sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Sexta-Feira 13 Parte III (1982) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Sempre que assisto Sexta-Feira 13 Parte III (1982) percebo quanto o capítulo é importante na franquia. Mesmo com todos os erros e furos, consegue se manter entre os melhores filmes da saga, já apresentando Jason em sua forma definitiva ao conseguir sua icônica máscara de hóquei. Temos um capítulo um tanto quanto bizarro, mostrando que os produtores tentaram levemente “mudar” o tom dos outros dois filmes, mas mantendo a mesma atmosfera.

Steve Miner retorna na direção fazendo um bom trabalho, mas sem muita criatividade; um dos fatores é que a película foi lançada em 3D na época com um show de cenas bizarras, porque os atores ficavam apontando objetos para a câmera quase o filme todo, estranhando o publico mais leigo. Eu partiocularmente não me incomodo com a câmera focando em quase todo objeto, mas assumo que é um pouco forçado. Tenho a obra em VHS lançado pela CIC Video (que lançaria quase todas as fitas da franquia), mas ela é encontrada em 3D somente no Blu-Ray.

No início vemos o final do filme anterior (clique aqui para ler a crítica), com Ginny “enganando” Jason no velho abrigo, e cravando o facão em seu ombro. É interessante ver que eles não reprisam a cena do assassino pulando pela janela sem o pano na cabeça, dando a entender que tudo não passava de um pesadelo. Também vemos uma cena extra, com Jason se arrastando no chão algum tempo depois; não vemos seu rosto, mas percebemos que está fraco. Acho um belo começo, apesar de ser rápido e já visto no antecessor.

A abertura que vem a seguir é a mais tosca da franquia, com um longo close na cabeça de Pamela Voorhees, um fundo esfumaçado e as letras “vindo” em direção da tela para realçar o 3D. Os filhos da puta ousaram não colocar a trilha sonora clássica, e ouvimos uma música brega e animada, parecendo ter saído de alguma ficção cientifica barata.

Muito bizarro, sério.

Então conhecemos o clássico casal Edna e Harold, donos de um pequeno mercadinho de estrada. É nesse mercadinho que acontece uma de minhas cenas preferidas, com uma ótima atmosfera noturna. Edna é mandona e chata, com o cabelo cheio de bobes (estilo Dona Florinda) e Harold é um gordo submisso de bigode. Aqui temos um belo furo de roteiro, quando vemos rapidamente Jason passando entre os lençóis pendurados no fundo do local: ele esta com roupas novas (roubadas) e aparência diferente. A menos que tenha cortado o longo cabelo na última hora, não temos explicação de como sua aparência mudou de um dia para o outro, levando em conta que o longa se passa no dia seguinte que seu antecessor, sábado dia 14.

Jason passa pelo local no intuito de roubar as novas roupas, e acaba assassinando o casal. Interessante ver Edna acompanhando o jornal na velha televisão, passando as notícias sobre a tragédia em Packanack Lodge e mostrando Ginny sendo levada pela ambulância (nunca mais mencionam Paul Holt). Jason é novamente tratado como no filme anterior, nunca o mostrando de corpo inteiro e nem por muito tempo, mantendo o suspense típico da série. Esse é o único filme que nunca mencionam o nome do assassino, somente no flashback inicial, e ele é retratado como um homem grotesco e observador, num excelente período. Da gosto ver nosso querido Jason agindo como uma pessoa fria e normal, sem o clichê “maquina de matar” que ele se tornaria nos próximos filmes. Já começamos a reparar eles forçando o 3D na tela, com Harold forçando o cabo do varal contra a câmera enquanto leva bronca da esposa lazarenta.

Harold  e o 3D duvidoso. 

Os dois são assassinados na suavidade do suspense, e então somos apresentados aos jovens da vez: a nossa final girl Chris (a bonita Dana Kimmell), uma garota dramática e amargurada, que teve um passado perturbador. Temos o casal de sempre Andy e Debbie, ele marcado por ser o piadista da vez, e que tem costume de andar plantando “bananeira”; já ela é uma inútil sem maiores motivos, também sempre fica “martelando” que esta grávida. Ainda temos Shelly (Larry Zerner sabendo ser chato), um gordo retardado que sonha em ser ator (ele carrega a máscara de hóquei que Jason vai roubar), e fica tentando conquista a garota Vera, que não presta pra nada. Um casal de hippies fecha a cena com chave de ouro, Chuck e Chili, que só prestam para fumar maconha o filme todo, inclusive simulando um incêndio na van com um bong enorme (rsrs).

O grupo esta rumando para Higgins Haven, uma bonita fazenda da família de Chris, que se localiza perto de Crystal Lake. Com uma van azul, os jovens acabam trombando Abel no meio do caminho, um homem muito parecido com Crazy Ralph, que encontrou os corpos no mercadinho e agora começou a alertar que aquela região é amaldiçoada; no entanto, ele não tem a carga vibrante do nosso eterno pregador de bicicleta, é somente um velho inútil e mal explorado, se esforçando para falar alguma frase de efeito. Destaque para a cena que eles estão fumando vários baseados na van e a polícia aparece de sirene ligada, fazendo os jovens engolir toda a maconha (literalmente rsrs) só pra descobrirem que as viaturas estavam indo até o tal mercadinho de estrada, e não os perseguindo.

Da esquerda para direita: Chris, (Shelly no fundo) Andy e Debbie.

Quando chegam à fazenda Higgins Haven, conhecemos o galã do filme Rick, todo cavaleiro e educado com sua amada Chris. Esse é momento que a película se esforça para nos apresentar o carisma dos personagens, mas todos são inúteis, principalmente o gordo Shelly, sempre assustando seus amigos fingindo que está morto, no intuito de pronunciar quer é um ótimo ator. Vemos que Jason começou a usar o celeiro da fazenda como abrigo, por motivos desconhecidos; sempre filmado de longo, de rosto aberto, observando os jovens na tarde de sol. O roteiro poderia usar Ginny, a sobrevivente do filme anterior, possivelmente contando tudo que descobriu para a polícia, como a existência de Jason, o abrigo que guarda a cabeça da mãe; poderíamos descobrir muito mais sobre o passado e intenções da trama... Mas eles preferem fazer Jason rumando para Higgins Haven sem nenhum motivo aparente, com a paciente atitude de se manter “stalker” no celeiro durante todo o dia ensolarada. Tanta coisa podia ser feita, mas já percebemos que um “padrão” foi estabilizado.

Vou falar um pouco sobre nossa protagonista, a bonita Chris: sua vida se baseia em um grande furo de roteiro (ou não), porque ela afirma que houve uma noite em sua vida, em que foi perseguida por um homem grotesco na floresta (Jason, é claro), acontece que ela afirma que isso aconteceu alguns anos atrás. Isso não seria possível levando em conta a trama, tendo Jason a atacado com a mesma roupa e aparência, mas existem teorias para explicar o acontecido. Chris morre de medo de voltar naquela fazenda, pensando encontrar aquele estranho homem novamente, para o pior dos pesadelos.

A nossa bonita Chris.

Logo Shelly e Vera vão até um mercadinho comprar comida, no clássico fusca amarelo de Rick. No local, eles arranjam encrenca com uma gangue de motoqueiros, que rumam para Higgins Haves com a intenção de roubar gasolina dos jovens. É claro, todos os motoqueiros morrem quando entram no celeiro ensolarado, numa bela sequência orquestrada e sem nunca mostrar o nosso assassino por completo, mantendo o suspense. Os motoqueiros Ali, Loco e Fox dão um clima descontraído e imprevisível na obra, aumentando o body count.

Andy pendurado no teto.

A vestimenta de Jason também é um fator importante: nada de roupas rasgadas e deterioradas, aqui temos uma simples camisa verde escuro e a calça cinza, que no passar dos filmes, vai piorando cada vez mais. A máscara de hóquei também não estava nos planos da produção, sendo somente um “acessório” de Jason para esconder sua face, sem planos de alimentar a ideia. Uma época que já se mostrava razoavelmente desgastante, mas tendo muito potencial. Essa é uma das melhores versões do nosso assassino, agindo como um ser normal ao invés de um ser imortal e indestrutível.

Quando a noite cai, Chris e Rick saem da fazendo para conversar em algum lugar tranquilo; nessa conversa, ela revela todo seu passado em forma de flashback, e apesar dos furos de roteiro, a cena pode ser aproveitada. Na fazenda, enquanto Debbie e Andy transam no quarto, Shelly continua assustando sua paquera mal sucedida. Essa é uma das sequências mais importantes da franquia, porque Shelly aparece usando uma chamativa máscara de hóquei, que será roubada por Jason logo após sua morte. A cena que Jason aparece usando a máscara pela primeira vez e furando o olho de Vera com o arpão é simplesmente clássica, mantendo o tom único que a franquia nos proporciona. Acho uma maravilha ver nosso querido assassino agindo dessa forma. Nesse filme não temos novamente a excelente maquiagem de Tom Savini (que voltaria no próximo), mas o trabalho continua bom.

Shelly assustando Vera com a icônica máscara. 

Um por um todos vão sendo mortos, como já repeti nas críticas anteriores (e essa é “somente” a Parte III hahaha): primeiro o casal Debbie e Andy, depois os hippies Chuck e Chili, com Jason realmente se mostrando frio em seus atos. No entanto, aqui não temos uma GRANDE lealdade com o original, lançado somente dois anos antes; os filmes se mantem na mesma atmosfera, mas a história sobre uma mãe vingando seu filho já parece distante... Tudo já estava se tornando igual. Jason era somente uma criança afogada, o motivo de uma vingança; agora, havia se tornado a própria vingança, agindo sem muitas razões. Sou um fã eterno da franquia, por isso me sinto no direito de criticá-la, mesmo ADORANDO essa porra.

Quando Chris e Rick voltam na fazenda temos uma “perseguição final” diferente, porque nos últimos dois filmes a chuva predominava com ousadia, nesse temos um forte vendaval na noite, que me agrada muito. Rick vai verificar o motivo da energia ter acabado (fator clássico da franquia) e é morto em uma estranha cena, que acabou sendo datada com os efeitos especiais atuais.

O olho de Rick saindo do rosto.

Quando Jason se revela totalmente para Chris, temos uma ótima perseguição final pela fazenda escura. Jason corre, grita e apanha muito, perpetuado pela ótima trilha sonora clássica. A garota realmente da um show dramático em sua perseguição, criando um ótimo clima; estou falando sério, leitores, se você se deixar levar, encontrará um grau de realismo assustador, com a básica ideia de um homem perturbado perseguindo uma adolescente pela fazenda; isso funciona até nos dias atuais, se imagine nessa situação... Lembrando que temos muitas cenas inspiradas no primeiro filme, como corpos caindo, sendo jogados por janela e coisas do tipo.

Chris se mantem em uma boa carga dramática, igual Ginny no filme anterior. Sozinha e desesperada, a vemos tomando atitudes macabras para conseguir sobreviver. A perseguição é tão boa quanto nos outro, nos presenteando com vários clichês esperados, como cair de uma janela, não encontrar as chaves do carro ao tentar ligá-lo... Mas Dana Kimmell da um tom único em sua personagem, como se já tivesse esperando por isso.

Eterno Jason e sua máscara.

A perseguição chega até o velho celeiro escuro, onde Jason aparenta estar realmente motivado, quebrando tudo na expectativa de encontrar a garota amedrontada. Ela consegue derrubar o assassino, e enforcá-lo com uma corda do celeiro. Somente a partir do sexto filme que Jason seria considerado IMORTAL, por isso nosso assassino sofre aqui, tendo que retirar sua máscara para se livrar do enforcamento. Chris percebe que ele é o mesmo homem que a perseguiu na floresta alguns anos atrás, entrando em total estado de choque. Podemos ver claramente seu rosto na bela noite. Jason parece com um demente seguindo algum propósito doentio, fazendo caras e bocas para nossa protagonista.

A eterna machadada na cabeça.

Um fator importante acontece agora: Jason recebe uma machadada na cabeça (ouch!), acabando com nosso assassino; a máscara de hóquei fica com um enorme corte, mantido até Jason Ataca Nova York (1989). O final é bem rápido, mostrando Chris entrando em estado de choque ao ser resgatada pela polícia. Jason se manter arrebentado pelo machado, abandonado no velho celeiro.

Eles tentam fazer várias homenagens ao original, com um final tosco: o “corpo deteriorado” de Pamela Voohees agarra Chris, quando ela fica a deriva em um bote (muito parecido com o original); a cena incomoda e da um tom ridículo na franquia, mesmo não passando de uma alucinação. Não deixo de dar o mérito na aparição unmasked de Jason, realmente botando medo com metade da cabeça rachada pelo machado.

Rosto que só uma mãe pode amar (rsrs)

Fica a dica: Sexta-Feira 13 Parte III (1982) é um ótimo filme para beber uma cerveja e se deliciar com seus 98 minutos. A trama se mantem na mesma estética que os anteriores, dando uma pequena “mudada” de edição, com o péssimo 3D. O eterno Jason Voorhees voltaria no ano seguinte, muito mais brutal e determinado, em um dos melhores filmes da franquia. Sexta-Feira 13 estava fazendo muito dinheiro e muitos apaixonados, mantendo uma força influente criada por eles mesmos.
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TRAILER DE 1982:

CONTAGEM DE CORPOS (12):
Assassino Jason Voorhees:
Harold: faca de açougueiro no peito.
Edna: nuca furada com um espeto.
Fox: tridente no pescoço.
Loco: tridente no estômago.
Ali: Esquartejado com facão.
Shelly: garganta rasgada.
Vera: arpão no olho (primeira morte com a máscara)
Andy: cortado ao meio enquanto plantava bananeira.
Debbie: atravessada na cama por uma faca.
Chucky: eletrocutado no gerador.
Chili: Atravessada com ferro fervendo.
Rick: cabeça esmagada até o olho sair.

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