sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Sexta-Feira 13 Parte II (1981) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
________________________________________________

Sexta-Feira 13 Parte II (1981) é um ótimo filme, ensinando o belo exemplo de como se fazer uma continuação de qualidade. Com o final do antecessor (clique aqui para ler a crítica), várias possibilidades apareceram para se continuar a trágica história da família Voorhees, e podemos dizer que foram todas bem aproveitadas e muito bem orquestradas, porque a película é tão boa quanto o primeiro capítulo. Esse longa também traz alguns personagens de volta, atitude que a franquia abandonou após os anos. Aqui realmente temos uma continuação quase exata, mantendo a energia que todos os apaixonados queriam após o último desfecho. É interessante ver como esses filmes eram especiais e unicamente caprichados, principalmente por terem sido produzidos com baixo orçamento (como sempre), e com uma equipe, por vezes, de baixo experiência. O primeiro filme foi produzido pela Warner, e agora temos uma produção da Paramount, provavelmente a distribuidora mais gratificando que a franquia já teve, envolvida até o oitavo capítulo em 1989, quando os direitos foram vendidos para a New Line Cinema no objetivo de realizarem o aguardado duelo entre Freddy Krueger e Jason Voorhees, mas tudo isso é conversa para outra crítica.

Produzido somente um ano depois do primeiro, agora temos Steve Miner na leal direção, apresentando pela primeira vez Jason Voorhees como assassino da trama, talvez o serial killer mais conhecido do gênero moderno. Esse é o capítulo que já começamos a seguir o típico padrão que viria desgastar a franquia: um grupo de adolescentes (ou pós-adolescentes) em um lugar que não podem receber nenhuma ajuda dos adultos, sendo mortos um por um das mais variadas maneiras, no final sobrando somente a final girl (geralmente loira) para “foder” com o nosso assassino. Essa basicamente é a fórmula que vamos acompanhar em todos os capítulos, tendo somente algumas variações básicas.

Começamos com uma excelente abertura para começar, acompanhando mais uma vez a jovem Alice (Adrienne King retornando no papel) a dramática sobrevivente do filme anterior. Agora vemos a residência dela em uma tranquila rua, banhada pela escura noite. Alice esta dormindo e acompanhamos seus sonhos (em forma de flashback), com as suas lembranças de quando decapitou Pamela Voorhees, a assassina do primeiro longa, cujo objetivo era vingar a “morte” de seu filho Jason Voorhees. Alice parece atormentada com tudo que aconteceu, angustiada enquanto dorme, até mesmo provocando pesadelos (Freddy Krueger mandou um abraço rsrs). Na ideia original, Alice faria parte do filme inteiro, mas a atriz Adrienne King desejou participar somente dos primeiros minutos, pois na época estava sendo perseguida por um stalker obcecado, afetando sua vida pessoal (saiba mais nas curiosidades disponíveis no final da crítica).

Alice conversando com sua mãe.

Logo que ela acorda, toma um dos banhos mais rápidos da história (sério, dura uns 15 segundos) e recebe duas ligações: uma de sua mãe, e outra estranhamente silenciosa, sem nenhum ruído do outro lado, obviamente para assustá-la; acho impressionante que, provavelmente, tenha sido Jason quem fez a ligação no meio da noite... Quem mais poderia ser? Bem macabro, já imaginaram Jason Voorhees fazendo uma ligação? Pois bem, logo ela toma um susto com seu gato alaranjado, e ao abrir a geladeira para servir o leite, encontra a cabeça da Sra. Voorhees ao lado dos alimentos. Uma cena antológica e completamente criativa. Logo alguém a puxa pelas costas com violência, trajando roupas xadrez azulado, e Alice recebe uma facada na “fonte”, bem na lateral da cabeça. Isso é dolorido somente de pensar. Jason aparenta estar mais velho, um jovem adulto com energia e agilidade; em minha opinião, é uma das aparições mais macabras do assassino, é realmente assustador e com uma pegada misteriosa. A morte de Alice antes da abertura tem um grande simbolismo. Existem muitos filmes em que o protagonista do capítulo anterior é morto na sequência, como Nancy em A Hora do Pesadelo, Jack em Maniac Cop e Brody em Tubarão.

A clássica cabeça na geladeira.

Na época de produção, rolou uma intriga na equipe do filme original, pois o argumento de Sexta-Feira 13 Parte II torceu o nariz da maioria das pessoas associadas à franquia até então. Betsy Palmer (a assassina), Tom Savini (o especialista em efeitos especiais) e Sean Cunningham (diretor e criador da película original) fizeram comentários públicos afirmando que era grande estupides Jason estar vivo e presente durante o filme. Se ele estivesse mesmo vivo, por que não disse isso a Pamela Voorhees, sua mãe, e evitado todos os assassinatos do primeiro filme? Enfim, o último desfecho mostrou Jason pulando do lago e atacando Alice, mas é deixado no ar se aquilo realmente aconteceu, porque Alice acorda no hospital e a polícia afirma que não havia nenhum garoto no lago. Pode ter sido uma alucinação, mas acho que acabou virando uma espécie de compromisso com os fãs, a produção precisava mostrar mais um pouco daquela história. O gancho já estava ali, era só aproveitá-lo e expandir a história. Sem contar os milhões de dólares que rolaram para os engravatados da Warner e Paramount.

Então vemos a ótima abertura, onde podemos ouvir bem a trilha sonora que marcou época. Esse filme provavelmente é um dos melhores para o público de primeira-viajem, pois carrega todos os elementos que se tornariam ícones na franquia. Conhecemos o casal Jeff e Sandra, dois inúteis que estão indo para um centro de treinamento para monitores em Packanack Lodge, uma bonita área floresta muito próxima da colônia Crystal Lake, que agora se encontra fechada pelos assassinatos do filme anterior (voltaremos a ver Crystal Lake só no sexto filme).

Jeff e Sandra dirigem uma grande picape, e param para pedir informações pelo telefone. Nessa cena, Crazy Ralph aparece (se lembram do velho e sua bicicleta no filme anterior?) e alerta o casal que a região é amaldiçoada; interessante como resolveram trazê-lo novamente para a franquia, ainda com a mesma personalidade e tom de voz dramático.

Ralph alertando Jeff e Sandra.

Quando encontram com Ted, o magrelo piadista da turma, eles rumam para Packanack Lodge indo encontrar o resto da turma. No caminho encontram uma árvore derrubada, impedindo a estrada; provavelmente outra artimanha de Jason, nesse filme ele realmente esta muito jovem e ágil, e somos presenteados com essas situações imprevisíveis. Sem deixar de mencionar que logo após a morte de Alice, a chaleira com leite apita endoidada, e Jason literalmente tira a chaleira do fogão, em uma clássica cena que demonstra a preocupação do nosso assassino. Pequenos detalhes que fazem a diferença.

Então somos apresentados aos jovens inúteis da vez: Paul, bonitão e independente, ele está reunindo os demais para a ocasião de treinamento; temos também sua “namorada” Ginny, a final girl da película e psicóloga infantil (que de psicóloga não tem nada). Também conhecemos a gostosona Terry, a safadinha contida Vickie, o tarado por putaria Scott e o cadeirante Mark. Novamente um belo elenco de desconhecidos como cereja do bolo, mas já é bom se acostumarem, porque a franquia seguirá essa estratégia para aumentar o “body count”.

Os novos jovens reunidos em volta da fogueira.

Naquela noite, rola uma das cenas mais lembradas da franquia: todos se reúnem em volta da fogueira, e Paul, todo dramático, narra toda a história de Crystal Lake e da família Voorhees, contando os acontecidos do filme anterior e botando medo nos novos jovens. Gosto muito dessa cena, ainda mais porque ela se torna a abertura da Parte IV, em estilo flashback. Packanack Lodge é um pouco diferente de Crystal Lake, porque tem uma grande morada de madeira azulada no lugar dos vários chalés, e esse lugar se torna o “fluxo” da noite com a pequena festa que os jovens protagonizam logo em seguida. Nela já podemos identificar a personalidade de cada um: Scott sempre dando cantadas na bonita Terry (inclusive dando estilingadas em sua bunda e roubando suas roupas), Ginny sempre mandando comentários sarcásticos para Paul, entre outras coisas. Descobrimos que Sandra esta interessada em visitar Crystal Lake com seu namorado Jeff, mesmo sabendo que a área esta proibida, correndo o risco de serem presos. Crazy Ralph também aparece no local, e é morto enquanto observa Ginny e Paul se beijando. Pelo jeito, ele continuava com sua mania de vigiar os jovens, se fodendo nessa noite, enforcado por trás da árvore.

Percebemos que a direção trata Jason da mesma maneira que sua mãe era tratada, sem nunca revelar o rosto, no máximo um braço ou coisa do tipo. Em minha opinião, esse tipo de suspense sempre funciona, porque ficamos na expectativa para o momento da revelação. Nessa época, ele era muito parecido com Michael Myers, pela atitude de ficar vigiando suas vitimas pelas janelas e por trás das árvores, diferente do que vamos acompanhar nos próximos filmes. Não precisa ser um gênio para saber o motivo de Jason provocar sua matança: reza a lenda, que na noite que sua mãe foi decapitada pela monitora Alice, Jason estava acompanhando tudo, se vingando de todos que voltarem naquele lugar.

O tempo vai passando e os jovens vão ficando mais retardados (rsrs)

Na manhã seguinte, os jovens se divertem no lago igualzinho no filme anterior, só que no primeiro, tínhamos uma sensação de solidão maior, porque havia um número menor de pessoas; aqui, já temos uma tranquilidade descontraída e divertida, mas ainda seguindo lealmente o tom proposto. Tomando algumas cervejas e assistindo o VHS da película, consigo captar o real charme da franquia, com a pegada caseira dos primeiros filmes: cores verdes fortes e “queimaduras de cigarro” quase toda hora, dando uma atmosfera de tarde única.

Pra variar, Jeff e Sandra decidem ir até Crystal Lake, enquanto todos se divertem no lago. Rumando para a colônia, eles encontram o cachorro de Terry morto (ele tinha desaparecido durante a manhã), e logo são pegos pelo policial Winslow, um oficial que ronda Crystal Lake procurando invasores. Naquela mesma tarde enquanto vaga pela região, Winslow vê Jason atravessando a estrada correndo (nesse rápido momento podemos perceber que o assassino usa um saco na cabeça, como se fosse um pano branco). Winslow persegue o intruso pela mata, até encontrar uma velha cabana aos pedaços; essa cabana é o “abrigo” de Jason, possivelmente utilizado por sua mãe no filme anterior. Não demora muito para tomar uma martelada na cabeça.

O policial ao lado do abrigo de Jason.

Ao cair da noite, os jovens decidem ir para a cidade tomar umas cervejas e ouvir boas músicas, porque o acampamento não traz muitas opções de diversão. A maioria acompanha Paul, Ginny e Ted para a ocasião, mas uma boa parte resolve ficar (e já sabemos que vão morrer rsrs). Terry vai nadar pelada no lago, e tem suas roupas roubas por Scott, enquanto Vickie fica tentando conquistar o simpático cadeirante Mark. Jeff e Sandra, por outro lado, transam no segundo andar.

Não vou ficar resumindo cada assassinato (por isso existe a sessão “contagem de corpos” no final da crítica), mas o filme se resume nisso agora: um por um, os jovens vão morrendo na calada noite, sem nunca revelar o autor. Infelizmente, aqui não temos a maquiagem do mestre Tom Savini como no antecessor, só que o trabalho ainda transmite certa satisfação (Savini só voltaria na Parte IV). Destaque para a cena que Mark tem o facão cravado no rosto, caindo da escadaria com a cadeira de rodas na noite chuvosa (cadeiras de roda e filmes de terror não dão certo).

O cadeirante com o facão no rosto.

Logo é a vez de Jeff e Sandra, na clássica cena que Jason entra no quarto com uma lança e atravessa os dois deitados na cama (simplesmente sensacional). Enquanto no bar da cidade, Ginny começa a se preocupar com a história de Jason (santa bebida), e fica assustado alertando os amigos. Ted fica no estabelecimento com a galera, enquanto ela e Paul retornam até Packanack Lodge. No momento, ocorre a morte de Vickie no local (uma cena bem importante), em que vemos pela primeira vez Jason de corpo inteiro; deitado debaixo do lençol, como se fosse o casal de amantes, se revelando para Vickie antes de matá-la. A vestimenta de Jason realmente parece inspirada em The Town That Dreaded Sundown (1976), um saco de pano na cabeça e vestes xadrez azul. Uma das versões mais assustadoras do nosso querido assassino.

O jovem Jason Voorhees.

Novamente temos um final numa noite chuvosa, e ao chegarem ao local, Paul e Ginny já logo desconfiam: tudo está vazio e silencioso, uma cama ensanguentada é encontrada e o fusível de energia parou de funcionar. Um clima clássico se estende até a aparição de Jason, que literalmente sai no braço com Paul. Ginny é tão dramática quanto Alice no filme anterior, protagonizando uma das melhores perseguição finais da franquia. Jason está inspirado e alucinado, correndo e quebrando tudo pelo caminho com tridentes, machetes e tudo mais. Quando Ginny se vê sozinha, podemos apreciar a atuação de Amy Steel, fazendo tudo para escapar do nosso assassino. Lembrando que Jason apanha bem nesse capitulo, mas ainda não é aquele “ser sobrenatural” que veríamos a partir do sexto filme, aqui ele age como um homem adulto em vingança.

Como se esquecer da fantástica cena que Ginny, escondida debaixo da cama de um dos chalés, observa Jason a procurando pelo quarto; uma ratazana aparece ao lado dela, fazendo nossa protagonista urinar nas calças (literalmente), e ser ouvida por Jason. Simplesmente inesquecível.

Que época maravilhosa!

Não demora muito para Ginny acabar chegando ao velho “abrigo” de Jason, onde o policial Winslow morreu. Novamente, temos uma cena memorável, que infelizmente não vai ser aproveitada na continuação (em partes). A película nos revela um santuário do querido Jason, onde ele guarda a cabeça decapitada de sua mãe vingativa. Do mesmo jeito que ela era devota ao filho, vemos Jason retribuindo o amor de uma forma maravilhosa (até mesmo grotesca rsrs). Fora a cabeça, ele ainda guarda as roupas, como o clássico suéter cinza que ela usava na noite da tragédia.

A cabeça e pertences de Pamela Voorhees.

Ginny, que sempre considerou a hipótese de Jason estar vivo, veste o suéter de Pamela Voorhees, com intuito de se passar por ela, já sabendo das fraquezas do filho retardado. Quando ele invade o local, vemos que Jason realmente é muito fraco quando se fala de sua mãe: o rapaz consegue ter visões dela (novamente com Betsy Palmer) dando ordens para ele. Ginny aproveita a situação para o mandar se ajoelhar, mas Jason percebe a farsa e enfia uma picareta em sua perna.

Paul aparece do nada (!!!) e novamente sai no braço com Jason, Ginny pega o facão e crava no ombro do assassino com toda sua força, perfurando metade do busto; Jason cai aparentemente morto (lembre-se que nessa época ele ainda não era um ser imotar), e o casal retira o pano de sua cabeça (sem revelar o rosto).

Ginny em estado de choque.

Ao voltarem até um dos chalés, já no finalzinho do longa, ouvimos um barulho na porta. Paul, como sempre independente, a abre para nos revelar que o cachorro de Terry ainda esta vivo (mas o que?)... Quando tudo parece ter terminado na tranquilidade, Jason pula pela janela sem nenhuma proteção no rosto, e podemos ver perfeitamente a face do assassino: completamente deformando e com longos cabelos castanhos. O jovem Jason é feio que só ele, tendo muito que piorar nos próximos.

A primeira de muitas!

O filme corta para Ginny sendo levada na ambulância, e o roteiro não nos explica que porra aconteceu: ele pulando da janela foi uma alucinação? Paul está vivo? O que vai acontecer com Ginny? Na realidade, a atriz Amy Steel foi chamada para atuar no próximo filme, mas recusou por causa dos empresários (hoje em dia ela diz que se arrepende eternamente); parecido com o que aconteceu com Adrienne King, nossa Alice, que negou sua atuação devido um fã alucinado que a perseguia na época, realmente afetando sua vida pessoal.

Não tem erro, Sexta-Feira 13 Parte II é uma ótima experiência, e me sinto no direito de recomendá-la para todos. Temos muitos erros e muitas tonteiras, mas a obra se mantem no mesmo nível que a mitologia exigi. Temos Jason em ótima forma, e em ótima época; um ser desnorteado e vingativo, somente parado pelo destino traiçoeiro. A franquia estava com a carga toda, e voltariam no próximo ano com a mesma fórmula que havia criado... Era só o começo.
____________________________________


TRAILER DE 1981:

CONTAGEM DE CORPOS (10):
Assassino Jason Voorhees:
Alice: facada na cabeça.
Crazy Ralph: enforcado com arame.
Policial Winslow: martelada na cabeça.
Scott: garganta cortada com machete.
Terry: morte “offscreen”
Mark: facão cravado no rosto, caindo da escadaria.
Jeff: empalado na cama.
Sandra: empalada na cama.
Vickie: facada no estômago.
Paul: desaparecido, supostamente morto.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Brinquedo Assassino (1988) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
________________________________________________

Brinquedo Assassino (1988) é um dos melhores exemplos da bela sincronia do terror e temáticas que remetem à nossa infância, no caso os brinquedos (em teoria são assuntos bem distintos, mas se unidos, se tornam assustadoras e muito bem planejados). Todo mundo já teve brinquedos, e medo também, então não tem como dar errado. O filme pode contar com uma “fantasia” inexistente e com vários clichês, mas não deixa de ser uma excelente nostalgia. Quem teve a oportunidade de se assustar com Brinquedo Assassino durante a infância, jamais esquecera do poder desse filme sinistro. Dirigido por Tom Holland (que também lançou A Hora do Espanto) e com roteiro escrito por Don Mancini (roteirista da franquia toda), a película é magistralmente repleta com humor negro e uma estética noturna memorável, mostrando a cidade de Chicago preenchida com becos escuros e esfumaçados; parecida com a NY de Jason Ataca em Nova York (1989). Uma pegada realista corta a tal “fantasia” que o filme exige do público, e com certeza esse é o capítulo mais “dark” da franquia. Ótima escolha para se assistir a noite, antes de dormir, principalmente pelo alto suspense que se desenvolve com tranquilidade; aliás, os três primeiros filmes da franquia podem ser assistidos em uma ocasião dessas, ainda mais acompanhado de um bom conhaque ou um vinho vagabundo.

Sem mencionar que Chucky é um dos assassinos mais reconhecidos dos slashers, ao lado de Jason Voorhees, Michael Myers, Freddy Krueger e Leatherface. Infelizmente, muitas pessoas conhecem o personagem pelos péssimos A Noiva de Chucky (1998) e O Filho de Chucky (2004), e não se lembram do charme e seriedade que rolavam na trilogia Brinquedo Assassino, um marco dos anos 80 e 90. Sempre fico na dúvida de qual o meu preferido, pois todos tem suas características diferentes, o primeiro é com certeza o mais clássico, o segundo é mais descontraído, já o terceiro é o mais frenético e com uma conclusão brutal. Que trilogia linda!

A prateleira repleta com bonecos Good Guy.

O filme começa com uma perseguição pelas ruas sujas na noite esfumaçada. Charles Lee Ray (Brad Douri de Um Estranho no Ninho, 1975) também conhecido como “o estrangulador de Lakeshore” está fugindo com seu comparsa Eddie Caputo, e são perseguido de perto pela polícia. Acontece que Eddie abandona Charles por ele ter tomado um tiro na perna e estar mancando. Com o detetive Mike Norris (Chris Sarandon) em sua cola, Charles invade uma loja de brinquedos para realizar às pressas uma antiga magia negra, e transferir sua alma para alguma coisa antes que morra de uma vez. A única alternativa que passa na cabeça do maníaco é algum brinquedo.

Essa é a “fantasia” que o filme exige da audiência, se você aceitá-la, então vai adorar a produção sem maiores problemas. A cena é bem macabra, com Charles perdendo muito sangue pela estranha loja de brinquedos, e encontrando vários bonecos da linha Good Guy (grandes, ruivos e que falam algumas frases). Sem alternativa, ele solta a magia de Damballa em um dos bonecos, fazendo a loja ser atingida e destruída por um forte raio (inclusive, sempre que vemos o feitiço sendo executado na franquia, o céu fica completamente tomado por nuvens, mesmo durante a noite).

Charles Lee Ray transferindo sua alma.

Somos então apresentados ao garotinho de seis anos Andy Barclay (Alex Vincent, fazendo o papel de sua vida), um menino carinhoso que é APAIXONADO pelo personagem Good Guy, tanto que não perde um desenho na televisão, anda pelo apartamento vestido com o macacão do personagem, dentre outras coisas. Andy está fazendo aniversário naquele dia, e vê uma chamativa propaganda do novo boneco Good Guy na televisão, tendo certeza que sua mãe, Karen Barclay (Catherine Hicks), vai presenteá-lo com ele. Andy faz até questão de preparar o café da manhã para ela (fodendo tudo, é claro), visando ser presenteado com o tão amado boneco.

Acontece que ela não possui dinheiro suficiente para comprar o brinquedo, e da algumas roupas novas para Andy, deixando o garoto chateado (porra, que criança não iria ficar?), mas é naquela noite, no trabalho, que Karen e sua amiga Maggie Peterson (Dinah Manoff) encontram um mendigo vendendo um Good Guy baratinho, na saída do prédio. Na verdade, esse mendigo aproveitou a explosão da loja para roubar algumas mercadorias, incluindo o boneco amaldiçoado com a alma do estrangulador. Acho muito interessante como todo Good Guy fala uma frase com “nome próprio”, por exemplo: “Olá, eu sou Oscar, seu amigo para sempre!”, já Charles Lee Ray encarnado no plástico, usa seu antigo apelido, se denominando “Chucky”. Lembrando que os Good Guy’s possuem vozes finas e alegres, provavelmente para entreter as crianças mais novas.

Karen e Maggie comprando o Good Guy maldito.

Karen então dá o presente para seu filho, realizando seu desejo. Naquela noite, ela precisará ficar no trabalho até mais tarde, mesmo com o aniversário do filho, então deixa sua amiga Maggie cuidando do garoto. A primeira morte nas mãos do boneco é bem traumática, Andy afirma para Maggie que Chucky quer assistir o Jornal das 21h na televisão (possivelmente para ver o paradeiro de seu parceiro Eddie Caputo e se vingar). É claro, a mulher acha que Andy está inventando tudo, até mesmo quando ouve a televisão ligando e encontra o boneco sentado diante dela. Mesmo o garoto escovando os dentes no momento, ela ainda acha que foi ele quem armou a situação. Certa ela, quem iria imaginar que o boneco estava vivo e matando?

Logo ela toma uma martelada na cabeça e cai da janela do prédio, sendo esmagada em um carro (!!!), só que a direção de Holland nunca nos mostra o boneco em ação, somente algum movimento brusco e cortado, mantendo o suspense até a metade do filme, quando finalmente vamos ver ele causando. O boneco aparentemente age com uma grande força, e consegue se comunicar somente com o garoto (nunca mostrado em cenas), aproveitando sua inocência para ter a liberdade de abrir seu pessoal e sua verdadeira identidade.

Andy Barclay e Chucky (boneco feio da porra).

Quando Karen Barclay volta do trabalho, encontra o seu apartamento repleto de policias folgados. O detetive Norris (o mesmo que perseguiu Lee Ray na abertura) também esta no local, investigando a causa do “acidente”. Aparentemente, quem cometeu o crime com o martelo havia subido em cima da mesa, derrubado farinha e deixado pegadas; como Andy usa sapatos idênticos ao do boneco, o detetive desconfia. Karen por outro lado, fica perplexa com a morte da amiga e expulsa todos os policiais do apartamento. Rola uma cena em que Andy repara nos sapatos do boneco sujos com farinha, e avisa o detetive, sem acreditarem em nenhuma palavra, é claro.

Ela começa a ficar realmente preocupada, quando o garoto afirma que o boneco esta vivo e que xingou Maggie de “bitch”. Karen fica indignada, tendo total certeza que o filho esta inventando tudo. Muito bem feito o suspense da película, envolvendo o garoto e seu boneco em tragédias, todas sem explicações; Chucky se mantem contido como nunca, bem diferente do que veremos nas próximas continuações da franquia.

O galã do filme, detetive Mike Norris.

Quando a velha casa de Eddie Caputo explode com ele dentro, a polícia recolhe o garoto Andy, e avisam Karen, que se o menino não começar a dizer a verdade, iram tirá-lo de sua guarda temporariamente. Desesperada, ela implora para o menino parar com as conversas de Chucky, e contar a verdade. O filme já é “velho” e o assunto já é clichê, mas porra, eu acho de uma criatividade absurda... A confusão só vai aumentando, e como todos podem imaginar, nem um ser humano acreditaria que um boneco estava assassinando, ainda mais sendo afirmado por um garoto de seis anos.

Andy é então retirado de sua mãe, e ela não sabe o que fazer. Sozinha em casa com o boneco, ela pega a enorme caixa Good Guy para jogar fora, quando de repente, as pilhas caem no chão; ela então percebe que o brinquedo estava funcionando sem baterias por todo esse tempo. Quando ameaça jogá-lo na lareira, vemos pela primeira vez nosso querido Chucky “acordado”, e muito nervoso. A concepção de Chucky é algo que nunca vai envelhecer, diferente do CGI dos filmes atuais, porque de fato o boneco era de verdade e controlado por controle remoto, não tendo como soar falso. Um trabalho memorável, realçado pela excelente dublagem de Brad Dourif; sinceramente, assistir essa obra dublada é um desperdício, perdendo muito o poder que nos passa, portanto, sempre assista com o áudio original!

Uma amizade de amor e ódio.

O boneco consegue fugir do apartamento e escapar pela rua. Karen, sem opção, procura novamente o detetive Norris, e garante que o boneco vive. Como ele não acredita, a mãe do garoto parte pelos becos noturnos da cidade, fazendo de tudo para encontrar o mendigo que a vendeu o brinquedo. Quando o encontra, é quase estuprada ao tentar pedir a informação, salva de última hora pelo detetive, que começa a se preocupar com a história e perceber a loucura de Karen. Quando o mendigo solta que achou o boneco numa loja incendiada, Norris se lembra do local que Charles Lee Ray “morreu”, mas ainda não consegue digerir essa história sem sentido, mesmo tendo as peças do quebra-cabeça na sua frente.

Naquela noite, após deixar Karen em seu apartamento, ele passa na delegacia para conseguir a ficha de Lee Ray, e Chucky esta esperando escondido no carro. A produção do filme prova sua seriedade, com uma bela sequência pelas ruas escuras de Chigago, Chucky tenta matar o detetive, o enforcando por trás do banco, tentando esfaqueá-lo, até o carro capotar. Norris consegue queimar o boneco na bochecha com o isqueiro do automóvel (deixando a clássica marca no rosto), e acertar um tiro em seu ombro, quase fodendo nosso pequeno.

"Good night, asshole!"

O brinquedo visita seu antigo instrutor voodoo John Bishop, que entra em choque ao ver Charles como boneco e descobrir que ele somente aprendeu seus conhecimentos para poder burlar a morte. Chucky quer saber o porque o machucado em seu ombro sangrou e provocou dor, sendo que ele é de plástico e estofado. John revela uma das informações mais importantes da franquia: quanto mais tempo ele passar dentro do boneco, mais “humano” ele fica; por isso, precisa achar outro corpo logo. Chucky o tortura com um boneco voodoo, quebrando sua perna e seu braço. Incapaz de sentir mais dor, John revela que ele precisa transferir sua alma para a primeira pessoa que revelou ser boneco; percebendo que é Andy, Chucky assassina o mentor sem piedade.

Agora acreditando em Karen, o detetive Norris descobre sobre o acontecido pela polícia, e juntos partem até John. Chegam em tempo de o ver morrendo pelos ferimentos no corpo, e recomenda que atirem no CORAÇÃO quando encontrarem o boneco. Chucky logo invade o prédio que a polícia mantem Andy e assassino o Dr. Ardmore, com um capacete de eletrochoque. Andy foge até seu apartamento com o boneco na cola (esse talvez seja um dos únicos problemas do roteiro; a liberdade de Andy com apenas seis anos, andando pela cidade sem ser notado).

Acerte o coração, meninão!

Ao chegarem no apartamento, Karen e Norris encontram o boneco realizando novamente o feitiço de Damballa, só que agora no garoto. Conseguem impedir, mas Norris toma uma facada na perna. A típica perseguição final é muito boa, com eles tentando destruir o maldito brinquedo; batem e espancam, tacam fogo, cortam os braços e pernas (!!!), decapitam a cabeça... Mas o desgraçado nunca para de se mexer, se tornando muito difícil eliminá-lo (ele todo queimado é realmente macabro). Mérito para a equipe de efeitos especiais e maquiagem, que fazem um trabalho de mestre aqui, literalmente dando vida para a massa desforme de plástico queimado.

Por fim, Norris consegue acertar um tiro perfeito no coração da criatura, matando o boneco de uma vez por todas (será? rsrs). Chucky solta com sua voz de Good Guy: “Hi, i’m Chucky, wanna play?”, se desligando logo em seguida. Um momento clássico na história do terror oitentista, marcado pelo olhar avoado e preocupado do garotinho Andy Barclay, e seu brinquedo assassino. Eles sabem, que mesmo a história sendo real, ninguém nunca vai acreditar.

Queimado vivo.

Quando ouvimos a trilha sonora final, temos certeza que Brinquedo Assassino (1988) foi feito para ser lembrado. Chucky resume uma estranha personificação do mal, acolhido pelas influencias de um garotinho. Aqui não temos o personagem todo rasgado e machucado, somente um boneco “bonitinho e carinhoso” pronto para matar quem entrar em seu caminho. Nessa maravilhosa época, o filme ainda se sustentava como um terror de qualidade dramática, carregando uma atmosfera cheia de humor negro e cenas memoráveis... Viva o terror dos anos 80! Provavelmente o melhor de todos!

"VOCÊ VAI REZAR PARA QUE TUDO NÃO PASSE DE UMA BRINCADEIRA".
____________________________________
TRAILER DE 1988:
CURIOSIDADES:
1) O nome completo de Chucky, Charles Lee Ray, é derivado dos assassinos Charles Manson, Lee Harvey Oswald (assassino de John F. Kennedy) e James Earl Ray (assassino de Martin Luther King).

2) Na cena que Chucky passa correndo pelo corredor atrás de Maggie, na verdade Chucky estava sendo interpretado pela irmã mais nova de Alex Vincent.

3) Em uma entrevista, Don Mancini afirmou que o primeiro roteiro era uma sátira sobre marketing de brinquedos e merchandising para crianças, antes que a ideia se transformasse em um filme de terror.

4) Na primeira versão do roteiro, Maggie morria eletrocutada enquanto tomava banho na banheira. A ideia foi posteriormente usada em A Noiva de Chucky (1998).

5) Existia uma abertura original que foi cortada para evitar a longa duração do filme, nela vemos o detetive Mike vestido com roupas femininas para se disfarçar e capturar Charles Lee Ray. No entanto, se você assistir a abertura oficial com atenção, podemos ver que Mike joga um vestido no chão quando persegue Ray pela avenida.

6) De acordo com uma entrevista de Brad Dourif, que fez a voz de Chucky em todos os filmes, sua filha, Fiona, que era um bebê na época, engatinhou até o sala de gravações durante uma sessão. Ele estava gravando gritos de agonia na cena em que Chucky pega fogo na lareira. Ninguém, nem mesmo ele, percebeu que sua filha estava no local com ele até ela ficar assustada com os gritos e começar a chorar.


7) Chucky perde sua mão em cada filme da trilogia original.


8) No roteiro original, foi inicialmente decidido que Charles Lee Ray seria pai de Andy Barclay.


9) Na cena intensa que Karen está sozinha na sala tentando fazer o boneco falar, é possível ver um quadro com a foto de um homem. Provavelmente é o pai falecido (e pouco conhecido) de Andy Barclay.

CONTAGEM DE CORPOS (4):
Assassino Charles Lee Ray (Chucky):
Maggie Peterson: martelada na cabeça, caindo do prédio.
Eddie Caputo: na explosão de sua residência.
John Bishop: facada no peito pelo boneco voodoo.
Dr. Ardmore: eletrocutado por capacete de choque.

sábado, 24 de setembro de 2016

Sexta-Feira 13 (1980) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
________________________________________________

Já começo nossa conversa avisando: esse é um dos meus filmes preferidos, e também um dos que mais assisti em minha vida. O curioso, é que fui apresentado ao gênero desde criancinha pela minha mãe, só que esse foi um dos últimos filmes da franquia que assisti (mas ainda bem cedo, papo de 6/7 anos); não tinha nem ideia que era a mãe de Jason Voorhees a antagonista da película, mas quando conheci a obra, assistia quase todos os dias, até hoje. (Queria colocar o pôster original do VHS acima, mas não encontrei em nenhum lugar e quase tirei uma foto da minha própria fita). Não há como negar, é impressionante como o longa é importante, sem falar o ícone na cultura pop atual; também não há como negar, que Halloween - A Noite do Terror (1978), serviu de inspiração desde a visão “primeira-pessoa”, da perspectiva do assassino, até de forma bruta no esqueleto do filme. Mas deixando bem claro que as franquias são totalmente diferentes e de propósitos distintos.

Criado por Sean S. Cunningham (já tendo produzido Aniversário Macabro em 1972) a série Sexta-Feira 13 é preenchida com 10 filmes, um fraco remake e um confronto com Freddy Krueger. Como todos devem saber, a exaustão e falta de criatividade estariam presentes num futuro incerto, mas nessa época, em 1980, Sexta-Feira 13 estava começando uma jornada repleta com terror de qualidade, várias mortes criativas, sequências marcantes e muitos clichês. Esse provavelmente é um dos melhores filmes de todos lançados, insuperável e clássico; tem vezes que assisto Jason Vai Para o Inferno (1993) e vejo quanto o tempo fez mal na cabeça dos produtores... Não parece que é um filme da mesma franquia, impossível de se entender, muito triste.

Um grito de abertura... Inesquecível.

Começamos na colônia de férias Crystal Lake, no ano de 1958. É uma noite de lua cheia e há vários monitores (com uniforme amarelo e shorts azul) reunidos em volta da fogueira interna com um violão, cantando algumas canções típicas. Logo, pra variar, um casal se separa do grupo (adivinha pra que?)... Pois bem, eles dão uns beijinhos e depois partem para o segundo andar do grande celeiro. Nesse momento, já começamos ter a visão em “primeira-pessoa” do assassino (levemente parecido com Michael Myers em sua primeira abertura), e sabemos quem vão ser as primeiras vitimas da franquia. O clima aqui é muito bom, com os primeiros traços de uma trilha sonora marcante; logo os jovens percebem estarem sendo observados, e ficam assustados. A tal pessoa misteriosa se aproxima sem maiores avisos, esfaqueando o monitor na barriga (agora a trilha sonora já está estalando em nossos ouvidos), e rumando para a jovem monitora, numa sequência dramática. Com um grito e um close congelado, somos presenteados com o titulo “Friday the 13th” quebrando o vidro da televisão.

Terror de primeira qualidade.

Depois de muitos anos, “The Present” como diz no filme, conhecemos a jovem Annie (talvez outra inspiração de Halloween), uma garota despreocupada e avoada. É sexta-feira 13 de manhã e ela esta indo para a colônia Crystal Lake para ser cozinheira na reabertura do local (que ficou fechado durante vários anos pelos assassinatos, um garoto afogado e outros problemas), mas não sabe a localização exata, por isso passa em um pequeno restaurante para pedir informações. Já reparamos como será o cenário do longa: cheio de paisagens bonitas do interior americano (não me refiro ao deserto), sempre com árvores cheias e verdes; cada mínimo detalhe tem um valor incrível pra mim, desde bem pequeno. Todos no restaurante estranham ela estar indo para a “colônia maldita” nessa data de azar, mas ela recebe carona de um caminhoneiro, o “típico americano”. Logo quando vão entrar no caminhão, “Crazy” Ralph aparece (provavelmente um dos personagens mais intrigantes da franquia), somente para avisar a moça que o acampamento é maldito, e que tem uma maldição de MORTE. Ralph é um velho que sempre esta com a mesma roupa, e anda com sua bicicleta pela região avisando que a colônia é maldita (inclusive todos na área acham o mesmo); o interessante é ver que mesmo Ralph alertando os jovens sobre os possíveis perigos do local, ele sempre esta por lá, vagando com sua bicicleta velha pelos campos.

Dando uma canora pra garota (e uma pegada na bunda rsrs).

Conhecemos então os jovens que estão chegando ao acampamento com uma picape vermelha: Ned, o brincalhão da turma, sempre fazendo suas piadas de araque e comentários sarcásticos. Brenda, uma jovem que basicamente não presta pra nada. E também o casal cheio de romantismo, o bonitão Jack (primeiro papel de Kevin Bacon) e sua namorada Marcie (Jeannine Taylor, no papel de sua vida). Quando chegam ao local, na manhã ensolarada, conhecemos também Steve Christy, o homem que esta reabrindo a colônia depois de tantos anos fechada; ainda sobra espaço para Bill (Harry Crosby) um rapaz determinado que trabalha pintando o local durante a reforma.

Não podemos esquecer também da inesquecível Alice (Adrienne King, a heroína do filme), uma contida desenhista que junta dos outros, formam os monitores na reabertura de Crystal Lake. No inicio, pode parecer um grande elenco para desenrolar a história, só que todos têm sua parte e presenças marcantes, sendo difícil se esquecer de algum.

Da esquerda para direita: Marcie, Jack, Ned, Alice, Brenda e Bill.

Logo voltamos a acompanhar Annie, que agora recebe outra carona (em um jipe verde idêntico ao de Steve Christy). Acho incrível como Cunningham nunca mostra quem esta dirigindo o jipe, somente a passageira despreocupada. Não demora muito para passarem pela colônia, e o tal motorista só acelera... Annie, desesperada, se joga do carro em movimento e foge pela mata, sendo perseguida até ter seu fim trágico. Repare que o roteiro se esforça para pensarmos que Steve Christy é o assassino, porque quando a garganta de Annie é cortada, vemos uma blusa xadrez igual a que ele estava usando. Sem deixa de mencionar a excelente maquiagem do mestre Tom Savini.

Annie com a garganta cortada.

O filme não tem segredo: logo o tal assassino chega em Crystal Lake, observando os jovens se refrescando no lindo lago, debaixo de uma tarde ensolarada. Destaque para a cena que Ned finge estar se afogando, somente para Brenda fazer uma respiração boca a boca nele (rsrs). Ainda rola uma cobra na cabana de Alice, com os jovens inúteis quebrando o LOCAL TODO para matar o animal; realmente inúteis... Somente Bill que aparenta ser um bom caçador. No entanto, os jovens desse primeiro filme, não são TÃO BURROS quanto os que viriam nos próximos, que só pensam em sexo e bagunça. Aqui, ainda existe certa seriedade em suas atitudes, mesmo com as brincadeiras.

Um policial metido da uma passada pelo local, avisando os jovens que com a reabertura da colônia, não vão tolerar bagunça no local. É claro, os jovens tiram onda disfarçadamente, pouco se preocupando com os tais “perigos”. Crazy Ralph (o velho com sua bicicleta) também passa pelo acampamento para alertar os jovens, deixando Alice assustada. Esses dias fiz uma maratona da franquia com um amigo (12 horas de VHS bruto) e conseguimos criar uma teoria completa sobre o tal Ralph, mas isso é história para outra crítica.

O intrigante Ralph... "I'm a messenger of God".

Como Annie não apareceu (ela era a cozinheira do local), eles começam a se virar antes que a noite caia, porque a previsão é de chuva forte. Agora conseguimos ver um pouco de Kevin Bacon no papel de Jack, conversando com a namorada Marcie na beira do lago, antes da tempestade começar. Inclusive, Marcie fala sobre um curioso sonho que teve, misturando chuva e sangue...

O próximo a morrer é o brincalhão Ned, que caminha diante de uma construção abandonada e vê um vulto passando; como monitor da colônia, vai verificar e o telespectador já imagina seu destino. Não é segredo pra ninguém: um por um os jovens vão sendo mortos das mais variadas maneiras, sem nunca revelar quem é o autor de tamanha brutalidade. Depois de transarem em uma das cabanas, já com a forte chuva na noite escura, Marcie vai até o banheiro (em outro chalé) deixando Jack sozinho para morrer. Uma das melhores mortes, com ele fumando um baseado deitado na cama, segundos antes da lança surgir em seu pescoço, saindo por debaixo da cama. Acho interessante o jeito que Pamela Voorhees ficou escondida embaixo da cama enquanto o casal transava, sem nem desconfiarem também, que o corpo de Ned estava no alto do velho beliche.

Pós-sexo, uma rapidinha sangrenta.

Marcie também não dura muito, ouvindo alguns barulhos no banheiro e tomando uma machadada no rosto ao ir verificar; um grau de brutalidade absurdo, realçado pela incrível maquiagem de Savini. Não existi uma história de grande importância para acompanharmos, somente temos certeza que os jovens vão morrer. Assim dito, logo é a vez de Brenda, que após jogar Monopoly com Alice e Bill, se retira até sua cabana para dormir. Enquanto lê seu livro noturno, ouve uma criança pedindo socorro no meio da tempestade (na realidade é a Sra. Voorhees, muito convincente por sinal), Brenda sai pela noite procurando a origem dos gritos, e é recebida com flechadas pelo corpo.

No local sobram somente Alice e Bill (Steve Christy estava em um restaurante de estrada, e por causa da chuva esta voltando), e os dois desconfiam que alguma coisa errada aconteceu, porque viram os holofotes do campo ligados e Alice podia jurar que ouviu o grito de Brenda. Os dois decidem procurar os monitores, mas ao chegarem no chalé de Brenda, encontram um enorme machado em uma das camas. Alice já desconfia que não seja uma brincadeira, que há algo errado.

Alice em sua melhor fase.

Logo Steve Christy, o pacato homem que reabriu a colônia, chega ao local correndo pela noite chuvosa; seu jipe quebrou e ele recebeu uma carona da polícia até os arredores do acampamento. Perto da placa com o nome do local, uma luz forte ilumina seu rosto, ele se aproxima pensando ter visto algum dos monitores e morre ali mesmo (mesmo o roteiro fazendo você pensar que ele era o assassino, a hipótese é destruída com essa cena marcante).

Não demora muito para sobrar somente Alice, entrando em desespero ao encontrar o corpo de Bill. Quando Pamela Voorhees aparece, já pelo final da película, a tensão corre solta. Betsy Palmer rouba a cena como uma assassina que busca vingança; o garoto que se afogou em 1957 era seu filho, Jason Voorhees, nascido dia 13 de junho. Desde então, ela culpa os monitores do local pela irresponsabilidade na hora de vigiar o garoto, matando um por um.

O que uma mãe não faz por um filho?

Primeiro ela se passa por uma antiga amiga de Steve Christy, e ao receber a confiança de Alice, acaba contando a história do afogamento de seu filho e se revela a assassina em série (uma das melhores do gênero). As cenas de confronto com Alice são extravagantes ao extremo, com tapas na cara de verdade, puxões de cabelos e mordidas. Pamela se mantem no único objetivo de vingar seu filho, soltando as clássicas “kill her mommy”, imitando a voz do garoto. Realmente, é de arrepiar, sem contar que essas frases ficaram marcadas no gênero.

Quando a “perseguição” chega até a beira do lago, elas se atracam corpo a corpo na areia, com a lua cheia brilhando majestosamente. A trilha sonora aumenta, no momento que Alice consegue se livrar e pegar o facão, em uma marcante sequência em slow motion; Alice corta a cabeça da Sra. Voorhees, com a maior frieza que sua vida pode valer.

Após o acontecido, ouvimos uma das primeiras músicas calmas da franquia (uma melodia tranquila e acolhedora), e vemos Alice pegando um bote e tomando o rumo do lago, acordando na manhã seguinte e sendo resgatada pela policia. Perfeito como esse final transparece tranquilidade e esperança, com um lago maravilhosamente brilhante, os policiais chegando... Tudo resolvido... Só não contavam que Jason pularia para pegar a garota.

O começo de uma longa lenda.

Alice acorda no hospital, em choque, e logo pergunta para o policial o que aconteceu com o garoto que a puxou para dentro do lago, e claro, eles falam que não encontraram nenhum garoto! “Então ele ainda esta lá...”, ela diz com seus olhos azuis faiscando na tonalidade branca, e vemos o lago mais uma vez, tranquilo, banhado novamente por aquela maravilhosa música acolhedora... Não sabemos se foi uma alucinação... Mas sabemos que essa sutileza não é comum.

Tenho muitas coisas para falar sobre Sexta-Feira 13 (1980), mas a trajetória ainda será longa por aqui. No ano seguinte a franquia voltaria com tudo (clique aqui para ler a próxima crítica), começando uma jornada que duraria por anos, até mesmo décadas. No entanto, nunca esqueceremos o COMEÇO DE TUDO, onde cada pequeno detalhe fazia a diferença, e conquistávamos um forte apego amargo por cada segundo. Sexta-Feira 13 é uma lenda não somente no gênero do horror, mas na sétima arte toda. Não tem como sair indiferente.

"ELES FORAM AVISADOS... ESTAVAM PERDIDOS... NADA OS SALVARIA NAQUELA SEXTA-FEIRA 13"
____________________________________
TRAILER DE 1980:

CURIOSIDADES:
1) O nome original de Jason era Josh, segundo Victor Miller.

2) Foi o maquiador Tom Savini que disparou a flecha que quase acertou Brenda em uma das cenas no acampamento.

3) Durante as gravações, a maioria do elenco ficou hospedada em hotéis, mas alguns membros (incluindo Tom Savini e Tason Stavrakes) ficaram literalmente no acampamento noturno. O único entretenimento que tinham era um Betamax VCR (concorrente do VHS) e uma pilha de fitas, incluindo Maratona da Morte (1976) e Barbarella (1968), então cada noite eles assistiam um filme diferente.

4) A cena com a cobra não estava no roteiro, foi ideia de Tom Savini após ter uma experiência parecida na sua cabana. A cobra vista no filme é real, incluindo a cena de sua morte.

5) Victor Miller assume que sua maior inspiração foi Halloween, lançado em 1978 por John Carpenter.

6) Todos os cenários existem na vida real. O único set construído durante as filmagens foi um banheiro.

7) No começo do filme, quando Jack, Marcie e Ned estão indo para o acampamento, é possível ver uma cópia do livro Poderoso Chefão no painel da caminhonete.

8) O título original era "Long Night at Camp Blood"

9) Filmado em 28 dias.

CONTAGEM DE CORPOS (10):
Assassina Pamela Voorhees:
Barry: facada no estômago.
Claudette: morte offscreen (mas os bastidores mostra que foi degolada).
Annie: garganta rasgada por faca de caça.
Ned: degolado offscreen.
Jack: flecha atravessada no pescoço por debaixo da cama.
Marcie: machadada no rosto.
Brenda: morte offscreen (aparenta ter sido acertada por flechadas).
Steve Christy: estômago furado com faca de caça.
Bill: garganta cortada e corpo preso na porta por flechadas.
Assassina Alice:
Pamela Voorhees: decapitada por machete.