AVISO
DE PERIGO: essa
crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por
risco próprio.
________________________________________________
Sexta-Feira 13 Parte II (1981) é um
ótimo filme, ensinando o belo exemplo de como se fazer uma continuação de qualidade. Com o
final do antecessor (clique aqui para ler a crítica), várias possibilidades apareceram para se continuar a
trágica história da família Voorhees, e podemos dizer que foram todas bem aproveitadas e muito bem orquestradas, porque a película
é tão boa quanto o primeiro capítulo. Esse longa também traz alguns personagens de
volta, atitude que a franquia abandonou após os anos. Aqui realmente temos uma continuação
quase exata, mantendo a energia que todos os apaixonados queriam após o último desfecho. É interessante ver como esses filmes eram especiais e unicamente caprichados, principalmente por terem sido produzidos com baixo orçamento (como sempre), e com uma equipe, por vezes, de baixo experiência. O primeiro filme foi produzido pela Warner, e agora temos uma produção da Paramount, provavelmente a distribuidora mais gratificando que a franquia já teve, envolvida até o oitavo capítulo em 1989, quando os direitos foram vendidos para a New Line Cinema no objetivo de realizarem o aguardado duelo entre Freddy Krueger e Jason Voorhees, mas tudo isso é conversa para outra crítica.
Produzido somente um ano depois do
primeiro, agora temos Steve Miner na leal direção, apresentando pela primeira
vez Jason Voorhees como assassino da trama, talvez o serial killer mais conhecido do
gênero moderno. Esse é o capítulo que já começamos a seguir o típico padrão que viria desgastar a franquia: um grupo de adolescentes (ou pós-adolescentes) em um lugar que não
podem receber nenhuma ajuda dos adultos, sendo mortos um por um das mais variadas
maneiras, no final sobrando somente a final girl (geralmente loira) para
“foder” com o nosso assassino. Essa basicamente é a fórmula que vamos acompanhar em
todos os capítulos, tendo somente algumas variações básicas.
Começamos com uma excelente abertura para começar,
acompanhando mais uma vez a jovem Alice (Adrienne King retornando no papel) a dramática sobrevivente do filme anterior. Agora vemos a residência dela em uma tranquila
rua, banhada pela escura noite. Alice esta dormindo e acompanhamos seus sonhos
(em forma de flashback), com as suas lembranças de quando decapitou Pamela Voorhees, a assassina do primeiro longa, cujo objetivo era vingar a “morte” de seu filho
Jason Voorhees. Alice parece atormentada com tudo que aconteceu, angustiada enquanto dorme, até mesmo
provocando pesadelos (Freddy Krueger mandou um abraço rsrs). Na ideia original, Alice faria parte do filme inteiro, mas a atriz Adrienne King desejou participar somente dos primeiros minutos, pois na época estava sendo perseguida por um stalker obcecado, afetando sua vida pessoal (saiba mais nas curiosidades disponíveis no final da crítica).
Alice conversando com sua mãe.
Logo que ela acorda, toma um dos
banhos mais rápidos da história (sério, dura uns 15 segundos) e recebe duas
ligações: uma de sua mãe, e outra estranhamente silenciosa, sem nenhum ruído do outro lado, obviamente para assustá-la; acho impressionante que, provavelmente, tenha sido Jason quem
fez a ligação no meio da noite... Quem mais poderia ser? Bem macabro, já imaginaram
Jason Voorhees fazendo uma ligação? Pois bem, logo ela toma um susto com seu
gato alaranjado, e ao abrir a geladeira para servir o leite, encontra a cabeça
da Sra. Voorhees ao lado dos alimentos. Uma cena antológica e completamente criativa. Logo alguém a puxa pelas costas com violência, trajando roupas xadrez azulado, e
Alice recebe uma facada na “fonte”, bem na lateral da cabeça. Isso é dolorido somente de pensar. Jason aparenta estar mais velho, um jovem adulto com energia e agilidade; em minha opinião, é uma das aparições mais macabras do assassino, é realmente assustador e com uma pegada misteriosa. A
morte de Alice antes da abertura tem um grande simbolismo. Existem muitos
filmes em que o protagonista do capítulo anterior é morto na sequência, como
Nancy em A Hora do Pesadelo, Jack em Maniac Cop e Brody em Tubarão.
A clássica cabeça na geladeira.
Na época de produção, rolou uma intriga na equipe do filme original, pois o argumento de Sexta-Feira 13 Parte II torceu o nariz da maioria das pessoas associadas à franquia até então. Betsy Palmer (a assassina), Tom Savini (o especialista em efeitos especiais) e Sean Cunningham (diretor e criador da película original) fizeram comentários públicos afirmando que era grande estupides Jason estar vivo e presente durante o filme. Se ele estivesse mesmo vivo, por que não disse isso a Pamela Voorhees, sua mãe, e evitado todos os assassinatos do primeiro filme? Enfim, o último desfecho mostrou Jason pulando do lago e atacando Alice, mas é deixado no ar se aquilo realmente aconteceu, porque Alice acorda no hospital e a polícia afirma que não havia nenhum garoto no lago. Pode ter sido uma alucinação, mas acho que acabou virando uma espécie de compromisso com os fãs, a produção precisava mostrar mais um pouco daquela história. O gancho já estava ali, era só aproveitá-lo e expandir a história. Sem contar os milhões de dólares que rolaram para os engravatados da Warner e Paramount.
Então vemos a ótima abertura, onde podemos ouvir bem a trilha sonora que marcou época. Esse filme provavelmente é um dos melhores para o público de primeira-viajem, pois carrega todos os elementos que se tornariam ícones na franquia. Conhecemos o casal Jeff e Sandra, dois inúteis que estão indo para um centro de treinamento para monitores em Packanack Lodge, uma bonita área floresta muito próxima da colônia Crystal Lake, que agora se encontra fechada pelos assassinatos do filme anterior (voltaremos a ver Crystal Lake só no sexto filme).
Então vemos a ótima abertura, onde podemos ouvir bem a trilha sonora que marcou época. Esse filme provavelmente é um dos melhores para o público de primeira-viajem, pois carrega todos os elementos que se tornariam ícones na franquia. Conhecemos o casal Jeff e Sandra, dois inúteis que estão indo para um centro de treinamento para monitores em Packanack Lodge, uma bonita área floresta muito próxima da colônia Crystal Lake, que agora se encontra fechada pelos assassinatos do filme anterior (voltaremos a ver Crystal Lake só no sexto filme).
Jeff e Sandra dirigem uma grande
picape, e param para pedir informações pelo telefone. Nessa cena, Crazy Ralph
aparece (se lembram do velho e sua bicicleta no filme anterior?) e alerta o casal
que a região é amaldiçoada; interessante como resolveram trazê-lo novamente
para a franquia, ainda com a mesma personalidade e tom de voz dramático.
Ralph alertando Jeff e Sandra.
Quando encontram com Ted, o magrelo
piadista da turma, eles rumam para Packanack Lodge indo encontrar o resto da
turma. No caminho encontram uma árvore derrubada, impedindo a estrada;
provavelmente outra artimanha de Jason, nesse filme ele realmente esta muito
jovem e ágil, e somos presenteados com essas situações imprevisíveis. Sem deixar
de mencionar que logo após a morte de Alice, a chaleira com leite apita
endoidada, e Jason literalmente tira a chaleira do fogão, em uma clássica cena
que demonstra a preocupação do nosso assassino. Pequenos detalhes que fazem a
diferença.
Então somos apresentados aos jovens
inúteis da vez: Paul, bonitão e independente, ele está reunindo os demais para
a ocasião de treinamento; temos também sua “namorada” Ginny, a final girl da
película e psicóloga infantil (que de psicóloga não tem nada). Também
conhecemos a gostosona Terry, a safadinha contida Vickie, o tarado por putaria
Scott e o cadeirante Mark. Novamente um belo elenco de desconhecidos como
cereja do bolo, mas já é bom se acostumarem, porque a franquia seguirá essa
estratégia para aumentar o “body count”.
Os novos jovens reunidos em volta da fogueira.
Naquela noite, rola uma das cenas
mais lembradas da franquia: todos se reúnem em volta da fogueira, e Paul, todo
dramático, narra toda a história de Crystal Lake e da família Voorhees,
contando os acontecidos do filme anterior e botando medo nos novos jovens.
Gosto muito dessa cena, ainda mais porque ela se torna a abertura da Parte IV,
em estilo flashback. Packanack Lodge é um pouco diferente de Crystal Lake,
porque tem uma grande morada de madeira azulada no lugar dos vários chalés, e
esse lugar se torna o “fluxo” da noite com a pequena festa que os jovens
protagonizam logo em seguida. Nela já podemos identificar a personalidade de
cada um: Scott sempre dando cantadas na bonita Terry (inclusive dando
estilingadas em sua bunda e roubando suas roupas), Ginny sempre mandando comentários
sarcásticos para Paul, entre outras coisas. Descobrimos que Sandra esta
interessada em visitar Crystal Lake com seu namorado Jeff, mesmo sabendo que a
área esta proibida, correndo o risco de serem presos. Crazy Ralph também
aparece no local, e é morto enquanto observa Ginny e Paul se beijando. Pelo
jeito, ele continuava com sua mania de vigiar os jovens, se fodendo nessa noite, enforcado por trás da árvore.
Percebemos que a direção trata Jason da
mesma maneira que sua mãe era tratada, sem nunca revelar o rosto, no máximo um
braço ou coisa do tipo. Em minha opinião, esse tipo de suspense sempre
funciona, porque ficamos na expectativa para o momento da revelação. Nessa
época, ele era muito parecido com Michael Myers, pela atitude de ficar vigiando
suas vitimas pelas janelas e por trás das árvores, diferente do que vamos acompanhar
nos próximos filmes. Não precisa ser um gênio para saber o motivo de Jason provocar sua matança:
reza a lenda, que na noite que sua mãe foi decapitada pela monitora Alice,
Jason estava acompanhando tudo, se vingando de todos que voltarem naquele
lugar.
O tempo vai passando e os jovens vão ficando mais retardados (rsrs)
Na manhã seguinte, os jovens se
divertem no lago igualzinho no filme anterior, só que no primeiro, tínhamos uma
sensação de solidão maior, porque havia um número menor de pessoas; aqui, já
temos uma tranquilidade descontraída e divertida, mas ainda seguindo lealmente
o tom proposto. Tomando algumas cervejas e assistindo o VHS da película,
consigo captar o real charme da franquia, com a pegada caseira dos primeiros
filmes: cores verdes fortes e “queimaduras de cigarro” quase toda hora, dando
uma atmosfera de tarde única.
Pra variar, Jeff e Sandra decidem ir
até Crystal Lake, enquanto todos se divertem no lago. Rumando para a colônia,
eles encontram o cachorro de Terry morto (ele tinha desaparecido durante a
manhã), e logo são pegos pelo policial Winslow, um oficial que ronda Crystal
Lake procurando invasores. Naquela mesma tarde enquanto vaga pela região,
Winslow vê Jason atravessando a estrada correndo (nesse rápido momento podemos
perceber que o assassino usa um saco na cabeça, como se fosse um pano branco).
Winslow persegue o intruso pela mata, até encontrar uma velha cabana aos
pedaços; essa cabana é o “abrigo” de Jason, possivelmente utilizado por sua mãe
no filme anterior. Não demora muito para tomar uma martelada na cabeça.
O policial ao lado do abrigo de Jason.
Ao cair da noite, os jovens decidem
ir para a cidade tomar umas cervejas e ouvir boas músicas, porque o acampamento não
traz muitas opções de diversão. A maioria acompanha Paul, Ginny e Ted para a
ocasião, mas uma boa parte resolve ficar (e já sabemos que vão morrer rsrs).
Terry vai nadar pelada no lago, e tem suas roupas roubas por Scott, enquanto
Vickie fica tentando conquistar o simpático cadeirante Mark. Jeff e Sandra, por
outro lado, transam no segundo andar.
Não vou ficar resumindo cada
assassinato (por isso existe a sessão “contagem de corpos” no final da
crítica), mas o filme se resume nisso agora: um por um, os jovens vão morrendo
na calada noite, sem nunca revelar o autor. Infelizmente, aqui não temos a
maquiagem do mestre Tom Savini como no antecessor, só que o trabalho ainda
transmite certa satisfação (Savini só voltaria na Parte IV). Destaque para a
cena que Mark tem o facão cravado no rosto, caindo da escadaria com a cadeira
de rodas na noite chuvosa (cadeiras de roda e filmes de terror não dão certo).
O cadeirante com o facão no rosto.
Logo é a vez de Jeff e Sandra, na
clássica cena que Jason entra no quarto com uma lança e atravessa os dois
deitados na cama (simplesmente sensacional). Enquanto no bar da cidade, Ginny começa a se
preocupar com a história de Jason (santa bebida), e fica assustado alertando os
amigos. Ted fica no estabelecimento com a galera, enquanto ela e Paul retornam
até Packanack Lodge. No momento, ocorre a morte de Vickie no local (uma cena
bem importante), em que vemos pela primeira vez Jason de corpo inteiro; deitado
debaixo do lençol, como se fosse o casal de amantes, se revelando para Vickie
antes de matá-la. A vestimenta de Jason realmente parece inspirada em The Town
That Dreaded Sundown (1976), um saco de pano na cabeça e vestes xadrez azul. Uma das
versões mais assustadoras do nosso querido assassino.
O jovem Jason Voorhees.
Novamente temos um final numa noite
chuvosa, e ao chegarem ao local, Paul e Ginny já logo desconfiam: tudo está
vazio e silencioso, uma cama ensanguentada é encontrada e o fusível de energia parou
de funcionar. Um clima clássico se estende até a aparição de Jason, que
literalmente sai no braço com Paul. Ginny é tão dramática quanto Alice no filme
anterior, protagonizando uma das melhores perseguição finais da franquia. Jason
está inspirado e alucinado, correndo e quebrando tudo pelo caminho com tridentes,
machetes e tudo mais. Quando Ginny se vê sozinha, podemos apreciar a atuação de Amy Steel, fazendo tudo para escapar do nosso assassino. Lembrando que Jason
apanha bem nesse capitulo, mas ainda não é aquele “ser sobrenatural” que veríamos
a partir do sexto filme, aqui ele age como um homem adulto em vingança.
Como se esquecer da fantástica cena
que Ginny, escondida debaixo da cama de um dos chalés, observa Jason a procurando
pelo quarto; uma ratazana aparece ao lado dela, fazendo nossa protagonista urinar
nas calças (literalmente), e ser ouvida por Jason. Simplesmente inesquecível.
Que época maravilhosa!
Não demora muito para Ginny acabar
chegando ao velho “abrigo” de Jason, onde o policial Winslow morreu. Novamente,
temos uma cena memorável, que infelizmente não vai ser aproveitada na
continuação (em partes). A película nos revela um santuário do querido Jason,
onde ele guarda a cabeça decapitada de sua mãe vingativa. Do mesmo jeito que
ela era devota ao filho, vemos Jason retribuindo o amor de uma forma
maravilhosa (até mesmo grotesca rsrs). Fora a cabeça, ele ainda guarda as
roupas, como o clássico suéter cinza que ela usava na noite da tragédia.
A cabeça e pertences de Pamela Voorhees.
Ginny, que sempre considerou a hipótese
de Jason estar vivo, veste o suéter de Pamela Voorhees, com intuito de se
passar por ela, já sabendo das fraquezas do filho retardado. Quando ele invade
o local, vemos que Jason realmente é muito fraco quando se fala de sua mãe: o
rapaz consegue ter visões dela (novamente com Betsy Palmer) dando ordens para
ele. Ginny aproveita a situação para o mandar se ajoelhar, mas Jason
percebe a farsa e enfia uma picareta em sua perna.
Paul aparece do nada (!!!) e
novamente sai no braço com Jason, Ginny pega o facão e crava no ombro do
assassino com toda sua força, perfurando metade do busto; Jason cai aparentemente
morto (lembre-se que nessa época ele ainda não era um ser imotar), e o casal
retira o pano de sua cabeça (sem revelar o rosto).
Ginny em estado de choque.
Ao voltarem até um dos chalés, já no
finalzinho do longa, ouvimos um barulho na porta. Paul, como sempre
independente, a abre para nos revelar que o cachorro de Terry ainda esta
vivo (mas o que?)... Quando tudo parece ter terminado na tranquilidade, Jason
pula pela janela sem nenhuma proteção no rosto, e podemos ver perfeitamente a face do assassino: completamente deformando e com longos cabelos castanhos. O
jovem Jason é feio que só ele, tendo muito que piorar nos próximos.
A primeira de muitas!
O filme corta para Ginny sendo levada
na ambulância, e o roteiro não nos explica que porra aconteceu: ele pulando da
janela foi uma alucinação? Paul está vivo? O que vai acontecer com Ginny? Na
realidade, a atriz Amy Steel foi chamada para atuar no próximo filme, mas recusou por
causa dos empresários (hoje em dia ela diz que se arrepende eternamente);
parecido com o que aconteceu com Adrienne King, nossa Alice, que negou sua
atuação devido um fã alucinado que a perseguia na época, realmente afetando sua
vida pessoal.
Não tem erro, Sexta-Feira 13 Parte II
é uma ótima experiência, e me sinto no direito de recomendá-la para todos.
Temos muitos erros e muitas tonteiras, mas a obra se mantem no mesmo nível que
a mitologia exigi. Temos Jason em ótima forma, e em ótima época; um ser
desnorteado e vingativo, somente parado pelo destino traiçoeiro. A franquia
estava com a carga toda, e voltariam no próximo ano com a mesma fórmula que havia criado... Era
só o começo.
____________________________________
TRAILER DE 1981:
CONTAGEM DE CORPOS (10):
Assassino Jason Voorhees:
Alice: facada na cabeça.
Alice: facada na cabeça.
Crazy Ralph: enforcado com arame.
Policial Winslow: martelada na cabeça.
Scott: garganta cortada com machete.
Terry: morte “offscreen”
Mark: facão cravado no rosto, caindo da escadaria.
Jeff: empalado na cama.
Sandra: empalada na cama.
Vickie: facada no estômago.
Paul: desaparecido, supostamente morto.
Paul: desaparecido, supostamente morto.