quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Halloween II - O Pesadelo Continua (1981) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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No final da gloriosa década de 70, Halloween - A Noite do Terror (1978) estava estourando nas bilheterias mundiais, como nenhum filme do gênero jamais havia feito; John Carpenter basicamente inovou o conceito dos “slasher movies” com seu terror simples e bem orquestrado. Obviamente, não ia demorar muito para fazerem uma continuação do sucesso, no entanto, Halloween II – O Pesadelo Continua (1981) foi lançado somente três anos depois, mas mantendo exatamente o mesmo clima que o antecessor usou para conquistar uma legião de fanáticos até os dias atuais. É muito bom.

Mesmo o primeiro filme sendo um clássico incomparável, uma coisa todos devem admitir: Halloween II é muito mais creepy e assustador que o anterior, exibindo em seus 92 minutos de projeção uma trama sombria e solitária, recheada com cenas marcantes e sequências mais aprimoradas. Aqui temos uma grande evolução na produção, tendo em vista que os produtores já estavam com o dinheiro necessário para esbanjarem uma história satisfatória aos que ficaram três longos anos na expectativa; gratificante, porque o filme é tão bom quanto o anterior.

Desta vez, John Carpenter prefere não sentar na cadeira do diretor, e passa o bastão para Rick Rosenthal (que viria a dirigir Halloween Ressurreição em 2002), mas o nosso querido Carpenter continua na produção e assina o roteiro ao lado de Debra Hill. O charme desse filme é que se passa completamente durante a noite, exatamente da onde o primeiro terminou, e conseguimos acompanhar a continuação daquela perturbadora noite de Halloween; outro fato marcante é que esse abordou maior violência e mortes mais fortes, se igualando ao padrão que já dominava a época e se distanciar de seu antecessor, que só contava com cinco mortes em tonalidades realistas.

A fita começa com a nostálgica entrada da Tec Home Video, e logo ouvimos a canção Mr. Sandman na abertura, nessas circunstancias, a canção animada se torna fria e assustadora, porque sabemos que Myers estará em tela logo menos. Então vemos o final do filme anterior, com o psiquiatra Samuel Loomis (Donald Pleasence eternizando o papel), encontrando seu paciente foragido Michael Myers, e descarregando o revólver em seu peito; aqui rola uma intrigante mudança entre os dois filmes: enquanto no primeiro Myers desaba da sacada TRASEIRA da residência dos Doyle após receber os tiros, nesse o assassino cai da sacada FRONTAL da casa, se esborrachando no escuro jardim de entrada. A mudança é estranha, mas não agrega em nada. Como todos já devem se lembrar do último desfecho, Loomis não encontra o corpo do paciente ao ir verificar, somente marcas de sangue pelo gramado.

Lommis parado diante da residência dos Doyle.

Vemos que os disparos do revólver acordaram o vizinho, e ele sai na vizinhança indagando para Loomis que porra acabou de acontecer. Nosso eterno psiquiatra responde com a lendária frase: “you don’t know what death is” ou “você não sabe o que é a morte”, e a trilha sonora começa a trovejar, enquanto vemos Loomis saindo correndo pela vizinhança, no intuito de encontrar Myers o mais breve possível; a trilha sonora também tem uma diferença, ela é mais alta e “menos comportada”, dando uma sutil diferença que não incomoda, parece um remix oitentista de qualidade. Novamente temos uma abóbora de abertura, crescendo em nossa direção enquanto os créditos aparecem em fonte laranja, mas dessa vez, a “câmera” não entra no olho da abóbora talhada, porque ela se racha no meio e dentro vemos uma caveira mal desenvolvida. Acho que isso é uma dica que Myers não é mais um “mortal” como o último filme deixou no ar, ele não passa de um aspecto do Halloween, cravado em uma abóbora na forma de caveira.

A última abertura nesse estilo.

Em seguida acompanhamos o nosso assassino vagando pela vizinhança, afetado pelos tiros que acabou de receber. Como no antecessor, as câmeras em “primeira pessoa” marcam toda a lentidão poética de Myers. Pelos jardins das residências, ele encontra um cachorro (mas dessa vez não mata rsrs), crianças pedindo doces e até mesmo Loomis encontrando o xerife Leigh Brackett (Charles Cyphers reprisando seu papel) e avisando que acertou seu paciente com o revólver e o mesmo saiu andando como se nada tivesse acontecido. Michael acaba chegando à pequena residência de um casal de velhos, com o objetivo de roubar uma faca; lembram que ele havia deixado a que usava na residência do Doyle? Pois bem, a velhinha faz um sanduíche para seu marido, que dormiu no sofá assistindo A Noite dos Mortos-Vivos (1968) em uma rápida homenagem ao clássico de George A. Romero, Myers entra sorrateiro na cozinha e pega a enorme faca que ela cortava o presunto. O clima “de fim de noite” é muito forte aqui, proporcionando uma solidão que marca cada segundo corrido do filme; só assistindo para conhecer essa nostálgica sensação.

No momento que Michael entra na pequena casa, a televisão começa a exibir o noticiário de última hora, avisando sobre o paciente foragido que acaba de fazer três vitimas em Haddonfield, e dando a oportunidade para nosso assassino roubar a faca com a distração da velhinha. Ao voltar na cozinha, assustada por descobrir sobre a tragédia na rua ao lado, ela berra ao encontrar somente sangue na bandeja com presunto.

Observando a velhinha em "primeira pessoa" pela janela.

Agora armado com sua faca, Myers vai até a residência vizinha da família Martin, somente a filha do casal esta na residência, Alice, que conversa com sua amiga Sally no telefone (Sally ligou para Alice com a intenção de avisá-la sobre os assassinatos que estavam informando na rádio, apenas um quarteirão da casa dos Martin). Pelo visto, após Loomis se encontrar com o xerife Brackett, as mídias da cidade já começaram a trabalhar no caso imediatamente; mesmo com o feriado de Halloween, as ruas da pequena cidade enchem de repórteres, policiais e curiosos.

Alice fica assustada após receber a notícia da amiga e ouvir as sirenes na rua ao lado, não percebendo que estava sendo observada por Myers. Quando entra na residência, rola a clássica cena do “pulo” do assassino, escondido atrás de um vaso e saltando para enfiar a faca no pescoço da garota. A fotografia do filme pega a morte “debaixo” do pescoço da atriz, focando também os olhos arregalados de Myers, e vemos o sangue jorrar em seu queixo no que sabemos ser uma cena memorável. Existe fóruns na internet discutindo a razão de ele ter assassinado Alice, a mais provável seja que nosso assassino precisava de algum lugar para se esconder, levando em conta que ainda estava no quarteirão ao lado da onde foi baleado, e agora o local se encontrava repleto de policiais. Acreditem em mim leitores, esses pequenos detalhes dão uma profundidade imensa no “universo” criado para a franquia, instigando nossa busca eterna por informações interessantes.

Alice, a vitima inocente.

Então finalmente vemos Laurie Strode (mais uma vez interpretada pela incrível Jamie Lee Curtis <3), sendo resgatado na residência dos Doyle pelos policiais e paramédicos. Logo percebemos que Tommy Doyle e Lindsey Wallace, as crianças que Laurie e Annie Brackett cuidavam naquela noite, não aparecem mais no roteiro e em nenhum momento do filme (somente no flashback inicial). O filme agora vai se dividir em dois ambientes: o Hospital Memorial de Haddonfield, para onde Laurie é levada de ambulância, e as ruas escuras da cidade, onde Loomis e o xerife Brackett começam uma busca por Myers.

Enquanto rondam a região na viatura, Loomis vê alguém descendo a rua com uma máscara branca semelhante, e logo sai do carro para persegui-la (o psiquiatra e Laurie foram os únicos que viram Myers trajando o acessório). O rapaz é Ben Tramer (a paixonite de Laurie, mencionado no primeiro filme) que vem voltando bêbado de uma festa, usando uma máscara idêntica a de Myers, só mudando que é loura. Não demora muito para um policial “perder o controle” e “enfiar” a viatura no civil, explodindo uma van e carbonizando o jovem rapaz (!!!). Loomis acaba percebendo que aquele não era Michael, e mataram um inocente (noite agitada em Haddonfield rsrs).

Ben tramer, a pessoa mais azarada do planeta (first).

Acontece que o xerife Brackett sempre se manteve cético em relação a Myers, achando que Loomis estava exagerando com a situação, até o momento que recebe a noticia da morte de sua filha Annie, encontrada em um quarto da residência dos Wallace, junto dos corpos de Bob e Lynda. Brackett muda de atitude radicalmente, chegando a acusar Loomis pela fuga de Myers; também conhecemos o policial Hunt (Hunter von Leer), pouco explorado no roteiro, mas marcado por ser um dos únicos personagens que acredita em Loomis. Como no anterior, nosso psiquiatra lança várias frases de efeito a respeito de Myers, sendo o único que realmente conhece a personificação do mal que ocorre com seu paciente de 21 anos.

Aproveitando a ocasião do Halloween, Myers anda tranquilamente pela rua, sem que sua máscara chame a atenção (além disso, somente Loomis e Laurie sabiam que ele estava mascarado), até chegar ao Hospital Memorial para continuar sua caçada sangrenta; nesse filme ele não utiliza mais o carro roubado de Smith’s Grove, porque obviamente chamaria atenção. Nessa etapa, somos apresentados aos funcionários do Hospital (quase vazio com o Halloween), que vamos acompanhar pelo resto do filme: as enfermeiras Sra. Alves (uma mulher mandona e autoritária), e Karen, a bonitona peituda da vez; também conhecemos Janet e Jill, outras duras assistentes do pacato Dr. Mixter. Ainda temos o paramédico Jimmy, que tem uma leve paixonite por Laurie, e o brincalhão Budd, folgado e com seu memorável olhar atrevido.

O Hospital da um tom sombrio e solitário na película, realmente se tornando assustador somente com seus longos corredores silenciosos e com tonalidades amarelas fortes. O local não transparece nenhuma harmonia ou descontração, palco perfeito para o espetáculo que Myers vai protagonizar. Nosso assassino também esta muito mais frio e “durão” em suas atitudes, sempre andando extremamente lento e com poucos movimentos no pescoço.

Rapaz nervoso... Literalmente com o "peito estourado".

Quando Laurie é informada que Michael Myers era o homem que a perseguia, e altamente dopada pelos remédios, presenciamos um flashback em forma de sonho (bem rápido mesmo), que nos deixa uma pequena dica sobre sua “relação” com o assassino. Vemos a mãe de Laurie afirmando que ela não é sua mãe biológica, e vemos Myers criança olhando pela janela do hospício Smith’s Grove; tudo isso enquanto uma poça de sangue se forma no fundo preto.

Aos poucos Myers vai eliminando cada funcionário do Hospital, utilizando um bisturi na maior parte do tempo; ainda utiliza seringas e um martelo. Rola até mesmo uma cena de Karen e Budd transando na hidromassagem da fisioterapia, porque claro, isso não pode falta nos filmes do gênero, mas logo nosso assassino cuida deles da melhor forma (rsrs). Outro fator é que a antiga residência dos Myers esta sendo linchado pelos moradores, em forma de protesto, e o policial Hunt é chamado para apaziguar a cena, sempre com Loomis na cola. Interessante como nesse filme a presença da polícia é muito mais forte: enquanto no antecessor conhecemos somente o xerife Brackett, aqui todas as autoridades estão agindo com a tragédia inesperada.

Os policiais de Haddonfield nunca tiveram tanto trabalho rsrs.

Já nas altas horas da madrugada de Halloween, após descobrir que Myers invadiu a escola da cidade mais cedo, Loomis é escoltado de volta a Smith’s Grove por um policial e pela enfermeira Marion (Nancy Stephens novamente), devido à tamanha repercussão que seu paciente foragido causou, interferindo nos projetos do hospício; Marion se demonstra uma bela mulher, sem seus trajes de trabalho mostrados no começo do filme anterior. Ela conta para o psiquiatra sobre um arquivo secreto que o governador ocultou a respeito da família Myers, revelando que Laurie Strode é irmã de Michael, nascida dois anos após ele ter sido confinado. Loomis percebe que o intuito do paciente é matar a irmã, como fez com Judith Myers em 1963, e ruma rapidamente para o Hospital após ameaçar o oficial que o escoltava.

No momento que Myers encontra Laurie (numa cena inesquecível), temos uma de minhas perseguições preferidas, com nossa querida adolescente dopada pelos remédios, basicamente não dando um só grito durante o clímax, tamanho o medo que estava presenciando. Michael tem uma capacidade impressionante para traumatizar qualquer um, sem dizer qualquer palavra. Sem contar que a “pegada” da trilha sonora em nova versão é excelente, aumentando o clima.

Curiosidade: Jamie Lee Curtis usava uma peruca nesse filme.

Laurie é “resgatada” quando Loomis chega ao local, e acompanhamos um dos finais mais fodas da franquia, fora a clássica cena que comprova a imortalidade de Myers, ao ser baleado novamente pelo psiquiatra e continuar respirando; nessa altura, até mesmo o determinador Loomis começa a fugir, já não tendo alternativas para lutar contra o Pure Evil. Laurie consegue acertar dois tiros nos olhos do assassino (ou acima dos olhos), dando um dos pontos mais misteriosos da série: como ele consegue continuar enxergando nos próximos filmes? Claro, nesse capítulo eles estavam pensando em MATAR o assassino de vez, e não sabiam que voltariam com a franquia em 1988; pra quem tem interesse, vale a pena procurar sobre o assunto nos fóruns americanos, onde ele é muito bem explorado com várias teorias criadas que aumentam a profundidade da obra.

Como acabei de mencionar, esse era para ser o “último” filme da série, então Loomis toma uma atitude drástica, ao liberar o conteúdo de alguns tanques de oxigênio e se explodir junto do desgovernado assassino. É deixado no ar se o psiquiatra morreu ou não, Michael Myers, por outro lado, aparenta ter sido morto de uma vez por todas, em chamas no corredor destruído. Laurie continuou viva, e a vemos sendo resgatada ao amanhecer (única cena do filme que é dia), pelo policial Hunt e outros oficiais. Logo ouvimos a canção Mr. Sandman novamente, enquanto Michael queima lentamente no chão, com sua icônica máscara colada no rosto em chamas.

Chorando sangue, mike?

Existe uma versão para televisão do longa que conta com MUITAS mudanças, conhecida também como “producer’s cut”, mas não vou falar sobre ela, pois seria necessário uma lista e talvez uma própria critica, devido ao grande número de diferenças entre as duas belas versões. O filme é considerado uma obra cult do gênero e respeitado por todos, mesmo abordando o primórdio do “padrão slasher movies”.

Halloween II - O Pesadelo Continua (1981) é uma mistura de trama inesquecível, atmosfera única, fotografia e personagens marcantes; tudo orquestrado em conjunto da ótima trilha sonora assustadora. Michael Myers prova que é o assassino com mais classe e “estilo” que o gênero já teve, bebendo da bendita fonte da qualidade em cada segundo que aparece. Como muitos já devem saber, a franquia voltaria no ano seguinte com Halloween III – A Noite das Bruxas (1982), que abordava uma história completamente diferente, aproveitando o grande sucesso que a marca possuía na época. Nosso eterno assassino de máscara branca voltaria somente em 1988 na conturbada fase da produtora Moustapha Akkad, no quarto filme da franquia, mas isso é uma bela conversa para outra critica. Halloween, por algum motivo, nunca mais teve o mesmo significado.
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TRAILER DE 1981:

CONTAGEM DE CORPOS (9):
Assassino Michael Myers:
Alice: facada abaixo do queixo.
Sr. Garett: martelada na cabeça.
Budd: estrangulado com uma corda.
Karen: afogada na banheira com água fervendo.
Dr. Mixter: furado no olho com uma seringa.
Janet: ar injetado no cérebro com seringa.
Sra. Alves: sangue drenado com cateter.
Jill: esfaqueada nas costas por bisturi.
Policial Marshal: garganta cortada por bisturi.
OUTRAS MORTES:
Bennett Tramer: atropelado por uma viatura e carbonizado.

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