domingo, 16 de outubro de 2016

Sexta-Feira 13 Parte IV - Capítulo Final (1984) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Um aviso importante para começar: esse é um dos melhores filmes da franquia sangrenta. Sexta-Feira 13 Parte IV - Capítulo Final (1984) se mantem registrado como um excelente slasher de conceito positivo, apresentando Jason Voorhees sendo protagonista em uma trama saturada, porém com ótimos momentos e valores. Esse longa marca um ponto final e um ponta inicial na franquia sangrenta, isso explica o titulo “Capítulo Final”, que tanto estranha os desconhecidos. Não vamos ser bonzinhos e proteger os fatos: na verdade, os produtores realmente estavam pensando em finalizar a série aqui, dando um ponto final na história de Jason, no entanto, os desgraçados ganharam TANTO dinheiro, que obviamente não pararam de produzi-los tão depressa.

Por um lado isso é bom, mas por outro é ruim: depois da Parte IV teríamos filmes variados de qualidade, instigando um padrão desgastante que se manteve por dinheiro e fãs apaixonados; não vamos tirar o mérito, tiveram seus bons momentos. A quarta parte constrói e inova o clima já estabelecido, dando uma leve diferença na maneira que o assassino é “tratado”, por isso numa conversa civilizada sobre o bom terror oitentista, esse capítulo sempre será citado.

Dessa vez um pequeno elenco de futuras “estrelas” protagoniza a trama, diferenciando dos capítulos anteriores com seus atores basicamente desconhecidos. O filme está mais violento e melhor coordenado, a direção de Joseph Zito (já tendo feito o belo Quem Matou Rosemary? em 1981) é leal e muito interessante, proporcionando algumas das cenas mais icônicas da franquia. Mais uma vez temos uma continuação direta do filme anterior (clique aqui para ler a crítica), contando com os típicos furos de roteiro que já se acostumamos.

Devido ao titulo forçado, o próximo capítulo se chamou Sexta-Feira 13 Parte V – Um Novo Começo (1985), um filme fraco e sem muita criatividade (Jason não é o autor da matança, passando o longa todo enterrado em seu túmulo), por isso Capítulo Final pode ter diretamente como sequência o belo Sexta-Feira 13 Parte VI – Jason vive (1986), onde temos nosso querido assassino de volta. No entanto, o personagem Tommy Jarvis estava em Um Novo Começo, fazendo uma conexão com Capítulo Final e Jason Vive. Portanto, vamos começar.

No começo temos um ótimo flashback (um dos mais leais da franquia), onde vemos muitas cenas dos outros três filmes. Lembram aquela cena da fogueira em Sexta-Feira 13 Parte II? Onde Paul conta a história de Jason para os monitores despreocupados? Pois bem, a vemos novamente, só que agora intercalado com cenas de todos os filmes, proporcionando um grande presente para quem conhece o difícil potencial da lealdade em franquias oitentista. Em seguida vemos a abertura voltando com suas origens (depois da tosca entrada do filme anterior) e com a sensacional trilha sonora (clique aqui para ouvir um set). Já sabemos que o filme será muito bom, somente pela dinâmica.

Savini voltou com tudo.

A película basicamente começa da onde o outro terminou (na noite seguinte), onde os policiais e paramédicos estão retirando os corpos das vitimas na fazendo Higgins Haven. Jason continua arrebentado pelo machado cravado em sua cabeça, abandonado no celeiro. Os paramédicos o colocam na maca e levam o corpo “morto” para o necrotério na ambulância (ainda rola duas vezes o clichê do braço caindo da maca para assustar). Deixando claro que Jason necessariamente não morreu nos outros três filmes, somente foi “danificado” em grande estilo: afogado, com um facão cravado no ombro e um machado no crânio; no entanto ele ainda age parecido com qualquer ser humano, correndo e sentindo dor. Por isso a Parte IV é muito importante, depois dela, ao retornar na Parte VI, ele já se demonstraria invencível, com força sobre-humana e passos lentos, literalmente um zumbi imbatível após sair do túmulo.

No necrotério, conhecemos o casal de retardados que estão trabalhando no local: o “legista” Axel (Bruce Mahler, atuando em Loucademia de Polícia no mesmo ano) e a enfermeira Robbie, que estão loucos para transar. Jason é levado até o cold room, onde seu corpo é colocado na geladeira. Curiosidade: o necrotério deve estar repleto com os corpos que ele assassinou nos últimos filmes, porque se levarmos em conta que a Parte II aconteceu em uma sexta-feira 13, a Parte III no sábado 14, aqui temos o desenrolar da história em um domingo 15, isso deixa muitas portas abertas para furos no roteiro, que explicarei ao decorrer de nossa conversa descontraída.

Após começarem a se “pegarem” na sala de geladeiras, Robbie se assusta com Jason na maca e se irrita com Axel, berrando pelo corredor igual uma vadia. Axel acaba ficando sozinho na sala, e não demora para Jason levantar com sua máscara (nem pra isso os paramédicos prestaram para tirar) e o assassina com grande estilo. Nesse filme temos o retorno do mestre Tom Savini, que sem papas na língua, faz um trabalho digno de gênio; sua maquiagem transparece seriedade e dedicação com a franquia, e novamente temos mortes mais explicitas, assim como tínhamos no clássico famigerado de 1980.

Sempre azarado.

Como já havia mencionado, nesse capítulo abordam uma pegada diferente; é claro, ainda continuamos a acompanhar os típicos jovens estereotipados e irritantes da época, mas dessa vez o roteiro deu espaço para a família Jarvis, que mora na região de Crystal Lake (não no acampamento), onde conhecemos Tommy Jarvis (Corey Feldman que trabalhou em Os Goonies e Os Garotos Perdidos nos anos seguintes) um garoto apaixonado por máscaras e vídeo games; Tommy é altamente conhecido por ser o nêmesis de Jason Voorhees, ou seja, a pessoa que consegue matá-lo de uma vez por todas. Isso mesmo leitores, um garotinho assassina o velho Jason com frieza, tem como ser mais foda que isso? Acho que não.

Tommy mora em uma bela casa de madeira com sua mãe, a Sra. Jarvis, e sua irmã jeitosa Trish (Kimberly Beck, nossa final girl da vez). O garoto é tratado de uma maneira diferente no filme, e não o vemos como uma criança qualquer, ele possuiu uma maturidade necessária, realmente se tornando um obstáculo futuro para nosso assassino. Quando se fala de crianças em filmes, sempre precisam se manter controlados e cuidadosos com certas atitudes, mas essa fórmula não funciona com Tommy Jarvis, já que o garoto é completamente independente e inteligente, dando um show próprio; além de ter habilidade em elétrica e mecânica, o menino constrói suas próprias máscaras.

Tommy Jarvis, o fodão.

Descobrimos que um grupo de jovem vai passar uns dias na casa ao lado dos Jarvis (já estava demorando pros jovens inúteis aparecerem), e dessa vez, temos uma trama bem desenvolvida com eles em alguns momentos. Conhecemos Ted, um rapaz que se acha o conquistador de mulheres, e Jimmy “Jimbo” (Crispin Glover de De Volta para o Futuro) totalmente o oposto, pois não pega ninguém. Ted sempre fica enchendo o saco de Jimbo pelo fato de ele ser tímido e virgem, o apelidando de “dead fuck” (rsrs). Também conhecemos Paul, o bonitão da vez, Samantha uma vaca inútil, a tímida Sara e o meia boca Doug; ainda temos as lindas gêmeas Tina e Terri, que conhecem o grupo por acaso na floresta. Todos se perdem no caminho até a residência e acabam trombando o túmulo de Pamela Voorhees na beira de uma estrada velha. Uma bela homenagem, em uma bela cena.

No caminho eles passam por uma gorda pedindo carona, e tiram onda com ela por diversão. Alguns minutos depois, ela é assassinada enquanto comia uma banana (santa criatividade), talvez se os jovens tivessem dado carona, isso não teria acontecido... Mas aquela gorda era inútil, servindo somente para aumentar o famigerado e aguardado body count.

A bonita Trish Jarvis.

A família Jarvis logo conhece os visitantes da casa ao lado, e sabem que não passam de adolescentes baderneiros. Na maioria das cenas que os acompanhamos na nova residência, o papo frequente é sobre sexo e relacionamentos, mostrando os fortes estereótipos do gênero. No dia seguinte, segunda-feira 16, Trish e Tommy encontram os jovens nadando pelados no lago, um deles ainda chama a garota conservadora para participar (!!), mas o destaque fica na cena que os dois estão voltando e o carro quebra. Um misterioso homem aparece para ajudá-los, chamado Rod Dier (Erich Anderson), e logo faz amizade com a dupla; ele afirma estar na região caçando ursos, uma conversa que Tommy não acredita. Rod na verdade é irmão de Sandra Dier, assassinada brutalmente na Parte II, e ele viajou para a região em busca de vingança (isso é revelado ao decorrer da trama). Um pouco controverso, porque a matança do segundo filme ocorreu somente três dias atrás, por isso, ou Rod agiu de forma rápida ou os roteiristas pisaram na bola. No entanto, o fato de existir um homem caçando Jason, determinado a matá-lo, é muito interessante e podia ter sido explorado melhor na trama. Destaque para a cena que Tommy leva Rod até sua casa para mostrar as máscaras que constrói no quarto; uma bela homenagem ao maquiador Savini, que pode exibir alguns dos seus trabalhos.

Olha o trauma vindo...

Como todos já devem saber, quando a noite chega, Jason vai matando um por um das mais variadas maneiras. Nesse capítulo, temos uma bela história explorada entre o jovem Jimmy “Jimbo”, chamado por Ted de “dead fuck” e só se fodendo na vida amorosa, mas provando o contrario quando consegue transar com uma das belíssimas gêmeas, enquanto seu amigo “conquistador” fica chupando um baseado na sala, sozinho. Paul é bem atrevido e patético, corneando a namorada Samantha na frente dela, durante a “festa” que os jovens organizam. Sempre que ouço a raríssima música Love is a Lie (Lion), a primeira coisa que vem na cabeça é Crispin Glover dançando loucamente com uma das gêmeas (kakaka). Simplesmente eterno.

Don't be a dead fuck.

Quando a Sra. Jarvis é assassinada (em offscreen), Trish encontra Rod enquanto procura pela mãe. Nessa cena, Rod conta que sua irmã foi assassinada por Jason e ele esta procurando vingança. Não adianta muito, porque após matar todos os jovens, Jason ataca o caçador e depois arremessa seu corpo pela janela dos Jarvis (ele e sua mãe sempre fizeram isso rsrs). Rod acaba sendo somente um nó que o roteiro tenta desamarrar, mas na hora H, não tem chance alguma contra nosso maníaco. Gostaria de ver mais nesse confronto.

Acho interessante como Trish é diferente das outras final girls, porque ela não fica somente correndo e gritando de um lado para o outro; a garota também revida e ataca Jason muitas vezes, coisa que veríamos novamente em Sexta-Feira 13 Parte VII – A Matança Continua (1988), com Tina Shepard. Jason é outro ponto forte na trama, nesse filme ele realmente está inspirado e encapetado, fazendo de tudo para assassinar a garota sobrevivente; reza a lenda que o ator Ted White não falava com ninguém durante as gravações, no objetivo de dar o clima necessário para o papel. Nosso assassino também quase tem a mão decepada pela garota, quando a mesma o acerta em cheio com o facão.

Analisando os danos.

Tommy usa a estratégia para derrubar nosso assassino. Com uma foto de Jason criança, o garoto raspa seu cabelo para ficar extremamente parecido com a acefalia que Jason possui; funciona, porque ele “trava” ao ver a semelhança de Tommy com seu passado. Oportunidade perfeita para Trish tentar acertar o facão em um movimento errante, fazendo a máscara de hóquei voar longe.

A face de Jason está caprichada: totalmente deformada e com um enorme buraco na testa provocado pela machadada que recebeu de Chris no filme anterior. Com feições bem diferentes do que vemos na Parte III (onde Jason parece ter mais semelhanças com um humano normal), mas ainda rola certa lealdade, apesar que o antecessor ocorreu duas noite atrás.

Tommy com o cabelo raspado. Medo.

Trish fica completamente aterrorizada quando vê o rosto do homem. Tommy aproveita e pega o facão em uma dramática cena, acertando Jason em cheio na lateral do rosto, fazendo o machete cravar em metade da face. Leitores, acompanhar uma criança tomando essa atitude é simplesmente sensacional, e fica animado sempre que sou presenteado com essa cena. Savini novamente faz uma baita maquiagem quando Jason cai de bruços no chão, fazendo o facão deslizar dentro do seu rosto; literalmente MATANDO nosso assassino de uma vez por todas.

Se não bastasse isso, Tommy abraça a irmã e ao ver os dedos de Jason se mexendo, nosso garoto prodígio desse os golpes de facão no assassino, em uma cena icônica ao cubo. Jason não tem nem chance, são mais de 30 golpes sem o menor remorso do menino, literalmente agindo como um selvagem em defesa própria. Ouvir os barulhos dos golpes, enquanto Tommy geme “die!... die!...” é memorável. Uma audácia que não vemos hoje em dia no cinema.

O final é bem rápido, e acompanhamos Trish no hospital sendo informada por um policial a causa de Tommy ter agido daquela maneira brutal. Nosso garoto careca aparece para abraçar a irmão, conseguindo realizar uma tarefa que muitos morreram tentando. Ele olha para a câmera assustado e com os olhos arregalados, dando indícios que a franquia poderia voltar futuramente (344 dias, porque a fraca Parte V teve a menor distância de tempo no lançamento dos filme da franquia).

Lindo demais, na moral.

Existe um final alternativo, facilmente encontrado na internet, onde Trish encontra o corpo de sua mãe na banheira, já na manhã seguinte. A cena não foi aceito no corte final pois mostrava Jason com o facão cravado no rosto, pulando detrás da porta para acabar com a garota, sendo assim, quebraria o titulo Capítulo Final do filme com os indícios que Jason ainda estava vivo. Mas a cena é muito boa e macabra, proporcionando um desconforto assustador.

A franquia ainda não tinha pisado na bola, e fizeram isso no ano seguinte com o próximo filme. Sexta-Feira 13 já era uma série milionária e estabelecida com quatro produções em cinco anos. Eles estavam com a carga toda, e não souberam o momento certo de “parar”. Uma bela fase da franquia termina aqui, junto com Tommy Jarvis detonando nosso velho Jason, que voltaria somente no sexto filme. Com exceção do primeiro filme, Capítulo Final teve a maior bilheteria até então, fechando com mais de US$32 milhões mundialmente. A crítica especializada nunca gostou de nenhum, mas não há como negar o peso e atitude que as fitas tem na cultura pop atual, misturando referências e homenagens das mais satisfatórias. Jason Voorhees sempre será eterno em todos os sentidos, enquanto tiver pessoas que se lembram do tanto de sangue já derramado.
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TRAILER DE 1984:

CONTAGEM DE CORPOS (14):
Assassino Jason Voorhees:
Axel: serra cirúrgica no pescoço e cabeça virada ao contrário.
Robbie: busto rasgado e aberto com faca.
Caroneira: faca no pescoço enquanto come uma banana.
Samantha: atravessada por lança no bote.
Paul: arpão disparado na virilha.
Terri: espeto nas costas.
Sra. Jarvis: morte offscreen.
Jimmy: espeto cravado na mão e faca de açougueiro no rosto.
Tina: arremessada pela janela, caindo em cima do carro.
Ted: facada na nuca por trás do projetor.
Doug; cabeça esmagada enquanto tomava banho.
Sara: machado arremessado no peito através da porta.
Rob: apunhalado com podão de jardinagem.
Assassino Tommy Jarvis:
Jason Voorhees: machete na lateral da cabeça e através dos olhos.

Um comentário:

  1. Melhor crítica que já li sobre esse filme. Gostei do "meia boca Doug." Rsrs

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