filmes a mostrar violência explicita na tela, e o primeiro a ter um protagonista afro-americano. Um dos envolvidos na fundação da Image Ten foi Karl Harman, que falou “Nós sabíamos que não conseguiríamos levantar dinheiro suficiente para fazermos um filme em igualdade com os clássicos de terror que havíamos crescido assistindo. O melhor que podíamos fazer era colocar nosso elenco em um lugar remoto e então levar o terror para visitá-los”.

Quando os roteiristas decidiram usar zumbis, eles pensaram qual seria o fator mais chocante que poderiam cometer contra os humanos, e resolveram optar pelo canibalismo. Entretanto, a palavra “zumbi” nunca é utilizada no filme. O termo mais comum usado para descrever os mortos-vivos é “essas/aquelas coisas”, principalmente por Cooper. Do mesmo jeito, o filme foi responsável por codificar padrões que são usados em quase todas as produções desse gênero, incluindo zumbis que comem carne humana e só podem ser mortos com disparos diretamente na cabeça. As gravações foram conduzidas em preto e branco, deixando o filme com estética de documentário. Esse é o primeiro capítulo da franquia que Romero iniciou, seguido por Despertar dos Mortos (1978), Dia dos Mortos (1985), Terra dos Mortos (2005), Diário dos Mortos (2007) e Ilha dos Mortos (2009), cada filme aborda uma etapa do apocalipse, e suas consequências trágicas na humanidade, sempre focando críticas sociais, consumismo desenfreado, elementos políticos e ultrajes militares.

A abertura nos campos.

Na trama, um grupo de sete pessoas se refugia em uma casa de campo afastada, após serem atacados por pessoas aparentando estado de “transe”. O mundo ainda está se pronunciando sobre uma suposta tragédia global, e acompanhamos as intrigas desesperada do grupo para tentar sobreviver em uma região rural e desconhecida. Primeiro conhecemos Barbara (Judith O’Dea), que é atacada com seu irmão Johnny (Russell Streiner) ao ir visitar o túmulo da mãe no cemitério. A cena é antológica em todos os sentidos, o primeiro zumbi é lendário; o casal de irmãos acredita estar vendo um mendigo velho andando pelo cemitério, porém são atacados inesperadamente. Barbara consegue fugir, e se refugia em uma fazenda próxima ao ser seguida pela criatura sanguinária. Lá, com o passar do filme, vamos ser apresentados aos outros personagens, Ben (Duane Jones) o protagonista negro com instinto de sobrevivência, Harry (Karl Hardman), sua esposa Helen (Marilyn Eastman) e filha de 11 anos Karen (Kyra Schon). Também temos o casal de jovens, Tom (Keith Wayne) e Judy (Judith Ridley). Juntos, eles se encontram em uma situação desconhecida, dependendo do instinto de sobrevivência para permanecerem vivos durante uma noite infernal e angustiante.

"They're coming to get you barbara..."

Sem dúvidas, o personagem mais interessante é Ben. O rapaz astuto não tem ideia do que está enfrentando, mas parece estar sempre um passo a frente das criaturas horríveis. Em primeiro lugar, ele pensa na segurança do grupo de estranhos, mas acaba se metendo em inúmeras discussões e intrigas, principalmente com Harry, o resmungão que só pensa em si mesmo. A filha de Harry e Helen, Karen, de apenas 11 anos, está doente por ter recebido um machucado no braço, quando estava fugindo dos zumbis com seus pais. Não preciso nem explicar o que acontece com a pequena garota em uma das cenas mais clássicas do longa, a mitologia envolvendo os zumbis é basicamente criada naquele momento. A premissa da “infecção e ressurreição” é um dos pontos mais criativos que Romero introduziu, deixando uma possibilidade imensa para futuros projetos.

Apesar de algumas atuações serem fracas, o elenco se destaca por conseguir entregar o drama que o filme exige. Os zumbis cercam a casinha durante a noite, e eles precisam arrumar um meio de ficarem unidos. A direção de Romero é crua e frenética nos momentos de tensão, com perspectiva acelerada e, por vezes, posicionada em algum ponto criativo para a época.

Simplesmente lindo.

O filme é conduzido como um alerta, com uma pegada de documentário histórico, principalmente nas cenas em que os personagens descobrem o que está acontecendo no mundo, ao encontrarem uma televisão na casa e assistirem o boletim de última hora. A humanidade se demonstra completamente perplexa com o acontecido, os jornais contam casos de canibalismo, epidemias descontroladas onde os mortos voltavam à vida para matar. Um funcionário do necrotério é entrevistado falando que um cadáver com os quatro membros decepados havia aberto os olhos e mexido o tronco. Mesmo com a histeria mundial jamais mostrada no filme, os jornais da televisão tratam tudo de uma forma profissional, como se estivessem encobrindo um grande evento da humanidade. Era tudo novidade, eles não sabiam como reagir. Comparando com o mundo mostrado em Dia dos Mortos (1985), percebemos que a sociedade não obteve nenhuma chance de se manter estruturada em um mundo apocalíptico. O inicio disso tudo é muito bem contato aqui, e sentimos o quanto ingênuos são os humanos.  A mídia não se refere a tudo como “ataques zumbis”, mas como “epidemias de assassinatos”.

Ben, o protagonista durão.

A maioria dos efeitos e maquiagens foram improvisados pela equipe. O sangue, por exemplo, era xarope de chocolate, já a carne humana era presunto assado. O filme tem um clima sombrio e desolado que assusta, o cenário rural afastado entrega a atmosfera necessária para sentirmos o aperto emocional dos personagens, excluídos do mundo exterior e com poucos recursos. Hoje em dia, essa situação pode parecer clichê e previsível, visto o tanto de produções com esse tema que foram lançadas nos últimos 50 anos. Sem contar que a geração acostumada com The Walking Dead e zumbis modernos podem até considerar o filme tosco, levando que a maioria não pensa “fora da caixa”, e desrespeita inutilmente o passado sangrento que Romero apresentou.

As cenas dos zumbis andando pelos campos noturnos é um reflexo da alienação humana acidental. A causa do apocalipse é total responsabilidade da NASA, que enviou uma sonda para Vênus. Quando o objeto estava voltando, carregado de radiação, o governo resolveu destruí-lo no espaço, e os pedaços acabaram caindo na nossa atmosfera, infestando o mundo de radiatividade espacial. É uma situação delicada e culposa, que não conseguiu se manter em sigilo, pois a mídia divulga todas as informações abertamente, alertando a população para o pior. É como uma poesia sendo recitada nas sombras da morte.

O bagulho é doido!

O final é provavelmente um dos mais pessimistas já vistos na Sétima Arte. Triste, inesperado e muito polêmico. Sinceramente, as críticas que publicamos são conversas abertas, com spoilers e revelações, mas me sinto culpado em revelar esse pequeno detalhe que muda completamente o rumo do que foi assistido. Na época, o final foi pesado o suficiente para o filme ser proibido e criticado em diversos lugares; não é um desfecho que transparece esperança, e sim uma tragédia que levanta questões até hoje em dia. O filme está disponível completo e legendado aqui no Portal Tartárico, recomendo que confiram para tirar suas próprias conclusões (clique aqui para assistir). Acredite, são poucos os filmes que apresentam desfechos tão chocantes e imprevisíveis como A Noite dos Mortos-Vivos. Normalmente os filmes de zumbi tem quase sempre um desfecho semelhante (envolvendo a catástrofe total), mas Romero foi além com sua obra prima, surpreendendo o telespectador.

Na realidade, não foi o primeiro filme de zumbi, como apresentado em Zumbi Branco (1932) e Epidemia de Zumbis (1966). Entretanto, Romero se destacou por apresentar o canibalismo como fator chave das criaturas, já as primeiras produções mostravam zumbis sendo reanimados por magia negra para servirem de escravos. É óbvio que a estrutura de Romero chocou o público e fez mais sucesso, alavancando uma imensidade de produções ao longo dos anos.

A tragédia na ponta de uma arma.

Em 1990, o mestre Tom Savini (um dos mais talentosos maquiadores do terror) dirigiu uma refilmagem de A Noite dos Mortos-Vivos, entregando um dos melhores remakes já feitos até então, mantendo exatamente a mesma história e ainda adicionando maquiagens cabulosas que nunca vão envelhecer. Também existe uma versão colorida do filme, pecando unicamente em retirar a essência sombria que a película carregava. Foi o início de uma lenda que dura até hoje, e continua sendo um dos filmes de zumbi mais interessantes para ser assistido. Portanto, George A. Romero ensinou que precisamos abraçar o futuro e, sem dúvidas, respeitar o passado.
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TRAILER DE 1968:
CURIOSIDADES:
1) Quando os zumbis estão comendo carne humana após a explosão do caminhão, eles na verdade estavam comendo presunto assado coberto com xarope de chocolate. Os cinegrafistas brincaram afirmando que os figurantes ficaram tão enojados, que a maquiagem de zumbi virou perca de tempo, levando em conta que eles terminaram a cena pálidos e enjoados naturalmente.

2) Em 1968, alguns críticos tentaram alertar para as pessoas ficarem longe do filme, afirmando que inspira o canibalismo.

3) Foi um dos últimos filmes da era Drive-In, aqueles cinemas ao céu aberto onde as pessoas estacionavam seus carros.

4) Nas primeiras versões do roteiro, Barbara era uma personagem forte, ágil e carismática. Entretanto, George Romero adorou Judith O'Dea como uma garota catatônica e aterrorizada, e mudaram o roteiro para se encaixar. Posteriormente, a ideia de Barbara ser forte e de grande presença foi usada em 1990, no remake dirigido por Tom Savini.

5) Embora a radiação de um satélite detonado seja teorizada para ser a causa do apocalipse, de acordo com os cineastas, a causa real nunca é determinada ou oficializada.

6) 200 figurantes foram conduzidos e preparados para ser as pessoas da cidade e os zumbis.


7) Foi um dos primeiros filmes escolhido para ser preservado pelo National Film Registry e Library of Congress.


8) De acordo com George Romero, nos comentários do Laserdisc e DVD, a impressão original e os materiais do filme já não existem mais. Segundo ele, todos foram destruídos em uma inundação que encheu o porão onde os materiais eram armazenados (que, por acaso, era o mesmo porão usado no filme).


9) A polícia de Pittsburgh (onde ocorreram as gravações) forneceu homens e equipamentos para a produção do filme.

CONTAGEM DE CORPOS (15):
Tom: morto acidentalmente na explosão do caminhão.
Judy: morta acidentalmente na explosão do caminhão.
Barbara: atacada por zumbis.
Helen Cooper (transformada em zumbi): morta por Ben.
Harry Cooper (transformado em zumbi): morto por Ben.
Karen Cooper: transformada em zumbi após ser atacada no braço.
OUTRAS MORTES:
Três zumbis mortos por Ben, dois ao lado da casa e um dentro.
Seis zumbis mortos pelos policiais da região.

A Noite dos Mortos-Vivos (1968) - Filme Completo Legendado

FILME ONLINE COMPLETO LEGENDADO

SINOPSE: Os mortos andam pela terra e tem fome de carne humana. Um grupo de sobreviventes está isolado em uma casa de fazenda enquanto o exército de zumbis comedores de carne paira sobre suas portas. Clássico absoluto de George Romero e filme idealizador no conceito de apocalipse zumbi.

IDIOMA: Inglês
LEGENDAS: Português
TÍTULO ORIGINAL: Night of the Living Dead
DURAÇÃO: 96 minutos
ORÇAMENTO: $114.000
BILHETERIA: $30 milhões
DIREÇÃO: George A. Romero
LANÇAMENTO: 1 de outubro de 1968
ELENCO: Judith O'Dea, Duane Jones, Karl Hardman, Marilyn Eastman, Kyra Schon, Keith Wayne, Judith Ridley, George Kosana


Boa sessão! Qualquer problema ou dúvida não hesite em comentar!

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Eaten Alive (1976) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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No final da gloriosa década de 70, o cinema do horror já estava basicamente estabelecido com suas produções mirabolantes que não paravam de surgir com cada vez mais fôlego (quem diria nos anos 80 e 90 então, onde o gênero seria forçado ao extremo). Essa breve época marcou por apresentar histórias extremamente simples e perturbadoras, que sempre vão funcionar para os que procuram se chocar com fatos “realistas”: como no caso de Quadrilha de Sádicos (1976) e Halloween (1978), que chocavam os telespectadores com muito suspense e tensão. Na época que o cinema estava sendo arrebentado pelo sucesso de Star Wars (1977), sobrava espaço para produções um tanto quanto bizarras, como O Assassino da Furadeira (1979) e algumas outras curiosas, diria talvez Drive in Massacre e The Town That Dreaded Sundown, ambas lançadas em 1976. Mas na crítica de hoje, vamos conversar sobre um clássico ofuscado por produções maiores, mas ainda assim, tendo capacidade o suficiente de manter um grande poder nostálgico.


Eaten Alive é dirigido por ninguém menos que Tobe Hooper, e por sorte o diretor estava em fase inspiradora nessa época, tendo acabado de produzir O Massacre da Serra Elétrica em 1974, talvez sua obra mais perturbada. Bem diferente do que veríamos na década seguinte, onde depois de trabalhar com Steven Spielberg em Poltergeist – O Fenômeno, o diretor explícito começou a “perder a mão” no que sabia fazer tão bem. Inclusive, reza a lenda que ele seja um dos responsáveis pelo falimento da lendária Cannon Films, depois de uma parceria que só rendeu produções “sequeladas” (incluindo O Massacre da Serra Elétrica 2, em 1986), tudo isso no auge das fitas VHS (a verdadeira fonte de retorno da Cannon na época, porque estavam fracassando nas bilheterias). De um jeito ou de outro, em 1976, Tobe Hooper nos trouxe mais uma pérola medonha e cruel, que não poderia combinar melhor com o realismo da década de 70.

Para quem ainda não ouviu falar, Eaten Alive (ou Devorado Vivo, como ficou conhecido em território nacional, apesar de nunca ter sido lançado por aqui) é um longa que conta a macabra história do psicótico Judd (Neville Brand), um caipira dono de um velho hotel na beira da estrada Texana rural, cenário que já era costume nos filmes de Hooper. Acontece que Judd massacra todos os hospedes que passam pelo local e alimenta seu enorme crocodilo de estimação com os restos mortais das vitimas, uma criatura assustadora que vive nos pântanos ao lado da construção. Como disse, é uma história simples e medronha, que foi transformada em trama assustadora recheada com um elenco conhecido no gênero do terror.

Tobe Hooper mantendo sua herança sangrenta.

Gostaria de destacar alguns fatores em primeiro lugar: nesse filme temos a ótima presença de Marilyn Burns, conhecida por ser uma das scream queens mais estarrecedoras do terror, e marcada por trabalhar com Hooper em O Massacre da Serra Elétrica dois anos antes, na pele da sofrida Sally Hardersty. Marilyn Burns consegue ter o mesmo drama sádico vivido em seu último projeto, sendo novamente uma lendária final girl; por falar nisso, pela curta distancia entre as duas produções, sua atuação continua basicamente idêntica, e realmente parecemos acompanhar Sally em outra situação desesperadora (rsrs). Inclusive os gritos lembram muito, porque como muitos devem se lembrar, ela GRITA MUITO e quase o filme todo... Mais uma vez!

Curiosamente, também temos o eterno Robert Englund no elenco, que futuramente se tornaria um dos seriais killers mais icônicos da humanidade, ninguém menos que Freddy Krueger da franquia A Hora do Pesadelo. Aqui temos Englund do seu melhor jeito: magrelo, machista e relaxado, cheio de caras e bocas. E é com ele que o filme começa, interpretando o caipira Buck, um homem ranzinza que adora passar suas noitadas em um velho puteiro da estrada rural. Os cenários lembram muito o de filmes pornôs da década, principalmente nesse começo.

Judd, o frustrado sexual.

Lá também conhecemos uma prostituta chamada Clara Wood (Roberta Collins) que está desesperadamente tentando abandonar essa vida suja, recusando uma transa forçada com Buck. O que acontece? Buck fica muito puto e consegue mais duas garotas de programa (com grande facilidade), já nossa “prostituta consciente” é mandada embora pela sua patroa charlatona, a cafetona velha conhecida com Miss Hattie (Carolyn Jones). É interessante como o filme não perde muito tempo para começar o drama, porque alguns momentos mais tarde Clara vai embora do local e adivinha onde acaba chegando? Isso mesmo, no bizarro hotelzinho de estrada que fica ao lado do enorme pântano cercado. O local tem uma varanda de entrada que, provavelmente, todos que assistem ao filme se lembram dela, pois é no local que acontecerá algumas cenas angustiantes. Logo conhecemos Judd, o dono do Hotel Starlight que consegue ser estranho na primeira vista, com suas roupas rurais e atitudes completamente suspeitas. Já sabemos que Clara vai se dar muito mal, porque o macabro homem não desgruda os olhos de seu decote durante a hospedagem. Sempre relacionei a aparência de Judd com Jord Verril, protagonista do segundo curta-metragem da obra Creepshow (1982), na projeção conhecida como A Solitária Morte de Jord Verril. Resumindo: ele é extremamente parecido com o escritor e ator Stephen King.

Noitadas com Robert Englund.

Desde as primeiras cenas, Judd prova ser um psicopata incontrolável. O abuso e ataque contra Clara é impactante, com muitos berros, drama e caras e bocas. Tobe Hooper não brinca em trabalho, sua direção densa deixa a sequência sufocante, sem alternativas de saída. Quando Clara é golpeada inúmeras vezes com um tridente enferrujado, os rugidos agudos da trilha sonora surgem para perturbar a montagem rusticamente. É icônico de Hooper esse tipo de prática. O sangue vermelho forte (típico do terror na década de setenta) é prazeroso como sempre foi. Judd gosta de ver suas vitimas agonizando, ele se concentra individualmente para observá-la sofrer nos últimos suspiros, sempre carregando uma expressão de “por que eu fiz isso?”, mas com um pequeno sorriso crispado no rosto. Logo o gigantesco crocodilo africano é presenteado com o corpo da moça, um modo totalmente sossegado para se livrar de um corpo. Judd não se preocupa em matar, pois o gigantesco crocodilo africano esconde as evidências.

Marilyn Burns entra logo em seguida, interpretando Faye, uma mulher sobrecarregada que possui um relacionamento conturbado com Roy (William Finley, Pague Para Entrar, Reze Para Sair), um doido resmungão. O casal está passando pela região e acaba parando no hotel de Judd, acompanhados da filha bem pequena Angie (Kyle Richards, que em 1978 atuou em Halloween), e o cachorrinho Snoopy. É curioso ver que Burns usa uma peruca channel no começo do filme, mas posteriormente revela sua verdadeira identidade. Logo que chegam ao local, o cachorrinho é devorado pelo crocodilo após ir xeretar no pântano, e a pequena Angie fica histérica, despertando antigas intrigas no casal. Revoltado com a perca do cachorro, Roy decide se livrar do crocodilo com uma escopeta, mas é brutalmente atacado por Jodd, que passa a estripar suas vítimas com uma foice enorme. Faye é atacada quando vai tomar banho, e a garotinha Angie tenta fugir e acaba ficando presa embaixo da estrutura do estabelecimento, um píer subterrâneo que tem acesso ao pântano.

Linda maneira de se morrer.

Por tratar do assunto prostituição, temos peitos e bundas femininas quase o filme inteiro, ainda mais sendo um slasher oitentista. Como já mencionado, a trilha sonora é composta por rugidos e arranhados incômodos, mas também temos canções rurais típicas do interior norte-americano e muita música country. A história foi levemente inspirada em Joe Ball (conhecido também como Alligator Man e Açougueiro de Elmendorf), um serial killer do Texas que supostamente matou 20 mulheres e descartou seus restos mortais como alimento para seu crocodilo durante a década de trinta. O enredo foi adaptado pelo mesmo roteirista de O Massacre da Serra Elétrica.

Marilyn Burns passa quase o filme inteiro sofrendo, amordaçada e amarrada em uma cama. Por algum motivo, Judd não resolve matá-la de imediato, e faz da mulher uma refém, possivelmente para abusá-la sexualmente depois. Existem cenas provando que Judd sempre se ferrou no amor, pois recebia humilhações de todos na região, até mesmo das prostitutas, então ele fez questão de manter uma vítima presa para realizar seus desejos doentios. Ao longo do filme, várias pessoas passam pelo Hotel Starlight, incluindo Harvey Wood (Mel Ferrer) e sua filha, Libby (Crystin Sinclaire), procurando informações de Clara (a prostituta desaparecida do começo do filme), que na verdade é uma filha fugitiva de Harvey. Eles ficam pouco tempo no hotel, pois Judd nega que tenha visto a garota. Na companhia do xerife casca grossa Martin (Stuart Whitman), Harvey e Libby também procuram informações com Miss Hattie, a cafetona velha que comanda o puteiro da região, mas ela mente falando não conhecer Clara. Pode parecer somente uma coincidência de detalhes, mas o esqueleto do filme é extremamente parecido com Psicose (1960), só que sem o suspense de Hitchcock e com uma pegada mais rústica e barulhenta.

Marilyn Burns nos anos 70, linda e azarada.

Apesar de o filme ter drama desde o início, o ritmo é meio diferenciado dos outros projetos lançados naquela época, se tornando maçante em alguns momentos. A estética é escura e repleta de luzes coloridas, principalmente o vermelho, cor que predomina diante do hotelzinho de Judd. Em certo ponto, Harvey retorna para o hotel pantanoso sozinho, pois Libby resolveu sair para jantar e tomar alguns drinks com o xerife. Tudo sai do controle quando Harvey descobre que Faye está sendo torturada em um dos quartos, e acaba sendo atacado por Judd com a foice gigante, na morte mais dolorosa do filme. A ferramenta é cravada em seu pescoço, o fazendo agonizar por um bom tempo antes de ser devorado pelo crocodilo. É lindo.

Falando do crocodilo, ele tem bastante presença no filme, mas aparece bem pouco durante os 91 minutos de projeção, assim como Spielberg idealizou em Tubarão (1975), mantendo um alto nível de suspense. A criatura nunca sai do pântano, apenas em dois momentos do filme, e vive dando “botes” nas vítimas, provocando alguns sustos que funcionam. É um animal enorme e silencioso, suas aparições ficaram marcadas principalmente durante a morte do caipira Buck, que é empurrado no pântano e acaba sendo devorado vivo. Levando em conta as limitações da época e baixo orçamento, o crocodilo é muito bem feito, com movimentos fluidos e uma boa mecânica, sempre camuflado pela fumaça ambiente e a montagem do filme. Na realidade, não se trata diretamente de uma história baseada em um animal assassino, assim como Pânico no Lago (1999), em Eaten Alive, Hooper explora novamente a insanidade humana, mostrando um homem atormentado que, provavelmente, usa o crocodilo como mero pretexto para provocar suas chacinas despercebidas. Lembrando que Hooper acabou fazendo outro longa sobre uma criatura gigante anos depois, em 2000, no filme intitulado Crocodilo.

Sally é você?! rsrs

Após assistir o filme algumas vezes, puder perceber uma motivação nos assassinatos que Jodd provoca. Ele sabe que o crocodilo gigante age por puro instinto, e pode atacá-lo a qualquer momento, por isso decide alimentar o animar com as pessoas que ficam hospedadas no hotelzinho de vez em quando. É uma alternativa para manter a criatura alimentada, evitando ser devorado inesperadamente. Em certo ponto, Jodd até acha que o animal ataca por sentir ciúmes do dono. Ele sente medo do crocodilo, mas parece não ser capaz de abandoná-lo.

Enquanto tudo acontece, o caipira Buck interpretado por Englund é expulso do bar com uma gostosona (vivida por Janus Blythe, a Ruby de Quadrilha de Sádicos), e os dois vão infernizar Judd no hotelzinho. Mesmo sendo relaxado e bagunçado, Buck é corajoso e resolve tomar uma atitude quando ouve gemidos vindos debaixo do hotel, mas acaba sendo empurrado dentro do pântano inesperadamente. A gostosona que estava com ele consegue fugir, e não demora muito para Libby chegar ao local e descobrir o que estava acontecendo. Ao tentar deter a mulher e matar a pequena Angie, Judd acaba caindo dentro do pântano, e tem sua cabeça destruída pelo animal de estimação, em uma bela cena.

Assim como O Massacre da Serra Elétrica, o final é bem rápido e ausente de informações, ao acompanharmos o xerife Martin chegando ao local e resgatando as garotas. O único vestígio restante de Judd é sua perna de madeira que, ironicamente, havia sido desmembrada pelo crocodilo alguns anos atrás. Gostaria de saber o que aconteceu em seguida... O xerife tentou matar o crocodilo? Ou ele continuou aterrorizando e mutilando suas vítimas? Pois como dizia Judd, esse tipo de criatura não morre pela natureza, pelo tempo... Alguém precisa ter coragem o suficiente para matá-lo. Eaten Alive (1976) pode ter influenciado uma avalanche de filmes com crocodilos gigantes, mas ele continua no topo, por mostrar que o ser humano pode ter um instinto tão sangrento quanto o animal selvagem.
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TRAILER DE 1976:
CURIOSIDADES:
1) O maquiador Craig Reardon afirmou que Robert Caramico dirigiu várias cenas devido as diferenças criativas entre Tobe Hooper e o resto da produção.

2) Exitem teorias (não oficiais) sobre uma relação entre O Massacre da Serra Elétrica (1974) e esse filme, envolvendo as presenças de Marilyn Burns e Tobe Hooper.

CONTAGEM DE CORPOS (6):
Assassino Judd:
Ex-prostituta: recebe inúmeros golpes de foice e é servida de alimento para o crocodilo.
Roy: golpeado com foice e abocanhado pelo crocodilo.
Harvey: foice cravada no pescoço, devorado pelo crocodilo.
Buck: empurrado no pântano e devorado vivo.
OUTRAS MORTES:
Macaco do hotel: causa desconhecida.
Cachorrinho Snoopy: devorado pelo crocodilo.
Judd: cabeça arrebentada ao ser abocanhado.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Evil Dead - A Morte do Demônio (1981) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Evil Dead é um dos melhores filmes de terror já feito. Em tempos passados, o diretor Sam Raimi colocou em prática a avalanche de violência explícita, tripas expostas e muito, MUITO sangue. VERDADEIRO FILMÃO DA PORRA. Uma experiência que ultrapassa medo e fantasia, continuando o legado mesmo com o baixo orçamento e inúmeras limitações da época. Não é um filme qualquer. Sam Raimi conseguiu transformar em realidade o sonho de qualquer cineasta amador de horror. A produção deu tão certo, que lançou o diretor ao mundo do cinema e começou uma trilogia que se manteve por mais 11 anos (isso sem contar o reboot que rolou em 2013, resgatando a franquia para uma nova geração). Atualmente, Evil Dead é essencial para qualquer fã de horror, principalmente os pesados, envolvendo possessões demoníacas, ritos de passagem e o maravilhoso gore que perturba e agrada em uma combinação jamais presenciada novamente. É uma experiência perfeita para as noites tenebrosas, para as madrugadas de silêncio, ainda mais se você estiver bêbado ou chapado de fumaça. Medo e delírio? Risadas? É muito mais que isso.

Diferente dos próximos filmes (que abordaram o humor negro), o primeiro capítulo da franquia é perturbado em todos os sentidos. Em nosso território nacional rolou uma famigerada confusão com os títulos dos filmes: tem gente que se refere como Evil Dead 1, outras chamam de Uma Noite Alucinante, mas o nome oficial utilizado por aqui foi A Morte do Demônio, que apesar de bastante nostálgico, acabou saindo da premissa que será mostrada em tela. Já o segundo filme foi automaticamente batizado de Uma Noite Alucinante por aqui (ao invés de Evil Dead 2), confundindo o público desde 1987. A fita VHS é provavelmente o item mais raro para se encontrar nacionalmente, e um desejo de qualquer colecionador do horror. Facilmente encontrada por, no mínimo, 400 reais. Se você tem a oportunidade de assistir os 85 minutos de projeção em um formato desses, pode se considerar um sortudo nato. Não se trata apenas de um filme amador, e sim uma experiência surreal que iniciou uma avalanche sangrenta. Bruce Campbell começa destacar sua carreira aqui, se eternizando no papel de Ashley Williams.

Para conseguir o dinheiro necessário, Sam Raimi dirigiu Within the Woods em 1978, um curta metragem extremamente amador e repleto com situações que seriam exploradas com maior profundidade em Evil Dead. O curta tem a presença de Bruce Campbell e se tornou ouro puro para qualquer fã do horror. Quem tiver curiosidade, o Portal Tartárico analisou e disponibilizou o curta para ser assistido aqui mesmo no blog, completo e legendado (clique aqui para conferir). Vale muito a pena, é um clássico amador.

"We're gonna get you..."

Seguindo a premissa desse tipo de produção, o enredo é muito simples. Cinco amigos estão passeando pelas montanhas e se hospedam em uma velha cabana na floresta. O elenco é composto por Ashley (Bruce Campbell), sua namorada Linda (Betsy Baker) e sua irmã Cheryl (Ellen Sandweiss), também temos o casal brincalhão Scott (Hal Delrich) e Shelly (Sarah York). Nessa cabana, eles acabam encontrando um livro denominado como Necronomicon, o Livro dos Mortos, encadernado em pele humana e escrito com sangue. Junto do livro, uma fita cassete foi deixada pelo antigo morador da cabana, um arqueólogo que explorava as tumbas de Kandar. Ao reproduzir essa fita em um gravador, o grupo acaba ouvindo um relado do arqueólogo, afirmando que, com o livro, ele involuntariamente liberou forças diabólicas que tinham a capacidade de se apossar dos vivos. O livro continha passagens cabalísticas de rituais de sepultamento e feitiços funerários, que quando recitados em voz alta, tinham o poder de ressuscitar os mortos. Acidentalmente, a fita acaba recitando um encantamento, descrito como:

"Tatra amistrobin azarta, tatis manor manziz hounaz, ansobar saman darobza dahir saika danz deroza, kandar, kandar, kandar."

Era o começo do fim. Sem querer, as forças malignas que vagam pela floresta acabam sendo liberadas para destruir os vivos. Essa cena é uma das mais lindas que já presenciei no gênero. Acho sensacional a dinâmica usada para conduzir a montagem do renascimento; a inocência dos jovens sendo dominada pelas palavras frias da narração do arqueólogo, o mal nascendo diretamente da natureza, nas sombras da floresta escura. O clima funciona e continua me surpreendendo até hoje em dia. Aos poucos, todos os jovens vão sendo possuídos pelos mortos e se tornando criaturas abomináveis, sedentas por sangue. No final sobra somente Ash, o herói hesitante, para destruí-los e lutar pela vida. Aliás, não me responsabilizo por quem recitar as palavras acima em voz alta, faça isso por conta e risco próprio rsrs.

A última refeição.

O filme foi literalmente gravado em uma cabana abandonada nas montanhas, isso agrega um realismo essencial. Se imagine em um lugar desses, altas horas da madrugada, com apenas uma câmera na mão. É essa sensação que o filme transcende, sempre com tomadas improvisadas e criativas, deixando tudo com uma pitada rural de documentário. A cena em que os jovens chegam de carro na cabana é mostrada em tempo real, com a perspectiva posicionada atrás do automóvel, sem cortes. Dessa maneira o telespectador consegue acompanhar e reparar no cenário ao redor, sem muito esforço e com bastante interesse. Na prática, esse tipo de direção sempre funcionou com filmes de terror; câmeras subjetivas e externas sombrias eram obrigatórias naquela época.

Linda e Ash... O amor trágico jamais foi o mesmo.

Após o ritual demoníaco virar realidade, um por um, todos os jovens são possuídos e deixam sua essência desaparecer. Cheryl acaba sendo atacada e estuprada pelas árvores da floresta, em uma cena grotesca e extremamente barulhenta. Os gritos da mulher parecem gemidos de pornô (KKKKKKKKK), e provavelmente ela é a personagem que mais sofre na trama, porque além de ser possuída, ainda é trancafiada em um porão pelos seus amigos desesperados, e passa a maior parte do filme deformada, podre e emitindo ameaças em formas de grunhidos. As péssimas atuações não entregam totalmente o drama que o filme exige, mas hoje em dia são consideradas o verdadeiro charme de Evil Dead. A falta de experiência por parte do elenco e produção deixa tudo mais assustador. Sentimos falta do profissional, tornando as cenas mais assustadoras e caseiras. Tudo pode acontecer dessa maneira.

Sam Raimi e sua direção misteriosa.

Pelo nível amador da produção, os efeitos são muito bons, exceto por alguns detalhes de maquiagem ou erros de continuação. Existem cenas que percebemos altos relevos que denunciam a maquiagem caseira, ou alguns momentos em que Ash é recebido com litros de sangue, e na cena seguinte está limpo, como se nada tivesse acontecido. Isso não atrapalha, principalmente sabendo das limitações que o filme sofreu. Toda a violência é explicita em tela, vemos calcanhares sendo perfurados com golpes de lápis, membros decepados e esmagados, cabeças explodidas com tiros de escopeta. O sangue é um espetáculo, se tornando um fator chave na dinâmica do filme. A trilha sonora é quase inexistente, as cenas são bombardeadas com ruídos agonizantes e gritos de possessão, portanto se prepare para ficar perturbado. Todos os momentos em que um personagem é tomado se mantêm registrado com cenas assustadoras (o meu preferido é o primeiro, quando Cheryl é possuída diante de uma janela). A simplicidade que o filme é feito impressiona e assusta cada vez mais, desde tomadas, cenários, perspectivas de câmeras e rugidos incômodos. Quem sentir encanação? Fique chapado e encare uma sessão de Evil Dead altas horas da noite, com as luzes apagadas. Pode ter certeza que será uma experiência inesquecível e muito tenebrosa.

O sangue se tornando um evento.

O filme trata a natureza de uma forma diferenciada. A floresta escura parece observar os passos dos jovens, sempre misteriosa. Em todas as cenas do horizonte noturno, percebemos uma lua extremamente grande para os padrões reais, iconicamente sendo encoberta por sombras negras. Existe um simbolismo oculto em muitos momentos, principalmente nas transições em que o mal começa a se manifestar. O elenco se esforça para dar o drama necessário, mas só conseguem quando já estão possuídos e com as feições deterioradas. De fato, Bruce Campbell é o que mais age com naturalidade em seu papel, entregando uma junção de afeto, preocupação e muito trauma. No começo ele sempre está hesitante e na duvida das atitudes que deve tomar, mas quando não lhe sobra alternativa, acompanhamos o personagem mergulhar em uma solidão doentia, chegando ao ponto de arrancar a cabeça de sua namorada com uma pá de jardinagem, e esquartejar seus amigos zumbis em legitima defesa. A necessidade de sobreviver o fez tomar inúmeras decisões que mudaram sua personalidade, o deixando frio e atrapalhado. Lembrando que tudo isso acontece em apenas uma noite.

Bons sonhos para todos.

Uma questão sempre intrigou o publico: se todos estavam sendo possuído pelas forças malignas da floresta, como Ash ficou imune? Obviamente o roteiro precisava de um herói final, então essa pergunta pode ser facilmente respondida, mesmo sem nenhuma profundidade maior. A solução final encontrada por ele é a destruição do Livro dos Mortos, o jogando nas chamas da lareira, enquanto é brutalmente atacado pelos amigos possuídos. É um final apressado e sem explicações, mas o suficiente depois de litros de sangue derramado. O efeito mais difícil reproduzido foi o derretimento final dos cadáveres, uma cena lenta e silenciosa onde vemos carne se transformando em estado liquido, em uma mistura nojenta de sangue, músculos deteriorados, pus e insetos (incluindo baratas).

O mestre Stephen King adorou o filme, considerando ele único e diferente em uma época que a violência explicita estava explodindo na Sétima Arte. Os slasher estavam dominando legiões de fãs, e a obra prima de Sam Raimi conseguiu se manter no alto patamar até os dias atuais. O flerte de King ajudou muito a franquia, porque foi ele quem decidiu procurar um financiamento maior para o próximo capítulo, que estreou somente 6 anos depois, em 1987. A equipe despertou o interesse nos amantes do horror, e criaram inúmeros conceitos que se tornariam marca registrada do gênero. Tudo isso com pouco dinheiro e uma produção despreparada, sem nenhuma experiência por parte dos envolvidos. Com certeza é um dos melhores filmes de terror já feitos pela humanidade, e sei que continuará assim por muitos anos. É difícil bater de frente com esse tipo de fita.

Necronomicon, o Livro dos Mortos.

Se você nunca assistiu, abra sua mente e faça isso agora mesmo. A mitologia envolvendo a trilogia é bem interessante e contada aos poucos, despertando curiosidade. E as novidades não param, pois atualmente existe uma série sobre a franquia que já conta com duas temporadas, intitulada Ash vs Evil Dead, em desenvolvimento desde 2015. A série é protagonizada por Bruce Campbell e se passa 30 anos após os filmes, essa é a oportunidade perfeita para quem não conhece a história, uma chance para criar uma profunda conexão com a obra, e se tornarem novos fãs. Se algum dia você encontrar uma pessoa que adora terror, mas não gostou de Evil Dead (1981), por favor, pegue uma escopeta ou um machete e corte a cabeça dela. Acredite no seu instinto, ela não vai fazer muita diferença nesse mundo doido. Grande abraço!
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TRAILER DE 1981:
CURIOSIDADES:
1) No final das gravações, a equipe enterrou uma cápsula do tempo dentro da lareira que existia na cabana, como uma forma de homenagem para futuras gerações. A cabana foi destruída, mas a cápsula foi encontrada por um casal de fãs calorosos de Evil Dead que descobriram que a lareira do local ainda estava intacta.

2) No roteiro original foi decidido que todos os personagens fumariam maconha quando ouvem a fita pela primeira vez. Os atores decidiram fazer isso na prática, e posteriormente a cena precisou ser refilmada devido aos seus comportamentos incontroláveis.

3) Em certo ponto das gravações, a blusa que Bruce Campbell estava usando ficou tão impregnada com sangue falso, que acabou petrificada e rachou no meio quando ele tentou vesti-la.

4) A cabana estava localizada em Morristown, Tennessee. Na biografia de Bruce Campbell, ele diz que acabou queimada anos mais tarde. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu (Sam Raimi diz que ele mesmo queimou após as filmagens). Além disso, ninguém pode dar informações exatas sobre o local, porque a única parte restante da estrutura é a chaminé de tijolos, e muitas pessoas já vandalizaram a propriedade.

5) Sam Raimi e Bruce Campbell eram amigos de faculdade, onde fizeram muitos filmes gravados em Super-8. Mais tarde eles se uniram com Ted Raimi e formaram várias colaborações juntos. Cambell virou o ator do grupo, pois "ele era aquele homem que as garotas queriam olhar".

6) No fim de um dia normal de gravação, Bruce Campbell retornava para casa na caçamba da caminhonete porque estava sujo de sangue da cabeça aos pés.


7) Um cinegrafista escorregou durante as filmagens, esmagando sua câmera no rosto de Bruce Campbell e arrancando vários dentes do ator.


8) O filme acabou ficando sem dinheiro no meio da produção. Os envolvidos fizeram de tudo para completar o filme, conseguiram empréstimos bancários de alto interesse, emprestaram dinheiro de amigos e familiares e até mesmo fizeram ligações golpistas para empresas no estado de Michigan. Essas ligações frias funcionaram na medida certa, e eles conseguiram refeições, gasolina e outras necessidades que o elenco e a equipe precisavam.


9) As lentes de contato usadas eram extremamente dolorosas para se colocar. Elas cobriam metade dos olhos e precisavam ser removidas dentro de 15 minutos para possibilitar o olho de respirar.

10) Há um cartaz rasgado de Quadrilha dos Sádicos (1977) visível em uma das cenas. Foi uma brincadeira para Wes Craven, afirmando que Evil Dead é ainda mais assustador.

CONTAGEM DE CORPOS (4):
Zumbi Shelly: esquartejada por Scott, tem braços, pernas e a maioria do corpo despedaçado com machadadas.
Zumbi Linda: decapitada por Ash, usando uma pá de jardinagem.
Zumbi Cheryl: carne e músculos derretidos após o Necronomicon ser arremessado na lareira.
Zumbi Scott: também derretido após a destruição do Necronomicon.